O milagre de uma vocação sacerdotal

No dia 4 de maio de 2019, Bernard Nderitu foi ordenado em Roma, juntamente com 33 outros fiéis do Opus Dei. É o primeiro membro Adscrito do Opus Dei a ser ordenado sacerdote em África.

- Pode falar-nos um pouco da sua família?

- Nasci e fui criado em Nyeri, uma zona rural no centro do Quênia. Quando tinha 5 dias, os meus pais abandonaram o seu casamento... E contraíram outros casamentos. As minhas duas irmãs mais velhas (Jane e Pauline) e eu fomos viver com a minha avó materna. A minha avó tinha ficado viúva cerca de cinco anos antes, com apenas 40 anos. Durante o resto da minha infância e adolescência, foi ela que nos sustentou, aos três e outros primos que foram morar com ela depois de tragédias semelhantes à nossa.

Enquanto estudávamos na escola primária, costumávamos conjugar os dias na escola com os trabalhos agrícolas. A minha avó tem uma pequena plantação de chá. Como não podíamos contratar pessoal para o sítio, tínhamos de faltar à escola, por turnos, para podermos pagar as propinas e outros compromissos econômicos semelhantes. As minhas irmãs é que sofreram o impacto dessas condições difíceis. Pauline abandonou a escola e casou aos 17 anos. Jane conseguiu acabar o secundário e casar logo depois.

Aos 7 anos, eu acompanhava as minhas duas irmãs mais velhas nas aulas de Catecismo para a Primeira Comunhão, na igreja local, perto da escola primária (a cerca de 2 quilômetros do sítio). Todos tínhamos sido batizados, a pedido dos nossos pais, pouco depois do nascimento. Nas condições de vida e de crescimento com a nossa avó, que não era cristã naquela época, tornava-se difícil ir à Igreja para fazer qualquer coisa. Podíamos facilmente ter até um castigo físico por isso, o que era prática comum nas escolas e em casa naquela época. Pela graça de Deus, ensinei o Catecismo à minha avó e ela foi batizada como católica aos 60 anos[1].

Na família alargada mais próxima, nós éramos os únicos católicos (a minha avó e eu). Os outros são principalmente cristãos evangélicos[2].

Dois fatos realmente memoráveis nos meus anos de escola primária

Frequentei as aulas de catequese durante 3 anos, para fazer a minha primeira Comunhão. Nessas aulas, ensinaram-me a fazer uma ‘Novena do Santo Rosário’ antes de cada prova final, se queria ser o melhor da turma. Fiz a novena pela primeira vez quando tinha uns 8 anos e funcionou. Isso ficou tão gravado na minha mente que passei a rezar a Novena do Terço antes de cada exame importante, durante os doze anos seguintes. Alterei esse costume quando entrei na Universidade e um amigo meu me animou a rezar o Terço diariamente, um costume que mantenho desde então. Mas aquele Terço para os exames quando era adolescente deixou uma marca indelével na minha alma. Acredito firmemente que me colocou sob o manto de Maria, que se tornou minha Mãe, e o resto da minha história tomou a direção que tem hoje graças a Ela.

O segundo foi a Missa na primeira sexta-feira de cada mês durante nove meses consecutivos[3]. Foi outra novena proposta pelo catequista. Com a mínima compreensão teológica dos argumentos sobre as indulgências ligadas a essa devoção, os meus jovens amigos e eu fomos atraídos pela possibilidade de uma confissão e Comunhão garantidas uma vez por mês.

A paróquia a que pertencíamos cobria uma enorme área rural. Naquela época, tínhamos o Centro Paroquial – a cerca de 6 quilômetros do sítio da minha avó – com o pároco e o seu assistente. Havia 20 igrejas locais (a minha igreja local era uma delas) dependentes desta paróquia. No distrito, havia muitos colégios internos (8 escolas no total: 4 para moças e 4 para rapazes, cada uma com um mínimo de 800 alunos, com idades entre os 15 e os 18 anos). E havia o dobro de escolas primárias. Embora nem todos os estudantes fossem católicos, os dois sacerdotes dificilmente conseguiam satisfazer as necessidades de todas as igrejas, quanto mais ir às escolas.

