Áudio do Prelado e texto (19/03/2020): São José e a segurança do impossível

Na festa de São José, o Prelado do Opus Dei convida-nos a ter "a segurança do impossível", como tinha o santo patriarca, "homem do sorriso permanente e do encolhimento de ombros". Meditação pregada na Igreja Prelatícia de Santa Maria da Paz (Roma, 19 de março de 2020).

Tradução

Meditação pregada na igreja prelatícia de Santa Maria da Paz (Roma, 19 de março de 2020).

A segunda leitura da missa de hoje nesta grande solenidade de São José – que tem tanto conteúdo para nós e para toda a Igreja – apresenta-nos, antes de tudo, a figura de Abraão. Esse grande patriarca, que a Igreja também considerou mais tarde como nosso pai na fé.

São Paulo diz na epístola aos romanos que leremos hoje, que Abraão, “contra toda a humana esperança, ele firmou-se na esperança”. E ele acreditou contra toda a esperança que seria o pai de muitos povos, e isso lhe valeu a justificação.

Conhecemos bem a história de Abraão: essa disponibilidade ao querer de Deus quando era um querer pouco compreensível humanamente. Ser pai de muitos povos nas circunstâncias de idade em que se encontrava. Depois, ir a um lugar sem saber para onde estava indo, confiante de que seria Deus quem lhe mostraria a todo momento o que ele deveria fazer, o que ele deveria planejar. Uma grande fé.

Esta figura é apresentada hoje pela liturgia como um preâmbulo a São José, aquele grande patriarca do Novo Testamento, nosso pai e senhor. Aí vemos, também, em primeiro lugar, a grande fé de São José.

E agora, em nossa oração, dirigindo-nos a São José, pedimos-lhe que nos consiga uma fé muito grande. A ele, a quem chamamos de nosso pai e senhor, pedimos que obtenha para nós uma fé sem condições, uma fé que traga consigo uma completa e total confiança no Senhor.

Para a missa de hoje se apresentam dois possíveis evangelhos. O de São Mateus nos conta como São José enfrentou um mistério, o grande mistério da Encarnação. Humanamente ele descobre e, como ele é justo, não quer denunciar Maria, pretende abandoná-la em segredo. Mas então vem um sonho. Um sonho no qual lhe é transmitido nada menos do que o Mistério: “Porque o que nela se gerou vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Quando José acordou, fez o que o Anjo do Senhor lhe ordenara”. Certamente, é um sonho especial acompanhado por toda a graça de Deus para a sua compreensão.

Sabemos muito bem qual era a atitude de São José diante de fenômenos extraordinários: o nascimento de Jesus, depois de ter preparado tudo com muito amor. De Nazaré têm de ir a Belém, onde não encontram lugar; mais ainda, têm que correr de noite para o Egito, fugindo. Ele, que tinha escutado do Anjo que este Menino é o que salvará o seu povo dos seus pecados. No entanto, não é capaz de se salvar, tem que fugir. Com grande incerteza, porque não lhe dizem: “Vai para o Egito por um tempo determinado”, mas: “Vai para lá até que eu te diga”. Podem ser meses, podem ser anos, podem ser semanas... é a disponibilidade diante do que o Senhor nos pede, quando aquilo que Ele nos propõe não é claro, imprevisível, quando o futuro se torna um pouco incontrolável. Mas aí está a fé, a fé de confiar no Senhor.

Em muitas ocasiões nas nossas vidas também encontraremos momentos – provavelmente não tão extraordinários – em que, de alguma forma, temos que colocar em primeiro plano a nossa confiança no Senhor. Vamos pedir-lhe por todos, especialmente hoje a São José: que confiemos em nosso Senhor. E que confiemos no Senhor através dos meios pelos quais quer se comunicar conosco. São José poderia ter pensado: “Tive um sonho, sonhei com isso, mas já me irão dizer mais claramente o que tenho que fazer”.

Uma grande fé. E depois, aquele regresso do Egito. Obedecer também pensando, assumindo a responsabilidade, tomando a iniciativa de regressar a Nazaré, em vez de ficar em Belém. Esta é a obediência da fé. Confiar, confiar no Senhor. Senhor, ajude-nos a confiar em você. Confiar em tudo o que nos vem da sua providência, mesmo quando é extraordinário. Para que saibamos como obedecer. Para que, sabendo obedecer por amor, sejamos livres.

