Atuar assim diante de Deus, por amor, para agradar-Lhe, quando se vive a contragosto, como é bonito! Ser jogral de Deus! Que maravilhoso é esse recital feito por Amor, com sacrifício, sem nenhuma satisfação pessoal, para dar gosto ao nosso Senhor! – Isso, sim, é viver de Amor. (Forja, 485)
Lê-se na Escritura: ludens in orbe terrarum; Ele brinca em toda a redondeza da terra. Mas Deus não nos abandona, porque acrescenta imediatamente: Deliciae meae esse cum filiis hominum, as minhas delícias são estar com os filhos dos homens. O Senhor brinca conosco! E quando nos passar pela cabeça que estamos interpretando uma comédia, porque nos sentimos gelados, apáticos; quando estivermos aborrecidos e sem vontade; quando se nos tornar árduo cumprir o dever e alcançar as metas espirituais que nos propusemos, terá soado a hora de pensar que Deus brinca conosco e espera que saibamos representar a nossa comédia com galhardia.
Não me importo de vos contar que, em algumas ocasiões, o Senhor me concedeu muitas graças; mas habitualmente ando a contragosto. Sigo o meu plano não porque me agrade, mas porque devo cumpri-lo, por Amor. Mas, Padre, pode-se interpretar uma comédia com Deus? Isso não é uma hipocrisia? Fica tranquilo: chegou para ti o instante de participar numa comédia humana com um espectador divino. Persevera, que o Pai, e o Filho, e o Espírito Santo contemplam a tua comédia; realiza tudo por amor a Deus, para agradar-lhe, ainda que te custe.
Que bonito é ser jogral de Deus! Que belo recitar essa comédia por Amor, com sacrifício, sem nenhuma satisfação pessoal, para agradar ao nosso Pai-Deus, que brinca conosco! Encara o Senhor e confia-lhe: Não tenho vontade nenhuma de me ocupar nisto, mas vou oferecê-lo por ti. E ocupa-te de verdade nesse trabalho, ainda que penses que é uma comédia. Bendita comédia! (Amigos de Deus, 152)