Comentário do Evangelho: Eu sou o Caminho

Evangelho do 5º domingo de Páscoa (Ano A) e comentário do evangelho.

Photo: Alexander Milo, disponível em Unsplash.

Evangelho (Jo 14,1-12)

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós, e quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais também vós. E para onde eu vou, vós conheceis o caminho”.

Tomé disse a Jesus: “Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?”

Jesus respondeu: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes”.

Disse Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!”

Jesus respondeu: “Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces, Filipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é o Pai, que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditai, ao menos, por causa destas mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo, quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai”.


Comentário

O Evangelho deste quinto domingo de Páscoa recolhe um fragmento do discurso de Jesus durante a Última Ceia. Os discípulos estão tristes com a partida iminente do Mestre. Para confortá-los, o Senhor revela profundas verdades de fé nas quais podemos meditar enquanto nos aproximamos da Festa de Pentecostes.

Antes de tudo, Jesus pede aos seus amigos que não se perturbem, que tenham fé, confiem n'Ele e em suas obras. Então lhes fala do que Ele chama a “casa de meu Pai”, na qual “vou preparar um lugar para vós” (v. 2). Não é mau pensar no céu em meio à tribulação. De fato, “o Senhor fala-nos frequentemente do prêmio que conquistou para nós com a sua Morte e com a sua Ressurreição” – comenta são Josemaria a propósito desta passagem. “O Céu é a meta da nossa senda terrena. Jesus Cristo precedeu-nos, e é lá que, em companhia de Nossa Senhora e de São José – a quem tanto venero –, dos Anjos e dos Santos, espera a nossa chegada”[1].

Com motivo da pergunta de Tomé sobre como seguir Jesus aonde Ele está indo, o Mestre revela aos seus discípulos que Ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (v. 6). Sobre essa expressão misteriosa, Santo Agostinho comentou que é como se Jesus dissesse a Tomé: “Por onde queres ir? Eu sou o caminho. Para onde queres ir? Eu sou a Verdade. Onde queres permanecer? Eu sou a Vida (...). Os sábios do mundo compreendem que Deus é vida eterna e verdade cognoscível; mas o Verbo de Deus, que é Verdade e Vida junto ao Pai, fez-Se caminho ao assumir a natureza humana”[2]. Portanto, seguir Jesus envolve compreender o mistério da sua Pessoa e sua Missão. De fato, o Papa Francisco dizia que “o conhecimento de Jesus é a obra mais importante da nossa vida”[3]. É necessário descobrir a união íntima que existe entre o Filho e o Pai. Esta verdade essencial é a que Jesus explica a Filipe: “Quem me viu, viu o Pai” (v. 9). Jesus é o caminho, porque tudo n’Ele revela o Pai e nos une ao Pai. Jesus tornou visível o Deus invisível e o revelou aos homens com todas as suas obras e palavras[4]. E faz isso com um rosto humano e próximo, que nos olha com amor e nos chama amigos, para que seja fácil conhecê-lo, amá-lo e nos unirmos a Ele.

Finalmente, podemos ver que Jesus une o conhecimento da Sua Pessoa com a verdade quando diz “Eu sou a verdade” (v. 6). Sobre esse fato, o Papa Francisco fazia uma importante consideração: “Jesus é precisamente isto: a Verdade que, na plenitude dos tempos, ‘se fez carne’ (Jo 1,1.14), veio habitar no meio de nós para que nós a conhecêssemos. A verdade não se captura como uma coisa, mas a verdade encontra-se. Não é uma posse, é um encontro com uma Pessoa”[5].

É como se em toda essa passagem Jesus estivesse nos dizendo que na casa de seu Pai todos os nossos anseios vitais e de conhecimento (vida e verdade) serão cumpridos, não por se tornarem objetos de conquista e posse próprias, mas porque entenderemos que a verdade e a vida convergem em uma Pessoa a quem se conhece e se ama. Na medida em que entendermos e vivermos isso, avançaremos no caminho para o Pai através da identificação com o seu Filho, até fazermos as mesmas obras que Ele e “ainda maiores que estas”.


[1] São Josemaria, Amigos de Deus, nº 220

[2] Santo Agostinho, Sermões 141-142.

[3] Papa Francisco, Homilia.

[4] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, nº516.

[5] Papa Francisco, Audiência, 15 de maio de 2013.

Pablo M. Edo