Uma obediência que não é deixar de pensar. O nosso Padre [são Josemaria], referindo-se a São José, disse-nos numa homilia que, nas diversas circunstâncias da sua vida, o patriarca não renunciou a pensar, nem abandonou a sua responsabilidade. Portanto, a nossa obediência aos planos de Deus, em coisas grandes e pequenas, tem de ser baseada na liberdade e, portanto, na responsabilidade, em fazer as coisas porque queremos. Porque queremos, e, dessa forma, seremos sempre livres.

Quantas vezes já meditamos sobre isso, seguindo os ensinamentos do nosso Padre. Não somos livres simplesmente pela capacidade de escolher entre uma coisa ou outra: somos livres porque podemos amar, porque podemos sentir-nos – como o nosso Padre também dizia – livres como pássaros. Também somos livres nestas circunstâncias, nas quais estamos confinados pelo coronavírus. Somos livres como pássaros, porque podemos amar.

Podemos amar e, portanto, fazer tudo, sofrer tudo por amor. Em consequência, porque queremos de verdade. São José é para nós também um modelo na vida diária, na monotonia da vida cotidiana. O nosso Padre também nos dizia: o que pode esperar um habitante de uma aldeia perdida como Nazaré? Só o trabalho diário, sempre com o mesmo esforço. E, no final do dia, uma casa pobre e pequena para repor as forças e começar o trabalho do dia seguinte.

É assim que é a nossa vida. Um dia de trabalho e outro, sem nenhuma novidade. E, que podemos esperar, pergunta o nosso Padre, que poderia esperar São José? E continua: o nome de José em hebraico significa “Deus acrescentará”. E Deus acrescenta dimensões inesperadas à vida santa daqueles que fazem a sua vontade. O que é importante, o que dá valor a tudo, é o divino. E esta é a nossa vida.

Nós Vos agradecemos, Senhor, e Vos pedimos através da intercessão de São José, especialmente hoje, para que nos faça compreender a grandeza da vida corrente. Aquilo que já meditamos tantas vezes e que precisamos aprender de novo: a grandeza da vida corrente. E, concretamente, a grandeza da vida de trabalho.

Porque Deus, àquela nossa vida aparentemente monótona, acrescenta – como dizia o nosso Padre – o elemento divino. E o que é o divino? O divino é Ele mesmo, o divino é a sua Presença, a sua Graça; o divino é a eficácia sobrenatural do nosso trabalho. É fazer o nosso trabalho divino, tornando-o uma realidade santa.

Conhecemos poucos pormenores da vida de São José, mas podemos imaginar o seu trabalho em Nazaré. Como é que ele trabalharia, especialmente com Jesus? Nós, Senhor, queremos trabalhar com você, queremos que o nosso trabalho diário, habitual e cotidiano tenha esse suplemento divino, que é acima de tudo a sua presença. Que possamos trabalhar com você, Senhor. Com palavras ou sem palavras, que seja algo habitual nos nossos dias e no nosso trabalho, dizer para você, Senhor: “Jesus, vamos fazer isto juntos”. Isto tem de nos dar, por um lado, alegria, segurança; e, por outro, a responsabilidade de que não estamos fazendo algo nosso, sozinhos, mas que estamos fazendo algo muito de Deus, colaborando com Jesus Cristo em tudo o que fazemos.

Fé: a fé de São José. Esperança: a fé que é o fundamento da esperança. Aquela esperança que, como lemos na Epístola aos Colossenses, é posta no que “está reservado para nós nos céus”. E aí devemos ver também o nosso trabalho, na esperança do que “está reservado para nós nos céus”. E já agora, não só quando pela graça e misericórdia de Deus formos para o céu, se formos fiéis, mas já agora o que nos é reservado no céu é toda a ajuda de Deus, todo o amor de Deus, todo este olhar amoroso para o Senhor em todos os momentos.

Qual é a nossa esperança? O que esperamos durante o dia? Tantas coisas. Mas que a nossa esperança esteja nos céus. Que seja fruto da fé, a esperança é fruto da fé. Que possamos sempre esperar, com esperança segura, pelo “divino” nas nossas vidas.

