Comentário do Evangelho: A porta das ovelhas

Evangelho do 4º Domingo de Páscoa e comentário do evangelho.

Foto: Nick Tiemeyer, disponível em Unsplash

Evangelho (Jo 10, 1-10)

“Em verdade, em verdade, vos digo: quem não entra pela porta no redil onde estão as ovelhas, mas sobe por outro lugar, esse é ladrão e assaltante. Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. Para este o porteiro abre, as ovelhas escutam a sua voz, ele chama cada uma pelo nome e as leva para fora. E depois de fazer sair todas as que são suas, ele caminha à sua frente e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. A um estranho, porém, não seguem, mas fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”.

Jesus contou-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que ele queria dizer. Jesus disse então: “Em verdade, em verdade, vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Todos aqueles que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo; poderá entrar e sair, e encontrará pastagem. O ladrão vem só para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”.


Comentário

Jesus utiliza uma alegoria bem conhecida nos textos bíblicos do Antigo Testamento. É a do pastor que cuida do seu rebanho. Mas agora chama a atenção o fato de que antes de se apresentar como Bom Pastor, ele diz de si mesmo que “eu sou a porta das ovelhas” (v.7).

Assim como Deus fez com o povo de Israel, também a Igreja se servirá de “pastores” que cuidem de suas “ovelhas”. Porém, ele deixa algo claro para todos: apenas é um “bom pastor” aquele que leva as ovelhas à única “porta” que é Cristo. Aquele que tenta levá-los para outro lugar é um farsante, que não deve ser seguido porque “quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas salta por outro lugar, é ladrão e assaltante” (v.1 ).

De uma maneira bem gráfica, Jesus diz que o mau pastor “salta” por outro lado, usando um verbo que evoca a ação de alguém que sobe para chegar a um lugar onde não deveria estar. Assim, Ele previne para o perigo de servir-se da Igreja, e até mesmo da posição que se ocupa nela, para o próprio ganho pessoal. O profeta Ezequiel já havia denunciado essa atitude: “Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel! Profetiza, dizendo-lhes: Assim diz o Senhor Deus aos pastores: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Acaso os pastores não devem apascentar as ovelhas? Comeis de seu leite, vestis sua lã e sacrificais os animais gordos, mas não apascentais as ovelhas. Não fortalecestes a ovelha fraca, não curastes a ovelha doente nem enfaixastes a ovelha quebrada. Não trouxestes de volta a ovelha desgarrada, não procurastes a ovelha perdida” (Ez 34,2-4).

Bento XVI, em uma homilia proferida em 2009 durante a inauguração do ano sacerdotal, dizia: “Como esquecer, a este propósito, que nada faz sofrer tanto a Igreja, Corpo de Cristo, como os pecados dos seus pastores, sobretudo daqueles que se transformam em “ladrões de ovelhas” (Jo 10, 1 ss.), porque as desviam com as suas doutrinas particulares, ou porque as prendem com laços de pecado e de morte? Estimados sacerdotes, também para nós é válido o apelo à conversão e ao recurso à Misericórdia Divina, e devemos igualmente dirigir com humildade uma súplica urgente e incessante ao Coração de Jesus, para que nos preserve do terrível risco de prejudicar aqueles que somos chamados a salvar”[1]. Daí a importância de que todos nós rezemos pela santidade dos sacerdotes e para que nunca faltem bons pastores na Igreja.

Por sua parte, “Cristo, Bom Pastor, tornou-se a porta da salvação da humanidade, porque ofereceu a vida pelas suas ovelhas. Jesus, bom pastor e porta das ovelhas, é um chefe cuja autoridade se expressa no serviço, um chefe que para comandar doa a vida e não pede a outros que a sacrifiquem. Podemos confiar num chefe como este – dizia o Papa Francisco –, como as ovelhas que ouvem a voz do seu pastor porque sabem que com ele se vai para prados bons e abundantes. É suficiente um sinal, uma chamada e elas seguem-no, obedecem, encaminham-se guiadas pela voz daquele que sentem como presença amiga, ao mesmo tempo forte e meiga, que orienta, protege, conforta e cura”[2].

O bom pastor é aquele que, seguindo o exemplo de Cristo, sabe-se humildemente a serviço dos outros, e não busca nada para si mesmo. “Seja-me permitido um conselho: se alguma vez perdemos a claridade da luz, recorramos sempre ao bom pastor. E quem é o bom pastor? O que entra pela porta da fidelidade à doutrina da Igreja; aquele que não se comporta como o mercenário, o qual, vendo chegar o lobo, abandona as ovelhas e foge; e o lobo as arrebata e dispersa o rebanho. A palavra divina não é vã; e a insistência de Cristo - não percebemos o carinho com que fala de pastores e de ovelhas, do redil e do rebanho? - é uma demonstração prática da necessidade de um bom guia para a nossa alma”[3].


[1] Bento XVI, Homilia nas segundas vésperas do Sagrado Coração de Jesus, 6ª feira, 19 de junho de 2009.

[2] Papa Francisco, Regina Coeli, 7 de maio de 2017.

[3] São Josemaria, É Cristo que passa, 34.

Francisco Varo