O que significa a “Chamada universal à santidade”?

O que é a santidade? Porque foi “esquecida”? Como a chamada universal à santidade foi “resgatada” no século XX? Todos realmente podem ser santos?

Contam que certa vez, São Josemaria Escrivá, depois de recordar este texto da carta aos Efésios (1, 4): “Elegit nos ante mundi constitutionem ut essemus sancti et immaculati in conspectu eius”, traduziu-o – por Ele mesmo escolheu-nos antes da criação do mundo, para sermos santos e sem mancha em sua presença – e depois gritou com a voz clara e forte que o caracterizava: “E isso é tudo”[1]. São Josemaria expressava assim que o miolo da mensagem que devia proclamar era a chamada universal à santidade.

O povo de Israel era consciente, sem dúvida, de ser chamado à santidade, porque Deus é santo (cfr. Lv 19,2). Só depois de muitos séculos, no entanto, abrir-se-ia o grande caminho, com a vinda do Messias e a encarnação do Senhor. “Como podemos conhecer o caminho?” perguntou o apóstolo Tomé. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida – respondeu-lhe Jesus – ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6). Pelo batismo, todo cristão é chamado à santidade e ao apostolado incorporando-se à vida de Cristo: cada um e todos os cristãos de todas as épocas. A chamada universal à santidade, afirmação que é central no Evangelho, ilumina toda a vida com uma luz decisiva. Foi pregada por São Josemaria desde o ano de 1928, não sem uma particular graça de Deus. O Concílio Vaticano II proclamou-a solenemente: “Todos os fiéis, de qualquer estado ou condição, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade, que é uma forma de santidade que promove, ainda na sociedade terrena, um nível de vida mais humano. Para alcançar essa perfeição, os fiéis, segundo a diferente medida dos dons recebidos de Cristo, seguindo suas pegadas e amoldando-se à sua imagem, obedecendo em tudo à vontade do Pai, deverão esforçar-se para entregar-se totalmente à glória de Deus e ao serviço do próximo”[2].

1. Só Deus é santo

Tu solus Sanctus, tu solus Dominum, tu solus Altissimus, Iesu Christe, com Sancto Spiritu: in gloria Dei Patris”: “só vós sois Santo, só vós o Senhor, só vós o Altíssimo, Jesus Cristo, com o Espírito Santo na glória de Deus Pai”. Ao proclamar a divindade de Jesus Cristo, o Glória afirma que só Deus é santo. A rigor, ninguém é santo enquanto está na terra, mas todos estamos a caminho dessa santidade que Deus nos quer comunicar. Jesus Cristo lançou esta chamada com as seguintes palavras: “Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito” (Mt 5, 48). Acolhendo esse ensinamento, São Paulo escreve a Timóteo: Deus “quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2, 4). Perfeição, salvação eterna, verdade, estas palavras levam todas a Deus, o único três vezes santo segundo o máximo superlativo hebreu (cfr. Is 6, 3). Nesse sentido, a santidade é uma participação na vida de Deus. Deus quer que gozemos dessa santidade. Isto é a obra de Deus, com a correspondência pessoal do homem: “Trata-se certamente de um objetivo elevado e árduo. Mas não percais de vista que o santo não nasce; forja-se no contínuo jogo da graça divina e da correspondência humana”[3].

Em sua primeira carta aos Tessalonicenses, o escrito mais antigo do Novo Testamento, São Paulo exorta os primeiros convertidos que o Apóstolo havia começado a formar e que estavam sofrendo perseguição: “esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Ts 4,3). Semelhante afirmação poderia assustar. Em conformidade com a doutrina paulina (cfr. Fl 4, 13: “Tudo posso naquele que me conforta”), São Josemaria, ao esboçar este caminho rumo à santidade, ensinou a abandonar-se nas mãos de Deus, sem complicar-se. Este abandono filial é fundamental. Jesus o inculcou a seus discípulos de muitas maneiras, por exemplo com as seguintes palavras encantadoras:

“Não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento, e o corpo não é mais que as vestes? Olhai as aves dos céus: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam. Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado” (Mt 6, 25-34).

Quando estava fazendo um retiro espiritual em Segóvia em outubro de 1932, Josemaria, jovem sacerdote, recordou que o seu confessor lhe tinha indicado que perguntasse a si mesmo: “Que grau de perfeição Deus me pede?”[4]. D. Álvaro del Portillo comenta este ponto dos Apontamentos Íntimos escrevendo que “o grau de perfeição de primeira classe, ou de segunda, ou de terceira” não importa a São Josemaria. “O que ele quer é fazer em tudo a Vontade do Senhor, para que o Senhor o leve ao nível de perfeição que deseja para ele: e assim, ao deixar-se levar até essa altura – seja qual for – o Padre está contente porque cumpre a Vontade de Deus”[5].

Deus “nos salvou e nos chamou para a santidade, não em atenção às nossas obras, mas em virtude do seu desígnio, da graça que desde a eternidade nos destinou em Cristo Jesus” (2 Tm 1, 9). A santidade é participação na própria vida de Jesus Cristo. Ao enxertar-nos na vida do Filho de Deus que se encarnou para nossa salvação, não só chegamos a uma perfeição moral, mas, ao mesmo tempo, participamos do próprio ser de Cristo. Trata-se de uma realidade ontológica assombrosa que permite que João Paulo II afirme: “Mediante a graça recebida no batismo o homem participa do eterno nascimento do Filho do Pai, uma vez que se converte em filho adotivo de Deus: filho no Filho”[6].

2. O que é a santidade?

Bento XVI ensina que “a santidade se mede pela estatura que Cristo alcança em nós, pelo grau como, com a força do Espírito Santo, modelamos toda a nossa vida segundo a dele”[7]. Pode-se, portanto, considerar o vocábulo “santidade” aplicando-o à pessoa humana segundo três perspectivas. Por sua participação na natureza divina, é santa desde o batismo[8]; por seu atuar reto tem uma santidade de vida ou vida moral santa; a santidade, finalmente, pode-se ver como uma meta, pois ninguém é santo nesta terra.