E isso nos dará também segurança diante daquilo que nos parece difícil na nossa própria vida espiritual, que tantas vezes – diante da consciência da vocação à santidade – pode-nos parecer impossível, diante da experiência – tantas vezes repetida – das nossas limitações e misérias. Tantas vezes, humanamente falando, diremos: “Senhor, isto é impossível; mas nós, Senhor, pedimos-lhe, aqui, diante do corpo do nosso Padre, que nos dê – como o nosso Padre o fez – a segurança do impossível”.

Como São José. São José tinha a segurança do impossível. E esta certeza também nos fará imitar São José naquilo que o nosso Padre dizia, que viu na figura de São José o homem com o sorriso permanente e com encolhimento de ombros. Um encolher de ombros não de indiferença, mas de quem pode dizer: “Bem, não importa o que aconteça, porque seja o que for, aqui está a eficácia”.

E o sorriso permanente. No Evangelho não vemos o sorriso de São José, mas – como o nosso Padre fazia – podemos imaginar, sem dúvida o seu rosto amável, simpático, repleto de um sorriso permanente que dá alegria aos outros, que dá segurança aos outros. Também pedimos, Senhor, por intercessão de São José, que sejamos pessoas que sabem sorrir, que sabem sorrir mesmo quando há contrariedades, quando encontramos dificuldades. Sabemos bem, e já o experimentamos com alguma frequência, o que nosso Padre nos disse: que às vezes um sorriso é a melhor mortificação. Porque às vezes é preciso esforço para sorrir, porque há dificuldades, há preocupações, há doenças. Pode ser difícil sorrir. E o sorriso então não é uma coisa fictícia. Pode e deve ser profundamente autêntico, porque é esse sorrir sabendo que o Senhor está colocando o divino na nossa vida. E saber sorrir também para ajudar os outros, para dar segurança, para dar alegria.

Em situações difíceis, devemos saber sorrir e, sobretudo, rezar. Ontem, o Papa Francisco, a propósito da pandemia, fez este convite: “Invoque sempre São José, principalmente nos momentos difíceis, e confie a sua existência a este grande santo”. Vamos agora também, unindo-nos à oração do Papa, pedir a São José que ponha fim a este tempo difícil para tantas pessoas em todo o mundo.

Fé, esperança e caridade. O amor. A fé que atua mediante a caridade. Podemos imaginar o carinho de São José pelo Menino Jesus, o carinho de São José por Nossa Senhora. Um amor repleto de serviço, de dedicação, de responsabilidade para cuidar da Sagrada Família.

E a caridade tem tanto a ver com a fidelidade, uma fidelidade que hoje queremos renovar com São José. Para dizer ao Senhor, uma vez mais: “Aqui estou, Senhor, para o que você quiser”. Além disso, agradecendo a Ele porque somos muito conscientes de que esta capacidade de nos entregarmos ao Senhor, esta capacidade de nos entregarmos completamente, é um grande dom que o Senhor nos dá, que o Senhor nos oferece.

Bento XVI dizia uma vez que a fidelidade no tempo é o nome do amor. A renovação da nossa fidelidade tem de ser algo que surge do amor, de querer e de desejar a união com o Senhor e, consequentemente, de amar os outros, porque a nossa fidelidade aos planos de Deus, a fidelidade à nossa vocação cristã, à nossa vocação à Obra, é amor ao Senhor, amor aos outros, renovado no tempo.

Hoje pedimos ao Senhor, também agora, pela intercessão de São José, pela fidelidade de todos, pela renovação da fidelidade de todos na Obra. Que todos tenhamos sempre uma consciência muito viva de que a fidelidade à nossa vocação é a fidelidade a Jesus Cristo. É, sim, fidelidade a um modo de vida, a uma missão, a um espírito, mas é fidelidade a Jesus Cristo, de tal maneira que nos sentimos sempre muito do Senhor.

São Paulo diz: “Se vivemos, vivemos para o Senhor, e se morremos, morremos para o Senhor; portanto, quer vivamos quer morramos, somos do Senhor” (Rom 14, 8). A nossa identidade é que “pertencemos ao Senhor”.

A nossa fidelidade é reafirmar com gratidão que “pertencemos ao Senhor”. E tudo isto também através da fidelidade ao espírito que recebemos do nosso Padre: hoje é o seu onomástico. É lógico que hoje também nos dirijamos especialmente à sua intercessão.

