Homilia do Prelado na 28ª Jornada Mariana da Família

Reproduzimos na íntegra a homilia de Mons. Fernando Ocáriz na 28ª edição da Jornada Mariana da Família, em Torreciudad.

“A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Salmo responsorial, Lc 1,47). Ao repetir, no salmo responsorial, estas palavras da Santíssima Virgem, quisemos acompanhar nossa Mãe em sua atitude de agradecimento e louvor a Deus. Temos muitos motivos para elevar nossa alma ao Senhor, que quis e quer realizar coisas grandes em nós e, por meio de nós, em nossas famílias, na sociedade e no mundo inteiro.

Hoje, ao celebrar esta Jornada Mariana da Família junto à Virgem de Torreciudad, elevamos nosso coração ao Senhor com essas palavras de Santa Maria. Certamente, somos e sabemos que somos pouca coisa, muito necessitados da ajuda de Deus para sermos bons filhos seus e para levar para frente nossas famílias conforme o querer de Deus, mas com nossa Mãe do Céu nos sentimos capazes de recitar esta oração de ação de graças a Deus: “a minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”.

Que admirável é contemplar como Maria e José também tiveram dificuldades para levar a família adiante!

No Evangelho vimos como um anjo tranquilizou são José, num momento complicado para a história da família de Nazaré (cfr. Mt 1,18-23). Que admirável é contemplar como Maria e José também tiveram dificuldades para levar a família adiante! A história de seu lar não é uma história idealizada: sim, a Sagrada Família foi sem dúvida a mais feliz que existiu e existirá na Terra, mas nem por isso deixaram de ter que enfrentar contrariedades e problemas.

“Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28). São palavras de são Paulo que escutamos na segunda leitura. Muitos recordaremos que são Josemaria as resumia em três palavras: omnia in bonum, tudo é para o bem. Quantas vezes estas palavras nos terão servido para abraçar a vontade de Deus, também quando não compreendíamos por que permitia algo que nos fazia sofrer ou fazia os outros sofrerem. Podemos aplicar esta jaculatória em cada um dos lares; tudo é para o bem: um problema econômico que obriga a mudar os planos, os desafios que supõe educar os filhos, as dificuldades para harmonizar um trabalho exigente com os cuidados da casa... Tudo é para o bem, se colocamos tudo nas mão de Deus: Ele dará forças para converter esses momentos em ocasiões de crescer como família, para fazer que esses pequenos grandes dramas, no fim, unam mais essa família, porque todos enfrentarão juntos e com amor.

omnia in bonum, tudo é para o bem. Quantas vezes estas palavras nos terão servido para abraçar a vontade de Deus, também quando não compreendíamos

“Dou graças a Deus – diz o Papa Francisco - porque muitas famílias, que estão bem longe de se considerarem perfeitas, vivem no amor, realizam a sua vocação e continuam para diante embora caiam muitas vezes ao longo do caminho.” (Ex. Ap. Amoris Laetitia, 57). São palavras de esperança. Ao mesmo tempo, convidam-nos a perguntarmo-nos: somos consciente do grande bem que as famílias fazem quando se esforçam por ser uma escola de comunhão, de perdão, de solidariedade? Sim, as famílias podem dar luz e calor a outras famílias, a amigos, vizinhos, companheiros de estudo ou de trabalho. “Deus quer que cada família seja um farol que irradia a alegria do seu amor pelo mundo. O que significa isso?” – perguntava o Santo Padre há alguns dias, na Irlanda. “Significa – dizia -que cada um de nós, depois de ter encontrado o amor de Deus que salva, procuremos, com palavras ou sem elas, manifestá-lo através de pequenos gestos de bondade na vida rotineira de cada dia e nos momentos mais simples da jornada” (Discurso, Dublin, 25-VIII-2018).

Para conseguir isso, não é necessário que tudo saia perfeitamente em nossa casa. “Cada lar cristão– afirma são Josemaria - deveria ser um remanso de serenidade em que, por cima das pequenas contrariedades diárias, se pudesse notar uma afeição profunda e sincera, uma tranquilidade profunda, fruto de uma fé real e vivida” (É Cristo que Passa, 22). É assim que estas famílias cooperam muito direta e eficazmente para construir e fortalecer a civilização de amor, da qual falava são João Paulo II.

Na “oração do dia” de hoje, dirigimo-nos ao Senhor, dizendo que em seus “mandatos a família encontra seu autêntico e seguro fundamento”. Esta é, efetivamente, a rocha que dá estabilidade à família: o desígnio amoroso e sábio de nosso Criador e Pai sobre ela. Por isso, queremos conhecer e apreciar cada vez mais os traços desse maravilhoso plano de Deus, e difundi-los com alegria em toda a sociedade.

Renovemos hoje também, junto à Virgem, o propósito de viver a comunhão dos santos com intensidade. Rezemos pela Igreja, pelo Papa e por todos os pastores e fiéis. E que, nesta jornada, nossas petições, especialmente por todas as famílias do mundo, subam ao Céu: que chegue a elas a força da oração e do sacrifício que acompanhe cada uma das nossas jornadas.

Mãe nossa, Virgem de Torreciudad, com a sua ajuda queremos compartilhar essa visão alegre e cheia de esperança da família com as pessoas que temos ao nosso redor. Pedimos que saibamos caminhar juntos, em família, até o encontro com Deus e com os outros. Não nos desalenta que o caminho possa ser árduo, ou que possamos tropeçar, porque sabemos que você nos acompanha sempre.