Quando o Senhor chamou os seus discípulos à perfeição, não o fez de modo vago ou simbólico. A sua palavra não pode ser suavizada. Antes de dizer-lhes “Sede perfeitos”, ensinou-lhes o amor aos inimigos: “amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos perseguem. Desse modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons e faz chover sobre os justos e sobre os injustos” (Mt 5, 44-45). Estas palavras nos fornecem muitas luzes. Assim, por exemplo:

- a santidade pede certo heroísmo no cumprimento das virtudes: amar os inimigos significa estar muito perto de Deus, saber perdoar e desejar redimir o mundo;

- a santidade é a plenitude da caridade, que é a maior virtude; São Paulo a chama “a plenitude da lei” (Rm 13, 10) e o vínculo da perfeição (Col 3, 14). Por ‘vínculo’ São Paulo designa o que une, como os ligamentos do corpo, o fio de um colar, ou uma corrente: o amor é o vínculo divino que une os crentes e, como diz o Catecismo, “o exercício de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade”[9]. São Josemaria explica assim o que significa a caridade: “Querer atingir a santidade – apesar dos erros e das misérias pessoais, que hão de durar enquanto vivermos – significa esforçar-se, com a graça de Deus, por viver a caridade, plenitude da lei e vínculo da perfeição. A caridade não é algo abstrato; significa entrega real e total ao serviço de Deus e de todos os homens: desse Deus que nos fala no silêncio da oração e no rumor do mundo; desses homens cuja existência se entrecruza com a nossa”[10]. São Josemaria exclamava: “Que bem puseram os primeiros cristãos em prática esta caridade ardente, que sobressaía com excesso para lá dos cumes da simples solidariedade humana ou da benignidade de caráter! Amavam-se entre si, doce e fortemente, enraizados no Coração de Cristo. Um escritor do século II, Tertuliano, transmitiu-nos o comentário que os pagãos faziam ao contemplarem, comovidos, a conduta dos fiéis do seu tempo, tão cheia de atrativo sobrenatural e humano: Vede como se amam (Tertuliano, Apologeticus, 39: PL 1, 471), repetiam”[11];

- “para que sejais filhos de vosso Pai”, diz Jesus Cristo segundo o texto de Mateus que estamos comentando: perfeição e filiação divina andam juntas. Com efeito, a santidade nada mais é do que a plenitude da filiação divina. Quanto mais cremos e amamos, mais somos filhos de Deus em Cristo;

A exigência de uma identificação com Cristo requer conhecer a sua vida: “Quando abrires o Santo Evangelho, pensa que não só deves saber, mas viver o que ali se narra: obras e ditos de Cristo. Tudo, cada ponto que se relata, foi registrado, detalhe por detalhe, para que o encarnes nas circunstâncias concretas da tua existência. – O Senhor chamou-nos, a nós católicos, para que O seguíssemos de perto; e, nesse Texto Santo, encontras a Vida de Jesus; mas, além disso, deves encontrar a tua própria vida”[12];

- por isto, a santidade é inseparável da cruz, que é precisamente cumprir a vontade de Deus por amor, e traz consigo um sofrimento, sem que falte a alegria.

Por outro lado, Jesus Cristo ensinou o mandamento do amor. São João escreve que “Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro. Se alguém diz: ‘Amo a Deus’, e aborrece seu irmão, é um mentiroso; pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. E recebemos dele este mandamento: quem ama a Deus, que ame também a seu irmão” (1 Jo 4, 19-21). Por isto, a chamada universal à santidade é também chamada ao apostolado. O fundamento cristológico disso é óbvio: “Não se pode dissociar a vida interior do apostolado, como não é possível separar em Cristo o seu ser de Deus-Homem da sua função de Redentor. O Verbo quis encarnar-se para salvar os homens, para os fazer uma só coisa com Ele”[13]. Santidade e apostolado são duas faces da mesma moeda. “Sinal evidente de que procuras a santidade é – deixa-me chama-lo assim – o ‘sadio preconceito psicológico’ de pensar habitualmente nos outros, esquecendo-te de ti mesmo, para aproximá-los de Deus”[14]. Com efeito, o Catecismo da Igreja Católica ensina que “a caridade garante e purifica nossa capacidade humana de amar. Leva-a à perfeição sobrenatural do amor divino”[15].

3. Dom de Deus e luta ascética

A santidade se constrói no tempo mediante uma luta exigente. São Paulo manifesta-o com alegria aos filipenses, mediante a imagem do prêmio nas corridas no estádio: “Não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo. Consciente de não a ter ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para frente, persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo” (Fl 3, 12-14). São Josemaria insiste na tenacidade nessa luta até o fim: “Alcança-se a santidade com o auxílio do Espírito Santo - que vem morar em nossas almas -, mediante a graça que nos é concedida nos sacramentos, e com uma luta ascética constante. Meu filho, não nos iludamos: tu e eu - não me cansarei de repeti-lo - teremos de combater sempre, sempre, até o fim da nossa vida. Assim amaremos a paz, e daremos a paz, e receberemos o prêmio eterno”[16].

O Catecismo ensina que “O caminho da perfeição passa pela cruz. Não existe santidade sem renúncia e sem combate espiritual (cfr. 2 Tm 4). O progresso espiritual envolve a ascese e a mortificação que levam gradualmente a viver na paz e no gozo das bem-aventuranças: ‘Aquele que vai subindo jamais cessa de progredir de começo em começo, por começos que não têm fim. Aquele que jamais cessa de desejar aquilo que já conhece’ (S. Gregório de Nisa, hom. In Cant. 8) ”[17].