Esta nossa fidelidade que queremos renovar hoje com uma vontade atual e forte é a fidelidade ao nosso Padre. Não consideremos o nosso Padre – não o vemos assim – como uma figura do passado, admirável, que nos deixou alguns escritos maravilhosos. Vejamos também esta fidelidade, como disse Paulo VI a D. Álvaro, com aquele conselho: “Quando tiver de decidir alguma coisa, pense em como decidiria o fundador, e acertará”. E D. Álvaro comentou que estava muito satisfeito com este conselho, porque era o que habitualmente procurava fazer.

Que a nossa fidelidade tenha também essa tonalidade, que para nós é muito importante, de fidelidade ao nosso Padre: fomentar o interesse em conhecê-lo melhor, em conhecer o seu espírito, os seus escritos, a sua vida, que nos ajudará a ser mais fiéis no dia-a-dia, no nosso trabalho, nas pequenas coisas de cada dia, no hoje e agora. E, ao mesmo tempo, ser fiel quando, em algumas circunstâncias especiais, particularmente difíceis, se apresentam a nós, como aconteceu a São José.

Fidelidade. Fidelidade no tempo é o nome do amor. E é assim: o nosso amor é amor de correspondência. E, portanto, uma grande parte, ou mais do que uma grande parte, do objeto fundamental da nossa fé é a fé no amor de Deus por nós. Para que o nosso amor, a nossa fidelidade seja correspondência: saber que somos amados pelo Senhor. Como o nosso Padre nos disse, e como já dissemos antes, devemos reconhecer que somos olhados por Deus em todos os momentos, sempre. Que nunca estejamos sozinhos, não só porque estamos rodeados de pessoas que nos amam: é que o Senhor está sempre conosco. O Senhor está tão conosco que nós somos d'Ele: Domini sumus.

É por isso que a fidelidade deve ser uma fidelidade cheia de alegria. E é assim. E hoje, enquanto renovamos a nossa fidelidade, queremos renovar também a alegria com que encaramos tudo o que fazemos, no trabalho, nas circunstâncias atuais tão peculiares por causa da epidemia. Devemos viver com alegria.

Viver com alegria, com aquele sorriso permanente de São José, porque é isso que o Senhor quer. Ser fiel ao Senhor é também ser feliz. Quando não estamos contentes, não estamos sendo fiéis, porque o Senhor quer a nossa alegria: “Que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa” (Jo 15,11).

É bom pensar que Deus quer que sejamos felizes, que estejamos alegres. E não apenas isso, mas Ele dá-nos todos os meios para sermos felizes. Dá-nos, acima de tudo, a sua presença, o seu amor, a sua companhia.

E com esta fé, com esta esperança, com esta caridade, com esta correspondência fiel, queremos que seja uma fidelidade apostólica. Não pode ser de outra forma. A nossa identificação com Cristo conduz necessariamente a uma preocupação pelas almas, que de uma forma especial colocamos ontem nas mãos de São José. E hoje, com palavras do nosso Padre, dizemos a nosso Senhor, colocando São José como nosso intercessor: “Almas, almas de apóstolo, são para ti, são para a tua glória”. Repitamo-lo muitas vezes hoje: “Almas, almas de apóstolo, são para ti, são para a tua glória”. Percorrendo o mundo, porque o mundo inteiro é nosso – o Senhor deu-nos em herança –, percorrendo o mundo desde a América do Norte, América do Sul, Ásia, África, Europa, Oceania: “Almas, almas de apóstolo, são para ti, são para a tua glória”.

Terminamos a meditação, pedindo a São José, a Maria, nossa Mãe, e com Maria e José a Jesus, a esta trindade da terra: que nos levem sempre pela mão à Trindade do Céu, a esse nosso Deus a quem pertencemos. Domini sumus, “somos do Senhor”.

Texto original em espanhol

Meditación predicada en la iglesia prelaticia de Santa María de la Paz (Roma, 19 marzo 2020)

La segunda lectura de la misa de hoy en esta gran solemnidad de san José -que tanto contenido tiene para nosotros y para toda la Iglesia- nos presenta, en primer lugar, la figura de Abraham. Ese gran patriarca, que también la Iglesia ha considerado después como nuestro padre en la fe.