A possibilidade de uma confissão e da Comunhão asseguradas em cada primeira sexta-feira do mês, numa igreja local a dois quilômetros do sítio, foi uma verdadeira bênção. A Missa estava marcada para as 3 da tarde, com um período de 30 minutos para confissões antes e depois. Como é óbvio, muitas dessas sextas-feiras eram dias de escola. Havia aulas de manhã e à tarde. Se coincidisse com as aulas, podíamos ter ou não autorização para ir, dependendo do professor de serviço na escola, do diretor de turma e do diretor da escola. Em várias ocasiões, escapávamos da escola quando percebíamos que o professor em questão era anticatólico. Enfrentaríamos depois a ira desse professor por uma ou duas semanas.

Estas duas lembranças (a novena do Terço antes dos exames e a novena da Missa na primeira sexta-feira do mês) ajudam-me a recordar o meu catequista com veneração. Eu pessoalmente não tinha condições em casa para crescer na fé. O catequista acompanhou-me. Mais tarde, as coisas mudariam para melhor com a conversão da minha avó. E a escassez de padres, naturalmente, não me deixou indiferente.

Onde estudou? E já pensava então numa possível vocação sacerdotal?

Tive a sorte de conseguir um lugar numa escola pública com internato[4]. Mas isso também trouxe os seus próprios desafios. Entre outras coisas, era uma escola patrocinada pelos protestantes[5]. A segunda coisa é que se podia estar lá 9 meses do ano, com três intervalos de um mês. Dos 1.000 estudantes que a escola tinha então, cerca de 300 eram católicos. O resto eram todos protestantes e um ou dois muçulmanos.

Aos domingos, costumávamos organizar a Liturgia da Palavra, liderada por um dos sêniors, do último ou penúltimo ano de escola. O grupo que fazia isso dificilmente chegaria a 100 alunos. Os outros iam aos serviços protestantes ou ficavam nos dormitórios. Com esse grupo de cerca de 100 estudantes por ano, aprendemos a refutar os protestantes que estavam determinados a conseguir de nós alguns convertidos. Desse grupo, tenho o que posso considerar grandes e íntimos amigos[6].

No meu último ano, fui eu o colega sênior[7]. Carlos, o tesoureiro[8] do grupo seguiu o sacerdócio. O seu tio era sacerdote dos Missionários da Consolata. Quando o padre Charles – o mencionado tesoureiro – entrou no Seminário Maior da Consolata em Nairobi, eu pensei que talvez Deus estivesse me chamando para fazer também esse caminho. Com outros, tínhamos dado aulas de Catecismo ao Carlos, enquanto estávamos na Turma 1. Tenho de admitir que Deus tem os Seus próprios caminhos…

Candidatei-me ao seminário. Pediram-me que esperasse até acabar os meus estudos na Universidade. A principal razão para o adiamento, segundo o orientador de vocações, era o meu ambiente familiar. As condições da minha família eram muito difíceis para sustentar a minha vocação naquela época. Além disso, eu estava já qualificado para entrar na Universidade num Curso patrocinado pelo governo. Poderia ir para o seminário um pouco mais tarde, quando as coisas na família estivessem melhor. Esse orientador de vocações era um homem experiente: sempre ficarei em dívida com ele. Uma das razões do meu desejo de ir para o seminário naquela época era fugir às minhas responsabilidades. Agora, quando olho para essa fase com mais perspectiva, consigo ver isso.

Foi para a universidade? E, se sim, o que estudou?

Estudei Engenharia Mecânica na Universidade de Nairóbi (1996-2002). Foi lá que conheci o colega de faculdade que me ensinou que se podia rezar diariamente o Terço. Este mesmo amigo convidou-me, numa manhã de sábado, para visitar a Ala das Crianças com câncer, do Hospital Nacional Kenyatta. Mais tarde, fomos a uma meditação num Centro do Opus Dei para estudantes universitários e jovens profissionais. Quando acabou o primeiro ano, o mesmo amigo convidou-me para fazer um retiro anual.

O que apreciei aqui foi o poder da amizade, e os leigos tomarem consciência da sua chamada à santidade e ao apostolado, pelo batismo. Esse meu amigo acompanhou-me e animou-me a seguir este caminho.