A santidade é, portanto, a obra conjunta da graça e da luta pessoal, sabendo que a graça sempre precede, acompanha e segue os nossos esforços. Entende-se que São Josemaria tenha incluído nas Preces da Obra uma oração que provém da liturgia latina; com efeito, a coleta da Missa da Quinta Feira depois das Cinzas no Missal de Paulo VI e que é antiga (consta também no Missal de São Pio V, e no Gregoriano), diz: “Actiones nostras, quaesumus Domine, aspirando praeveni et adiuvando prosequere: ut cuncta nostra operatio a te semper incipiat, et per te coepta finiatur”: “Inspirai, ó Deus, as nossas ações e ajudai-nos a realiza-las, para que em vós comece e termine tudo aquilo que fizermos”.

A prioridade deve ser dada à ação de Deus. Glosando as palavras “Opus Dei”, o cardeal Joseph Ratzinger sublinhava que Deus tinha atuado através de São Josemaria. Refletindo então sobre a santidade, afirmava:

“Nesta perspectiva, compreende-se melhor o que significa santidade e vocação universal à santidade. Conhecendo um pouco a história dos santos, sabendo que nos processos de canonização se procura a virtude ‘heroica’ podemos ter, quase inevitavelmente, um conceito equivocado da santidade porque tendemos a pensar: ‘isto não é para mim’; ‘eu não me sinto capaz de praticar virtudes heroicas’; ‘é um ideal alto demais para mim’. Nesse caso a santidade estaria reservada para alguns ‘grandes’ cujas imagens vemos nos altares e que são muito diferentes de nós, pecadores normais. Essa seria uma ideia totalmente equivocada da santidade, uma concepção errônea que foi corrigida – e isto me parece um ponto central – precisamente por Josemaria Escrivá.

Virtude heroica não quer dizer que o santo seja uma espécie de ‘ginasta’ da santidade, que realiza exercícios inexequíveis para as pessoas normais. Quer dizer, pelo contrário, que na vida de um homem revela-se a presença de Deus, e fica mais patente tudo o que o homem não pode fazer por si mesmo. Talvez, no fundo, se trate de uma questão terminológica, porque o adjetivo ‘heroico’ foi com frequência mal interpretado. Virtude heroica não significa que a pessoa faça coisas grandes por si mesma, e sim que em sua vida aparecem realidades que ela não fez, porque apenas ficou disponível para deixar Deus atuar. Com outras palavras, ser santo não é nada mais que falar com Deus como um amigo fala com o amigo. É isto a santidade.

Ser santo não significa ser superior aos outros; o santo pode ser, pelo contrário, muito débil e ter em sua vida numerosos erros. A santidade é o contato profundo com Deus: fazer-se amigo de Deus, deixar o Outro atuar, o Único que pode fazer de fato que este mundo seja bom e feliz. Quando Josemaria Escrivá fala de que todos nós, os homens, somos chamados a ser santos, parece-me que no fundo está se referindo à sua experiência pessoal, porque nunca fez por si mesmo coisas incríveis, mas limitou-se a deixar Deus atuar. E por isso surgiu uma grande renovação, uma força de bem no mundo, embora continuem presentes todas as debilidades humanas.

Todos nós somos verdadeiramente capazes, todos somos chamados a abrir-nos a essa amizade com Deus, a não largar suas mãos, a não nos cansarmos de voltar e retornar ao Senhor falando com Ele como se fala com um amigo, sabendo, com certeza, que o Senhor é o verdadeiro amigo de todos, também de todos aqueles que não são capazes de fazer por si mesmos coisas grandes”[18].

A santidade se alcança com a ajuda de Deus “e com uma luta ascética constante”[19], ensinou sempre São Josemaria. Fala da “luta interior”[20] para sublinhar que é uma luta contra si mesmo: contra as tentações, contra o pecado; é ao mesmo tempo a luta cheia de confiança de um filho de Deus. Por isto, sempre se deve lutar por amor: “Cumpres um plano de vida exigente: madrugas, fazes oração, frequentas os Sacramentos, trabalhas ou estudas muito, és sóbrio, mortificas-te..., mas notas que te falta alguma coisa! Leva ao teu diálogo com Deus esta consideração: uma vez que a santidade - a luta por alcança-la - é a plenitude da caridade, tens que revisar o teu amor a Deus e, por Ele, aos outros. Talvez descubras então, escondidos na tua alma, grandes defeitos, contra os quais nem sequer lutavas: não és bom filho, bom irmão, bom companheiro, bom amigo, bom colega; e, como amas desordenadamente a ‘tua santidade’, és invejoso. ‘Sacrificas-te’ em muitos detalhes ‘pessoais’: por isso estás apegado ao teu eu, à tua pessoa e, no fundo, não vives para Deus nem para os outros: só para ti”[21].

Esta luta é, portanto, uma luta positiva para ficar muito perto de Deus, e para crescer em virtudes, fazendo frutificar os talentos que Ele nos deu. São Josemaria convidava a pôr a serviço dos outros as faculdades que Deus nos concedeu, a ajudá-los com todos os nossos talentos: com o gênio, com as qualidades científicas, literárias, artísticas, esportivas. Dizia que, com defeitos, que existirão sempre, devemos nos fazer santos.

Deus pode fazer-nos santos e conta, paralelamente, com o tempo para tudo, pois nos cabe exercer livremente a nossa liberdade: Deus quer que o amemos com plena liberdade. São Josemaria foi chamado por João Paulo II ‘o santo do cotidiano’ porque proclamou a chamada à santidade no meio do mundo: para “Monsieur tout le monde” [senhor todo mundo], poderíamos dizer empregando essa expressão francesa, ou outra: “les gens de la rue”, as pessoas comuns. Poderíamos acrescentar que o fundador do Opus Dei convidou a descobrir o sentido vocacional da existência. Toda pessoa tem uma vocação, deve percorrer um caminho que Deus esboça contando com a sua colaboração; cada um constrói a sua vocação, inclusive quando não tem consciência desta realidade e não assumiu um compromisso formal neste sentido. Essa vocação é, ao mesmo tempo, luz e força para ir em frente. Aquele que foi durante decênios secretário de João Paulo II conta a respeito desse papa: “Um dia eu o ouvi murmurar em voz baixa: Opus Dei – donum Dei, que, em polonês, se pode expressar com um jogo de palavras: dany zadany, que significa que ‘os dons são ao mesmo tempo tarefas’”[22]. Na verdade, qualquer coisa que o batizado faz, faz por Jesus Cristo nosso Senhor, como diz a liturgia.

