Meditações: 2 de janeiro

Reflexão para meditar no dia 2 de janeiro. Os temas propostos são: A centralidade de Jesus Cristo: “Permanecei em mim”; União com Cristo; São João Batista, modelo de seguimento do Senhor.

- A centralidade de Jesus Cristo: “Permanecei em mim”

- União com Cristo

- São João Batista, modelo de seguimento do Senhor


COMEÇAMOS um novo ano. Jesus Cristo é o Senhor do tempo, da história, e queremos que também seja o centro das nossas vidas. Abre-se uma nova etapa para amar, para servir, para percorrer o caminho na sua presença. Desejamos que neste ano “tudo gire cada vez mais ao redor da sua Pessoa”[1]. A vinda do Messias “é o acontecimento qualitativamente mais importante de toda a história, à qual confere o seu sentido último e pleno”[2]. Ele preenche os nossos dias e toda a existência do cristão. Nestes primeiros dias, aproveitamos para confiar à sua divina Providência os sonhos e esperanças que depositamos no ano que iniciamos.

A centralidade de Jesus Cristo foi formulada pelo próprio Jesus, no Evangelho de São João, com a expressão “permanecei em mim”. O discípulo amado está presente no cenáculo, junto do Senhor e ali ouviu essa expressão dos seus lábios: “Quem permanecer em mim e Eu nele, esse dá muito fruto” (Jo 15,5). O mais jovem dos apóstolos foi o último a escrever o seu Evangelho: teve mais tempo para refletir e amadurecer sobre o mistério de Cristo. E depois de muitos anos, o eco destas palavras ainda continua a comovê-lo. Por isso encontramos a mesma expressão na sua primeira carta, que lemos hoje na liturgia da Palavra: “Se o que ouvistes desde o princípio permanecer em vós, permanecereis com o Filho e com o Pai” (1 Jo 2,24). É o que acontece com a videira e os sarmentos: estes recebem dela toda a sua vida, sem ela perdem pouco a pouco a força.

Permanecer – “essa palavra tão querida pelo Senhor que a vai repetir muitas vezes… Se permaneces no Senhor, na Palavra do Senhor, na vida do Senhor, serás um discípulo”[3]. Jesus quer unir a sua vida com a nossa; mais ainda, fundi-la. Permanecer n’Ele é viver por Ele, com Ele e n’Ele. Dizia Santo Ambrósio: “Recolhe a água de Cristo (...). Enche o teu interior com esta água, para que a tua terra fique bem umedecida (...); e uma vez cheio, regarás os outros”[4].


PARA O CRISTÃO, “viver é Cristo. E se às vezes perdemos de vista esta realidade, por fragilidade, cansaço, ou outras circunstâncias da vida, Ele sempre está nos esperando”[5]. São Josemaria expressava esta necessidade de união com Cristo com estas palavras: “Seguir Cristo – venite post me et faciam vos fieri piscatores hominum (Mt 4, 19) – é a nossa vocação. E segui-lo tão de perto que vivamos com Ele, como os primeiros Doze; tão de perto que nos identifiquemos com Ele, que vivamos a sua Vida, até que chegue o momento em que, se não tivermos posto obstáculos, possamos dizer com São Paulo: ‘Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim’ (Gal 2,20)”[6].

Durante os dias de Natal, ao contemplar o Menino deitado numa pobre manjedoura, rodeado pelo carinho de Maria, José, e pelo calor de uns poucos animais, mostramos-lhe os nossos desejos de amor e de união com Ele. Se dirigirmos os nossos olhos para Ele, tão pequeno e, ao mesmo tempo, Rei do universo, sentiremos o doce impulso de perseverar com firmeza durante este novo ano, durante toda a vida, na missão de nos identificarmos com Ele: “Amemos a Cristo, procuremos sempre a sua proximidade e, parecerá fácil tudo o que é difícil”[7].