Dice san Pablo en la epístola a los romanos que leeremos hoy, que Abraham, “en la esperanza, creyó contra toda esperanza”. Y creyó contra toda esperanza que sería padre de muchos pueblos, y esto le valió la justificación.

Conocemos bien la historia de Abraham: esa disponibilidad al querer de Dios cuando era un querer poco comprensible humanamente. Ser padre de muchos pueblos en las circunstancias de edad en que se encontraba. Después, ese ponerse en camino hacia un lugar sin saber a dónde iba, confiado en que iba a ser Dios quien le iría mostrando en cada momento lo que debía hacer, lo que debía planear. Una fe grande.

Esta figura nos la presenta hoy la liturgia como un preámbulo a san José, a ese gran patriarca del nuevo testamento, a nuestro padre y señor san José. Vemos ahí también, muy en primerísimo lugar, la fe grande de san José.

Y ahora, en nuestra oración, dirigiéndonos a san José, le pedimos que nos consiga una fe muy grande. Él, al que llamamos nuestro padre y señor, le pedimos que nos consiga una fe sin condiciones, una fe que comporte una confianza completa en el Señor, un fiarnos del todo.

Hoy en la misa hay dos evangelios posibles. El de san Mateo nos cuenta cómo se enfrentó san José a un misterio, al grandísimo misterio de la Encarnación. Humanamente lo descubre y, como justo que es, no quiere denunciar a María, quiere dejarla en secreto. Pero llega después un sueño. Un sueño en que se le transmite nada menos que el Misterio: “Porque lo que hay en ella viene del Espíritu Santo. Dará a luz un Hijo, y tú le pondrás por nombre Jesús, porque él salvará a su pueblo de los pecados. Cuando José se despertó, hizo lo que le había mandado el Ángel del Señor”. Ciertamente, es un sueño especial acompañado de toda la gracia de Dios para la claridad.

Y, luego, conocemos muy bien cómo era la actitud de san José ante fenómenos extraordinarios: el nacimiento, después de haber preparado todo con gran cariño. De Nazaret tienen que irse a Belén, donde no encuentran sitio; más aún, tienen que ir corriendo de noche a Egipto, huyendo. Él, que había escuchado del Ángel que ese Niño es el que salvará a su pueblo de los pecados. Sin embargo, no es capaz de salvarse a sí mismo, tiene que ir huyendo. Con una incertidumbre grande, porque no se le dice: “Vete a Egipto por un tiempo determinado”; sino: “Vete allí hasta que yo te diga”. Podrían ser meses, podrían ser años, podrían ser semanas… Es la disponibilidad ante lo que el Señor nos pide, cuando eso que nos pide comporta una duda especial, concretamente en lo imprevisible, cuando el futuro se pone un poco incontrolable. Pero ahí está la fe, la fe de fiarnos del Señor.

que nos fiemos del Señor a través de los medios por los que Él quiere hablarnos

También nosotros en muchas ocasiones en nuestra vida encontraremos momentos –probablemente no con un carácter tan extraordinario– en los que de alguna manera tenemos que poner en un primer plano el fiarnos del Señor. Se lo vamos a pedir para todos, especialmente hoy a san José: que nos fiemos del Señor. Y que nos fiemos del Señor a través de los medios por los que Él quiere hablarnos. San José podría haber pensado: “[He tenido] un sueño, he soñado esto, pero ya me lo dirán de un modo claro”.

Una fe grande. Y después, ese volver de Egipto. Obedecer pensando también, poniendo responsabilidad propia, poniendo iniciativa para volverse a Nazaret, en lugar de quedarse en Belén. Es la obediencia de la fe. Fiarnos, fiarnos del Señor. Señor, ayúdanos a fiarnos de ti. A fiarnos de todo lo que nos llega de tu providencia, también cuando es así extraordinaria. Para que sepamos obedecer. Para que sabiendo obedecer por amor, seamos libres.