4. No meio do mundo

São Josemaria escreveu sobre a missão sobrenatural do Opus Dei em uma carta: “Viemos dizer, com a humildade de quem se sabe pecador e pouca coisa – homo peccator sum [sou um homem pecador] (Lc 5, 8) – mas com a fé de quem se deixa guiar pela mão de Deus, que a santidade não é coisa para privilegiados: que a todos nos chama o Senhor, que de todo espera amor: de todos, estejam onde estiverem; de todos, qualquer que seja o seu estado, a sua profissão ou o seu ofício. Porque essa vida corrente, normal, sem brilho, pode ser meio de santidade: não é necessário abandonar o próprio estado no mundo para procurar a Deus, se o Senhor não dá a uma alma a vocação religiosa, já que todos os caminhos da terra podem ser ocasião de um encontro com Cristo”[23].

São Josemaria percebeu claramente em sua alma essa chamada universal à santidade e sua missão de difundi-la. Proclama que a perfeição pode ser atingida no próprio estado: a radicalidade da vida cristã, total, sem fissuras, até o heroísmo. Não se trata de chegar à santidade em circunstâncias excepcionais, mas de modo habitual e comum. Assim o expressou o cardeal Joseph Ratzinger, comentando, em 1993, umas palavras de São Josemaria sobre os anos de vida oculta de Jesus em Nazaré:

“Depreendem-se duas consequências desta consideração da vida de Jesus, do mistério profundo da realidade de um Deus que não só se fez homem, mas assumiu a condição humana, fazendo-se em tudo igual a nós, exceto no pecado (cfr. Hb 4, 15). Antes de qualquer coisa, a chamada universal à santidade, para cuja proclamação o beato Josemaria contribuiu notavelmente, como recordava João Paulo II em sua solene homilia durante a Missa de beatificação. Mas também, para dar consistência a esta chamada, o reconhecimento de que se chega à santidade, sob a ação do Espírito Santo, através da vida cotidiana. A santidade consiste no seguinte: em viver a vida cotidiana com o olhar fixo em Deus; em plasmar nossas ações à luz do Evangelho e do espírito da fé. Toda uma compreensão teológica do mundo e da história deriva deste núcleo, como testemunham de modo preciso e incisivo, muitos textos do beato Escrivá.

Este nosso mundo, é bom porque saiu bom das mãos de Deus. Foi a ofensa de Adão, o pecado da soberba humana, que rompeu a divina harmonia da Criação. Mas Deus Pai, quando chegou a plenitude dos tempos enviou seu filho Unigênito, que, por obra do Espírito Santo, tomou carne em Maria sempre Virgem para restabelecer a paz, para que, redimindo o homem do pecado, adoptionem filiorum reciperemus, fôssemos constituídos filhos de Deus, capazes de participar da intimidade divina; para que assim fosse concedido a este homem novo, a esta nova estirpe dos filhos de Deus, o poder de libertar todo o universo da desordem, restaurando em Cristo todas as coisas, que por Ele foram reconciliadas com Deus (cfr. Col 1, 20 ) – É Cristo que passa, n. 183.

Neste esplêndido texto, as grandes verdades da fé cristã (o amor infinito de Deus Pai, a bondade original da criação, a obra redentora de Cristo Jesus, a filiação divina, a identificação do cristão com Cristo) são apresentadas com o fim de iluminar a vida do cristão e, mais em particular, a vida do cristão que vive no meio do mundo, empenhado nas múltiplas ocupações seculares. As perspectivas dogmáticas de fundo projetam-se na existência concreta e esta, por sua vez, leva a considerar de novo, com uma preocupação inédita, a mensagem cristã no seu conjunto; deste modo, produz-se um movimento em espiral que implica e sustenta a reflexão teológica”[24].

Para caminhar rumo à santidade, não é necessária outra consagração a não ser a do batismo e a da confirmação, como afirma São Josemaria: “Apóstolo é o cristão que se sente enxertado em Cristo, identificado com Cristo, pelo Batismo; habilitado a lutar por Cristo, pelo Crisma; chamado a servir a Deus com a sua ação no mundo, pelo sacerdócio comum dos fiéis, que lhe confere uma certa participação no sacerdócio de Cristo - embora essencialmente diferente daquela que constitui o sacerdócio ministerial - e o torna capaz de participar no culto da Igreja e de ajudar os homens a caminhar para Deus, mediante o testemunho da palavra e do exemplo, mediante a oração e a expiação”[25]. Com efeito, explica o fundador do Opus Dei, “a específica participação do leigo na missão da Igreja consiste precisamente em santificar ab intra [quer dizer: a partir de dentro] – de maneira imediata e direta – as realidades seculares, a ordem temporal, o mundo”[26].

Os sacerdotes têm o sacerdócio comum dos fiéis, e, além disso, o sacerdócio ministerial: devem servir seus irmãos na fé para ajudá-los a corresponder à chamada à santidade e ao apostolado, e o fazem especialmente mediante a pregação da palavra de Deus e a celebração dos sacramentos: em particular, a Eucaristia, sacramento ao qual se ordenam todos os outros, e que é “o centro e a raiz da vida espiritual do cristão”[27]. São Josemaria faz esta pergunta retórica, ao pronunciar uma homilia que chegou a ser famosa: “O que são os sacramentos – vestígios da Encarnação do Verbo, como afirmaram os antigos – senão a mais clara manifestação deste caminho escolhido por Deus para nos santificar e levar ao Céu? Não veem que cada sacramento é o amor de Deus, com toda a sua força criadora e redentora, dando-se a nós através de meios materiais? O que é a Eucaristia – já iminente – senão o Corpo e Sangue adoráveis do nosso Redentor, que se oferece a nós através da humilde matéria deste mundo – vinho e pão – , através dos elementos da natureza, cultivados pelo homem, como o quis recordar o último Concílio Ecumênico?”[28]. A Eucaristia nos leva a ter uma vida de amor; o sacramento da Penitência, a voltar ao amor divino que nos purifica, nos perdoa, nos transforma. Santidade e vida sacramental são inseparáveis. Por isto o Concílio Vaticano II, ao falar do Povo de Deus, depois de enumerar os sete sacramentos, conclui: “todos os fiéis, de qualquer condição e estado, fortalecidos por tantos e tão poderosos meios, são chamados por Deus, cada um por seu caminho à perfeição da santidade pela qual o próprio Pai é perfeito”[29].

