A Eucaristia e o descanso dos filhos de Deus

Aprender a descansar com medida constitui em si obrigação que requer tanta generosidade quanta a exigida pelo trabalho. Cristo, glorioso no Santíssimo Sacramento, escutará nossas petições, irá enchendo de paz e de alegria nossos corações.

“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer e tempo para morrer; tempo para plantar e tempo para arrancar o que foi plantado; (...); tempo para demolir e tempo para construir; tempo para chorar e tempo para rir (...)” (Qo e, 1-4).

A necessidade do descanso serve de contraponto à lei do trabalho. Já se sublinhou o fato de que na música são tão importantes os momentos preenchidos pelos sons como os destinados às pausas. Algo de semelhante sucede em nossa vida: será harmônica se soubermos distribuir bem os tempos de esforço e os de repouso. Por isso, tendo considerado já a importância do trabalho na vida de um filho de Deus e da relação que tem com a alma eucarística, convém recordar também como o descanso informa o comportamento de um filho de Deus e pode expressar o seu amor a Jesus sacramentado.

Dar a cada coisa seu tempo implica dar a cada tempo a sua própria tarefa. É preciso realizar as diferentes atividades de forma ordenada, se quisermos que o nosso dia produza muito fruto. As pessoas necessitam repor as forças – físicas, psíquicas, espirituais – gastas pela dedicação intensa ao trabalho, e também é muito conveniente reservar algum espaço do dia ou da semana para atividades diferentes da ocupação profissional habitual, imprescindíveis para ocupar-se devidamente da família, cultivar a amizade com outras pessoas, aumentar a própria cultura; sem esquecer que os momentos de distensão permitem, além disso, pensar com calma e profundidade no futuro – pessoal e das pessoas queridas –, no sentido da vida presente, no que vem depois da existência terrena. É interessante igualmente mudar as circunstâncias nas quais o homem ou a mulher atuam – dependendo das reais possibilidades de cada um – passando umas horas, ou uns dias, em outro lugar ou outro ambiente, para voltar, renovados, à situação normal.

É claro que não se pode viver segundo todas as boas e verdadeiras exigências da pessoa humana, se se mantém um ritmo frenético na atividade profissional. Aprender a descansar com medida constitui em si obrigação que requer tanta generosidade quanta a exigida pelo trabalho e, por vezes, inclusive mais, pois às vezes pede um especial desprendimento dos próprios programas e uma maior disponibilidade para os planos e necessidades dos outros. Saber descansar, sem cair no ócio, é ciência que tem muito de sabedoria.

Não quero deter-me em considerações de caráter físico ou psicológico, que um bom médico pode comentar muito melhor; mas não vou continuar sem antes recordar algo que, embora pareça bem conhecido, se descuida às vezes. Muitas vezes, o comportamento ou as reações inadequadas de uma pessoa que cria uma situação familiar ou profissional no limite do suportável, se resolve conseguindo que essa pessoa durma o suficiente, que se submeta a certa ordem nas refeições, que procure um pouco mais de distração e recorra – se for preciso – à oportuna medicação. Uma vez dito isso, vou me deter nas implicações espirituais do descanso humano, que tantas vezes são as que mais pesam e as que menos atenção recebem, talvez porque não se enfrenta, com valentia e bom senso, as dificuldades concretas que aparecem.

Descansar em Deus: abandonar nele nossas preocupações

Jesus Cristo falou muito do descanso, e nada mais lógico, porque Ele veio trazer paz à nossa alma com sua graça, e saúde definitiva a nosso corpo na ressurreição final, da qual contemplamos o modelo e a causa em sua ressurreição gloriosa. Desceu à terra para livrar-nos dos fardos que nos pesam e das preocupações que nos oprimem: os pecados, o medo da morte, as armadilhas do demônio, a presunção da soberba, as pontadas da inveja, os assomos da ira; e também para despertar em nós tantos bons desejos e a muita capacidade que nosso coração alberga.

O Senhor referiu-se ao descanso desde o primeiro instante de sua pregação. São Lucas caracteriza o anúncio público, começo da boa nova, com esse tema. “Foi então a Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, no dia de sábado, foi à sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, encontrou o lugar onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu, para anunciar a Boa-Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano aceito da parte do Senhor”. Depois, fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos nele. Então, começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4, 16-21). Jesus redime os homens do peso de uma consciência culpável, porque perdoa os nossos pecados; porque nos livra da escravidão do príncipe deste mundo, pois vence o maligno e porque nos ajuda a entender a carga da pobreza, ao declará-la bem-aventurada. Suprime toda opressão e oferece a todos um tempo de paz e de descanso, um tempo jubilar.

São Mateus também coloca logo este argumento nos lábios do Mestre. O primeiro dos longos discursos que traz em seu evangelho abre-se com as bem-aventuranças, nas quais Jesus enfrenta todos os motivos de queixa que amarguram, ou pelo menos nublam, a existência das pessoas: de um lado, a preocupação desordenada pela riqueza, pela comida e a roupa, pelos conflitos com algumas pessoas; de outro, a preocupação geral pela real consistência desta vida e o relacionamento com os outros. Aquelas e essas, o Senhor as resolve, ao declarar “feliz” a situação de quem é pobre de espírito, de quem sofre perseguição pela justiça, de quem é manso e casto, etc.

No mesmo discurso, como que voltando a essas realidades de outro ponto de vista, Jesus ensina a todos que o ouvem que não andem ansiosos atrás da comida, da roupa ou da casa; a todos exorta a descansar em nosso Pai que está nos céus, a abandonar em sua providência apuros e preocupações, bem convencidos de que Ele não se esquecerá de nunca de seus filhos nem os maltratará, nem nas coisas mais materiais. Vejamos mais uma vez suas palavras:

“Não vivais preocupados com o que comer ou beber, quanto à vossa vida; nem com o que vestir, quanto ao vosso corpo. Afinal, a vida não é mais que o alimento, e o corpo, mais que a roupa? Olhai os pássaros do céu: não semeiam, não colhem, nem guardam em celeiros. No entanto, o vosso Pai celeste os alimenta. Será que vós não valeis mais do que eles? Quem de vós pode, com sua preocupação, acrescentar um só dia à duração de sua vida? E por que ficar tão preocupados com a roupa? Olhai como crescem os lírios do campo. Não trabalham, nem fiam. No entanto, eu vos digo, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só dentre eles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje está aí e amanhã é lançada ao forno, não fará ele muito mais por vós, gente fraca de fé? Portanto, não vivais preocupados, dizendo: ‘Que vamos comer? Que vamos beber? Como nos vamos vestir?’ Os pagãos é que vivem procurando todas essas coisas. Vosso Pai que está nos céus sabe que precisais de tudo isso” (Mt 6, 25-32).

