Reflexões sobre o eco da canonização de Josemaria Escrivá na opinião pública internacional

Porque é que este Papa promove tantas beatificações e canonizações? Proclamando santos e beatos, o Romano Pontífice convida a imitar Jesus Cristo, que é o único Modelo; confirma que também hoje é possível alcançar a santidade; deste modo alimenta a esperança dos católicos; e promove no mundo uma sementeira de caridade. Ainda serão necessárias mais razões?

1. Introdução

A. Considerações prévias

A 21 de Dezembro de 2002, o Papa reuniu-se com a Cúria Romana por ocasião das saudações de Natal. Na sua intervenção, o Santo Padre mencionou alguns acontecimentos relevantes do ano que estava prestes a terminar. Ao tema da santidade – “cume da paisagem celestial” – foram dedicados os últimos parágrafos do discurso do Papa, que deu graças a Deus pelas beatificações e canonizações de 2002: as de S. José de Betancur, Juan Diego e os mártires de Oaxaca, celebradas durante a viagem papal à Cidade de Guatemala e à Cidade do México; e as do Padre Pio de Pietrelcina e Josemaria Escrivá, que tiveram lugar em Roma e suscitaram, acrescentou o Papa, “um eco particular na opinião pública”[1].

As páginas seguintes apresentam algumas reflexões sobre o eco na opinião pública da canonização do fundador do Opus Dei. Apareceram já os primeiros balanços[2], apresentados em geral sob a forma de dossiês de imprensa de determinados países, e circunscritos aos dias da cerimônia. Não se pretende aqui resumir a informação publicada, ou repetir o que muitos já sabem, como leitores, espectadores, ouvintes ou participantes na canonização. A finalidade deste trabalho é antes tentar dar uma primeira visão de conjunto, no espaço e no tempo[3], esboçar algumas linhas de reflexão, detectar tendências e questões de fundo, mais do que relatar episódios circunstanciais, tendo como fio condutor os comentários publicados. Com alguma frequência se menciona – como precedente significativo – a beatificação de Josemaria Escrivá, no dia 17 de Maio de 1992 e o seu eco na opinião pública, bem como as analogias e diferenças com o tratamento informativo da canonização.

Este trabalho provisório, sem querer ser exaustivo, apresenta interpretações pessoais e formula algumas hipóteses. Para analisar a questão a fundo será necessário um estudo detalhado das publicações, de acordo com a metodologia própria deste tipo de trabalhos, deixando passar algum tempo que permita uma perspectiva mais ampla[4].

Como é sabido, os fenômenos de opinião pública são muitas vezes difíceis de medir e apreciar, não apenas pelo seu caráter efêmero, mas também porque os seus contornos costumam ficar esfumaçados. Por consequência, é fácil que predominem as impressões subjetivas pouco fundamentadas, ou até preconceitos pessoais. Para mais, neste caso, estamos perante um acontecimento com repercussões na opinião pública internacional: as circunstâncias variam muito de um país para o outro, e nem sempre é possível detectar traços comuns.

Antes de entrar no objetivo específico deste trabalho, parece interessante deter-se nalguns elementos que fazem parte do contexto da canonização de Josemaria Escrivá e que ajudam à sua interpretação.

B. Elementos de contexto

a) Beatificações e canonizações recentes

João Paulo II mencionou no seu discurso de 21 de Dezembro a canonização do Padre Pio que se celebrou no dia 16 de Junho de 2002. Essa e outras beatificações e canonizações dos últimos anos tiveram um impacto considerável nos meios de comunicação. Pode afirmar-se que, em conjunto, deram origem a que o tema da santidade estivesse presente na opinião pública internacional, depois de um longo parêntese.

O caso do Padre Pio é eloquente, de um modo especial em Itália, onde constitui fenômeno relevante da piedade popular. Na terra do Padre Pio proliferam hoje mais do que nunca indícios que confirmam esta observação: o santuário de San Giovanni Rotondo é um dos mais visitados da Europa; o retrato do Santo surge nos locais mais inesperados da paisagem urbana e rural, em ônibus, cafés, escritórios profissionais; há dezenas de sites na internet dedicados ao Padre Pio, e até cartões de crédito e campeonatos de futebol; na época da sua beatificação, em Maio de 1999, as cadeias de televisão competiram para serem as primeiras a emitir a minissérie a ele dedicada[5].

Não é este o lugar próprio para estudar o tratamento da canonização do Padre Pio nos meios de comunicação italianos. Para o caso que aqui nos interessa, basta dizer que provocou a irrupção na opinião pública de uma figura e de um modelo de santidade radical, que nos remete sem paliativos para Cristo crucificado, para os estigmas, os milagres, o pecado e para a graça da confissão. Vittorio Messori apelidou-o de “meteorito incandescente” que parece chegar até nós diretamente da Idade Média[6]. Este fenômeno – contra corrente, em muitos aspectos – atrai o interesse da gente comum e vem confirmar a atual “redescoberta dos autênticos valores da chamada religiosidade popular[7], e o seu regresso à cena pública[8].

Não faltaram críticas ao santo capuchinho e à Causa, mesmo antes da sua beatificação. Reavivaram-se lendas inventadas e acusações rocambolescas, e também problemas reais, como a dificuldade de alguns católicos compreenderem a santidade peculiar do Padre Pio. De qualquer forma, essas polêmicas foram pouco agressivas, comparadas com as que circularam a propósito de outras causas recentes, como as de Edith Stein, de Pio IX e do Cardeal Stepinac. Agora é o momento de formular uma afirmação que complementa o que acaba de se dizer sobre o Padre Pio e a “religiosidade popular emergente”: as críticas a determinadas canonizações revelam que os santos nem sempre são “politicamente corretos”[9], e que existem discrepâncias não superadas entre as propostas da Igreja e as que procedem da cultura dominante.

Essas reações, por vezes pouco serenas, voltaram a surgir igualmente quando se anunciou a beatificação de Madre Teresa de Calcutá. Aparentemente, a atividade da religiosa albanesa merece o louvor de todo o mundo. Contudo, também neste caso vieram a luz ataques. Parece difícil que uma determinada cultura aplauda quem diz que a dor pode aproximar de Cristo e ser caminho de purificação e de salvação[10]. Como elogiar quem não se revolta contra uma realidade que é necessário simplesmente extirpar? E assim é que ao falar precisamente da dor e da Cruz (“escândalo, loucura”), reaparece a capacidade que tem o cristianismo de ir contracorrente. Mas – se uma das maiores ameaças atuais para a Igreja é o relativismo[11] –, talvez estas polêmicas não sejam, ao fim e ao cabo, um dado negativo, mas sim um sintoma saudável de que o diálogo está aberto, que não chegou ainda o momento do acordo, mas também não o da confusão.

b) Jubileu do ano 2000

Outro acontecimento importante, que marcou quase uma década da informação religiosa internacional, é o Jubileu do ano 2000. Não são fáceis de calcular as consequências desse evento rico de conteúdo, entre os católicos e, ainda mais, além das fronteiras da Igreja. Antes de tudo, João Paulo II planejou-o com olhar de fé, não só na sua concepção, mas também nos seus fins: Um convite a fixar o olhar em Jesus Cristo, neste aniversário da sua Encarnação[12].