São Josemaria pregou muitas vezes sobre os primeiros cristãos comofiéis comuns, casados e solteiros, que procuravam a santidade em todas as atividades da terra. “Se se quer procurar um termo de comparação, o modo mais fácil de entender o Opus Dei é pensar na vida dos primeiros cristãos. Eles viviam profundamente a sua vocação cristã; procuravam seriamente a perfeição a que estavam chamados pelo fato, simples e sublime, do Batismo. Não se distinguiam exteriormente dos outros cidadãos. Os sócios do Opus Dei são pessoas comuns; desenvolvem um trabalho corrente; vivem no meio do mundo de acordo com o que são: cidadãos cristãos que querem corresponder cabalmente às exigências da sua fé”[30].

Na Carta a Diogneto, um pagão desconhecido reflete com nobreza sobre o que para muitos tinha sido uma raça abominável de homens[31], ou pelo menos em sua origem uma superstição oriental: o cristianismo. O autor, por volta do ano 150, descreve com retidão o que observa: “Os cristãos não se distinguem dos outros homens nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver [... ]. Vivendo em cidades gregas ou bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida social admirável e, sem dúvida, paradoxal [... ]. Em poucas palavras, assim como a alma está no corpo, assim os cristãos estão no mundo”[32].

São Josemaria recorria com frequência a esse testemunho. Para ilustrar a grandeza da vocação cristã, quis citar em Amigos de Deus estas outras linhas da Carta a Diogneto sobre os primeiros cristãos: “Os cristãos são para o mundo o que a alma é para o corpo. Vivem no mundo, mas não são mundanos, como a alma está no corpo, mas não é corpórea. Habitam em todos os povos, assim como a alma está em todas as partes do corpo. Atuam pela sua vida interior sem se fazerem notar, como a alma pela sua essência...Vivem como peregrinos entre coisas perecíveis, na esperança da incorruptibilidade dos céus, assim como a alma imortal vive agora numa tenda mortal. Multiplicam-se de dia para dia no meio das perseguições, assim como a alma se embeleza mortificando-se... e não é licito aos cristãos abandonarem a sua missão no mundo, como não é permitido à alma separar-se voluntariamente do corpo”[33].

Hoje em dia ninguém se atreve a negar diretamente a chamada universal à santidade. Na prática, no entanto, muitos os cristãos deixam para amanhã, ou para o fim da sua vida, levar a sério a ideia de que podem ser santos; e, não são poucas as pessoas que, no fundo, não acreditam que isto seja possível. São Josemaria tinha consciência dessa ignorância prática ou teórica e insistia em que todos deviam conscientizar-se de que Deus os queria santos na vida que cada um tinha: “a santidade: quantas vezes pronunciamos esta palavra como se fosse um som vazio! Para muitos, chega até a ser um ideal inacessível, um lugar comum da ascética, mas não um fim concreto, uma realidade viva. Não pensavam assim os primeiros cristãos, que usavam o nome de santos para se chamarem entre si, com toda a naturalidade e com grande frequência: Todos os santos vos saúdam, saudai todos os santos em Cristo Jesus[34].

5. O conceito de santidade ao longo da história da Igreja

A história da Igreja conheceu muitas respostas à chamada evangélica à santidade. Depois dos primeiros cristãos, no século II, apareceram os eremitas, que iam combater o diabo no deserto. Santo Antão do Deserto, no Egito, voltou para viver entre os homens e guiá-los em sua vida espiritual. O costume da vida em comum se desenvolveu muito com os mosteiros a partir do século IV. São Bento nasceu no final do século V: escreveu para os monges de Montecassino, uma ‘regra’ que previa três promessas a serem feitas diante de todos: “estabilidade, conversão de seus costumes e obediência”[35]. Hoje, quase todos os monges do Ocidente se regem por essa Regra, incluídas as mais de 20 congregações beneditinas atuais.

No século XIII nasceram as primeiras ordens religiosas, com São Francisco de Assis e Santa Clara, e com São Domingos de Guzmán. O ideal da vida cristã chegou assim a plasmar-se na renúncia às coisas da terra, que é um dos elementos que definem o estado religioso[36]. Os religiosos, ensina o Concílio Vaticano II, “pela profissão dos conselhos evangélicos responderam ao chamamento divino para que não só estejam mortos para o pecado, mas, renunciando ao mundo, vivam unicamente para Deus”[37].

Essa entrega tem uma grande força de atração: “os religiosos, fiéis à sua profissão, abandonando todas as coisas por Ele, sigam a Cristo como o único necessário”[38]. Graças ao testemunho dos religiosos, diz São João Paulo II, “o olhar dos fiéis é atraído para o mistério do Reino de Deus que já atua na história, mas espera sua plena realização no Céu”[39]. Quanto bem fizeram e continuam fazendo, não sem uma maravilhosa Providência de Deus, tantos religiosos e religiosas no mundo inteiro! Junto a uma obra de evangelização autenticamente desinteressada e muitas vezes até o martírio, muitas Ordens, Congregações religiosas e outras realidades da vida religiosa fizeram enormes avanços na cultura, por exemplo, na arte, na educação e nas ciências[40], sem mencionar o atendimento dos pobres e doentes: na Europa, até algumas décadas atrás, muitas religiosas cuidavam dos doentes e idosos nos hospitais, e em alguns lugares sua diminuição em número se faz notar cruelmente. As necessidades da evangelização originaram no século XVI, clérigos regulares, por exemplo, Santo Inácio de Loyola. Com a sua Introdução à vida devota (1609), São Francisco de Sales ensina a devoção aos que não vivem afastados do mundo.