Una obediencia que no es dejar de pensar. Nuestro Padre [san Josemaría], precisamente refiriéndose a san José, nos decía en una homilía que, en las diversas circunstancias de su vida, el patriarca no renuncia a pensar, ni hace dejación de su responsabilidad. Por eso, nuestra obediencia a los planes de Dios, en lo grande y en lo pequeño, tiene que ser hecha a base de libertad, y por tanto de responsabilidad, de hacer las cosas porque queremos. Porque queremos, y así seremos siempre libres. Cuantas veces lo hemos meditado siguiendo las enseñanzas de nuestro Padre. No somos libres simplemente por la capacidad de poder elegir entre una cosa u otra: somos libres porque podemos amar, porque podemos sentirnos –como decía también nuestro Padre– libres como pájaros. También libres en estas circunstancias en que estamos encerrados por el coronavirus. Somos libres como pájaros, porque podemos amar. Podemos amar y, por tanto, hacer todo, sufrir todo por amor; en consecuencia, porque nos da la gana.

San José es para nosotros también un modelo en lo ordinario, en la monotonía de la vida ordinaria. También nuestro Padre nos dice: ¿qué puede esperar de la vida un habitante de una aldea perdida, como era Nazaret? Solo trabajo todos los días, siempre con el mismo esfuerzo. Y, al acabar la jornada, una casa pobre y pequeña para reponer las fuerzas y recomenzar al día siguiente la tarea.

Así es nuestra vida. Un día de trabajo y otro, sin particulares novedades. Pero, ¿qué podemos esperar?, pregunta nuestro Padre. ¿Qué podía esperar san José? Y continúa: el nombre de José en hebreo significa “Dios añadirá”. Y Dios añade a la vida santa de los que cumplen su voluntad dimensiones insospechadas. Lo importante, lo que da su valor a todo, lo divino. Y esta es nuestra vida.

Te damos gracias, Señor, y te pedimos por intercesión de san José, hoy especialmente, que nos hagas entender la grandeza de la vida ordinaria. Eso que tantas veces hemos meditado y que tantas veces necesitamos volver a aprender: la grandeza de la vida ordinaria. Y, concretamente, la grandeza de la vida de trabajo.

Lo divino es Él mismo, lo divino es su Presencia, su Gracia

Porque Dios, a esa vida nuestra, aparentemente monótona, pone –como decía nuestro Padre– lo divino. Y, ¿qué es lo divino? Lo divino es Él mismo, lo divino es su Presencia, su Gracia; lo divino es la eficacia sobrenatural de nuestro trabajo. Es hacer divino nuestro trabajo, haciendo que sea una realidad santa.

De san José conocemos pocos detalles de su vida, pero podemos imaginar su trabajo en Nazaret. ¿Cómo trabajaría, especialmente con Jesús? Nosotros, Señor, queremos trabajar contigo, queremos que nuestro trabajo diario, corriente, ordinario, tenga también ese añadir lo divino, que sea sobre todo tu presencia. Que trabajemos contigo, Señor. Que sea, con palabras o sin palabras, algo habitual en nuestro día y en nuestro trabajo decirte a ti, Señor: “Jesús, vamos a hacer esto entre los dos”. Es así. Esto nos tiene que dar, por una parte, alegría, seguridad; y también la responsabilidad de que no estamos haciendo algo nuestro, solos, sino que estamos haciendo algo muy de Dios, una colaboración con Jesucristo en todo lo que hacemos.

Fe: la fe de san José. Esperanza: la fe que fundamenta la esperanza. Esa esperanza que, como leemos en la epístola a los Colosenses, está puesta en lo que “nos está reservado en los cielos”. Y ahí tenemos que ver también nuestro trabajo, en la esperanza de lo que “nos está reservado en los cielos”. Y ya ahora, no solo cuando por la gracia y la misericordia de Dios vayamos al Cielo, si somos fieles, sino ya ahora lo que nos está reservado en los cielos es toda la ayuda de Dios, todo el cariño de Dios, todo este mirarnos el Señor amorosamente a todas horas.

¿Cuál es nuestra esperanza? ¿Qué esperamos nosotros durante el día? Tantas cosas. Pero que nuestra esperanza esté en los cielos. Que sea fruto de la fe, la esperanza fruto de la fe. Que estemos siempre esperando, con una segura esperanza, lo divino en nuestra vida.