Na sua essência o Jubileu não foi um acontecimento mediático. Exerceu a sua influência, sim, através de atos de grande visibilidade; mas essa influência opera em estratos mais profundos. Eis alguns dos frutos do Jubileu, de acordo com a carta Novo Millennio Ineunte: contribuiu para incrementar o espírito de unidade e comunhão entre os cristãos (n. 12); incitou muitos jovens a renovarem o seu desejo de participar com empenho na tarefa evangelizadora da Igreja (n. 9); voltou a clarificar a centralidade do mistério de Cristo na vida dos católicos (n. 5); e fomentou um clima sereno e positivo na autocompreensão do ser da Igreja e da sua missão no mundo (n. 15).

Vale a pena desenvolver mais este último aspecto, segundo a perspectiva da opinião pública. Com efeito, o ano de 2000 conheceu uma nova explicitação da mensagem da Igreja acerca dos grandes problemas do mundo: a guerra, a pobreza, a família, a dívida externa, a violência contra a vida. Além disso, os anos de preparação do Jubileu coincidiram com uma tomada de consciência cada vez mais clara e cada vez mais ampla, da autoridade moral de João Paulo II: essa apreciação constitui já um lugar comum e ajudou a criar em muitos países um clima de opinião pública mais consciente relativamente à Igreja.

Sem nos referirmos agora aos méritos pessoais do Santo Padre, podemos mencionar um episódio relacionado com a sua biografia que originou uma mudança cultural de dimensões incalculáveis: a queda do Muro de Berlim, que na realidade tinha atravessado “a humanidade no seu todo” e penetrado “no coração e na mente das pessoas, criando divisões que pareciam destinadas a durar para sempre”[13]. Em resumo, com o desaparecimento dos dois blocos, a Igreja recuperou não apenas a sua liberdade, mas também a sua universalidade, quer geográfica quer cultural e social. Para exprimi-lo com palavras de João Paulo II, “o mundo, cansado de ideologias, abre-se à verdade”[14].

Superadas em boa parte velhas divisões ideológicas, as propostas da Igreja encontram maior eco em qualquer tipo de pessoas (conservadoras e progressistas, para utilizar o esquema clássico) ao mesmo tempo em que ficam libertos de preconceitos. Para nos referirmos à Itália, as reações perante a histórica visita do Papa ao Parlamento a 14-XI-2002 confirma a maturidade do novo paradigma nas relações entre os temas religiosos e políticos: mais abertura, mais serenidade, mais respeito.

Poderia parecer que as considerações anteriores se afastam da finalidade deste trabalho. Mas não convém esquecer que o jornalismo religioso das últimas décadas usou com frequência os esquemas políticos como instrumento de análise, dividindo a Igreja, simplificando a realidade e dificultando o diálogo[15]. Na realidade, a informação religiosa dos meios de comunicação está muito marcada pelos princípios inspiradores do jornalismo; e o jornalismo, por sua vez, é uma profissão que recebe influências profundas das ideologias de caráter político. Por isso é lógico que também no campo da informação sobre a Igreja se apreciem os efeitos benéficos da mudança cultural consolidada nas últimas décadas.

2. Exposição cronológica e temática

Para descrever alguns aspectos do eco na opinião pública da canonização de Josemaria Escrivá seguiremos a ordem cronológica dos acontecimentos, mas com flexibilidade, interrompendo por vezes a sequência linear para tratar de temas de fundo, se o contexto o aconselhar.

Como se sabe, os momentos principais da última fase da causa de canonização foram: a leitura do decreto de aprovação do milagre, em 20/12/2001; o anúncio da data da canonização, após o consistório público ordinário de 26/02/2002; e o dia da cerimônia, 6-X-2002. Acrescentamos uma quarta data, 9/01/2002, dia em que fazia cem anos do nascimento de Josemaria Escrivá, pela repercussão pública de algumas atividades organizadas por esse motivo.

A. 20 de Dezembro de 2001: Decreto de aprovação do milagre

A primeira notícia pública oficiosa sobre a canonização foi difundida a 29 de Setembro de 2001. Nesse dia, os telejornais da RAI-1, e a seguir todos os meios de comunicação italianos, afirmaram que tinha tido lugar a reunião da Comissão de Cardeais, último passo para a aprovação do milagre, e que ficava, por isso, aberto o caminho para a canonização. O vaticanista que dava a notícia, Giuseppe De Carli, afirmava que 2002 seria um ano "importante para a Igreja", pela relevância das beatificações e canonizações que teriam lugar, apesar de alguns dizerem que após o Jubileu começava uma época anódina. O jornalista adiantava designadamente os nomes do Padre Pio, da Madre Teresa, de Pio XII e de Josemaria Escrivá, classificando-os como "gigantes da santidade do século XX"[16].

Pouco depois, a 4 de Outubro, o diário romano Il Tempo publicou outra nota oficiosa: a identidade do miraculado, o Dr. Manuel Nevado, e a história da sua cura. Nos meses seguintes, os meios de comunicação italianos conduziram a iniciativa da informação, e foram fonte para jornalistas de outros países. Em todo o caso, no Outono de 2001, circulavam apenas boatos e, por isso, os meios de comunicação preferiam esperar a confirmação antes de publicar despachos sem base firme.

No dia 20 de Dezembro os serviços informativos do Vaticano informaram sobre a leitura do Decreto do milagre, primeira notícia oficial sobre o assunto. A imprensa italiana e internacional reproduziu a informação, dando-lhe espaço mais ou menos amplo. Começaram a publicar-se reportagens sobre o milagre e a pessoa curada[17].

A 21-XII-2001, o jornal diário La Vanguardia de Barcelona publicou uma entrevista exclusiva ao cardeal austríaco Franz König, em que referia à profunda compreensão que o fundador do Opus Dei tinha acerca da missão dos leigos e de outros grandes temas do Concílio Vaticano II[18]. O arcebispo emérito de Viena manifestava a sua alegria por todos os novos santos, e afirmava que com a canonização, Josemaria Escrivá "pertence ao tesouro da Igreja". Esta ideia, formulada de muito diversos modos, aparecerá com frequência ao longo do ano de 2002 em afirmações de membros da hierarquia e de muitos católicos. Poderia dizer-se que é uma das grandes percepções coletivas produzidas por este acontecimento. O Cardeal Meissner, por exemplo, afirmava-o no dia 19 de Janeiro em Colônia, durante a homilia da Missa comemorativa do Centenário, ao dizer que a canonização significava a "desprivatização" de Josemaria Escrivá, que passa a fazer parte do "patrimônio comum da Igreja"[19].

Marco Tosatti publicou um artigo em La Stampa de Turim, em 21-XII-2001, no qual resumia a história e a evolução da imagem do Opus Dei na opinião pública italiana durante os últimos anos. O jornalista acrescentava que, em sua opinião, a próxima canonização de Josemaria Escrivá, não levantaria polêmica[20]. As previsões do jornalista do diário de Turim foram confirmadas pelos fatos. Ele próprio quis inquirir as razões da evolução da opinião pública, em duas conferências de imprensa realizadas a 26 de Fevereiro e 3 de Outubro. Ao longo destas páginas, facultam-se dados e considerações que respondem em parte a essa questão.

B. 9 de Janeiro de 2002: Centenário

Poucos dias depois da leitura do Decreto, em 9 de Janeiro, celebrava-se o centenário do nascimento de Josemaria Escrivá. Por ocasião desse aniversário, teriam lugar atividades de diferentes tipos – conferências, exposições, seminários, publicações – em muitos países.