Descanso e filiação divina: o ensinamento de Jesus

Ao falar do descanso autêntico, Jesus está nos ensinando a comportar-nos como filhos de Deus. Assim como um pai da terra se preocupa com a alimentação, com a roupa, com o desenvolvimento harmônico de seus filhos, Deus se preocupa conosco; ou, para exprimi-lo de modo mais exato, a paternidade na terra é um reflexo da paternidade divina. Estamos diante de um aspecto de capital importância para entender quem é nosso Pai Deus e como nos trata. Cairíamos em grave erro se o imaginássemos como um ser terrível e longínquo, que habita no céu infinito, desinteressado das criaturas que Ele mesmo trouxe à existência. Apesar de desejarmos sinceramente comportar-nos como cristãos, esse perigo nos ronda. “É preciso convencer-se de que Deus está junto de nós continuamente. - Vivemos como se o Senhor estivesse lá longe, onde brilham as estrelas, e não consideramos que também está sempre ao nosso lado. E está como um Pai amoroso - quer mais a cada um de nós do que todas as mães do mundo podem querer a seus filhos -, ajudando-nos, inspirando-nos, abençoando... e perdoando” [1].

Deus, que chamou os homens à vida, continua ocupando-se deles, segue-os amorosamente, intervém constantemente para conduzi-los ao fim que se propôs: acolhê-los na intimidade de sua vida eterna, respeitando a sua liberdade e as outras características de sua natureza, com a qual Ele mesmo decidiu dotá-los.

Nós tendemos a resolver, exclusivamente por nossa conta, os pequenos ou grandes problemas diários, se achamos que a solução deles está ao nosso alcance. Nosso sentido de responsabilidade – sem excluir talvez nosso orgulho, nosso desejo de afirmação pessoal – leva-nos a apertar os dentes e a esforçar-nos para deixar tudo bem resolvido; custa-nos pedir ajuda a outros e só o fazemos quando não resta outro remédio, e às vezes com vergonha.

Não recorramos a Deus só quando a indigência for muito grande: diante de um perigo de morte, numa doença séria, quando se dá uma verdadeira ruína econômica, quando sobrevém uma catástrofe natural ou conflito bélico. Recorramos ao Pai celestial também nas coisas pequenas, nas coisas de cada dia. Assim, nossos dias não se encherão de preocupações e brigas por coisas mínimas, porque não estarão vazios de Deus, porque O teremos deixado entrar em nossa existência concreta e viveremos com Ele nossa aventura cotidiana: circunstâncias todas que nos indicam o modo de viver como seus filhos e de descansar no Pai.

Um bom filho fala com seu pai de tudo o que o preocupa e de tudo o que interessa a seu pai. Jesus convida-nos a compartilhar com Deus as preocupações, porque assim descansaremos; passar da situação de “estar fechados no que é nosso” (sepultados pelas pequenezes materiais e de relacionamento de cada dia) à de “estar nas coisas do Pai”; trocar a busca de nossa justificação, a todo custo e em tudo o que fazemos, pela busca prioritária do reino de Deus e de sua justiça (cfr. Mt 6, 33). São Josemaria, baseando-se em sua experiência pastoral, impulsionava a realizar essa mudança santa: “É normal, às vezes até entre almas boas, criarem-se conflitos íntimos, que chegam a produzir sérias preocupações, mas que carecem de qualquer base objetiva. Sua origem está na falta de conhecimento próprio, que conduz à soberba: ao desejo de se tornarem o centro da atenção e estima de todos, à preocupação de não ficarem mal, de não se resignarem a fazer o bem e desaparecer, à ânsia de segurança pessoal... E assim, muitas almas que poderiam gozar de uma paz extraordinária, que poderiam saborear um imenso júbilo, transformam-se, por orgulho e presunção, em infelizes e infecundas!” [2]

Descansar em Deus: pedir-lhe perdão como Zaqueu e perdoar

“Depõe no Senhor os teus cuidados, porque ele será teu sustentáculo, não permitirá jamais que vacile o justo” (Sal 54, 23). Desanima-se com o desequilíbrio dos pecados não perdoados, vivos ainda na alma. Por isso, para descansar deveras, é preciso mostrar-se plenamente sinceros com Deus e pedir-lhe perdão no sacramento da Reconciliação, que devolve a tranquilidade e a paz da alma.

As palavras do salmista aplicam-se, sem dúvida, às cargas e angústias para sobreviver, para ir em frente; mas referem-se antes e de modo mais profundo às ofensas contra Deus, que roubam a paz da consciência e afundam a alma na ânsia de uma felicidade falsa. Foi a isso que nos exortou Jesus em um momento de exultação no Espírito Santo, contemplando a seu lado as pessoas simples e humildes; e vendo à distância, com atitude de reserva, os sábios e prudentes. “Vinde a mim – diz – todos os fatigados e aflitos, e Eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis repouso para vossas almas” (Mt 11, 28-29).

Propõe-nos uma troca: dar-lhe o que nos pesa e tomar a sua carga. Sairemos ganhando, “porque meu jugo é suave e minha carga leve” (Mt 11, 30). Move-nos a abandonar nele a nossa soberba, que tantas fadigas nos acarreta e a revestir-nos da sua humildade, que permite considerar os problemas em sua verdadeira dimensão, sem exagerar as dificuldades. A trocar a nossa ira e a nossa arrogância pela sua mansidão. Mudança sempre a nosso favor: nós carregamos nEle a opressão que os nossos vícios e pecados merecem, e conseguimos as virtudes e a paz que Ele nos traz. Chama-nos a permutar o amor próprio desordenado, por esse amor de Deus que se entrega a todos; e então desaparece a fadiga do trabalho; ou então, se continua, a criatura deleita-se precisamente nela, como resumiu Santo Agostinho com frase admirável:in eo quod amatur, aut non laboratur, aut et labor amatur[3], quando se ama de verdade, o trabalho não custa; e se custa, ama-se. Percebeu-o bem Zaqueu, quando acolheu o Senhor em sua casa: trocou a sua riqueza material pela proximidade de Jesus. Preferiu recebê-lo na alma a continuar arrecadando dinheiro e defraudando os pobres. E encheu sua vida de alegria e de paz (cfr. Lc 19, 1-10).

As palavras do salmista e as que Jesus pronunciou referem-se, além disso, aos pesos que com frequência temos por dentro e que chamamos ressentimentos, rancores, desejos de vingança. É preciso igualmente abandonar essas cargas no Senhor, porque cansam a alma e a paralisam em seu caminho para Deus; tiremos essa carga dos nossos ombros, perdoando de coração aos que nos tiverem ofendido Na realidade, o perdão é antes de mais nada uma decisão pessoal, uma opção do coração que vai contra o instinto espontâneo de devolver mal por mal. Tal opção tem seu ponto de referência no amor de Deus, que nos acolhe apesar de nossos pecados e. como modelo supremo, o perdão de Cristo, que invocou da cruz: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34).

