Uma família atingida por um super furacão

Ela perdeu o pai e a casa da família foi destruída pelo super furacão em dezembro passado nas Filipinas. Mags Amamag conta como em meio ao caos ela sempre notou claramente a providência paternal de Deus.

A autora (em primeiro plano) com sua família

Talisay (Cebu) – Sou a “Senhora Amamag”, (como meus alunos carinhosamente me chamam), uma professora de inglês na PAREF Southcrest School* para alunos do quarto ao 6° ano. Embora ainda esteja me adaptando à cultura da escola, desde que fui contratada em junho de 2021, me senti muito acolhida e parte da família Southcrest. E senti especialmente esse apoio, de forma tangível, durante a experiência de luto e de restabelecimento da minha família após o recente super furacão.

Nunca me esquecerei do 16 de dezembro de 2021, dia no qual o furacão Odette, de categoria 5, atingiu Cebu. Eu esperava celebrar o Natal com a minha família e amigos e ter as férias para descansar e relaxar. Porém, o Furacão Odette interferiu em nossos planos e nossas vidas!

Enquanto os ventos fortes nos assolavam, eu e meus pais estávamos juntos em meu quarto rezando. Meu quarto é o melhor cômodo da casa, portanto, estávamos protegidos. Podíamos ouvir o estrago que estava acontecendo logo após minha porta.

Odette destruiu a nossa casa. A nossa mangueira de 50 anos caiu e nos deixou temporariamente presos em casa. O telhado foi arrancado. Apesar da nossa situação, me senti confortada e agradeci a Deus por nenhum de nós ter se machucado. O estrago foi grande, mas sabíamos que de alguma maneira Deus proveria nosso reestabelecimento.

Cebu e os locais por onde Odette passou ficaram devastados, como se tivessem sido bombardeados. As pessoas tinham que esperar por horas em filas para terem acesso a coisas básicas como eletricidade, água, internet, bancos e caixas eletrônicos. Precisamos de 3 semanas para que tudo fosse restabelecido. Todos em Cebu foram vítimas de alguma maneira. O Furacão Odette, no entanto, trouxe “restauração” para mim e minha família.

Em 21 de dezembro, às 5 horas da tarde, dois estranhos vieram me informar que meu pai tinha sofrido um acidente enquanto estava em uma fila esperando por gasolina. Vieram pessoalmente pois os celulares estavam sem rede. Já era tarde. Se tivéssemos rede para nos conectarmos naquele dia, poderíamos ter falado com meu pai pela última vez. Caí de joelhos quando soube que ele tinha falecido.

De fato, a dor se parece muito com o medo, como escreveu C.S. Lewis. Eu estava com muito medo de encarar o fato de que meu pai não estava mais conosco, de que ninguém mais nos protegeria na escuridão, de que seríamos apenas eu e minha mãe naquela casa. Senti como se a nossa casa, de repente, perdesse as bases, o chão: sem o meu pai para compartilhar sua sabedoria, para nos prover em nossas necessidades, para irmos para casa e desfrutarmos da vida, sem o meu pai para me encorajar a lutar por meus sonhos, sem o meu pai para me levar ao altar um dia...

Não podíamos sequer viver o luto propriamente, porque precisávamos enterrá-lo em 24 horas. Tudo estava acontecendo muito rapidamente, e ainda assim, parecia que o tempo estava parado.

Em meio ao caos, atingidos pelo super furacão, a incerteza da pandemia e a dor de ter perdido o meu pai, descobri a verdade sobre a onipresença de Deus, sua providência e paternidade.

Estávamos preocupados com o dinheiro para comprar um caixão, quando de repente um estranho se aproximou de nós, chamou o meu irmão e ofereceu o caixão do seu pai, que custava duas vezes mais. Então um amigo do meu pai, o ex-prefeito de Talisay, deu-nos gratuitamente uma sepultura no cemitério de Talisay. A maioria dos bancos e caixas eletrônicos não estavam funcionando, e tínhamos que nos virar com o dinheiro que tínhamos em mãos. E o valor que tínhamos acabou sendo suficiente para pagar o resto das despesas do funeral.

Encontrei Deus em pessoas diferentes. Meus amigos, colegas de escola e alunos me inundaram de palavras de conforto e orações pelo meu pai e pela minha família.

Quando a senhora Quesada, a senhora Tan e a senhora Policios de Southcrest nos visitaram, me senti constrangida pelo estado em que estava minha casa. Fiquei surpresa e emocionada, pois apesar de estar as encontrando pela primeira vez pessoalmente, por causa da realidade do trabalho online, a senhora Quesada me deu um abraço apertado para me confortar. Outra colega da escola, a senhora Evardo, veio no dia do enterro de meu pai. Ela mora longe e estava grávida.

Mags (a esquerda) na PAREF Southcrest School na cidade de Cebu.

Minha família é profundamente grata à ajuda financeira que recebemos para o funeral do meu pai e para a nossa casa. Nenhuma empresa em toda minha carreira jamais me deu esse tipo de conforto e apoio, que eu teria apenas em casa. Sou uma funcionária nova na escola, mas desfruto da acolhida e apoio que recebo como membro da família PAREF Southcrest.

Recebi uma carta da diretora executiva que trouxe um raio de luz à minha fé. Em sua carta ela disse:

“Você está sempre acompanhada e ofereço a Missa por seu pai durante esse período. O amor de Deus é sempre misterioso, sua lógica é diferente da nossa. Mas sua sabedoria é sempre verdadeira e boa e espero que você veja em meio a sua dor o Seu Amor e Sua Misericórdia... Seja forte Mag, saiba que é amada”.

Após a morte do meu pai continuei perguntando a Deus as razões disso, a ponto de questionar a minha fé. Isso me estilhaçou, e eu não sabia por onde começar a recolher os meus pedaços. Quando li a carta, ela me fez refletir sobre a confiança na sabedoria de Deus. Sua lógica, de fato, é diferente da nossa. Me senti como Jó da bíblia quando perdeu sua casa e sua família.

Passado a tristeza e o luto, contei uma a uma as graças e bênçãos que Deus derramou sobre a minha família antes e depois dessa calamidade. De fato, Deus estava, está e estará sempre conosco.

No momento, ainda sofro, mas minha fé está fortalecida. Quando a tristeza vem, escrevo os meus pensamentos em meu diário. Há momentos em que me sinto vazia. Mas também me sinto feliz quando reflito como sou amada e tenho amigos que se importam comigo.

Minha família não se recuperou totalmente da calamidade e da perda, mas sou grata pelo amor que continuamos a receber. Boas pessoas se disponibilizam para checar o que eu ainda preciso e estão me ajudando nessa situação.

Acima de tudo, confio no amor paternal de Deus por mim. Sua sabedoria permitiu que essas coisas acontecessem, mesmo que eu ainda não as entenda completamente. Sei que Deus sabe melhor o que é bom para mim e para a minha família.

*PAREF Southcrest School é uma escola de ensino fundamental e médio para meninas na cidade de Cebu, inspirada nos ensinamentos de São Josemaria sobre educação e família. Com a ajuda de doadores generosos, foram capazes de oferecer ajuda a muitos alunos e funcionários severamente atingidos pelo Furacão Odette.

Mags Amamag