Em Roma, realizou-se o Congresso internacional sobre "A grandeza da vida cotidiana", organizado pela Universidade da Santa Cruz, de 8 a 11 de Janeiro de 2002. Reuniu professores e profissionais de diferentes áreas geográficas e de várias especialidades, para refletir sobre um dos temas centrais dos ensinamentos de Josemaria Escrivá. O Congresso atraiu o interesse dos meios de comunicação italianos[21] e dos correspondentes estrangeiros, que destacaram a presença de representantes de várias confissões religiosas[22], bem como de líderes políticos e sociais de diferentes tendências.

O Congresso de Roma e as restantes atividades do centenário não tinham uma finalidade exclusivamente comemorativa[23], mas pretendiam ir mais longe, aproveitando o aniversário para estudar os ensinamentos de Josemaria Escrivá, considerar as suas aplicações, examinar o significado dessas seed-ideas que são "a santificação do trabalho", "a grandeza da vida cotidiana", "o seguimento de Cristo no meio do mundo" e outras que passaram já à linguagem corrente dos cristãos. Algo de análogo pode dizer-se das atividades organizadas em torno da canonização, que implicaram também um convite à reflexão[24].

No balanço que faz depois da canonização no Il Messaggero de Roma (7-X-2002), Orazio Petrosillo afirma que "a partir de ontem, as linhas estratégicas de apostolado nos ambientes profissionais e de santificação do trabalho foram tornadas próprias pela autoridade da Igreja. João Paulo II incorporou ao seu magistério, do modo mais solene e comprometido, o programa daquele sacerdote espanhol". E, mais adiante, especifica: "as coisas de cada dia, o trabalho, a profissão, devem ser realizados procurando a perfeição, porque o valor do trabalho está em fazê-lo bem para servir aos homens e oferecê-lo a Deus". Estas palavras bem poderiam resumir outra tendência, que ficou clara desde os primeiros meses do ano de 2002: atenção às ideias e atitude de serena reflexão.

Entre os temas de estudo analisados na época do centenário vale a pena referir um em particular: as consequências sociais da santificação do trabalho. Esta questão foi tema central de um colóquio que teve lugar em Nápoles, em 13/10/2001[25]. Nessa ocasião e em outras similares, os autores das comunicações recordaram que o fundador do Opus Dei via o trabalho como um "serviço abnegado, que não envilece, mas educa, que engrandece o coração (...) e leva a buscar a honra e o bem das gentes de cada país: para que haja cada dia menos pobres, menos ignorantes, menos almas sem fé, menos guerras, menos insegurança, mais caridade e mais paz"[26].

Além de dedicar jornadas de estudo a questões como as mencionadas, a comemoração do centenário teve também uma vertente prática. Efetivamente, tomando como motivo este aniversário, em memória e homenagem a Josemaria Escrivá, pessoas de diferentes países decidiram promover iniciativas sociais de serviço. Ao longo do ano de 2002, surgiram hospitais para trabalhadores do campo, escolas de formação profissional e centros de atendimento a imigrantes e idosos, na Nigéria, R. D. do Congo, em Espanha, na Guatemala, Venezuela, Colômbia e no Uruguai[27].

Pode ver-se uma continuidade de pensamento – dado que retiram a sua inspiração da mesma fonte, os ensinamentos do fundador do Opus Dei – entre essas iniciativas nascidas por ocasião do centenário e Harambee 2002, diretamente vinculado à canonização. Este projeto, promovido pelo Comitato Organizzatore dos atos da canonização, e presidido por Mama Ngina Kenyatta, consistia fundamentalmente na criação de um fundo para financiar projetos na África a Sul do Saara, com donativos dos participantes na canonização, e de todas as pessoas que se lhes quisessem juntar[28]. Harambee 2002 encontrou resposta generosa por parte de muitas pessoas, instituições e empresas[29], e mereceu amplo eco nos meios de comunicação que fizeram a cobertura dos atos de 6 de Outubro. Estas iniciativas de serviço, além de deixarem frutos concretos dos acontecimentos do ano de 2002, mostram o alcance da aplicação da mensagem do novo santo, também do ponto de vista do desenvolvimento cultural e social.

Regressando ao 9 de Janeiro, pode destaca-se um dado significativo de opinião pública: a qualidade das informações publicadas pelos meios de inspiração cristã. A resenha seria muito ampla[30]. Remetemos aqui, pelo seu interesse, para o artigo assinado por John L. Allen, correspondente em Roma do National Catholic Reporter, dos Estados Unidos, do dia 9/01/2001[31], e para as duas colaborações de Annabel Miller em The Tablet, nos dias 10 e 17/11/2001[32]. Estes textos resumem um processo repetido ao longo dos últimos meses. Como a canonização de Josemaria Escrivá é notícia, os jornalistas decidem investigar, a partir de um nítido desacordo inicial com o Opus Dei, que ao princípio só conhecem por referências. O seu trabalho jornalístico coloca-os em contacto com pessoas e Centros da Prelazia e com outras fontes, de diversas tendências. Ao concluírem a sua investigação, estes jornalistas afirmam que a realidade que conheceram não corresponde aos estereótipos.

Allen, dirigindo-se aos colegas, afirma que é um erro manter preconceitos: “mais do que de diabolizar o Opus Dei, os progressistas necessitam de aprofundar a sua reflexão teológica sobre os temas-chave do catolicismo”[33].

Os exemplos mencionados dão atenção aos conteúdos dos ensinamentos de Josemaria Escrivá. Durante o ano de 2002, muitos jornalistas católicos aprofundaram no seu conhecimento, como comprovam os seus artigos. O que não sucedeu apenas com jornalistas, mas também com outras pessoas – teólogos, por exemplo, como no caso que a seguir resumimos.

Alguns intelectuais de língua alemã decidiram comemorar o centenário editando uma coleção de ensaios, de caráter interdisciplinar, com testemunhos e reflexões sobre a vida e ensinamentos do fundador do Opus Dei. Entre outros, o volume incluía uma colaboração do Bispo de Basileia, Mons. Koch. Um jornalista, ao ter conhecimento da notícia, lamentou a atuação deste bispo e teólogo. A crítica deu ocasião a Mons. Koch de expor publicamente, com singular franqueza e abertura, os motivos pelos quais tinha decidido participar no projeto editorial. No seu artigo[34] Mons. Koch recorda que em 1992 exprimira publicamente reservas sobre Josemaria Escrivá e sobre o Opus Dei, que nessa altura conhecia indiretamente. Posteriormente, lera os escritos de Josemaria Escrivá e conhecera pessoalmente fiéis do Opus Dei. Esses novos dados explicam a sua mudança de opinião e o seu atual apreço pelo futuro santo. Mons. Koch conclui que considera errado julgar sem conhecer, e acertado retificar.

Não é altura para estudar os mecanismos de opinião pública que operam na informação sobre a Igreja e os católicos. Mas não parece arriscado afirmar que os grandes meios de comunicação prestam atenção aos fenômenos de caráter religioso só em determinadas circunstâncias. Uma das situações que transformam os temas religiosos em hard news são as divisões internas: tal como noutros âmbitos, se não há conflito, não há notícia, podíamos dizer simplificando. Pelo contrário, os conflitos internos acabam por saltar para a primeira página dos grandes diários. No caso que agora nos ocupa, a quantidade e a qualidade dos artigos publicados nos meios de comunicação católicos de todo o mundo criou um clima sereno em relação à canonização de Josemaria Escrivá.

