Uma amizade inesperada: Andrew e Tony

“Raramente tive mais orgulho de alguém”. Dois amigos de Londres contam como se conheceram, o que valorizam um no outro e como lidam com as diferenças.

Andrew Tucker trabalha no serviço função público e é treinador de futebol feminino em Salisbury, Inglaterra. É casado, tem duas filhas e tornou-se católico em 2006. Tony Mullins está atualmente fazendo um Mestrado em História, em Gillingham, Inglaterra. Tem vários animais, incluindo Kail, um Staffordshire americano, e Karcocha, uma cobra-touro, e decidiu seguir a religião sikh em 2015.

Como vocês se conheceram?

Andrew: Nós nos conhecemos em meados dos anos 90, tínhamos mais ou menos 15 anos.

Tony: Andrew e eu nos conhecemos no clube de futebol para o qual torcemos, o Dulwich Hamlet. Sim, em meados dos anos 90, já faz um tempo assustadoramente longo.

O que faz de vocês amigos improváveis?

Tony: Essa é uma pergunta interessante. Cresci numa zona muito diversificada de Londres, pelo menos em termos de raça e religião, e tive muitos amigos de diversas origens. Não acho que existam amigos improváveis, acredito firmemente que a bondade procura a bondade, por isso não me surpreende que Andrew e eu tenhamos nos tornado amigos.

Andrew: Temos contextos sociais e experiências muito diferentes, e (pelo menos exteriormente) vidas muito diferentes. As nossas ideias políticas estiveram mais próximas ou distantes, de acordo com a época e as nossas crenças religiosas (não tanto as ações que elas indicam) são muito diferentes. Compartilhamos um senso de humor muito infantil! Acho que o aspecto mais improvável é que, sem o clube Dulwich, seria incrivelmente improvável que tivéssemos nos conhecido: os nossos círculos sociais eram muito diferentes.

Tony: Se tivesse que forçar uma resposta, talvez respondesse que viemos de meios sociais diferentes, mas mesmo isso é pouco. Obviamente, temos crenças muito diferentes, sendo ele católico e eu sikh, embora eu não tenha nascido nessa religião.

Vocês se sentem à vontade para discordar um do outro?

Tony: As nossas divergências são quase sempre sobre assuntos de fé, embora haja muito mais coisas que nos unem. Os desacordos em relação à fé sejam perfeitamente naturais quando se seguem dois caminhos diferentes. Quando discordamos, expomos os pontos de vista um do outro com respeito, o que me agrada muito, e depois, concordamos em discordar. Os Sikhs são aconselhados, pelas escrituras, que há muito a aprender e grande valor a ser extraído de todas as religiões, por isso, através destas discordâncias, valorizo a aprendizagem de aspectos do Catolicismo.

Andrew: As nossas divergências tendem a começar de forma bastante natural: sempre que falamos, a conversa tende a perambular por todos os temas e muitas vezes se torna bem pessoal. Em última análise, penso que ambos reconhecemos que a nossa amizade tem muito pouco a ver com a necessidade de concordarmos, e se baseia mais num amor e afeto genuínos pela outra pessoa.

De onde vêm esse amor e afeto genuínos? Como vocês o exprimem?

Andrew: Tenho vários exemplos, entre eles o fato de termos passado o dia juntos antes e depois do funeral de um amigo em comum (e muito próximo). Mas também fiquei encantado por poder assistir à formatura do Tony no verão, depois de ter concluído os seus estudos na Universidade Aberta, em Alemão e em História. Raramente me senti mais orgulhoso de alguém e fiquei muito sensibilizado por ele me ter convidado para estar presente.

Tony: Ah, há tantas lembranças que não posso compartilhar com receio de deixá-lo constrangido! Uma vez, estávamos indo para algum lugar de carro e Andrew perguntou se podíamos parar numa igreja para ele poder rezar. Naturalmente, não havia problema e eu o acompanhei até lá.

E que achou disso?

Tony: Fiquei impressionado com a devoção e a alegria que esse ato proporcionou a ele e aos outros fiéis presentes. São notáveis as semelhanças deste ato com as que eu e outros experimentámos no gurdwara.

Que mais aprenderam com a sua amizade?

Andrew: Uma das melhores coisas da nossa amizade é que nenhum de nós se ofende com os pontos de vista do outro, por mais opostos que sejam, o que torna muito mais fácil ter discussões sensatas, sólidas e interessantes. Aristóteles escreveu que a melhor forma de amizade não se baseia em interesses ou necessidades comuns, mas sim no amor pela outra pessoa por ela mesma, simplesmente por ser quem é. E este é exatamente o tipo de amizade que temos.

Toni: Aprendi a nunca chegar atrasado a um bar de hambúrgueres depois do futebol! Agora a sério, aprendi que o amor e a adoração a Deus, seja qual for a forma como é reconhecido e praticado, é muito mais importante do que as opiniões dos outros. Também aprendi que não basta dizer que você é algo, é preciso colocar isso em prática

E isso vale para os dois lados?

Andrew: Sim, o Tony é o melhor exemplo vivo do valor da persistência e da determinação, aconteça o que acontecer. Muitas vezes me inspiro nele para fazer mais e melhor com os vários dons que me foram dados, e ele me ensinou o valor de sair das minhas coisas para ajudar os outros. Ele me deu lições práticas sobre o valor da paciência, mesmo imaginando que eu possa também, de vez em quando, ter desempenhado o mesmo papel para com ele! A minha vida é muito melhor pelo fato de ele estar incluído nela.