Os Novíssimos

Nos Livros Sagrados dá-se o nome de Novíssimos ao que sucederá ao homem no final da vida, a morte, o juízo, o destino eterno: o céu ou o inferno. A Igreja apresenta-os de um modo especial no mês de Novembro por meio da liturgia e convida os cristãos a meditar sobre estas realidades. São Josemaria fala-nos delas:

Gosto de lembrar com muita freqüência que, quando me dirijo a vós, quando conversamos todos juntos com Deus Nosso Senhor, estou fazendo a minha oração pessoal em voz alta. Pela vossa parte, deveis esforçar-vos também por alimentar a vossa oração dentro das vossas almas, mesmo quando por qualquer circunstância, como, por exemplo, a de hoje, tenhamos necessidade de tratar de um tema que, à primeira vista, não parece muito adequado para um diálogo de amor - que isso é o nosso colóquio com o Senhor. Digo à primeira vista, porque tudo o que nos acontece, tudo o que se passa ao nosso lado, pode e deve ser tema da nossa meditação.

Tenho que falar-vos do tempo, deste tempo que se vai.

Para nós, cristãos, a fugacidade do caminhar terreno deveria incitar-nos a aproveitar melhor o tempo; nunca a temer Nosso Senhor, e muito menos a olhar a morte como um final desastroso.

Ao pensar nesta realidade, compreendo perfeitamente a exclamação que São Paulo dirige aos de Corinto:Tempus breve est!, como é breve a duração da nossa passagem pela terra! Para um cristão coerente, estas palavras soam-lhe no mais íntimo do coração como uma censura pela sua falta de generosidade e como um convite constante para que seja leal. Verdadeiramente, é curto o nosso tempo para amar, para dar, para desagravar. Não é justo, portanto, que o malbaratemos nem que atiremos irresponsavelmente esse tesouro pela janela fora. Não podemos desperdiçar esta etapa do mundo que Deus confia a cada um de nós.

Amigos de Deus, 39

A morte, meus filhos, não é uma passagem desagradável. A morte é uma porta que se nos abre para o Amor, para o Amor com maiúscula, para a felicidade, para o descanso, para a alegria.

Não é o fim, é o princípio. Para um cristão morrer não é morrer, é viver. Viver com maiúscula.

Enfrentem-se com a morte. Face a face. Contem com ela: terá que vir… Por que razão deves ter medo? Esconder a cabeça debaixo das asas com medo, com pânico, por quê? Senhor, a morte é vida. Senhor, a morte para um cristão é o descanso, e é o Amor, e não tenho outra volta a dar-lhe.

Resposta de São Josemaria a uma pergunta de um médico no Peru sobre como enfrentar o temor da morte dos doentes e dos seus familiares

O verdadeiro cristão está sempre disposto a comparecer diante de Deus. Porque, em cada instante - se luta por viver como homem de Cristo -, encontra-se preparado para cumprir o seu dever.

Sulco, 875

Em face da morte, sereno! - É assim que te quero. - Não com o estoicismo frio do pagão; mas com o fervor do filho de Deus, que sabe que a vida é mudada, não tirada. - Morrer?... Viver!

Sulco, 876

Doutor em Direito e em Filosofia, preparava um concurso para professor catedrático na Universidade de Madrid. Duas carreiras brilhantes, feitas com brilhantismo. Mandou-me avisar: estava doente, e desejava que eu fosse visitá-lo. Cheguei à pensão onde estava hospedado. - “Padre, estou morrendo”, foi a saudação. Animei-o, com carinho. Quis fazer uma confissão geral. Naquela noite, faleceu. Um arquiteto e um médico me ajudaram a amortalhá-lo. - E, à vista daquele corpo jovem, que rapidamente começou a decompor-se..., estivemos de acordo os três em que as duas carreiras universitárias não valiam nada, comparadas com a carreira definitiva que, como bom cristão, acabava de coroar.

Sulco, 877

Tudo se conserta, menos a morte... E a morte conserta tudo.

Sulco, 878

A morte chegará inexoravelmente. Portanto, que oca vaidade centrar a existência nesta vida! Olha como padecem tantas e tantos. A uns, porque ela se acaba, dói-lhes deixá-la; a outros, porque dura, enfastia-os... Em caso algum tem cabimento a atitude errada de justificarmos a nossa passagem pela terra como um fim. É preciso sair dessa lógica, e ancorar-se na outra: na eterna. É necessário uma mudança total: um esvaziar-se de si mesmo, dos motivos egocêntricos, que são caducos, para renascer em Cristo, que é eterno.

Sulco, 879

O tempo é o nosso tesouro, o “dinheiro” para comprarmos a eternidade.

Sulco, 882

Não faças da morte uma tragédia!, porque não o é. Só aos filhos desamorados é que não entusiasma o encontro com seus pais.

Sulco, 885

Quando pensares na morte, apesar dos teus pecados, não tenhas medo... Porque Ele já sabe que O amas..., e de que massa estás feito. - Se tu O procurares, acolher-te-á como o pai ao filho pródigo: mas tens de procurá-Lo!

Sulco, 880