Evangelho de sexta-feira: participar do perdão de Deus

Comentário ao Evangelho de sexta-feira da VI semana da Páscoa. «Senhor, Tu sabes que eu Te amo». O amor do Senhor perdoa tudo. Não só cura a ferida e limpa a mancha do pecado, mas regenera, fortalece, dá a Vida divina para que possamos partilhá-la com os outros.

Evangelho (Jo 21, 15-19)

Quando Jesus Se manifestou aos seus discípulos junto ao mar de Tiberíades, depois de comerem, perguntou a Simão Pedro:

«Simão, filho de João, amas-Me tu mais do que estes?».

Ele respondeu-Lhe:

«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».

Disse-lhe Jesus:

«Apascenta os meus cordeiros».

Voltou a perguntar-lhe segunda vez:

«Simão, filho de João, tu amas-Me?».

Ele respondeu-Lhe:

«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».

Disse-lhe Jesus:

«Apascenta as minhas ovelhas».

Perguntou-lhe pela terceira vez:

«Simão, filho de João, tu amas-Me?».

Pedro entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava e respondeu-Lhe:

«Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo».

Disse-lhe Jesus:

«Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: Quando eras mais novo, tu mesmo te cingias e andavas por onde querias; mas quando fores mais velho, estenderás a mão e outro te cingirá e te levará para onde não queres».

Jesus disse isto para indicar o género de morte com que Pedro havia de dar glória a Deus. Dito isto, acrescentou:

«Segue-Me».


Comentário

Depois da feliz ressurreição do Mestre, podemos imaginar que S. Pedro andaria com uma mistura contraditória de emoções no seu interior. Por um lado, a alegria indescritível de voltar a ter o seu Senhor junto deles depois de o terem visto sofrer o indizível desde o Getsémani até ao Gólgota; por outro, o enorme remorso interior pela sua tríplice negação durante o interrogatório no palácio do Sumo-Sacerdote.

Desde as primeiras aparições de Jesus ressuscitado, Simão Pedro andaria com uma vontade enorme de poder estar a sós com o Senhor e conversar com Ele para lhe explicar o que acontecera e pedir-lhe perdão. Sabia que Jesus lhe perdoaria porque o tinha visto fazer isso muitas vezes e também porque, durante a Última Ceia, lhe tinha anunciado o que iria suceder.

No entanto, ainda não tinha chegado esse momento, e S. Pedro estaria ansioso que chegasse. Agora, por fim, Jesus toma Simão aparte e mantêm o maravilhoso diálogo que o Evangelho nos descreve.

Jesus, com a sua peculiar pedagogia, tão divina e tão humana ao mesmo tempo, adianta-se e faz-lhe uma pergunta que depois repete outras duas vezes: «Simão, filho de João, amas-me?». O Senhor, com essa tripla insistência, está a lembrar a Pedro a sua tríplice negação, mas fá-lo de um modo que permite a Pedro reconhecer a gravidade do seu pecado, e ao mesmo tempo saber-se inteiramente perdoado e amado por Deus.

Não resta nada para lhe deitar em cara, nem para a amargura, nem para uma possível perda de confiança. Muito pelo contrário: é um perdão que não só cura a ferida e limpa a mancha do pecado, como regenera, fortalece, dá a Vida divina para poder oferecê-la aos outros.

É assim o perdão de Deus, do qual queremos participar, quer recebendo-o, quer oferecendo-o aos outros.

Pablo Erdozáin // Dibakar Roy - Unsplash