“Assim pois, o perdão tem uma raiz e uma dimensão divinas. Não obstante, isto não exclui que o seu valor possa se entender também à luz de considerações baseadas em razões humanas. A primeira de todas é a que se refere à experiência vivida pelo ser humano quando comete o mal. Então ele percebe a sua fragilidade e deseja que os outros sejam indulgentes com ele. Portanto porque não tratar os outros como se deseja ser tratado? Todo ser humano abriga em si a esperança de poder reemprender um caminho na vida e não permanecer para sempre prisioneiro de seus próprios erros e das suas próprias culpas. Sonha em poder levantar de novo o olhar para o futuro, para descobrir ainda uma perspectiva de confiança e compromisso”[4].

Perdoar coincide sempre com descansar. Mas perdoar às vezes não é fácil; a rigor, havemos de reconhecer que nós homens com frequência não sabemos fazê-lo; só Deus se mostra indulgente de modo perfeito, porque perdoa tudo e sempre a quem implora sua graça: manifesta a sua onipotência justamente com sua misericórdia para conosco. Fez-se habitual, infelizmente, a atitude de que se deve perdoar, mas não esquecer. Sem negar o evidente – o valor da experiência – devemos ser exigentes conosco com sinceridade para não nos desculparmos e continuarmos com a alma carregada de velhas pendências, de listas de injúrias, que impedem de voar alto rumo a Deus.

Jesus, desde o princípio da sua pregação, no sermão da montanha que nos transmite São Mateus, ensina claramente que um filho de Deus perdoa a quem o ofendeu. Seu ser e seu sentido da filiação divina estão estreitamente ligados à certeza da misericórdia com que Deus o trata, e o impulsionam, como consequência, a outorgar gozosamente o perdão aos outros.

Para que este ponto ficasse bem claro, Jesus enfrentou o escândalo dos fariseus quando perdoou ao paralítico os seus pecados (cfr. Mt 9, 1-8) e quando se sentou para comer com os pecadores em casa de Levi (cfr. Mt 9, 10-13). Disse a Pedro e aos outros Apóstolos que teriam que perdoar sempre a seus irmãos, e explicou-lhes a razão: cada um de vós deve mais a Deus, mais vos foi perdoado (cfr. Mt 18, 21-35). Declarou bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia, indo assim à contracorrente num ambiente vingativo e duro com os fracos e os derrotados (cfr. Mt 5, 7).

O Senhor insistiu reiteradamente neste ponto. Insistiu, porque conhecia a dificuldade do homem para entendê-lo, para assimilá-lo; e porque é fundamental para acolher o dom da filiação divina, intimamente vinculado com o da fraternidade sobrenatural. Santo Agostinho explica que não receberá a herança do Senhor quem rejeitar o testamento da paz; não pode estar em concórdia com Cristo quem se obstina em permanecer em discórdia com o cristão[5]. Quem se sente filho e se sabe perdoado perdoa; quem olha o outro como a um irmão, outro filho do mesmo Pai. Tinha-o ensinado claramente o apóstolo João: “Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. Temos de Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também a seu irmão” (1 Jo 4, 20-21).

Cristo não se cansou de inculcar a misericórdia e o perdão, a ponto de equiparar a perfeição espiritual, a santidade, com a capacidade de perdoar e usar de misericórdia com os outros. “Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também” (Lc 6, 36-38). Desse modo anima-nos a não fecharmos nem endurecermos o nosso coração ante as imperfeições e defeitos alheios. “Ninguém poderá dar nada a ninguém, se antes não deu a si mesmo. Assim, depois de ter obtido misericórdia e abundância de justiça, o cristão começa a ter compaixão dos infelizes e começa a rezar pelos pecadores. Torna-se misericordioso inclusive para com seus inimigos. Prepara para si, com esta bondade, uma boa reserva de misericórdia para a chegada do Senhor”[6].

Descansar com Deus: entrar em sua lógica de amor e compreensão

A ignorância das próprias culpas influi também na dificuldade para a compreensão e a compaixão: quando não se reconhece os pecados pessoais, descobrem-se só as faltas dos outros e eles são acusados sem piedade, como ficou patente no episódio da mulher adúltera (cfr. Jo 8, 1-11). Unicamente o Filho de Deus, inocente, compadeceu-se daquela infeliz e a perdoou, dizendo-lhe que não pecasse mais. Explicava um Padre da Igreja: “Se tu, homem, não podes viver sem pecado e por isso buscas o perdão, perdoa sempre; perdoa na medida em que e quantas vezes queiras ser perdoado. Já que desejas sê-lo totalmente, perdoa tudo e pensa que, perdoando aos outros, a ti mesmo te perdoas”[7].

Em troca, na facilidade para perdoar, para compreender, influi o amor. Quem sabe amar de verdade está inclinado a perdoar a quem ama. A ciência da caridade é ciência de perdão; e vice-versa. São Josemaria explicou-o muito frequentemente com frase lapidar, que impressiona por sua simplicidade e transparência, vibrante de sinceridade: “Eu não precisei aprender a perdoar, porque Deus me ensinou a amar”[8]. Sabem-no bem e o experimentaram os pais que amam de verdade a seus filhos: não precisam esforçar-se para perdoar, depois de alguma travessura, ou quando voltam a casa depois de se terem afastado. Como o pai da parábola narrada por Jesus, adiantam-se para abraçá-los, para falar com eles, para fazer festa pelo retorno do filho que se havia perdido (cfr. Lc 15, 21-24).

É também muito expressiva a esse respeito a segunda parte da parábola. O filho mais velho não entende a alegria do seu pai e não quer participar da festa, porque não sabe perdoar. Seu coração guarda rancor e desprezo pelo irmão que tinha ido embora, e além disso manifesta certo ressentimento para com seu pai; considera-o culpado por não lhe ter presenteado um cabrito para organizar festas com seus amigos. Pode-se afirmar que não se sente de verdade nem filho nem irmão, conserva no coração injúrias – falsas injúrias, nesse caso – que o impedem de juntar-se ao festejo, ao descanso na casa paterna.

Descansar em Deus significa nem mais nem menos participar do descanso do Senhor: aí se acha o verdadeiro repouso dos filhos de Deus. E descansar com Deus, repousar na casa paterna significa igualmente: entrar em seu gozo, encher-se de sua alegria.

O discípulo chegará a essa plenitude no final da sua passagem fiel por esta terra, depois de gastar os seus dias com um trabalho realizado por amor, colocando todo seu engenho e todo seu esforço a serviço dos interesses do seu Senhor, que é ao mesmo tempo seu Pai e o espera (cfr. Mt 25, 21 e 23); isso não implica, porém que aqui embaixo não apareça já este dom, pois a própria história humana demonstra que os homens e mulheres que caminham em paz com seu Senhor, experimentam já o gozo e a paz que o mundo não pode oferecer.

