Tomás Alvira, pai de família

Não há melhor prenda para um pai que o amor agradecido de um filho. Um amor que aumenta e amadurece com os anos e que se entranha, desde o princípio – e se torna visceral, enraizado e profundo quando ele falta, mesmo que saibamos que ele está mais perto e mais ativo do que nunca.

Tomás Alvira com sua filha Mª Isabel.

Rafael Alvira relembra a morte de seu pai e a herança recebida:

“Como pai foi sempre fantástico, extremamente carinhoso. Via-se que gostava de nós, verdadeiramente, que se sacrificava por todos e cada um dos seus filhos. Quando repreendia, era com firmeza, mas sempre sem ofender e cheio de razão. Embora às vezes me custasse aceitar as suas correções, não me lembro de nem de uma só que, depois, não constatasse como era justa e para meu bem”.

Tomás Alvira, que dedicou toda a sua vida ao ensino, do qual tinha um enorme conhecimento teórico e prático, como pai e educador. Em 1966, afirmava numa conferência dada no clube juvenil Roca, em Madri, que “a tarefa de ser pai ou mãe é difícil, porque o é a de educar. Uma tarefa para a qual, geralmente, não nos preparamos”.

“A paternidade – dizia aos pais que ali o escutavam – não acaba com o nascimento de um filho, eu diria antes que começa aí. Ser pai ou mãe é muito mais do que gerar um ser. É saber desenvolver naquele que nasce, que é um tesouro de possibilidades, todas as qualidades necessárias para que o possamos chamar Homem ou Mulher com maiúscula. Esse trabalho é difícil, muito difícil, exige tempo, dedicação, preparação, sacrifício. Acima de tudo, amor, para fazer que nossos filhos cresçam, amor que é o grande segredo da vida, a alavanca que ajuda a resolver as ações mais difíceis: amor aos pais, aos irmãos, aos familiares, professores e colegas, a tudo o que os rodeia, amor ao trabalho, à Igreja e a Deus que é a síntese de todos os amores”.

Esse amor existia na casa dos Alvira, pela dedicação carinhosa do pai, que procurava todos os dias momentos para estar com cada um e, especialmente, nos fins de semana, relembra Rafael: “Tinha muito trabalho, mas era raro o dia em que não estivéssemos com ele durante o almoço – o seu local de trabalho ficava muito perto de casa, como os nossos colégios – e à noite, um pouco de tempo, antes do jantar. Ansiávamos pelos domingos de manhã, que era o grande dia em que ele nos levava a passear. Íamos a muitos lugares: aos barcos noRetiro, ouvir a banda de música municipal, visitar museus, etc. ”

Escola de virtudes

“Educar – concretizava Tomás naquela palestra – é criar hábitos, fazer despertar virtudes humanas, às quais se juntam as sobrenaturais, que aliviarão a tarefa da formação de um homem e de uma mulher, com letras maiúsculas”.

Como a responsabilidade: “Na economia – dizia Rafael – defendia que era um erro dar dinheiro aos filhos. Dava-nos dinheiro quando e quanto precisávamos. Posso dizer que na minha infância nunca tive dinheiro e nunca senti a sua falta. Ou a fortaleza: “Nunca o vi recuar por medo”. Tinha espírito de iniciativa e de valentia. Dizia-me muitas vezes: ‘vamos, valente!’, para animar-me a fazer coisas boas, mas que custavam muito”. Virtudes – chave para adquirir, progressivamente, a autonomia e liberdade. À medida que fomos crescendo, o meu pai soube “soltar as amarras” pouco a pouco e com suavidade, com um equilíbrio prodigioso entre o respeito pela nossa liberdade e a sua obrigação de assegurar a manutenção do ambiente familiar e de estar atento para que estivéssemos bem acompanhados”.

Com a palavra e com o exemplo

“Sei, por experiência própria – confiava Tomás aos pais que o ouviam, que ao longo da vida dos nossos filhos aparecem questionamentos. Perguntamo-nos a nós próprios muitas vezes: o que devo fazer? Mas isso mesmo vemos, constantemente, retratado neles, como num espelho das suas almas ávidas de saber, que interrogam tudo o que os rodeia: os seres que estão junto deles, os amigos, o sol e as estrelas, o dia e a noite; como e por que vieram ao mundo, o caminho que devem percorrer nele; que se questionam pelos barracos dos subúrbios e os palácios suntuosos, o bem e o mal; que questionam Deus, porque querem compreendê-lo.

E nós, pais temos de responder-lhes, temos a obrigação de adivinhar esses questionamentos e responder adequadamente, sabendo o quanto significam. Em certas ocasiões é preciso falar-lhes, ter conversas de amigos, não de superior para inferior, sobre esses assuntos, que são objeto das suas perguntas silenciosas. Todavia, outras muitas vezes damos a resposta pelo nosso exemplo, não só nas coisas grandes da vida, mas também nas pequenas coisas do nosso dia a dia, que são as que dão valor e graça às nossas ações que pareçam não ser transcendentes”.

“O meu pai aceitava os seus erros, a meu ver bem pequenos, com simplicidade e humildade”, lembra Rafael. “Tinha um discernimento impressionante quando avaliava pessoas e situações. Sem prever minimamente que ia acertar, mas acertava”.

A forja do amor

A sua fé não era algo exterior àquilo que professava, mas sim a vida na prática. A esperança, sumamente firme, sem ter essa intenção, fazia que, quem estivesse a seu lado sentisse uma grande confiança. O amor de Deus era fundamental para ele e mostrava-o com naturalidade. A sua piedade, o seu amor à Eucaristia e à Santíssima Virgem, era profundo, vigilante e sóbrio, sem a mínima teatralidade. Em casa, rezava-se o Terço todos os dias. Convidava os filhos a juntarem-se, mas nunca nos impôs nem mesmo insistia. Uma grande graça para todos – fundamental para a nossa educação, conclui o filho – foi ver todos os dias o quanto os nossos pais se amavam cada vez mais. Penso que a minha mãe foi tudo para o meu pai e, desde que casou, não concebia a sua vida sem ela”.

Tomás Alvira era um dos convictos defensores de que os pais são os primeiros, principais e insubstituíveis educadores, dos quais depende o futuro da sociedade. “A casa, a família, dizia na sua palestra aos pais do Clube Roca – é o tear onde diariamente se tece o projeto de formação dos filhos. Nela se forjam, entre alegrias e dores, esses laços de amor entre todos os que constituem a família. Nos lares católicos é, também, o formoso altar em que a família adora a Deus. Com famílias assim, transformava-se o mundo”.