A vida na universidade era muito rica, mas essa é uma história para outro dia. Basta agora dizer que continuei a frequentar o Centro do Opus Dei que conheci, indo a meios de formação e recebendo direção espiritual do sacerdote de lá. Recorde-se que eu não tinha então a figura do pai na minha vida. Este padre tornou-se imediatamente essa figura. O centro tornou-se um lar onde eu poderia contar, com total segurança, todas as minhas ansiedades, preocupações e ambições. É uma experiência que nunca vou esquecer. Não só as coisas espirituais, como também os churrascos, os passeios, a biblioteca, etc. Apaixonei-me imediatamente pelos escritos de São Josemaria Escrivá. Lembro-me de guardar um extrato, escrito à mão, de É Cristo que passa, nº 76:

“É inevitável que, ao caminharmos, levantemos poeira. Somos criaturas e estamos cheios de defeitos. Eu diria até que os teremos sempre; são as sombras que fazem ressaltar mais em nossa alma a graça de Deus e as nossas tentativas de corresponder ao favor divino. E esse claro-escuro nos tornará humanos, humildes, compreensivos, generosos”.

No último ano do meu curso, descobri a minha vocação[9] como Adscrito do Opus Dei. Como diz o ditado, o resto é história. Trata-se de acordar e entrar na luta diária, procurando levar uma vida cristã coerente. Isso acontece com vitórias e às vezes com falhas, e grandes falhas até, dado todo o contexto. A coisa mais importante é que Deus nos dá a Sua graça antes de nos confiar qualquer responsabilidade. São Josemaria ensinou-me a viver o "hoje, agora”. O momento que eu sou chamado a redimir é agora. Não ontem, que já passou, nem amanhã, que eu não controlo, mas agora mesmo.

O que fez depois de terminar os seus estudos?

Depois de terminar os meus estudos, trabalhei nas Oficinas centrais da Kenya Railways, com a Kenya Tea Development Authority, numa fábrica de Processamento de Chás, e com o Departamento de lubrificantes de uma Companhia de distribuição de petróleo.

Durante esse mesmo período, comecei a dar aulas de Catecismo nos bairros pobres de Eastlands, nos arredores de Nairóbi. Nessa altura, o antigo Arcebispo de Nairóbi pediu às pessoas da Obra no Quênia que implementassem um projeto social para os moradores do distrito pobre de Eastlands. Envolvi-me nos estudos preliminares de possíveis projetos para isso. Naquela época, já conhecia o bairro muito bem. Por fim ficou decidido que começaríamos uma Escola de Formação Técnico-Profissional. Fui o primeiro empregado. Significava fazer tudo e estabelecer as fundações. Um dos principais trabalhos consistia em qualificar possíveis funcionários para o futuro, com a sensibilidade social que o projeto exigia.

Trabalhei nesse projeto durante 10 anos, até partir para Espanha para fazer novos estudos. Este projeto é o que agora se tornou Eastlands College of Technology.

Posso confessar que quando crescia no sítio, conheci a pobreza em primeira mão. No entanto, quando comecei a trabalhar neste projeto em Eastlands, encontrei a verdadeira pobreza. A pobreza vivida nesses bairros degrada a dignidade da pessoa humana. São Josemaria ensinou os seus filhos a unirem-se a outros cidadãos, cristãos ou não, e a defender a dignidade de cada pessoa. Eastlands College of Technology é uma dessas respostas, entre centenas de outras espalhadas pelos cinco continentes. Mesmo individualmente, fiquei muito realizado como pessoa por estar envolvido nisso. Espero compartilhar isto no futuro com os meus amigos e ex-colegas. Nunca podemos virar as costas à miséria humana, como o Papa Francisco nos lembra com frequência.

Acha que a sua experiência profissional ajudará o seu futuro trabalho sacerdotal?