C. 26 de Fevereiro de 2002: Consistório

No dia 26 de Fevereiro de 2002, num Consistório público ordinário, o Papa anunciou as datas de várias cerimônias e confirmou que Josemaria Escrivá seria canonizado no dia 6 de Outubro. Havia também expectativa para conhecer as datas de outras canonizações: a do Padre Pio, marcada para 16 de Junho, e as que João Paulo II tinha previsto ocorrerem na altura da sua viagem à América.

No que se refere a Josemaria Escrivá, alguns meios de comunicação recolheram as reações de diferentes personalidades perante a notícia: cardeais e bispos de diversos países, o postulador da causa de Madre Teresa de Calcutá, Giancarlo Cesana (Comunhão e Libertação), Carla Cotignoli (Focolares) e um representante da Ação Católica Italiana, para citar apenas alguns[35].

No próprio dia 26 de Fevereiro, em conferência de imprensa, Mons. Flavio Capucci, Postulador da causa de canonização de Josemaria Escrivá, deu a conhecer algumas mensagens enviadas por superiores e superioras de conventos de clausura, cooperadores do Opus Dei, a propósito da canonização. O texto de um deles pode servir como resumo: “Alegramo-nos pela próxima canonização do Beato Escrivá, na certeza de que é um dom para toda a Igreja”[36]. Durante essa conferência de imprensa, a Irmã Fernanda Barbiero, professora de Teologia, participou na apresentação de um livro[37], que inclui testemunhos de sacerdotes, religiosos e religiosas que conheceram Josemaria Escrivá e testemunham a sua santidade de vida. A religiosa italiana expôs os motivos pelos quais, em sua opinião, o exemplo e a mensagem do fundador do Opus Dei podem ajudar os católicos a seguir Cristo, cada um pelo seu próprio caminho.

A partir do dia 26 de Fevereiro, confirmada a decisão do Papa de canonizar Josemaria Escrivá e conhecida a data da cerimônia, decai logicamente o interesse dos meios de comunicação durante uns meses. Voltará a renascer com intensidade ao aproximar-se o dia 6 de Outubro.

Mas esta tendência geral teve as suas exceções, visto que entre Março e Setembro se publicaram algumas notícias, sobretudo relacionadas com o centenário. Mencionemos agora apenas uma delas: a apresentação, em diferentes cidades de Espanha, da edição crítico-histórica de Caminho[38], preparada pelo Professor Pedro Rodríguez. O trabalho é o primeiro volume da série “Obras Completas”, da responsabilidade do “Instituto Histórico Josemaria Escrivá”, erigido pelo Prelado do Opus Dei, com data de 9 de Janeiro de 2001[39]. O Instituto é um centro de investigação de âmbito internacional, que promove “estudos históricos sobre o Beato Josemaria e outros trabalhos científicos (teológicos, canônicos, pedagógicos, etc.) sobre o seu espírito e ensinamentos e sobre os apostolados empreendidos sob o seu impulso direto ou indireto”[40].

A publicação deste livro é um acontecimento relevante, também em termos de opinião pública. As crônicas das apresentações, as entrevistas e as recensões especializadas facilitaram um melhor conhecimento do autor de Caminho[41], que, com os seus quase cinco milhões de exemplares vendidos, pode perfeitamente ser considerado não só um best-seller, mas também um long-seller[42]. A edição crítico-histórica representa um contributo fundamental para conhecer a gênese do livro, o itinerário espiritual do autor ao escrevê-lo, o entrelaçar do processo de criação literária com o dinamismo apostólico dos primeiros anos do Opus Dei.

Deixando de lado outras considerações, e tendo em conta que se trata de nos circunscrevermos ao tema da canonização e à sua incidência na opinião pública, vale a pena apontar que o livro do Professor Rodríguez significa um aprofundamento sem precedentes na figura de Josemaria Escrivá, graças ao valor das fontes consultadas, à clareza que emana dos textos e documentos e à metodologia científica do trabalho.

Nesta obra, a personalidade do novo santo adquire novas perspectivas para o leitor, Alegrias, cruzes, dúvidas, influências, amor a Deus e ao próximo de Josemaria Escrivá aparecem nas entrelinhas. Mas não só o autor, também o seu pensamento e a sua obra Caminho são apresentados de modo novo, inclusivamente para quem já o sabe de cor. Várias vezes, Rodríguez, ao expor o contexto de um texto, ou até os comentários do autor sobre ele, permite captar o seu significado exato. O que para alguns era só uma série de conselhos aparece como uma valiosa coleção de experiências, das quais Josemaria Escrivá é o primeiro a aprender. Paradoxalmente, esta edição crítico-histórica, à primeira vista a edição mais fria de Caminho, é a que descobre melhor a profunda humanidade e a alta santidade do fundador do Opus Dei[43]. Afigura-se lógico deduzir que, à medida que forem aparecendo este tipo de trabalhos, com metodologia científica e base documental, a figura de Josemaria Escrivá será conhecida com maior perspectiva histórica. No âmbito da opinião pública, este tipo de publicações contribui para elevar o nível do discurso, para superar debates pobres de conteúdo.

Alguns estereótipos que distorcem a realidade histórica[44] sobre a pessoa e ensinamentos de Josemaria Escrivá ainda tiveram espaço em torno do dia 6 de Outubro[45]. Resumindo, pode dizer-se que: a)foram relativamente poucos, em comparação com as numerosas informações que refletiram com profundidade o núcleo da sua mensagem; b)consistiram sobretudo em afirmações sem fundamento sobre questões históricas (uma suposta relação com o regime de Franco, afirmações sobre o nazismo e outras semelhantes, algumas das quais verdadeiramente grotescas) que são claramente desmentidas por testemunhos e documentos; c)com frequência, reproduziram conteúdos de reportagens antigas[46]; d)foram por vezes difundidos por uma ou outra agência internacional que reciclou material de arquivo, sem analisar a notícia de atualidade.

Justamente neste terreno é possível detectar outra das percepções coletivas mais notáveis do ano de 2002. Um jornalista italiano observou que “com o passar do tempo, certas emoções se foram moderando”[47]. E uma revista espanhola, referindo-se a críticas antigas, afirmou que “de tudo isso não resta praticamente nada”[48]. Talvez seja uma afirmação um tanto exagerada, mas em todo o caso é possível prever que os resultados das investigações dos historiadores vão ajudar a não cair em simplificações nem em reducionismos.

D. 6 de Outubro de 2002: Cerimônia

Quase um ano depois das primeiras notícias oficiosas, a canonização voltou a estar na ordem do dia. Em Itália, os meios de comunicação talvez até lhe tenham dado mais atenção do que em 1992: desta vez a notícia foi tratada ao nível de um “grande evento”[49]. As autoridades procuraram facilitar todos os aspectos da organização. No dia 30 de Setembro, o Município de Roma convocou uma conferência de imprensa para informar todos os cidadãos dos pormenores organizativos da cerimônia: trânsito, serviços públicos, transportes, acolhimento, segurança e outros. O presidente da Câmara declarou nesta ocasião que “estamos orgulhosos de colaborar num evento como este”[50].