Descansar com Deus é um presente imerecido; por isso, é preciso pedi-lo. Jesus ensinou-nos a solicitá-lo na quinta petição do Pai-nosso, quando dizemos a Deus que nos perdoe e nos ajude a perdoar. Mas também se pode suplicar de outro modo; por exemplo, relacionando este descanso com a paz que o Senhor nos prepara, como rezava Santo Agostinho. “Senhor Deus, dá-nos a paz, posto que nos deste todas as coisas; a paz do descanso, a paz do sábado, a paz sem tarde. Porque toda esta ordem formosíssima de “coisas muito boas”, concluídos seus modos, há de passar; por isso se fez nelas “manhã e tarde”. O sétimo dia, porém não tem “tarde”, nem ocaso, porque o santificaste para que durasse eternamente, a fim de que assim como tu descansaste no sétimo dia depois de tantas obras “sumamente boas” que fizeste (...), também nós, depois de nossas obras “muito boas”, porque Tu no-las doaste, descansaremos em ti no sábado da vida eterna”[9].

A paz, perfeição do descanso, fruto do trabalho

A verdadeira paz define a perfeição do descanso: com a superação da luta entre o homem velho e o homem novo; com a ordem na tensão entre o interior e o exterior da pessoa; com a falta de tristeza ao comprovar nossas limitações; ao não se deixar abater pela fadiga na atividade e na prossecução do bem. Santo Agostinho apresenta-a como “serenidade da mente, tranquilidade de ânimo, simplicidade de coração, vínculo de amor, consórcio de caridade”[10]. Efetivamente todos ansiamos, e é lógico, por não ter que lutar nem travar batalhas contra nada, contra ninguém; chegar a uma paz completa, estável, eterna; uma paz à qual não escape a consecução das retas exigências, e na qual nenhum temor inquiete e nenhum inimigo ameace.

Mas um descanso assim não se alcança neste mundo, como bem explica São Tomás: “A verdadeira paz é dupla. Uma é a paz perfeita, que consiste no gozo do Sumo Bem, quando todas as inclinações se fundem aquietando-se num único objeto; e este é o fim último do homem. E há uma paz imperfeita, que é a única possível neste mudo, pois inclusive quando todos os movimentos da alma se dirigem a Deus, dão-se sempre outros elementos que perturbam essa paz dentro e fora”[11]; também para que ansiemos mais, sempre e em tudo, pela posse definitiva do Senhor.

Enquanto a história continuar o seu andamento, será preciso lutar sempre; não podemos considerar nenhuma virtude definitivamente conquistada, sempre será preciso velar pela concórdia adquirida. A vida do homem na terra, como advertiu Jó, é milícia, nossos dias evoluem como os do operário (cfr. 7, 1); a paz interior e a exterior requerem sempre cuidado e esforço.

Muitos autores espirituais comentaram a parábola evangélica do homem cujos negócios iam muito bem. Imaginou que havia alcançado grande bem-estar, que podia prescindir completamente do trabalho e abandonar-se ao ócio, e se perguntava: “Que farei? porque não tenho onde recolher a minha colheita. Disse então ele: Farei o seguinte: derrubarei os meus celeiros, e construirei maiores; neles recolherei toda a minha colheita e os meus bens. E direi à minha alma: Ó minha alma, tens muitos bens em depósito para muitíssimos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Deus, porém, lhe disse: Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma. E as coisas, que ajuntaste, de quem serão? Assim acontece ao homem que entesoura para si e não é rico para Deus” (Lc 12, 17-21).

O pecado deste homem não é só de comodismo: projeta, faz cálculos, pensa em construir novos celeiros para armazenar a colheita abundante. Mas não para os outros, só para si; desconhece o agradecimento ao Céu e a necessidade fraterna de socorrer os indigentes, atento exclusivamente a satisfazer a sua preguiça e o seu desejo de satisfações. Santo Ambrósio comenta a passagem com estas palavras: “Em vão reúne meios que não sabe se usará; não são nossas as coisas que não podemos levar conosco: só a virtude é companheira dos defuntos; só a misericórdia vem conosco, é ela que compra para os defuntos as estâncias eternas”[12].

A paz daqui de baixo se constrói mediante o trabalho retamente ordenado. A propósito da sétima bem-aventurança, são Jerônimo observa que a paz se alcança quando se trabalha para consegui-la: o homem recebe este dom de Deus quando o busca, não só com palavras, mas com obras; quando o persegue primeiro em si mesmo, depois nos outros13. Deus bendiz com a graça o esforço para manter a concórdia e a paz entre todos, ou para restaurá-la; e também bendiz o trabalho em toda a sua amplitude, quando está ordenado à sua glória e ao bem-estar do próximo, quando se realiza por amor e com amor. Uma tarefa assim é caminho eficaz para dar paz a cada pessoa e à comunidade humana; na verdade, poderíamos dizer que abre o único caminho, a via necessária para vivificar a existência pessoal e os ambientes. Neste sentido diz o profeta que “a paz é fruto da justiça” (Is 32, 17), do trabalho realizado com perfeição humana e sobrenatural.

A paz, dom de Deus

A paz é um dom divino; sempre e em todas as religiões se elevaram súplicas à divindade para que outorgasse este bem. E, ao rever a História, compreende-se facilmente que a paz se limite a uma mera utopia, se a fazemos depender de nossa conduta e de nossas forças. Quando não se permite a intervenção de Deus, não se alcança nem pessoal nem socialmente a verdadeira “relativa” paz de que se pode gozar neste mundo, preparatória daquela que nos está reservada no “mais além”, quando o Senhor, por sua misericórdia, nos introduzirá em seu eterno repouso.

Tudo isto sabemos por revelação divina. Mas Jesus não se limitou a dizer-nos onde podemos encontrar o descanso e como; já agora nos concede participar de sua paz com a sua Filiação divina, que nos ganhou com seu sacrifício redentor, identificando-se com a vontade de seu Pai. Ele no-la entregou – nos Apóstolos – na última noite antes de morrer na Cruz, quando indicou: “Deixo-vos a minha paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize!” (Jo 14, 27). E na linha da explicação de Santo Agostinho, podemos entender nestas palavras que o Senhor nos deixa a paz, porque permanece conosco no mundo – sobretudo, na Eucaristia – pois “Ele é a nossa paz” (Ef 2, 14). Permanece conosco, como nossa paz, para fortalecer-nos na luta contra os inimigos e dificuldades interiores e exteriores; dá-nos a sua paz, porque já nos oferece sua amizade, da qual gozaremos plenamente na glória, quando o próprio Deus “enxugará toda lágrima de seus olhos, e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição” (Ap 21, 4)14.

A paz de sua vitória na Cruz, Ele no-la transmitiu ao ressuscitar. Assim saudou os Apóstolos quando lhes apareceu: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 21). Anuncia-lhes a paz do seu perdão incondicional para as fraquezas dos discípulos; a paz da sua graça e da sua amizade, que supera toda distância e toda distinção, pois Ele a concede sem acepção de pessoas; a paz do seu amor de Filho, que nos chega através desse fazer-se presente, na Eucaristia, sacrifício da paz e da liberação do pecado.