O curso universitário tornou-me o que eu sou hoje, profissionalmente. O curso exigiu muitas horas de trabalho. Durou 6 anos. Algumas manhãs acordava para tentar resolver o mesmo problema com que estivera lutando na noite anterior, até à 1 da manhã ou mais tarde. Hoje, existem mais ferramentas para resolver esses problemas técnicos do que naqueles dias. Alguém disse uma vez que “a cultura é o que fica depois de tudo o que ficou esquecido”. Ao refletir sobre esta frase, cheguei a uma conclusão pessoal de que o que ficou são as virtudes, associadas a um curso difícil e exigente. Paciência, perseverança, resiliência, reflexão, estudo, ordem, etc. Aprende-se a aguentar e continuar. Ou seja, a trabalhar até ter feito o que é preciso.

Uma vez estava trabalhando no torno da Fábrica de Chá, onde fiz o meu estágio, quando um colega se admirou de como um recém-licenciado se podia dar ao luxo de sorrir enquanto fazia um trabalho tão repetitivo e chato. Naquela altura, tinham acabado de me ensinar a olhar além do trabalho imediato que tinha à minha frente. Ver os meus colegas, as suas famílias, as pessoas que iam apreciar o chá que estávamos produzindo, etc. Para mim, não era apenas dar voltas ao torno. Era muito mais.

Agora já esteve anos estudando em Espanha para o sacerdócio. Tem algumas histórias desses anos?

Sim, estou estudando na Espanha há 6 anos. Na Galícia, no verão de 2014, tive uma experiência assustadora. Estava fazendo um curso num lugar chamado Fonteboa. Fomos nadar no Atlântico. Já tinha nadado antes no Oceano Índico, na costa do Quênia, e nunca tivera problemas. Éramos três. Havia pessoas variadas nadando, a fazendo surf, etc. Um dos meus colegas tinha levado um livro para ler, o outro foi correr ao longo da praia. Eu queria nadar, e por isso fui para a água. Comecei a mergulhar nas ondas olhando na direção do mar alto. Quando comecei a ficar cansado, tentei parar, mas não tinha pé. Olhei para trás e só conseguia ver as pessoas como pequenos pontos. Tentei nadar de volta, mas as correntes eram tão fortes que os prédios ao longo da praia pareciam pequenos pontos e as pessoas na praia tinham desaparecido. Comecei a gritar por socorro e, graças a Deus, através de uma corrente de surfistas trouxeram-me o salva-vidas.

Além de nadar no verão, escalar montanhas e correr, um dos meus esportes favoritos é o badminton. Através do badminton, conheci mais de 50 estudantes nos últimos 6 anos. São principalmente estudantes em programas de intercâmbio internacional, que fazem um semestre ou um ano acadêmico na Universidade de Navarra. A maior parte dos que jogam badminton são de países asiáticos, embora tenha também encontrado alguns da América.

Uma história comovente envolveu Kuan, que é de Taiwan. Quando isto aconteceu, Kuan tinha 19 anos. Estava recebendo aulas de doutrina Católica de um amigo, numa residência universitária. Embora reclamasse que os conceitos eram difíceis de compreender, pois estava começando do zero (Kuan encontrara-se pela primeira vez com o Cristianismo na Universidade), um dia chegou a comover-se até às lágrimas enquanto conversava com o padre da residência. O que fez Kuan chorar (contou-me ele mais tarde) foi que, pela primeira vez na sua vida, um adulto estava disposto a ouvir os seus problemas. E tinha sido capaz de abrir o seu coração em confidência com o sacerdote.

Com os estudos e esportes, fiz muitos amigos. Durante quatro anos, dei uma ajuda num clube de rapazes, aos fins-de-semana e durante o verão. Introduzi o badminton no clube. Tornou-se também uma das atividades habituais nos acampamentos de verão. Fiz amigos de todas as idades e cores.

Quais são os seus planos para o futuro? Vai regressar em breve?

Normalmente, uma pessoa ordena-se para servir o povo de Deus. Aprendi a viajar com pouca bagagem e a estar disponível para o meu Prelado, cujos planos são os da Igreja. Gostaria de servir a Igreja como ela quer ser servida.

Os planos imediatos são concluir a tese. O tema é Formação Integral na Educação Universitária no Bem-Aventurado John Henry Newman. Farei também uma curta estadia para a prática pastoral, na Espanha, até ao final deste ano. Depois disso, irei para onde o Prelado considerar que é melhor.