Mas foi especialmente no século XX que ocorreu um processo de aproximação entre os religiosos, chegando em alguns casos a adquirir uma aparência similar à dos seculares, por sua forma de vestir-se e por trabalhar em tarefas seculares. No entanto, seu estado continua sendo diferente do dos fiéis comuns. Por outro lado, desde 1947 existem também os institutos seculares.

O que nos interessa ressaltar é que os religiosos, com a sua diferença e afastamento, de uma forma ou outra do mundo (realidades compatíveis com tantas atividades que realizam no mundo para o bem da Igreja e da sociedade) cumprem, pela especificidade do seu estado, uma santa e fecunda ação na Igreja: como diz a Constituição Dogmática Lumen Gentium, “os religiosos, por seu estado, dão um preclaro e exímio testemunho de que o mundo não pode ser transfigurado nem oferecido a Deus sem o espírito das bem aventuranças”[41]. São Josemaria costumava contar como a tomada de consciência de que tinha que ser generoso com Deus estava unida ao fato de ter percebido o sacrifício de um carmelita que estava andando descalço na neve[42]. Levou, além disso, muitas pessoas a abraçarem a vida religiosa e teve muitos amigos religiosos[43], já desde os anos trinta[44], entre eles alguns fundadores de novas instituições ou realidade eclesiais[45], sem contar com o diálogo que teve oportunidade de manter com muitos[46].

Com a sabedoria de Gamaliel (cfr. At 5, 34-39), São Josemaria dizia: “Nunca mexerei um dedo para apagar uma luz que se acenda em honra de Cristo: não é minha missão. Se o azeite que arde não é bom, apagar-se-á por si mesma”[47]. Conserva-se um manuscrito dele com as seguintes palavras: “Uma grande missão nossa é fazer amar os religiosos”[48]. Plenamente fiel a esta afirmação, Dom Javier Echevarría, em sua carta pastoral por ocasião do “Ano da fé” convocado por Bento XVI, exalta o papel da família para “que brotem vocações de entrega a Deus no sacerdócio e nas variadíssimas realidades eclesiais, tanto no âmbito secular como na vida consagrada”[49]. Como não poderia ser de outro modo, a chamada universal à santidade desperta, entre outras, vocações para a vida religiosa que, por sua vez, contribuem para difundir cada vez mais essa chamada. A vida religiosa é também promovida por numerosos “movimentos”[50] e novas comunidades muito variadas, de cujas contribuições não é necessária ocupar-se aqui. Por outro lado, este não é lugar para descrever a ampliação do conceito de “religioso” para o de “vida consagrada”, numa rica diversidade que alguns autores consideram continuar movendo-se em torno da noção de “religioso”[51].

É fato, no entanto, que a proclamação da chamada universal à santidade nem sempre foi afirmada claramente, e que teve uma história paradoxal como observa José Luis Illanes: “durante longo tempo, seu reconhecimento coexistiu com o seu obscurecimento”[52]. Alguns autores não tiram todas as consequências da chamada universal à santidade, e inclusive apresentam o estado dos religiosos como mais elevado. Fala-se de ‘estado de perfeição’ ou de ‘estado de conselhos’, referindo-se às virtudes de castidade, pobreza e obediência ou, melhor dito, a um determinado modo de praticar essas virtudes, plenamente legítimo, mas que não é o único válido com relação à plenitude do ideal cristão. A verdade é que seria obviamente um erro – algo oposto ao que foi proclamado pelo Vaticano II – considerar que a radicalidade da vida cristã só se vive nas Ordens e Congregações religiosas[53].

Esse ambiente de certo obscurecimento da chamada à santidade explica este ponto de Caminho: “Tens obrigação de santificar-te. - Tu também. - Alguém pensa, por acaso, que é tarefa exclusiva de sacerdotes e religiosos? A todos, sem exceção, disse o Senhor: ‘Sede perfeitos, como meu Pai Celestial é perfeito’”[54]. Na história da Igreja, avocação dos religiosos conheceu formas diversas sucessivas, desenvolvendo uma capacidade de crescimento e adaptação que manifesta a sua riqueza. Mas deve ficar claro que a Obra não é um elo dessa cadeia, pois nasce desde o princípio com um espírito essencialmente secular, reflexo essencial da presença “natural” no mundo. Seu antecedente, como São Josemaria enfatizou muitas vezes, é la vida simples dos primeiros cristãos. os seus traços essenciais são a santificação no meio do mundo, no trabalho, na família, em todas as atividades temporais nobres, com uma plena unidade de vida entre o que é cristão e o que é humano e uma plena secularidade, atitude espiritual que, como diz José Luis Illanes, afirma ao mesmo tempo a consistência e o valor das coisas temporais nascidas da Criação e a abertura do mundo à transcendência[55].

Desde 1928 o Opus Dei veio recordar a todos os cristãos a chamada universal à santidade no meio do mundo; por isso São Josemaria gostava de dizer: “abriram-se os caminhos divinos na terra”[56]. A doutrina que proclamoufoi confirmada pelo Concílio Vaticano II (1965), como recordava São João Paulo II, dirigindo-se a fiéis do Opus Dei durante uma homilia em Castelgandolfo: “A vossa instituição tem como fim a santificação da vida permanecendo no mundo, no lugar de trabalho e na profissão: viver o Evangelho no mundo, mas imersos no mundo para transformá-lo e redimi-lo com o próprio amor a Cristo! Verdadeiramente o vosso é um grande ideal, que desde os inícios antecipou aquela teologia dos Leigos, que havia de caracterizar mais tarde a Igreja do Concílio e do pós-Concílio [... ]: viverem unidos a Deus, no mundo, em qualquer situação, procurando melhorar-se a si próprios com a ajuda da graça e fazendo conhecer Jesus Cristo através do testemunho da vida. E que há de mais belo e mais entusiasmante do que este ideal? Vós, inseridos e amalgamados nesta humanidade alegre e sofredora, quereis amá-la, iluminá-la, salvá-la”[57].