Entregou-nos também a paz do Paráclito, quando naquele mesmo dia manifestou aos Apóstolos: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 22-23); paz do consolo que, desde então, acompanhou sempre os discípulos do Mestre em meio a tantas aflições e dificuldades.

Filhos do Deus da paz

O Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo é o Deus da paz. Para evitar mal-entendidos e equívocos, Jesus pregou-o desde o primeiro momento, na sétima bem-aventurança: “Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5, 9). Com os Padres da Igreja, também nós podemos nos perguntar que relação existe entre a paz e a filiação divina. Eles nos oferecem dois tipos de resposta.

São Cromácio de Aquiléia explica-a assim: “É grande a dignidade de todos que se esforçam pela paz, pois são considerados filhos de Deus. É um bem seguro restabelecer a paz entre irmãos que vão a juízo por questões de interesse, de vanglória ou de rivalidade. Mas isto não merece senão uma modesta recompensa (...). Havemos de dar-nos conta de que existe uma obra de paz de melhor qualidade e mais sublime: refiro-me àquela que, mediante um assíduo ensinamento, leva a paz aos pagãos, inimigos de Deus; aquela que corrige os pecadores e, mediante a penitência, reconcilia-os com Deus (...). Tais operários da paz não só são bem-aventurados, mas antes dignos de ser chamados filhos de Deus. Por terem imitado o próprio Filho de Deus, Cristo, a quem o Apóstolo chama “nossa paz e nossa reconciliação” (Ef 2, 14-16; 2 Cor 5, 18-19), é-lhes concedido participar do seu nome”15. São João Crisóstomo também considera que é lógico e justo chamar filhos de Deus a todos que não só procuram a amizade dos seus irmãos, mas também se esforçam por convocar os inimigos à paz entre si, pois assim atuou o Unigênito quando veio a esta terra: unir o que estava separado, congregar o disperso16.

Esta primeira explicação considera os pacíficos em sua atividade exterior: são filhos de Deus porque trabalham pela paz, semeiam a paz, como fez sobre esta terra o Filho de Deus encarnado. Santo Agostinho segue outra linha: está em paz o que não repugna à Vontade de Deus; por isso, são chamados filhos de Deus aqueles que querem sempre o que Deus quer, sem resistir à sua Vontade17. Esta explicação põe em relevo que a plena identificação com a Vontade de Deus, que causa a paz do cristão, caminha intimamente relacionada com a sua participação na Filiação divina de Jesus. A conduta filial de Cristo manifestava-se em obras de obediência e união a Deus Pai. A relação filial de Jesus com seu Pai continha uma relação de constante referência, de mútuo olhar-se unificante, que se refletia em todo o seu comportamento. A vontade do seu Pai movia-o a todo o momento e motivava radicalmente suas ações: “Meu juízo é justo porque não busco a minha vontade, mas a Vontade daquele que me enviou” (Jo 5, 30).

Esta segunda resposta põe em relevo que os filhos de Deus são pacíficos porque obedecem a seu Pai, identificam-se com o que Ele quer; sabem que “todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28); por isso, tudo que sucede serve-lhes para aumentar seu amor a Deus e aos outros por Deus; e o desejam, precisamente porque a Vontade divina o indica.

As duas respostas são conciliáveis; ressaltam aspectos complementares porque, efetivamente, o cristão tem paz quando trabalha pela paz, pois desempenha o seu trabalho pensando em Deus e nos outros; por isso mesmo, pode receber a paz e dá-la a outros. Seu descanso espiritual, seu estar em harmonia com Deus, converte-o em semeador de paz.

Viver a paz e semear a paz: cabe resumir assim a vida de um bom filho de Deus. Mostram-se como filhos de Deus os que imitam a seu Pai, o Deus da paz, fonte eterna de infinita paz; conformam-se com Cristo, o príncipe da paz; e acolhem o Espírito Santo, vínculo de união e de paz. Vivem e transmitem uma paz que cresce junto com sua regeneração espiritual, com sua intimidade com a Santíssima Trindade; e a recuperam – quando a perdem – recorrendo ao sacramento da Reconciliação com Deus e com a Igreja. Esta paz aumenta em suas almas e a difundem à sua volta na medida em que se identificam com Jesus Cristo realmente presente na Eucaristia.

Descansar junto do Sacrário como Jesus em Betânia

O Mestre preocupa-se com o nosso descanso e com a nossa paz, porque nos ama. Agora também, do Sacrário, propõe-se como bom pastor que oferece repouso a nossa alma e a nosso corpo – na medida indicada pela providência – de modo análogo a como se interessava pelo descanso espiritual e físico dos discípulos durante sua passagem pela terra.

Narra São Marcos que, ao regressar de sua primeira missão, “os Apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-lhe tudo que haviam feito e ensinado. Ele disse-lhes: “Vinde à parte, para algum lugar deserto e descansai um pouco”. Porque eram muitos os que iam e vinham, e nem tinham tempo para comer. Partiram na barca para um lugar solitário, à parte” (Mc 6, 30-32).

Vemos aqui outra manifestação mais da preocupação de Cristo por aqueles que O seguem; desta vez, por seu descanso físico. A ocasião, no entanto, serve-lhe para ensinar um detalhe muito importante: para descansar, não basta abandonar filialmente nossos cuidados no Pai, nem nos sabermos perdoados e perdoar; para gozar a paz profunda é necessário permanecer fisicamente perto de Jesus.

Nós também, muitas vezes, necessitaremos descansar aproveitando a presença do Senhor no tabernáculo, afastando-nos (umas horas, alguns dias) das ocupações habituais para falar mais tranquilamente com Ele, como os Apóstolos naquela ocasião. Aproximar-nos-emos do Sacrário, onde Ele ficou à nossa disposição, para satisfazer essa urgência de conversar mais a sós com o Mestre no sossego de seu carinho, na sua compreensão, na sua palavra. A este propósito, o Papa João Paulo II escrevia: “É formoso estar com Ele, reclinados sobre seu peito como o discípulo predileto (cfr. Jo 13, 25), palpar o amor infinito de seu coração. Se o cristianismo deve distinguir-se em nosso tempo sobretudo pela “arte da oração”, como não sentir uma renovada necessidade de estar longos tempos em conversa espiritual, em adoração silenciosa, em atitude de amor, ante Cristo presente no Santíssimo Sacramento? Quantas vezes, meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência e nela encontrei força, consolo e apoio!”18.

Com que frequência convirá deixar a comodidade da própria casa para passar um tempo fisicamente perto de Jesus em uma igreja, talvez fria no inverno, ou quente no verão! Ou então prolongar o trajeto de volta a casa, depois do trabalho, para cumprimentar sem pressa o Santíssimo Sacramento. Talvez sejam poucos minutos, porque nossos deveres não nos permitem permanecer mais tempo. Mas bastam esses breves instantes para que a alma abandone no Coração de Jesus as preocupações que traz consigo, e se realize de novo esse maravilhoso intercâmbio de caridade no qual sempre saímos ganhando. Levantar-nos-emos mais leves e alegres, com paz para nós mesmos e para os outros.