Durante a primeira semana de Outubro, os meios de comunicação italianos dedicaram um espaço nobre aos preparativos[51]. Entre outros, destacam-se os serviços noticiosos da RAI; as informações das outras cadeias de televisão; e os frequentes comunicados das agências ANSA e ADN-Kronos. Do ponto de vista televisivo, teve uma particular ressonância o programa “Porta a Porta” dedicado á canonização[52]. No âmbito da imprensa escrita, o diário romano Il Tempo dedicou uma série de reportagens ao novo santo, e editou uma separa especial no dia 6 de Outubro, que incluía, entre outras declarações e entrevistas, o texto da carta que o prestigiado jornalista Indro Montanelli, já falecido, tinha escrito a Paulo VI em 1978 para lhe sugerir a abertura do processo de canonização do fundador do Opus Dei.

Quanto a novidades editoriais, merece uma menção a breve biografia escrita por Andrea Tornielli, que foi apresentada em Roma precisamente no dia 4 de Outubro, com a participação do Cardeal Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos[53].

Não é possível resumir aqui o eco da notícia em todo o mundo, tanto pela sua amplitude como pela sua variedade. Façamos apenas uma breve referência à cobertura televisiva. Algumas emissoras de televisão transmitiram a cerimônia via satélite: RAI e RAI-International[54] ; Telepace; EWTN; Televisão Espanhola, com o seu canal internacional. Por outro lado, mais de 40 emissoras de televisão de diferentes países – também de África – transmitiram a cerimônia em direto ou em diferido.

Pode ser oportuno, chegados a este ponto, uma referência ao trabalho do Escritório de imprensa da canonização[55]. Comecemos por mencionar o princípio inspirador da estratégia do Escritório durante estes meses: facilitar ao máximo o trabalho dos jornalistas. Entre Setembro de 2001 e Outubro de 2002, à medida que se iam desenrolando os acontecimentos, chegaram milhares de pedidos de informação. O Gabinete de imprensa respondeu com dois tipos de ações:

a) em primeiro lugar, com informação abundante sobre cada um dos passos do processo: o milagre, a causa, a cerimônia, os participantes. Estando em contacto com os comitês organizadores da canonização, o Escritório de imprensa recolheu declarações, entrevistas, notícias, estatísticas e dados que serviram de base para o trabalho de informar. Parte desse material, além de se distribuir pessoalmente ou através de comunicados, ficou depois à disposição do público em geral, via Internet[56].

b) em segundo lugar, com plena disponibilidade para as petições específicas dos jornalistas. Além dos artigos, declarações e entrevistas do Prelado do Opus Dei, ao longo do ano realizaram-se quatro conferências de imprensa[57], em que participaram, segundo os casos, o Postulador da causa de canonização (Mons. Flavio Capucci), a porta-voz da canonização (a escritora Marta Manzi) e outras pessoas. Esta disponibilidade foi mais intensa durante os dias da canonização: pela sede do gabinete de imprensa passaram mais de 300 jornalistas de todo o mundo.

As crônicas da cerimônia de canonização destacaram: número de assistentes[58], piedade durante a Santa Missa e devoção à Eucaristia[59], presença de jovens[60], internacionalidade, boa organização[61], como reflexo de uma motivação mais profunda.

A par das crônicas, publicaram-se nos dias próximos ao 6 de Outubro artigos de fundo elaborados por jornalistas especializados que faziam uma avaliação da forma com o Opus Dei e o seu fundador eram vistos pela opinião pública. Têm especial interesse os de Henri Tincq no Le Monde[62], Joachim Fischer no Frankfurter Allgemeine Zeitung[63], Jacek Moskwa en Rzeczpospolita[64], e Frank Bruni no New York Times[65]. São artigos com um denominador comum nas suas apreciações, que coincide com os grandes temas anteriormente assinalados pelos meios de comunicação católicos[66]. Henri Tincq conclui que a superação dos preconceitos do passado permite ao Opus Dei poder “dar a sua medida e responder à chamada do seu fundador: recristianizar a sociedade, ajudar o empresário, o estudante, o jovem imigrado, a defender os valores da tradição cristã, oferecendo-lhes meios de formação, retiros, tempos de oração e práticas de devoção”[67].

E. Depois do 6 de Outubro

a) Um caso controverso

Em Itália, e provavelmente em geral, talvez o único tema que gerou controvérsias de alguma entidade foi a presença na cerimônia da canonização de um conhecido político de esquerda, Massimo D’Alema. No dia 7 de Outubro, o diário La Repubblica publicou umas declarações do presidente dos Democratici di Sinistra, onde reconhecia a importância da canonização de Josemaria Escrivá, exprimia respeito para com a Igreja Católica e sugeria que todas as formações políticas tinham de aprender a confrontar-se com as realidades religiosas[68]. As reações a estas palavras não se fizeram esperar. Algumas para manifestar respeito pela posição e convicções de D’Alema[69] ; outras para exprimir perplexidade e decepção[70].

Depois de bastantes comentários e referências de políticos e jornalistas, Massimo D'Alema voltou a tratar da questão noutra entrevista, a propósito da apresentação de um livro[71]. Já anteriormente tinha mostrado estranheza pelo “sectarismo e o ódio” latentes nalgumas reações. Agora quis acrescentar um dado evidente que essas críticas tinham esquecido: que à Igreja – e dentro dela o Opus Dei – pertencem pessoas de pensamento político muito variado, muitas das quais não se reconhecem nos modelos que propõem os partidos de direita. A este propósito é pertinente assinalar que a presença na canonização de outros lideres políticos de esquerda (para usar a terminologia corrente) não criou polêmicas. E muito menos, o fato de participarem na cerimônia seguidores de partidos notoriamente mais esquerdistas que os Democratici di Sinistra.

Analisar o alcance desta breve polêmica seria muito interessante, mas implicava sair do âmbito deste trabalho, mudar de registro e discorrer em termos de debate político. No entanto, mantendo o ponto de vista da análise de uma notícia de caráter religioso, podemos recordar a mudança cultural dos últimos anos, mencionada mais atrás de uma forma genérica[72]. Expressão de um novo estilo foi para alguns o artigo de Eugenio Scalfari na revista L’Espresso[73]. Este jornalista veterano, depois de descrever a sua impressão favorável ante “o espetáculo” da praça de São Pedro, exprime o seu parecer pessoal sobre as causas de canonização: “Nós, os laicos[74] não acreditamos em milagres (...), nem em intervenções sobrenaturais de nenhum tipo, nos corpos ou nas almas, seja qual for o sentido que se queira dar a esta palavra. Senão... que espécie de laicos seríamos? Mas respeitamos quem crê”. E mais adiante continua: “que Josemaria Escrivá foi um santo como o foi o Padre Pio (...), isso não se discute. Um homem santo, de se tirar o chapéu: seria bom que houvesse muitos como ele”[75].

Em suma, um aspecto do novo clima da opinião pública referente à Igreja consiste precisamente em exercitar com elegância a arte da discrepância, muito mais difícil e refinada que a arte da coincidência. Talvez caiba aqui completar a famosa expressão de Tertuliano ("deixa-se de odiar quando se deixa de ignorar") dizendo que "se começa a dialogar quando se começa a respeitar".

b) Uma história pessoal

O falecimento de Leonardo Mondadori no dia 13 de Dezembro teve um extraordinário eco na opinião pública italiana[76]. Editor reconhecido, pertencia a uma família de renome, amante dos livros e da arte, empresário estimado pelos colaboradores e empresários, Mondadori tinha escrito recentemente com Vittorio Messori um livro que anunciava o seu conteúdo logo no título: "Conversão". Até ao início de Dezembro tinham-se vendido 100.000 exemplares.