[1] Tive a sorte de ter tido essa responsabilidade, porque não tendo ela recebido instrução (não sabe ler nem escrever), foi mais fácil aprender o catecismo em casa, já que podíamos ir para o terreno e recitar as orações vocais. Isso ajudou-a a decorar os outros conceitos-chave. Ela tinha pago a minha educação, eu estava, por minha vez, retribuindo-lhe dessa maneira. A experiência de catequese com o catequista na igreja local, uma hora por semana, não fora bem-sucedida. A minha avó ia para as aulas tendo esquecido tudo o que aprendera na semana anterior.

[2] O país tem 83% de cristãos, dos quais a população católica é de 23%. https://en.wikipedia.org/wiki/Religion_in_Kenya

[3] A devoção de receber a Comunhão pelo menos na primeira sexta-feira de cada mês foi promovida pela Irmã Margarida Maria Alacoque, religiosa da Ordem da Visitação. Foi uma apóstola da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, nascida em Lhautecour, França, a 22 de julho de 1647. Morreu em Paray-le-Monial, a 17 de outubro de 1690. Cf https://pt.wikisource.org/wiki/CatholicEncyclopedia_(1913)/St._Margaret_Mary_Alacoque

[4] Numa região agrícola, aqueles que frequentavam uma escola secundária próxima da sua escola primária continuavam a acumular a escola com o trabalho nos sítios. Num colégio interno, concentravam-se nos estudos, conheciam pessoas de outros lugares. Além disso, estas escolas estavam mais bem equipadas com recursos materiais e humanos. Uma escola particular, interna ou não, estava fora de questão por causa das restrições financeiras da família. Na escola pública, pagavam-se algumas propinas subsidiadas pelo governo. O tipo de escola que se podia frequentar era decidido por uma agência governamental, baseada principalmente nas notas do exame nacional, obrigatório no final da escola primária.

[5] Isto significa que, embora escola pública, o capelão pertencia a uma das denominações Protestantes.

[6] Dois deles vão a Roma com as suas esposas para assistir à minha ordenação sacerdotal. Quatro tornaram-se padres do grupo com quem eu estudei. Antes de nós e depois de nós, há outros, incluindo o atual Bispo de Marsabit: o Reverendo D. Peter Kihara Kariuki. I.M.C

[7] O grupo católico era liderado por um Conselho eleito pelos membros. Esse Conselho tinha sete membros: o presidente e o seu vice, o tesoureiro, o secretário e o seu vice, o mestre de coro e o secretário litúrgico. No meu penúltimo ano fui o vice-presidente e no último ano, o presidente. Estávamos fazendo os quatro anos de escola secundária.

[8] o seu nome é Padre Charles Gachingiri, IMC. É pároco numa das paróquias da capital de Uganda, Kampala. Foi batizado no nosso primeiro ano, neste colégio interno. É sobrinho do bispo Peter Kihara, mencionado anteriormente. Somos da mesma aldeia. Era comum haver na escola um pequeno grupo de catecúmenos durante o ano. Nós preparávamos o grupo e, se tivéssemos sorte, algum padre que passasse (especialmente missionários, nalgum período sabático) batizava-os na escola, com o conhecimento do pároco. Esse foi o caso do bispo Peter Kihara, então padre, que enviava os seus amigos missionários, para passarem na escola e cumprimentarem o seu sobrinho Charles. E assim, teríamos uma missa surpresa... Talvez a única em todo o ano.

[9] Esta decisão é um processo longo. Mas como são poucas a pessoas a quem Deus fala diretamente, para todos os outros, a mensagem de Deus chega-nos de muitas formas. E chega-nos através dos outros, através de um bom livro espiritual, etc. Lembro-me de ter lido o primeiro ponto de Sulco:
São muitos os cristãos persuadidos de que a Redenção se realizará em todos os ambientes do mundo, e de que deve haver almas - não sabem quais - que com Cristo contribuam para realizá-la. Mas eles a vêem a um prazo de séculos, de muitos séculos...; seria uma eternidade se se levasse a cabo ao passo de sua entrega. Assim pensavas tu, até que vieram “acordar-te”.
Eu identifiquei-me com esse que foi acordado.