Testemunhos da Nova Zelândia

Ouvir esta chamada no meio da agitação dos afazeres do dia a dia não é fácil. A pergunta é: como conseguir? que significa a santidade para um cristão que tem uma intensa vida social, profissional e familiar?

Teresa Devine decidiu-se a seguir a carreira do magistério. Tinha iniciado os estudos de contabilidade na Victoria University, mas a ideia de educar crianças não lhe saía da cabeça desde que obtivera o diploma, e não a deixou fugir. Agora, está à espera do primeiro emprego.

Ria Brosnahan é mulher de um agricultor e mãe de 10 filhos. Tem um grande grupo de amigos na comunidade de Bay of Plenty. Educa os seus dois filhos mais pequenos, e é a principal ajudante do marido na fazenda. Agora que alguns dos filhos já estão lançados na vida, o casal encontrou um novo estímulo no seu papel de pais.

O casal David e Willie Cooper trabalham como promotores de vendas de uma construtora. Têm uma filha adolescente e dois filhos que rondam os dez anos. David, neozelandês, e Willie, filipina, conheceram-se e casaram na Califórnia onde começaram a trabalhar numa agência imobiliária.

O P.e Aidan Mulholland, nascido e criado em Lower Hutt, é pároco de Te Rapa. Tem uma vida muito ocupada, devido à grande quantidade de tarefas próprias do seu ministério; mas sente-se feliz na comunidade de sacerdotes da diocese de Hamilton.

Que têm a ver uns com os outros? Na realidade muito pouco. Unicamente os une uma ambição comum: a santidade.

A ideia atraiu o interesse de Willie Cooper, como o de uma criança que lê histórias de santos. Também fascinou o P.e Mulholland: “Sempre me atraiu a noção de santidade, ainda que me encontre muito longe dela”, refere de passagem.

É um objectivo que a alguns pode parecer algo pretensioso ou até estranho. No entanto, esses deviam saber que já o Vaticano II insistira na “chamada universal à santidade”, para não mencionar o mandato explícito de Cristo no Evangelho: “Sede perfeitos, como o vosso Pai celestial é perfeito”.

Ouvir esta chamada no meio da agitação dos afazeres do dia a dia não é fácil. A pergunta é: como conseguir? que significa a santidade para um cristão que tem uma intensa vida social, profissional e familiar?

Os que protagonizam este artigo, encontraram a resposta graças ao Opus Dei (Trabalho de Deus), uma Prelatura pessoal da Igreja Católica que está presente na Nova Zelândia desde 1989.

A chamada universal de todos os baptizados à santidade através do trabalho e das obrigações diárias realizadas com perfeição é a mensagem central do espírito do Opus Dei, diz Bernardette Celio, uma australiana da Obra e diretora de Fernhall Study Centre em Auckland.

Com palavras do fundador, Josemaria Escrivá, “a vida corrente pode ser feliz, cheia de Deus … Nosso Senhor chama-nos à santidade através das tarefas de cada dia, é aí onde o cristão deve buscar a perfeição”.

“As tarefas normais e correntes” abarcam tudo, desde a limpeza da casa até à direção de uma empresa. David Cooper, um convertido ao catolicismo, acha estimulante e atual a ideia de que cada um poder ser feliz estando completamente mergulhado num mundo rotineiro. “Isto anima-me a sair para o mundo, a ter iniciativas e a dar o exemplo”.

Willie Cooper, que prefere ajudar David a construir casas do que limpar a sua, diz que Josemaria Escrivá (“Encantam-me os seus escritos! É como se ele se dirigisse a mim e a mais ninguém”) a tem ajudado a pôr mais empenho nas tarefas do lar: “Quando fazemos as coisas por Deus, procuramos fazê-las da melhor maneira possível”.

Teresa Devine repete a mesma ideia. “Dantes, não pensava nisso, mas faz todo o sentido”. Admite que é “preguiçosa por natureza” e, enquanto estudava na Universidade de Waikato, era perigosamente ociosa, antes de se mudar para Rimbrook, um centro de estudos para mulheres do Opus Dei em Hamilton: “Foi a melhor coisa que me podia ter acontecido”.

Todas as pessoas entrevistadas para a realização deste artigo mostraram a sua satisfação pela formação recebida na Prelatura (situação jurídica do Opus Dei na Igreja, porque desde 1982 conta com o seu próprio bispo ou prelado).

As pessoas que assistem às aulas de doutrina e às palestras sobre virtudes humanas e cristãs distribuem-se por grupos segundo as idades. Para a gente mais nova, essas palestras têm normalmente associada alguma atividade cultural.

“O que me atraiu foi a possibilidade de atualizar a formação sobre a doutrina da Igreja, em especial o Catecismo” diz Ria Brosnahan, que abraçou o catolicismo depois do casamento com John. “O meu compromisso reforçou-se agora que sou mãe, pois posso concentrar-me em viver as virtudes na minha vida familiar”.

Também o P.e Mulholland pensa que a formação preenche um vazio da sua vida espiritual e ministerial. Depois de muitos anos de amizade com sacerdotes do Opus Dei, aprendeu deles “com uma enorme certeza o que é ser um bom sacerdote”, pela sua manifesta vida de oração, a sua sólida doutrina e o seu “extraordinário apostolado da Confissão”, com o qual “eles animam continuamente uma pessoa a recomeçar na vida interior”.

Alguns podem pensar que se trata apenas de um catolicismo de confissão frequente, de vida de oração disciplinada, e doutrinalmente “antiquado”, acrescenta. “É uma pena se pensam assim. Para mim, teve um resultado muito positivo. Acho que nos enriquece imenso”.

New Zealand Catholic, 10-II-2002