Mondadori conta nesse livro a mudança radical que o encontro com o Caminho produziu na sua vida, precisamente em 1992. No contexto da beatificação de Josemaria Escrivá, a editora que dirige estuda a possibilidade de publicar a obra mais vendida do fundador do Opus Dei. Por esse motivo, o editor milanês lê essas páginas e começa um processo de conversão mais paulatina que paulina. A fé cristã foi entrando gradualmente na existência deste empresário de sucesso que sentia que lhe faltava algo importante. Com o Caminho entre as mãos, descobre que a fé em Jesus Cristo e na sua Igreja o afeta e começa a interessar-se. Assim o Evangelho, os Mandamentos, os Sacramentos foram a pouco e pouco transformando a sua vida. Depois veio a doença. Nas semanas anteriores à canonização, quando talvez pressentisse já perto a morte, Leonardo Mondadori quis oferecer o seu testemunho pessoal acerca deste santo que o tinha acompanhado até às portas da fé[77].

O tempo que passou entre 1992 e 2002 foi crucial para Leonardo Mondadori. A sua atitude ante a fé mudou de modo radical nesses dez anos. Histórias como esta trazem à memória um texto do Papa: "Mas onde está a verdadeira força da Igreja? Naturalmente, a força da Igreja, no Oriente e no Ocidente, através de todos os séculos, está no testemunho dos santos, isto é, daqueles que da verdade de Cristo fizeram a sua própria verdade”[78].

3. Epílogo

Começamos estas páginas com o discurso de João Paulo II à Cúria no dia 21/12/2002. Podemos concluir com outras palavras do Santo Padre durante a homilia da Missa de 1/11/2002, Solenidade de Todos os Santos. Nesse dia, o Papa mencionou os novos santos canonizados ao longo do ano: "Pensando nestes luminosos testemunhos do Evangelho, damos graças a Deus, ‘fonte de toda a santidade’, porque os doou à Igreja e ao mundo". E mais adiante: "Com o seu exemplo, demonstram ‘que todos os fieis – como ensina o Concílio – estão chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade’ (Lumen Gentium, n. 10), tendendo à ‘medida alta’ da vida cristã corrente (cfr. Carta Apostólica Novo Millennio ineunte, n. 31)"[79].

Estas palavras lançam uma luz poderosa sobre os frutos que João Paulo II espera de todas as canonizações. E, desde outro ponto de vista, respondem à pergunta que já muitos se fizeram: Porque é que este Papa promove tantas beatificações e canonizações? Proclamando santos e beatos, o Romano Pontífice convida a imitar Jesus Cristo, que é o único Modelo; confirma que também hoje é possível alcançar a santidade; deste modo alimenta a esperança dos católicos; e promove no mundo uma sementeira de caridade. Ainda serão necessárias mais razões?

J. M. Mora


[1] Vatican Information Center, Roma, 21-XII-2002

[2] Ver, a título de exemplo, Osservatorio Comunicazione e Cultura, n. 11-2002, p. 17-18 (Boletim ed. pelo Uffizio Nazionale de Comunicazione Sociale, da Conferência Episcopal Italiana), Roma, Novembro 2002.

[3]As fontes da imprensa e documentais (1992-2002), procedentes de numerosos países são tratadas pelo Departamento de Comunicação da Prelazia do Opus Dei em Roma.

[4] Quando se terminaram estas páginas, no dia 6 de Janeiro de 2003, passaram apenas três meses após a canonização.

[5] Os telefilmes bateram o record absoluto das audiências da televisão italiana neste género: o Canale 5 rondou os 50% de share, e a RAI superou-o pouco depois, sempre em horários de maior audiência.

[6] Corriere della Sera, 30-XII-2002.

[7] João Paulo II, Atravessar o limiar da esperança, Lisboa, 1994, p 110.

[8] Para quem se dedica à comunicação, não deixa de ser chamativa a presença de expressões como “beatificazione”, “bisogna essere santi”, e outras similares, em outdoors publicitários. Certamente os criativos não pretendem catequizar, mas detectaram no ar termos novos, não gastos, e incorporaram-nos ao seu léxico profissional.

[9] Cfr. Diego Contreras, Aceprensa, n. 14/02, de 30-I-2002

[10] Cfr. Giovanna Zucconi, “Dio mi sta baciando? Per favore, digli di smettere”, in La Stampa, 17-XII-2002.

[11] Cfr. O sal da terra, Entrevista de Peter Seewald ao Card. Joseph Ratzinger, Lisboa, 1997.

[12] Sobre o Jubileu, ver as Cartas Apostólicas Tertio Millennio Adveniente, que explica o seu sentido, e Novo Millennio Ineunte, que faz um balanço e apresenta considerações de grande interesse.

[13] João Paulo II, Mensagem para o Dia mundial da paz de 1° de janeiro de 2003, n. 1

[14] Atravessar o limiar da esperança, op. cit., p. 154.

[15] De fato, estas questões foram amplamente tratadas por vários comentadores aguando da canonização de Josemaria Escrivá, e a propósito da percepção do Opus Dei na opinião pública: cfr., por exemplo, “Opus Dei comes in from the cold”, editorial do Catholic Herald, de 18-I-2002; Rodolfo Brancoli, “Il fantasma dell’Opera”, Liberal, Junho-Julho de 2002; John L. Allen, “Incomprehensions about Opus Dei”, National Catholic Reporter, 11-X-2002; e Michael W. Higgins, “Polarizing tendencies about Catholicism”, The Toronto Star, 9-XI-2002.

[16] Nessa altura (Setembro de 2001), já tinha sido a canonização de Josefina Bakhita, beatificada ao mesmo tempo que Josemaria Escrivá em Maio de 1992; a beatificação de João XXIII e outras beatificações e canonizações realizadas em prazos relativamente breves, aplicando a lei vigente desde 1983. O processo da Madre Teresa estava a prosseguir de modo mais rápido, com dispensa de interstícios. O número e a fama destes casos explica que algumas das críticas feitas por esse motivo em 1992 a respeito da causa de Josemaria Escrivá não se tenham repetido.

[17] Cf. por exemplo, no próprio dia 20-XII-2002, a entrevista ao Dr. Nevado transmitida pela RAI; outra, mais ampla, publicada pela Famiglia Cristiana; e o extenso artigo de V. Messori no Corriere della Sera. Havia declarações em video deste médico espanhol e de testemunhas do seu caso à disposição no site da Internet www.opusdei.org. Ainda é possível consultar aí toda a informação difundida a partir de 20 de Dezembro.

[18] Nessa linha, entre outros, se exprimia em 1998 o já falecido Cardeal Basil Hume, Arcebispo de Westminster, numa Missa de agradecimento pelo 70º aniversário da fundação do Opus Dei: "o fundador do Opus Dei entendeu que devia urgir homens e mulheres de todo o tipo e condição a procurarem a santidade e a fazerem apostolado no meio do mundo, no exercício da sua profissão, sem terem que mudar de ocupação profissional. Não se trata de mudar de modo de vida, mas sobretudo de mudar o próprio coração. Esta mensagem de há setenta anos antecipou o Decreto do Concílio Vaticano II sobre o papel dos leigos no mundo". Estas palavras do Cardeal Hume tiveram eco na opinião pública do Reino Unido: cfr. Annabel Miller, "Muscular Catholicism", in The Tablet, 17-XI-2001.