Normalmente, vemos Deus como fonte e conteúdo de nossa paz: consideração verdadeira, mas não exaustiva. Não costumamos pensar, por exemplo, que nós também “podemos” consolar e oferecer descanso a Deus. Assim procederam os santos; como muitas pessoas procederam com Jesus – Deus e Homem – enquanto esteve sobre esta terra. João Paulo II traz em sua carta Dies Domini um texto de Santo Ambrósio, no qual alude – de forma indireta – ao consolo e descanso de Deus na criatura: “Graças pois a Deus Nosso Senhor que fez uma obra na qual pudesse encontrar descanso. Fez o céu, mas não leio que lá tenha descansado; fez as estrelas, a lua, o sol, e nem sequer aí leio que neles tenha descansado. Leio, no entanto, que fez o homem e que então descansou, tendo nele alguém a quem podia perdoar os pecados”19.

Evidentemente, com a nossa devoção e a nossa piedade eucarística, tratamos o Mestre como amigo, acolhemo-lo na alma. Uma cena evangélica ajuda a refletir sobre esta esplêndida realidade de amor. Em Betânia, seis dias antes da Páscoa, ofereceram uma ceia a Jesus. “Marta servia, e Lázaro era um dos convidados. Tomando Maria uma libra de bálsamo de nardo puro de grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com os seus cabelos. A casa encheu-se do perfume do bálsamo” (Jo 12, 2-3).

Três irmãos atentos ao Senhor: um a seu lado, comensal da mesma mesa; uma, servindo-o; outra, ungindo-o. Companhia, serviço, amor. Esta passagem resume as coordenadas de nossa devoção eucarística. Sob o véu das espécies eucarísticas, Jesus se acha encerrado no tabernáculo: “Quando te aproximares do Sacrário – escreve São Josemaria – pensa que Ele!... faz vinte séculos que te espera”20. Com os nossos detalhes de carinho, com as nossas visitas ao Santíssimo, podemos conseguir que Ele se sinta acompanhado, da mesma forma que quando conversava com Lázaro; que se sinta servido com os cuidados de Marta, que dedicava ao Mestre toda a sua competência profissional de dona de casa; que se sinta amado com a magnanimidade de Maria, que não reparou em gastos nem em escândalos farisaicos. Agradeçamos mais esta possibilidade de oferecer a Jesus sacramentado o nosso coração e a nossa Igreja como uma Betânia constante, por cultivarmos nós as disposições e as obras daqueles três irmãos.

Não há nisso nem assomo de utopia, porque o Cristo do Sacrário é o mesmo que andou na Palestina e que naquela tarde foi à mesa de Lázaro em Betânia. Com palavras de São Josemaria: “Devo dizer que, para mim, o Sacrário foi sempre Betânia, o lugar tranqüilo e aprazível onde está Cristo, onde lhe podemos contar as nossas preocupações, nossos sofrimentos, nossos anseios e nossas alegrias, com a mesma simplicidade e naturalidade com que lhe falavam aqueles seus amigos Marta, Maria e Lázaro. Por isso, ao percorrer as ruas de uma cidade ou de uma aldeia, alegra-me descobrir, mesmo de longe, a silhueta de uma igreja: é um novo Sacrário, uma nova ocasião de deixar que a alma se escape para estar em desejo junto do Senhor Sacramentado”21.

Descansar com Cristo na Missa, como os discípulos de Emaús

A palavra páscoa, em hebraico, significa passagem. No evangelho de são João (cfr. Jo 13,1) alude à hora da paixão, morte e glorificação do Senhor. Jesus deixava a sua presença sensível na terra, deixava a companhia dos seus, e passava com a sua Humanidade Santíssima à direita do Pai (cfr. Mc 16, 19). Deixava a vida mortal para ressuscitar, três dias depois, com uma existência nova, gloriosa e eterna. A sua Páscoa contém a passagem da dor para o gozo glorioso, do seu trabalho para o seu descanso. Como afirma são João Damasceno, percorre o caminho da tribulação da cruz à paz da ressurreição22.

Nós havemos de segui-lO nesse itinerário, que se incoa durante a existência terrena e amadurece no final, quando todo o caminho foi uma “páscoa” vivida com o Senhor. Ir deste mundo ao Pai admite muitos significados concretos: depende da situação espiritual de cada um, da senda que tenha empreendido e do que lhe falte ainda por andar. São Máximo de Turim explica que a Páscoa do Senhor – sua morte, sua ressurreição e sua ascensão – suscita um movimento ascendente das criaturas para Deus, que converte o infiel à fé, o pecador à graça, o justo à santidade, os mortos à vida, os santos à glória23. Em suma, significa sempre dar um novo passo na identificação plena com o Filho de Deus crucificado e ressuscitado por nós, um passo mais rumo à casa do Pai.

Como preparar-nos para ir com Cristo deste mundo ao Pai? Participando com intensa piedade do Sacrifício da Missa, sacramento da Páscoa do Senhor que comunica essa mesma Páscoa àqueles que dele participam. A santa Missa consegue-nos sempre impulso e luzes sobrenaturais para avançar no caminho da fidelidade e do amor. Com esta participação no Sacrifício do altar – Páscoa do Senhor e nossa páscoa – buscamos acompanhar a Cristo em sua morte e ressurreição: esforçamo-nos em obter a graça de morrer com Ele para o nosso eu, pela penitência e o sacrifício, para ressuscitar com Ele pela graça e as virtudes; queremos converter-nos em almas que se ocupam das coisas dele, não das nossas, e chegar assim – quando o Senhor nos chamar à sua presença – a dar o salto definitivo e sentar-nos com Ele à direita do Pai.

Por estes motivos, celebrar ou participar da Missa faz-nos entrar no descanso de Cristo; descansar com Ele depois de ter trabalhado por Ele; recuperar forças e voltar com novo impulso à luta interior, ao trabalho, a falar de Cristo a outros. Como sucedeu com aqueles dois que iam a caminho de Emaús (cfr. Lc 24, 13-35). Depois de terem acompanhado Jesus durante sua pregação, e depois do “fracasso” da Cruz, retornavam a casa, renunciavam a serem apóstolos. Mas convidam Jesus, caminhante desconhecido naqueles momentos, a ficar com eles e descansar da fadiga de uma jornada de caminho.