Guillaume Derville

texto original publicado em www.collationes.org

Bibliografia

ERNST BURKHART – JAVIER LÓPEZ, Vida cotidiana y santidad en la enseñanza de san Josemaria, vol. I, Rialp, Madri 2010, 198-239.

JOSÉ LUIS LLANES, Tratado de Teología espiritual, Eunsa, Pamplona 2007, cap. VI Vida Cristiana y llamada a la santidad, 127-153.

PEDRO RODRÍGUEZ, Opus Dei: estructura y misión. Su realidade eclesiológica, Cristiandad, Madri 2011, cap. III El Opus Dei en la Iglesia: de la vida a la misión, 59-84.


[1] Esta recordação de Mons. PEDRO RODRÍGUEZ é corroborada por Notas de una meditación, 8 de fevereiro de 1959, em Arquivo Geral da Prelazia, biblioteca, PO6, II p. 669.

[2] CONCÍLIO VATICANO II, Const. dogm. Lumen gentium; n. 40; cfr. nn. 39 e 41; Const. Gaudium et spes, nn. 35, 38, 48 etc. Lembramos que LG data de 21 de novembro de 1964.

[3] SÃO JOSEMARIA, Amigos de Deus, n. 7.

[4] SÃO JOSEMARIA, Apontamentos Íntimos, nº1692 (10 de outubro de 1932), citado por PEDRO RODRÍGUEZ em Caminho, Edição comentada, Quadrante 2016, comentário ao ponto 754, nota 7 p. 747.

[5] ÁLVARO DEL PORTILLO, em Ibidem.

[6] JOÃO PAULO II, Homilia, Norcia, 23 de março de 1980.

[7] BENTO XVI, Audiência, 13 de abril de 2011.

[8] Cfr. CONCÍLIO VATICANO II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 40.

[9] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 1827.

[10] SÃO JOSEMARIA, Entrevistas, n. 62; cfr. Conversaciones, ed.crítico-histórica preparada por JOSÉ LUIS ILLANES e ALFREDO MÉNDIZ, Rialp, Madri 2012.

[11] SÃO JOSEMARIA, Amigos de Deus, n. 225.

[12] SÃO JOSEMARIA, Forja, n. 754.

[13] SÃO JOSEMARIA, É Cristo que passa, 122.

[14] SÃO JOSEMARIA, Forja, n. 861.

[15] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 1827.

[16] SÃO JOSEMARIA, Forja, n. 429.

[17] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 2015.

[18] JOSEPH RATZINGER, Deixar Deus trabalhar, artigo publicado em L’Osservatore Romano, por ocasião da canonização de Josemaria Escrivá, 6 de outubro de 2002.

[19] SÃO JOSEMARIA, Forja, n. 429.

[20] Cfr. SÃO JOSEMARIA, Caminho, cap.Luta interior, nn. 707-733; É Cristo que passa, HomiliaA luta interior, nn. 73-82.

[21] SÃO JOSEMARIA, Sulco, n. 739.

[22] Cardeal STANISLAW DZIWISZ, Dono e compito, em Pontificia Università della Santa Croce. Dono e compito: 25 anni di attività, Silvana Editoriale, Milão 2010, 94.

[23] SÃO JOSEMARIA, Carta 24/03/1930, 2, cit en ANDRÉS VÁZQUEZ DE PRADA, O fundador do Opus Dei, I Señor, que eu veja!, Quadrante, São Paulo 2004, 276.

[24]JOSEPH RATZINGER, Mensagem na abertura do Simpósio “Santidade e Mundo", sobre o fundador do Opus Dei. Simpósio Teológico organizado pela Faculdade de Teologia do Ateneo Romano da Santa Cruz (hoje Pontificia Universidade da Santa Cruz), de 12 a 14 de outubro de 1993.

[25] SÃO JOSEMARIA, É Cristo que passa, n. 120.

[26] SÃO JOSEMARIA, Entrevistas, n. 9.

[27] SÃO JOSEMARIA, É Cristo que passa, n. 87. O Decreto Presbyterorum Ordinis emprega essa expressão no n. 14, embora, obviamente, esse documento seja aplicado aqui aos sacerdotes.

[28] SÃO JOSEMARIA, Entrevistas, n. 115.

[29] CONCÍLIO VATICANO II, Const.dogm. Lumem gentium, n. 11.

[30] SÃO JOSEMARIA, Entrevistas, n. 24; cfr. Conversaciones ed. crítico-histórica preparado por JOSÉ LUIS ILLANES e ALFREDO MÉNDIZ, Rialp, Madri 2012.

[31] Cfr. TÁCITO, Annales, 15, 44.

[32] Epistola ad Diognetum, V, em Padres apologistas, Paulus, São Paulo, 1997.

[33] Epistola ad Diognetum, VI, tal como a cita SÃO JOSEMARIA em Amigos de Deus, n. 63.

[34] SÃO JOSEMARIA, É Cristo que passa, Quadrante, São Paulo 1975, n. 96.

[35] SÃO BENTO, Regra dos monges, 58, 17, trad. Tradução e Notas de Dom João Evangelista Enout, OSB, do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro.

[36] Assim, por exemplo, os três votos de castidade, pobreza e obediência, que muitos religiosos fazem, manifestam um espírito de renúncia à concupiscência da carne, às riquezas e à própria vontade.

[37] CONCÍLIO VATICANO II, Decre. Perfectae caritatis, n. 5.

[38] IBIDEM.