[19] Confirmação desta percepção coletiva foi a presença na cerimônia de canonização de mais de 400 bispos, de numerosos superiores de ordens religiosas, representantes de movimentos, associações e outras realidades da Igreja.

[20] Tosatti afirmava que Maria del Carmen Tapia – que em 1992 tinha exprimido repetidamente o seu desacordo quanto à beatificação – declarava agora que "se inclina perante a decisão do Papa". A agência ANSA divulgou no dia 24-XII-2001 outras declarações em que M. C.Tapia, para clarificar a sua posição, afirmava que "a prevista e feliz conclusão da canonização de Monsenhor Escrivá foi para mim motivo de alegria, visto que, muitas vezes, depois da sua morte, lhe tenho pedido graças, que efetivamente posso dizer me foram concedidas muitas vezes". Após expor as razões da sua posição e referindo-se a um livro que publicou em 1992, concluía que "seria um erro, um erro grave, servir-se da informação contida no meu livro para pôr em dúvida a santidade do fundador do Opus Dei". Talvez o fato de a ANSA ter distribuído o comunicado na véspera de Natal, às 15.30, explique que estas declarações tenham passado inadvertidas a alguns jornalistas.

[21] Rodolfo Brancoli, no seu artigo "Il fantasma dell'Opera", já citado, destaca a "extraordinária cobertura mediática "do Congresso. O diário Avvenire dedicou-lhe quase uma página por dia durante uma semana.

[22] Entre outras, destacaram-se as intervenções do Rabino A.Kreiman, cooperador do Opus Dei, sobre a santificação do trabalho, e de E. Pazhukin, escritor russo de religião ortodoxa, autor de uma biografia recente de Josemaria Escrivá, em que aborda os aspectos mais significativos dos seus ensinamentos no contexto da tradição oriental.

[23] Cfr. Javier Echevarría, "Il dinamismo di un messaggio donato alla Chiesa universale", L’Osservatore Romano, 9-I-2002. O Prelado do Opus Dei afirmava que ceder à "tentação comemorativa" na celebração do centenário significaria esquecer a fundamental "lição de humildade" do fundador do Opus Dei.

[24] Um veterano vaticanista italiano intitulava assim a sua crónica do dia 8-X-2002: "Dall'evento, un invito per tutti alla riflessione" (Arcangelo Paglialunga, Il Giornale di Brescia).

[25] Cfr. www.opusdei.org, versão italiana. O professor Roberto Panizza expôs em Il Sole-24 Ore de 11-XI-2001 algumas conclusões da reunião de Nápoles. No seu artigo "Il sottosviluppo sarà vinto dal lavoro", Panizza evoca os graves problemas que afligem numerosas nações do mundo, e recorda que "o homem pode realizar-se e conseguir a liberdade a que aspira", através do trabalho, poderoso motor de desenvolvimento. Esta realidade confirma, em sua opinião, que "o pensamento de Josemaria Escrivá é de grande atualidade".

[26] Josemaria Escrivá, Carta 31-V-1943, n. 1, citado em J.L.Illanes, F.Ocáriz e P. Rodríguez, O Opus Dei na Igreja, Lisboa 1994, p.174.

[27] As iniciativas que nasceram por ocasião do Centenário são: Institute for Industrial Technologies (Nigéria), Ambulatório Médico “Arauco” (Venezuela), Centro Médico-social “Moluka” (R.D.Congo), Dispensário de “Ciudad de Los Niños” (México), Casa-Escola Agrícola “Guatanfur” (Colômbia), Centros de atendimento a imigrantes “Braval” e “Terral”(Espanha), Centro Educativo “Los Pinos” (Uruguai). Tomando como motivo a canonização, outras pessoas promoveram: Centro de Cuidados “Laguna” (Espanha) e Hospital de dia “Aq’on Jay “ (Guatemala). No dia 9 de Janeiro realizou-se em Roma uma conferência de imprensa de apresentação de várias iniciativas sociais promovidas a propósito do centenário: cfr. “Un centenario all’insegna della solidarietà”, Avvenire, 10-I-2002.

[28] O Prelado do Opus Dei referiu-se a este projeto, numa entrevista concedida à agência Misna (3-X-2002). Segundo D. Javier Echevarría, Harambee 2002nasce de uma convicção: a de que “o importante são as pessoas e, neste caso, os africanos, que devem ser artífices do progresso em África. Por esse motivo, a sua educação converte-se em elemento essencial do desenvolvimento, pois abre portas ao trabalho e ao progresso, tanto material como espiritual. A educação é um modo, se me permite a expressão, de semear esperança. O Projeto Harambee2002 quer contribuir com o seu grão de areia para esse empenho coletivo”.

[29] Vid. www.harambee-africa.org, com informação sobre o andamento do projeto e a recolha de fundos.

[30] Além dos já citados, poder-se-iam mencionar os serviços de Deutsche Tagespost (Alemanha); Alfa y Omega, Ecclesia e Vida Nueva (Espanha); National Catholic Reporter e Inside the Vatican (Estados Unidos); La Croix, Famille Chrétienne e France Catholique (França); Katholiek Nieuwsblad (Holanda); Katorikku Shimbum (Japão); The Universe (Reino Unido); e as agências Zenit, ACI, KNA e CNS.

[31]Opus Dei: No surprise it gets top billing in this papacy”.

[32] “Saints in the office” e “Muscular Catholicism”.

[33] John L. Allen, artigo citado. Por seu turno, Annabel Miller, depois de ter entrevistado membros do Opus Dei e outras fontes claramente contrárias, conclui que a mensagem de Josemaria Escrivá “it is not my cup of tea”; mas, se para algumas pessoas “é um caminho que os ajuda a serem melhores cristãos, que motivos tenho eu para me opor a essa realidade?”(The Tablet, 1-XI-2001)

[34] “É pecado ter mudado?”, Tages Anzeiger, 30-I-2002.

[35] Ver textos das declarações de 26-II-02 em www.opusdei.org.

[36] Veribidem.

[37] Flavio Capucci (ed.), Un santo per amico, Ares, Milão 2001.

[38] Camino, Edición crítico-histórica, Rialp, Madri 2002.

[39] Cfr. Romana, Boletim da Prelazia do Opus Dei, n.32 – Janeiro-Junho de 2001, p.47.

[40] Id., p.76.

[41] A primeira apresentação teve lugar em Madri no dia 13-III-2002, com a participação do Cardeal López Trujillo e do Professor Antonio Fontán.

[42] Adiante mencionaremos um exemplo do seu influxo espiritual: cfr. 2, E).

[43] Este é também um dos grandes contributos da biografia do fundador do Opus Dei escrita por Andrés Vázquez de Prada, da qual foi publicado o segundo volume em Novembro de 2002.

[44] A propósito deste tipo de tópicos pode ser pertinente mencionar umas palavras de Hannah Arendt sobre as críticas que recebeu o seu famoso livro A banalidade do mal. Eis as suas palavras: “Este livro, mesmo antes de ser publicado, desencadeou uma azeda polêmica e foi violentamente atacado (...) O brado referia-se à “imagem” de um livro que nunca tinha sido escrito, e tocava aspectos que não só eu nunca tinha dito, mas que nem sequer me tinham passado pela cabeça” (La banalità del male. Eichmann a Gerusalemme. Feltrinelli, Milão 1999, Apêndice, p. 287. Edição original de 1964, que completa a primeira de 1963).