Y eso también nos dará seguridad ante lo que nos parezca difícil en nuestra propia vida espiritual, que tantas veces -ante la conciencia de la vocación a la santidad- nos podrá parecer imposible, ante la experiencia –tantas veces repetida– de nuestras limitaciones y miserias. Tantas veces nos parecerá imposible la realización de la misión apostólica –transformar este mundo, llevar este mundo a Dios, poner a Cristo en la cumbre de todas las actividades humanas– tantas veces, humanamente, diremos: “Señor, esto es imposible; pero nosotros, Señor te pedimos, aquí, ante el cuerpo de nuestro Padre, que nos des –como tuvo nuestro Padre– la seguridad de lo imposible”.

Como san José. San José tuvo la seguridad de lo imposible. Y esa seguridad nos hará también imitar a san José en eso que decía nuestro Padre, quien veía en la figura de san José al hombre de la sonrisa permanente y el encogimiento de hombros. Un encogimiento de hombros no de indiferencia, sino de: “Bueno, da igual [lo que ocurra], porque sea lo que sea aquí está la eficacia”.

Podemos sin duda imaginarnos su rostro amable, su rostro simpático

Y la sonrisa permanente. En el evangelio no vemos la sonrisa de san José, pero podemos -con nuestro Padre- sin duda imaginarnos su rostro amable, su rostro simpático, su rostro lleno de sonrisa permanente que da alegría a los demás, que da seguridad a los demás. Nosotros te pedimos también, Señor, por intercesión de san José, que seamos gente que sabe sonreír, que sepamos sonreír también cuando hay dificultades, cuando encontramos la contrariedad. Sabemos bien, y lo habremos experimentado con cierta frecuencia, lo que decía nuestro Padre: que a veces una sonrisa es la mejor mortificación. Porque a veces cuesta esfuerzo sonreír, porque hay dificultades, hay preocupaciones, hay enfermedad. Puede costar sonreír. Y la sonrisa entonces no es una cosa ficticia. Puede y debe ser profundamente auténtica, porque es ese saber sonreír sabiendo que ahí el Señor está poniendo lo divino en nuestra vida. Y saber sonreír también para ayudar a los demás, para dar seguridad, para dar alegría.

Ante las situaciones difíciles, saber sonreír y saber, sobre todo, rezar. Ayer el Papa Francisco, a propósito de la pandemia, hacía esta invitación: “Invoca siempre a san José, sobre todo en los momentos difíciles, y confía tu existencia a este gran santo”. Pues vamos también ahora, uniéndonos a la oración del Papa, pedirle precisamente a san José, que termine, que abrevie este tiempo difícil para tantísimas personas en todo el mundo.

Fe, esperanza y caridad. El amor. La fe que obra mediante la caridad. Podemos imaginar el cariño de san José por el Niño Jesús, el cariño de san José por la Virgen. Un cariño hecho de servicio, de dedicación, de responsabilidad por sacar adelante esa familia santa.

Y la caridad tiene tanto que ver con la fidelidad, una fidelidad que hoy precisamente queremos con san José, renovar. Decirle al Señor, una vez más se lo decimos ahora: “Aquí estoy, Señor, para lo que quieras”. Además, dándote gracias, porque somos muy conscientes de que este podernos entregar al Señor, este podernos darnos del todo es un gran don que el Señor nos da, que el Señor nos ofrece.

Benedicto XVI en una ocasión decía que la fidelidad a lo largo del tiempo es el nombre del amor. Efectivamente, todo nuestro renovar la fidelidad es el nombre del amor, tiene que ser algo que surge del amor, del querer, del desear la unión con el Señor y, en consecuencia, del querer a los demás, porque nuestra fidelidad a los planes de Dios, la fidelidad a nuestra vocación cristiana, a nuestra vocación a la Obra es amor al Señor, amor a los demás, renovado en el tiempo.

Hoy pedimos, especialmente también ahora, al Señor a través de san José, por la fidelidad de todos, por la renovación de la fidelidad de todos en la Obra. Que todos tengamos muy viva siempre la conciencia de que la fidelidad a la vocación es fidelidad a Jesucristo. Es, sí, fidelidad, a un modo de vida, a una misión, a un espíritu, pero es eso fidelidad a Jesucristo, de tal manera que nos sintamos siempre muy del Señor.

San Pablo dice aquello de: “Si vivimos, vivimos para el Señor; y si morimos, morimos para el Señor; por tanto, ya sea que vivamos ya sea que muramos, somos del Señor” (Rom, 14,8).Y esa es nuestra gran identidad. Nuestra identidad es que “somos del Señor”.