[39] JOÃO PAULO II, Exh. Ap. Pós-sinodal Vita consecrata, 25 de março de 1996, n. 1.

[40] Cfr. por exemplo BENTO XVI, Discurso, Encontro com o mundo da Cultura no Collège des Bernardins, Paris, 12 de setembro de 2008: “A base da cultura da Europa, a busca de Deus e a disponibilidade para escutá-lo, continua sendo ainda hoje o fundamento de toda verdadeira cultura”.

[41] CONCÍLIO VATICANO II, Const. Dogm. Lumen Gentium, n. 31.

[42] Cfr. ANDRÉS VÁZQUEZ DE PRADA, O fundador do Opus Dei, I. Senhor, que eu veja!, Quadrante, São Paulo 2004, 89.

[43] Cfr. os testemunhos assinados por religiosos e religiosas em Testimonios sobre el fundador del Opus Dei, Rialp, Madri 1994, 447 p. Cfr. também JOSÉ CARLOS MARTÍN DE LA HOZ, Un amigo de San Josemaria: José López Ortiz, OSA, bispo e historiador, em “Studia et Documenta” 6 (2012) 67-90; ALDO CAPUCCI, San Josemaria e il beato Ildefonso Schuster(1948-1954), em ”Studia et Documenta” 4 (2010) 215-254.

[44] Cfr. por ex. JOSÉ LUIS GONZÁLEZ GULLÓN, Josemaria Escrivá de Balaguer en los años treinta: los sacerdotes amigos, em “Studia et Documenta” 3 (2009) 41-106.

[45] Cfr. por exemplo Testimonios sobre el fundador del Opus Dei, Rialp, Madri 1994: Testemunhos de: BEATO JOSÉ MARÍA GARCÍA LAHIGUERA (1903 – 1989), Arcebispo, fundador das Oblatas de Cristo Sacerdote (Congregação aprovada em 1950). Outras realidades eclesiais por ex. Mons. JUAN HERVAS BENET (1905 – 1982), com o apoio do qual nasceram os Cursilhos da Cristandade (1949): “aquele homem de Deus [São Josemaria] influiu para alentar um empreendimento que não era dele e derramou caridade e compreensão sobre o método de espiritualidade e de apostolado laical que ia por caminhos diferentes do dele” (p. 202); vide a esse respeito FRANCISCA COLOMER, La Relación Personal entre San Josemaria Escrivá de Balaguer y Mons. Juan Hervás a través de sus cartas, em “Studia et Documenta” 4 (2010) 185–213. O Padre Joseph-Marie Perrin me contou pessoalmente como o ajudaram, para sua fundação, Mons. Escrivá e dom Álvaro del Portillo.

[46] Por exemplo, só durante o Concílio Vaticano II, cfr. CARLO PIOPPI, Alcuni incontri di San Josemaria com personalità ecclesiastiche durante gli anni del Concilio Vaticano II, em “Studia et Documenta” 5 (2011) 165-228.

[47] SÃO JOSEMARIA, cit., em ÁLVARO DEL PORTILLO, Entrevista sobre o Fundador do Opus Dei, realizada por CESARE CAVALLERI, Quadrante, São Paulo 1993, cap. 5.

[48] SÃO JOSEMARIA, Autógrafo, fac-símile publicado pela Postulação Geral do Opus Dei, O beato Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei, Roma 1992, p.117. Trata-se do livreto que acompanhou a beatificação. É bonito ver que o milagre aprovado para a beatificação foi a cura de um tumor de uma carmelita, Sor Concepción Bullón Rubio; o Cardeal Edouard Gagnon, sulpiciano apresentou os fatos (1990-1991), sendo Relator da Causa o P. Ambrogio Eszer, dominicano.

[49] JAVIER ECHEVARRÍA, Carta pastoral por ocasião do “Ano da fé”, 29 de setembro de 2012, n.25. Mons.Javier Echevarria volta a isto em sua intervenção durante o Sínodo dos Bispos sobre a Nova evangelização em 2012: cfr. Synodus Episcoporum, Boletim 12, 12 de outubro de 2012, 2-3: “desse ministério [o confessionário] florescerão vocações para o seminário e a vida religiosa e vocações de bons pais e mães de família”.

[50] Cfr. JOSÉ LUIS GUTIÉRREZ GÓMEZ, La Prelatura del Opus Dei y los movimientos eclesiales. Aspectos eclesiológicos y canónicos, em www.collationes.org/de-documenta-theologica/iure-c...

[51] Cfr. CARLOS JOSÉ ERRÁZURIZ, Corso fundamentale sul diritto nella Chiesa, vol.I, Giuffrè, Milão 2009, pp. 261-275.

[52] JOSÉ LUIS LLANES, Tratado de Teología espiritual, Eunsa, Pamplona 2007, 138.

[53] É um dos inconvenientes do livro Estados de vida do cristão de Hans Urs von Balthasar. Em Riflessioni su um’ opera di Hans Urs von Balthasar (“Annales theologici” 21 (2007) 61-100), Paul O’Callaghan destaca alguns aspectos de uma reflexão que mostram os limites de fundamentação teológica de Balthasar: concernem o início da humanidade, a identidade de Cristo e de seus primeiros discípulos, a qualidade paradigmática da vida religiosa, o significado da obediência e do celibato sacerdotal.

[54] SÃO JOSEMARIA, Caminho, 291. Referências anteriores em PEDRO RODRÍGUEZ em Caminho, Edição comentada, Quadrante, São Paulo 2016, comentário ao ponto 291.

[55] Cfr. JOSÉ LUIS ILLANES, “Secularidad”, em CÉSAR IZQUIERDO - JUTTA BURGGRAF - FÉLIX Mª AROCENA (eds.), Diccionario de Teología, Eunsa, Pamplona 2006, pp.926-932.

[56] SÃO JOSEMARIA, É Cristo que passa, Quadrante, São Paulo, 1975, 21.

[57] JOÃO PAULO II, Homilia, Castelgandolfo, 19 de agosto de 1979.