[45] Cfr. algumas colaborações aparecidas em El País perto do dia 9 de Janeiro e as declarações de Peter Hertel no âmbito alemão.

[46]

[47] Marco Politi, La Republica, 10-I-2002. esta afirmação precede uma entrevista ao Prelado do Opus Dei, por ocasião do centenário.

[48] Tiempo

[49] O governo italiano classificou esta cerimônia como “grande evento”, tal como tinha ocorrido com a canonização do Padre Pio: cfr. Decreto do Presidente do Conselho de Ministros, publicado na Gazzetta Ufficiale della Repubblica Italiana, de 19-VII-2002.

[50] Cfr. “Pellegrini di tutto il mondo per la canonizzazione del fondatore dell’ Opus Dei”, en La Repubblica, 1-X-2002., 7-X-2002.

[51] Lola Galán afirmava no El País, de 6-X-2002 que “é sintomático o acolhimento entusiasta dado ao novo santo pela televisão pública e pela maior parte da imprensa italiana”.

[52] RAI-1, 2-X-2002.

[53] O Cardeal Saraiva Martins fez outras intervenções durante o ano, entre as quais se destaca o seu artigo “Si sono aperti i cammini divini della terra” (L’Osservatore Romano, 21-IX-2002) e a entrevista publicada pelo Il Messaggero de 5-X-2002. Em geral, a Congregação expôs com grande sentido de oportunidade a informação relativa ao evento.

[54] A RAI realizou um programa de quatro horas que pressupôs um considerável esforço editorial.

[55] O que se afirma em seguida pode aplicar-se por analogia ao Congresso Internacional do mês de Janeiro, que contou com um Gabinete de imprensa e com um site na internet (www.escriva2002.org).

[56] Desde Outubro de 2001 em www.opusdei.org. A partir de Abril de 2002, além disso, começou a estar acessível um outro site com informações práticas e notícias referidas especificamente à cerimônia (www.escriva-canonization.org).

[57] Um em 2001 (Dezembro)e três em 2002 (Janeiro, Fevereiro e Outubro).

[58] Para muitos, este dado só por si foi notícia. Como é habitual não há concordância nos números. “Mais de 300.00 pessoas”, informavam muitas das crônicas. Vários jornais calcularam 400.000 ou mesmo 500.000 (Paris Match, 17-X-2002). Alguns jornalistas chegaram a falar da “canonização mais concorrida da história da Igreja” (cfr. Osservatorio Comunicazione e Cultura, n. 11-2002, p. 17, Roma, Novembro 2002).

[59] Os guarda-chuvas brancos que assinalavam a passagem do Santíssimo Sacramento, muito filmados pelas câmaras, foram vistos como manifestação evidente e elegante de respeito.

[60] Cfr. Luigi Acatoli, “Il santo dei giovani e dei ceti medi”, Corriere della Sera, 7-X-2002.

[61] Sobre este aspecto foi muito citado o artigo de Vittorio Messori no Corriere della Sera de 6-X-2002, intitulado “Il foglio segreto dell’ Opus Dei”.

[62] “L’Opus Dei, l’avant-garde de Dieu” de 4-X-2002.

[63] Vater in der Welt, dde 7-X-2002.

[64] Este correspondente publicou dois serviços interessantes nos dias 5 e 7 de Outubro.

[65] No que se refere aos Estados Unidos, cabe mencionar a escassa atenção prestada pela Newsweek à canonização. A revista publicou um artigo com data de 7-X-2002, escrito antes da cerimônia, que na realidade não continha informação actualizada. Tratava-se de um resumo das opiniões do autor sobre a canonização com base num artigo que publicou a 6-I-1992, também na Newsweek. O autor, o jornalista Kennet Woodward, teve um papel relevante nas críticas à beatificação.

[66] Cfr. supra 2, B) sobre o 9 de Janeiro.

[67] Le Monde, 4-X-2002.

[68] “Esta canonização é um importantíssimo evento que não pode passar inadvertido. Aceitei o convite por este motivo e não só: estou aqui, com efeito, também pelo respeito que se deve à Igreja católica, às suas instituições, à sua história, aos seus testemunhos, aos seus símbolos. E o novo santo Escrivá é certamente um deles”. E à pergunta sobre o que pode ensinar a Igreja aos políticos responde: “A Igreja tem muito que ensinar. O que impressiona mais é a coesão, a força de convicção, a fé, a capacidade de ramificar-se na sociedade que tem a Igreja em todas as suas expressões, movimentos, nos seus homens e mulheres. A Igreja católica é indubitavelmente o grande “fato” do nosso tempo, com o qual é preciso confrontar-se. Todos devem sentir-se chamados a fazê-lo. Também quem se dedica à política” (La Repubblica, 7-X-2002).

[69] Entre outros, o Secretário Geral dos seu partido, Giorgio Fassino.

[70] Foi o caso de Antonio Tabucchi, no El País de 15-X-2002. Este artigo e outros baseiam a sua crítica numa imagem desfigurada do Opus Dei e do seu fundador. Talvez valha a pena repetir em seu favor que a sua opinião seria talvez mais equilibrada se dispusesse de melhor informação. Nestes casos é útil evocar uma frase que recordava com frequência o fundador do Opus Dei: para que haja uma boa comunicação são necessárias “boas entendedeiras” e também, pelo menos na mesma medida, “boas explicadeiras”.

[71] Cfr. La Gazzetta del Mezzogiorno, 16-XI-2002.

[72] Cfr. 1. B). As palavras “mudança cultural” foram empregues pelo jornalista que comentou a cerimónia do dia 6 para a RAI. Giuseppe De Carli referiu-se a uma mudança de grandes dimensões, que nesse dia se manifestava na maturidade da opinião pública internacional ante a canonização do fundador do Opus Dei.

[73] “Os milagres de Escrivá e a fábrica de santos”, L’Espresso, 17-X-2002. Eugenio Scalfari é o fundador do diário romano La Repubblica.

[74] Em itálico para exprimir o matiz que esta palavra adquire na linguagem corrente em Itália, onde se usa às vezes como contraposto a “católico”; algo semelhante acontece também em Portugal.

[75] Com um back ground diferente, Joan Estruch segue uma perspectiva semelhante num artigo publicado a 9-I-2002 em Avui (Barcelona). Ao comentar a notícia da próxima canonização, Estruch afirmava que não se encontra em condições de criticar a decisão do Papa quem não acredita em milagres. A sua recusa evidencia uma regra de jogo limpo para o debate público.

[76] Todos os meios de comunicação publicaram notícias amplas. Ver, como exemplo, Panorama, 2-I-2003.

[77] No dia 2 de Outubro contou a sua história – modestamente, com elegância – num debate de televisão de grande audiência ("Porta a porta"), e numa sessão informativa que teve lugar no Teatro Quirinetta de Roma. No dia 7 de Outubro, La Repubblica publicou uma breve entrevista onde, com simplicidade, contava de novo o que ocorrera.

[78] Atravessando o limiar da esperança, cit., p. 163

[79] L’Osservatore Romano, edição diária em italiano, 2/3 de Novembro 2002, p. 1. Sobre este tema, ver Edward Nowak, "La nouvelle évangelisation avec les saints", in L’Osservatore Romano em língua francesa, n. 49 e 50 de 4 e 11-XII-2001, respectivamente.