“Fica conosco, já é tarde e já declina o dia” (cfr. Lc 24, 29). Este foi o convite premente que, na própria tarde do dia da ressurreição, os dois discípulos que se dirigiam a Emaús fizeram ao Caminhante que ao longo do trajeto tinha-se juntado a eles. Esmagados por tristes pensamentos, não imaginavam que aquele desconhecido fosse precisamente seu Mestre, já ressuscitado. Tinham, no entanto, experimentado como “ardia” seu coração (cfr. ibid. 32) enquanto Ele lhes falava “explicando” as Escrituras. A luz da Palavra abrandava a dureza de seu coração e “se lhes abriram os olhos” (cfr. ibid. 31). Entre a penumbra do crepúsculo e o ânimo sombrio que os embargava, aquele Caminhante era um raio de luz que despertava a esperança e abria o espírito ao desejo da plena luz. “Fica conosco”, suplicaram, e Ele aceitou. Pouco depois o rosto de Jesus desapareceria, mas o Mestre tinha ficado veladamente no “pão partido”, diante do qual se haviam aberto seus olhos”24.

Assim escrevia João Paulo II na carta apostólica com a qual proclamava um tempo de especial culto eucarístico na Igreja. E acrescentava: “O ícone dos discípulos de Emaús vem a propósito para orientar um Ano no qual a Igreja estará voltada especialmente a viver o mistério da Santíssima Eucaristia. No caminho de nossas dúvidas e inquietações, o divino Caminhante continua fazendo-se nosso companheiro para introduzir-nos, com a interpretação das Escrituras, na compreensão dos mistérios de Deus. Quando o encontro chega à sua plenitude, à luz da Palavra acrescenta-se a que brota do “Pão da vida”, com o qual Cristo cumpre com perfeição sua promessa de “estar conosco todos os dias, até o fim do mundo” (cfr. Mt 28, 20) 25

A Igreja, Mãe que conhece o coração dos homens, sabe bem que necessitamos participar da Páscoa do Senhor, para passar da morte à vida, do cansaço da luta e da fadiga do trabalho ao descanso e felicidade eternos. Por isso dispôs piedosamente que essa participação na Missa seja obrigatória aos domingos, o dia da semana em que Jesus entrou em seu descanso. A páscoa semanal ajuda a não se deter no caminho, pois essa parada poderia ser prelúdio de desfalecimento; a não se desorientar conferindo às coisas deste mundo uma importância de que carecem, e negando-a em troca às “coisas do Pai”. Com este programa simples e eficaz a Igreja nos proporciona o repouso mais profundo e radical: deter-se caminhando; e evita que caiamos na miragem dos repousos vãos.

Esse interesse da Esposa de Cristo pela fidelidade de seus filhos, para que cuidem e amem a passagem do Senhor por sua existência e avancem com Ele, manifesta-se inclusive nas orações das Missas dominicais, nas quais roga instantemente ao Senhor por sua perseverança, para que não deixem de discernir o que afasta do Mestre e se apliquem ao que Ele lhes pede. Nos domingos do Tempo Comum, por exemplo, suplica a Deus para seus filhos:

- “Compreensão dos nossos deveres e a força para cumpri-los”;
- “Vida segundo o vosso amor, para que possamos, em nome do vosso Filho, frutificar em boas obras”;
- “Por vossa graça, viver de tal modo, que possais habitar em nós”;
- “Que não sejamos envolvidos pelas trevas do erro, mas brilhe em nossas vidas a luz da vossa verdade”;
- “A santa alegria, e dai aos que libertastes da escravidão do pecado o gozo das alegrias eternas”;
- “A luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho”;
- “Os dons da vossa graça, para que, repletos de fé, esperança e caridade, guardem fielmente os vosso mandamentos”;
- “Redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam”;
- “Cada vez mais um coração de filhos, para alcançarmos um dia a herança que prometestes”;
- “Em nossos corações a chama da caridade para que, amando-vos em tudo e acima de tudo, corramos ao encontro das vossas promessas”;
- “Amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias”;
- “O vosso amor e estreitai os laços que nos unem convosco para alimentar em nós o que é bom e guardar com solicitude o que nos destes”;
- “Vossa graça, para que, caminhando ao encontro das vossas promessas, alcancemos os bens que nos reservais”;
- “Que a nossa alegria consista em vos servir de todo o coração, pois só teremos felicidade completa, servindo a vós, o criador de todas as coisas” 26.

Em suma, a Igreja urge a Deus para que não abandone os seus filhos, que nos olhe, que nos ajude constantemente, e que cheguemos até o final com Ele: “Ó Deus, Pai de bondade, que nos redimistes e adotastes como filhos e filhas, concedei aos que creem no Cristo a verdadeira liberdade e a herança eterna” 27.

Viver as festas e os domingos com Deus

Passar o domingo com Deus significa oferecer-lhe também o tempo do descanso. Outro paradoxo: que nossa pobre generosidade lhe proporcione consolo.

Muitas pessoas têm tanto o que fazer – pelo menos, pensam isso – que não encontram tempo para assistir à Missa dominical. Em nossa época, este parece o principal obstáculo para passar com Deus os domingos e festas da Igreja.

Descansar implica mudar de ocupação, de ambiente, de circunstâncias de relacionamento, de esforço. Em nosso caso, significa também trocar o nosso pouco com o muito de Deus: confiar-lhe nossas misérias e nossas pequenezes, para receber seus dons – o Corpo e o Sangue de Cristo, o Espírito Santo – causa infinita de alegria e de paz. Oferecer-lhe nosso tempo para receber sua eternidade, que um dia nos alcançará.

João Paulo II escreveu: “Este é um dia que constitui o próprio centro da vida cristã. Se desde o princípio de meu Pontificado não me cansei de repetir: “Não temais! Abri, mais ainda, abri de par em par as portas a Cristo!”, nessa mesma linha quisera hoje convidar a todos com força a descobrir de novo o domingo: Não tenhais medo de dar vosso tempo a Cristo ! Sim, abramos nosso tempo a Cristo para que ele possa iluminá-lo e dirigi-lo. É Ele quem conhece o segredo do tempo e o segredo da eternidade, e nos entrega “seu dia” como um dom sempre novo de seu amor. A descoberta desse dia é uma graça que se há de pedir, não só para viver em plenitude as exigências próprias da fé, mas também para dar uma resposta concreta aos anelos íntimos e autênticos de cada ser humano. O tempo oferecido a Cristo nunca é um tempo perdido, mas antes bem ganho para a humanização profunda de nossas relações e de nossa vida”28.

Sim, sempre saímos ganhando quando damos ao Senhor os nossos jugos e aceitamos o que nos vem dele. Que bom seria se todo cristão tivesse consciência de que não pode viver sem o domingo! Esta expressão, recordava Bento XVI, “remete-nos ao ano 304, quando o imperador Diocleciano proibiu aos cristãos possuir as Escrituras, reunir-se no domingo para celebrar a Eucaristia e construir lugares para suas assembleias. Em Abitina, pequena localidade da atual Túnis, 49 cristãos foram surpreendidos num domingo enquanto, na casa de Otávio Félix, celebravam a Eucaristia desafiando assim as proibições imperiais. Presos, foram levados a Cartago para serem interrogados pelo pro-cônsul Anulino. Foi significativa, entre outras, a resposta que certo Emérito deu ao pro-cônsul que lhe perguntava por que haviam transgredido a severa ordem do imperador. Respondeu: “Sine dominico non possumus”; quer dizer, sem nos reunirmos em assembleia no domingo para celebrar a Eucaristia não podemos viver. Faltar-nos-iam as forças para enfrentar as dificuldades diárias e não sucumbir. Depois de atrozes torturas, estes 49 mártires foram assassinados. Assim, com a difusão do sangue, confirmaram sua fé. Morreram, mas venceram; nós os recordamos agora na glória de Cristo ressuscitado.