Nuestra fidelidad es reafirmar con agradecimiento que “somos del Señor”. Y todo esto también mediante la fidelidad lógicamente al espíritu que hemos recibido de nuestro Padre: hoy es su santo. Es lógico que hoy acudamos también especialmente a su intercesión.

Esta fidelidad nuestra que hoy queremos renovar con una voluntariedad actual, fuerte, es fidelidad a nuestro Padre. Que no veamos a nuestro Padre –no lo vemos así– como una figura pasada de la historia, sí admirable, que nos ha dejado unos escritos estupendos… Que veamos también esta fidelidad como le dijo Pablo VI a don Álvaro, con aquel consejo: “Cuando tenga que decidir algo, piense cómo decidiría el fundador, y así acertará”. Y comentó don Álvaro que le dio mucha alegría ese consejo, pues era lo que estaba ya haciendo desde el primer momento.

Que también la fidelidad nuestra tenga este matiz –para nosotros muy importante– de fidelidad a nuestro Padre: fomentar el interés por conocerle mejor, por conocer mejor su espíritu, sus escritos, su vida, que nos ayudará precisamente a ser más fieles en lo ordinario, en el trabajo, en lo pequeño de cada día, en el hoy y ahora. Y, a la vez, a ser fieles cuando en alguna ocasión se nos presenten, como a San José, circunstancias especiales, particularmente difíciles.

Fidelidad. Fidelidad a lo largo del tiempo es el nombre del amor. Y es así: nuestro amor es amor de correspondencia. Y por eso, gran parte, o más que gran parte objeto muy fundamental de nuestra fe, es la fe en el amor de Dios por nosotros. Para que nuestro amor, nuestra fidelidad sea correspondencia: sabernos queridos por el Señor. Como decía nuestro Padre, lo recordábamos antes, sabernos mirados amorosamente por Dios a todas horas, a todas horas. Que no estamos solos nunca, no solo porque estamos gracias a Dios rodeados de personas que nos quieren: es que está el Señor con nosotros. Está tan con nosotros el Señor que somos algo suyo: Domini sumus.

Por eso la fidelidad tienen que ser una fidelidad llena de alegría. Lo es. Y hoy, al renovar nuestra fidelidad, queremos que sea también una renovación de la alegría con que afrontamos cada cosa que tenemos entre manos, en el trabajo, en las circunstancias actuales tan peculiares por la epidemia. Vivir con alegría.

Vivir con alegría, con esa sonrisa permanente de san José, porque es lo que el Señor quiere. Ser fieles al Señor es también estar contentos. Cuando no estamos contentos no estamos siendo fieles, porque el Señor quiere nuestra alegría: “Que mi alegría esté con vosotros y vuestro gozo sea completo” (Jn 15,11).

Es estupendo pensar que Dios lo que quiere es que estemos contentos, que seamos felices. Y no solo eso, sino que, además, nos da todos los medios para ser felices. Y nos da sobre todo su presencia, su amor, su compañía.

Y con esta fe, con esta esperanza, con esta caridad, con esta correspondencia fiel, queremos que sea una fidelidad apostólica. No puede ser de otra manera. Nuestra identificación con Cristo lleva necesariamente al afán de almas, que de un modo especial ayer pusimos en manos de san José. Y que hoy, con palabras de nuestro Padre, se lo decimos al Señor poniendo por intermediario a san José: “Almas, almas de apóstol, son para ti, para tu gloria”. Vamos a repetirlo mucho, quizá hoy: “Almas, almas de apóstol, son para ti, para tu gloria”. Recorriendo el mundo, porque todo el mundo es nuestro –nos lo ha dado en heredad el Señor–, recorriendo el mundo desde América del Norte, América del Sur, Asia, África, Europa, Oceanía: “Almas, almas de apóstol, son para ti, para tu gloria”.

Terminamos acudiendo con san José, a María, Madre nuestra, y con María y con José a Jesús, a esta trinidad de la tierra (Jesús, María y José): que nos lleven siempre de la mano a la Trinidad del Cielo, a ese Dios nuestro al que pertenecemos. Domini sumus, “somos del Señor”.