Durante o tempo de Natal, São Josemaria mostrava ao Senhor os seus desejos de união e de amor: “Ó, Jesus – dir-lhe-ei – quero ser uma fogueira de loucura de Amor! Quero que a minha simples presença seja bastante para incendiar o mundo, em muitos quilômetros à volta, com um incêndio inextinguível. Quero saber que sou teu (...). Sofrer e amar. Amar e sofrer. Magnífico caminho! Sofrer, amar e crer: fé e amor. Fé de Pedro. Amor de João. Zelo de Paulo. Ainda restam ao burrico três minutos de endeusamento, bom Jesus, e manda... que lhe dês mais Zelo que a Paulo, mais Amor que a João, mais Fé do que a Pedro. O último desejo: Jesus, que nunca me falte a Santa Cruz”[8].


SÃO JOÃO BATISTA aparece de novo no Evangelho de hoje, como aconteceu durante o Advento. As autoridades do Templo enviam à outra margem do Jordão sacerdotes e levitas para O interrogar: “Quem és tu?” (Jo 1,19). Importunam-no com muitas perguntas, com a intenção de o encurralar: És o Messias, és Elias, és um profeta? “O que dizes de ti mesmo?” (Jo 1,22). As respostas de São João Batista falam-nos de alguém que tem a vontade de Deus como horizonte da própria vida. “Eu sou a voz que grita no deserto” (Jo 1,23). A minha única missão – diz-lhes – é preparar Israel para receber de coração o Redentor.

Permanecer em Jesus Cristo é estar em comunhão com Ele: que Jesus esteja presente na nossa inteligência, na nossa vontade, no nosso coração, nas nossas obras. A prova mais evidente de permanecer em Jesus Cristo é guardar as suas palavras e os seus mandamentos; Ele mesmo nos disse que quem o faz “permanece com o Filho e com o Pai” (1Jo 3,24). Pedimos ao Senhor o dom de que cada um e todos os cristãos respiremos com o Evangelho. “Agora, diante de Jesus Menino – à luz de umas palavras de São Josemaria – podemos continuar o nosso exame pessoal: estamos decididos a procurar que a nossa vida sirva de modelo e ensinamento aos nossos irmãos, aos nossos iguais, os homens? Estamos decididos a ser outros Cristos? Não é suficiente dizê-lo com a boca. Tu – pergunto-o a cada um de vós e pergunto-o a mim mesmo – tu, que por seres cristão és convidado a ser outro Cristo, mereces que se repita de ti que vieste facere et docere, fazer tudo como um Filho de Deus, atento à vontade de seu Pai, para que deste modo possas levar todas as almas a participarem das coisas boas, nobres, divinas e humanas da Redenção? Estás vivendo a vida de Jesus Cristo na tua vida habitual no meio do mundo?”[9].

Alegramo-nos com a Virgem Maria, feliz por ter nos seus braços o Salvador, fruto da sua fidelíssima escuta da Vontade de Deus. Por ela “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”[10]. Pedimos-lhe que não nos “falte a fé, nem a valentia, nem a audácia para cumprir a vontade do nosso Jesus”[11].


[1] Mons. Fernando Ocáriz, Carta, 5/04/2017, cfr. Carta, 14/02/2017, n. 8.

[2] Bento XVI, Homilia, 31/12/2006.

[3] Francisco, Homilia, 1/04/2020.

[4] Santo Ambrósio, Epístola 2, 4 (PL 16, 880).

[5] Mons. Fernando Ocáriz, Carta, 5/04/2017.

[6] São Josemaria, Em diálogo com o Senhor, meditação “Viver para a glória de Deus”, 1b.

[7] São Jerônimo, Epístola 22, 39.

[8] São Josemaria, Apontamentos íntimos, Dia dos Santos Inocentes, 28/12/1931.

[9] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 21.

[10] Liturgia das horas, Vésperas do dia 2 de janeiro, responsório breve.

[11] São Josemaria, Caminho, n. 497.