“Nós, cristãos do século XXI, também devemos refletir sobre a experiência dos mártires de Abitina. Nem sequer para nós é fácil viver como cristãos, embora não existam essas proibições do imperador. Mas, de um ponto de vista espiritual, o mundo em que vivemos, frequentemente marcado pelo consumismo desenfreado, pela indiferença religiosa e por um secularismo fechado à transcendência, pode parecer um deserto não menos inóspito que aquele “imenso e terrível” (Dt 8, 15) do qual nos falou a primeira leitura, tomada do livro do Deuteronômio. Nesse deserto, Deus acorreu com o dom do maná em ajuda do povo hebreu em dificuldades, para fazê-lo compreender que “não só de pão vive o homem, mas de tudo que sai da boca do Senhor” (Dt 8, 3). No evangelho de hoje, Jesus explicou-nos para que pão Deus queria preparar o povo da nova aliança mediante o dom do maná. Aludindo à Eucaristia, disse: “Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente” (Jo 6, 58). O Filho de Deus, tendo-se feito carne, podia converter-se em pão e ser assim alimento para seu povo, para nós que estamos em caminho neste mundo rumo à terra prometida do céu.

“Necessitamos deste pão para enfrentar a fadiga e o cansaço da viagem. O domingo, dia do Senhor, é a ocasião propícia para tirar forças dele, que é o Senhor da vida. Portanto, o preceito festivo não é um dever imposto de fora, um peso sobre nossos ombros. Ao contrário, participar da celebração dominical, alimentar-se do Pão eucarístico e experimentar a comunhão com os irmãos e irmãs em Cristo, é uma necessidade para o cristão; é uma alegria; o cristão pode assim encontrar a energia necessária para o caminho que devemos percorrer cada semana. Não se trata, aliás, de um caminho arbitrário: o caminho que Deus nos indica com sua palavra segue na direção inscrita na própria essência do homem. A palavra de Deus e a razão andam juntas. Seguir a palavra de Deus, estar com Cristo, significa para o homem realizar-se a si mesmo; perdê-lo equivale a perder-se a si mesmo.

“O Senhor não nos deixa sozinhos neste caminho. Está conosco; mais ainda, deseja compartilhar nossa sorte até identificar-se conosco. No colóquio que o evangelho acaba de referir-nos, diz: “Quem come minha carne e bebe meu sangue habita em mim e eu nele” (Jo 6, 56). Como não alegrar-se com essa promessa?”29

Passar cristãmente o domingo, com Cristo nosso Senhor, assegura ao descanso sua dimensão festiva: não se limita a simples repouso de uma fadiga física, mas assume o valor de comemoração de acontecimentos que se situam na própria vida como origem da felicidade atual. A criação, a aliança, a liberação da escravidão, a lei, a ressurreição gloriosa, Pentecostes...Que longa e amável é a série de maravilhas divinas, das quais reavivamos a memória no Dia do Senhor! Ressoa então no coração do cristão sua amorosa petição naquela última noite: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19). Nós realizamos uma nova troca e lhe dizemos: “Não te esqueças de mim, Senhor, quando vier minha hora, a hora de minha dor e de minha tribulação; minha hora de passar deste mundo à eternidade, quando vier o último dia, Dia tremendo (cfr. Is 13, 6, 9; Mal 4, 1; Jl 2, 2; So 1, 15). Lembra-te de mim, Senhor, que tantas vezes te recebi na Sagrada Comunhão, que te acompanhei junto ao Sacrário, e admite-me em teu reino “para que coma e beba à tua mesa” (Lc 22, 29)”.

Cristo, glorioso no Santíssimo Sacramento, escutará nossas petições, irá enchendo de paz e de alegria nossos corações, também com vistas àquele transe, como encheu de gozo e de serenidade os Apóstolos no dia de sua ressurreição: “A paz esteja convosco!” (Jo 20, 21).

Javier Echevarría, publicado no livro “Eucaristia e vida cristã”


[1]. São Josemaria Escrivá, Caminho, n. 267.

[2]. São Josemaria Escrivá, É Cristo que passa, n. 18.

[3]. Santo Agostinho, Sobre o bem da viuvez 21, 26.

[4]. João Paulo II, Mensagem para a jornada mundial da paz 2002, 8-XII-2002, n. 8.

[5]. Cfr. Santo Agostinho, Sermão 59.

[6]. São Cromácio de Aquiléia, Sermão 41.

[7]. São Pedro Crisólogo, Sermão 67.

[8]. São Josemaria Escrivá, Notas tomadas da pregação (AGP, PO1, 1976, p. 34).

[9] Santo Agostinho, Confissões, XIII, 35-36.

[10] Santo Agostinho, Sermão 59.

[11] São Tomás de Aquino, Suma teológica, II-II, q. 29, a. 2 ad 4.

[12]. Santo Ambrósio, Comentário ao Evangelho de São Lucas, 7.

13. Cfr. São Jerônimo, Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, comentando Mt

14. Cfr. Santo Agostinho, Tratados sobre o Evangelho de São João, 77.

15. São Cromácio de Aquiléia, Sermão 41.

16. Cfr. São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, 15.

17. Cfr. Santo Agostinho, Sobre o sermão da montanha, lib. I, 2.

18. João Paulo II, Carta encíclica Ecclesia de Eucharistia,17-IV-2003.

19. Santo Ambrósio, Comentários ao Hexameron, VI, 10, 76.

20 São Josemaria Escrivá, Caminho, n. 537.

21. São Josemaria Escrivá, É Cristo que passa, n. 154.

22. Cfr. São João Damasceno, Sobre a fé ortodoxa IV, 11.

23. Cfr. São Máximo de Turim, Sermões 53 e 54.

24. João Paulo II, Carta apostólica Mane nobiscum, 7-X-2004, n. 1.

25. Ibid., 2.

26. Cfr. Missal Romano, Oração do dia dos domingos I, III, VI, XIII, XIV, XV, XVI, XVII, XIX, XX, XXI, XXII, XXVI e XXXIII do Tempo Comum.

27. Missal Romano, Oração do dia do Domingo XXIII do Tempo Comum.

28. João Paulo II, Carta apostólica Dies Domini, 31-V-1998, n. 7.

29. Bento XVI, Homilia na clausura do Congresso Eucarístico de Bari, 29-V-2005.