Reportagem sobre José Jaime Canós, médico
José Jaime deixou marca em muitas pessoas. São muitas a quem ele tratou como médico. Era especialista em câncer de mama, mas também ajudou a muitos outros, como mostra este vídeo com o depoimento de algumas pessoas que o conheceram.
Prova disso é que a Câmara Municipal de Nules em 2017 lhe dedicou, ainda em vida, uma rua. O ato oficial contou com a presença de centenas de pessoas; e, com humor, mencionou algumas lembranças de sua vida e da prática da medicina.
A iniciativa de lhe dedicar uma rua em sua cidade natal, onde sempre viveu, partiu de alguns moradores locais que transmitiram esse desejo à Câmara Municipal. A Câmara Municipal aprovou por unanimidade e solicitou previamente um relatório ao cronista municipal. O cronista oficial, no seu relatório, aprovou a iniciativa, destacando “o fator humano e o seu envolvimento em conseguir o melhor para os doentes nos centros onde trabalhou, sobretudo em Nules e localidades vizinhas”.
José Jaime foi um médico muito querido pela sua dedicação profissional a cada paciente, a cada pessoa. Cada vez que ia ao hospital rezava pelos doentes que ia tratar: ia à capela ao chegar e quando saía. No escritório compartilhado tinha uma imagem de Nossa Senhora dos Desamparados que todos os seus colegas sempre respeitaram. Também rezava antes de dar uma má notícia.
Os habitantes de Nules são testemunhas do bem que fez com sua profissão, e também das muitas iniciativas sociais e educativas que promoveu, como o Banco Alimentar, a Associação Provida de Castellón, a Residência da Terceira Idade Virgen de la Soledad ou o clube Debate 21 em Castelló. Foi ainda administrador da Caixa Rural, colaborador do Sopão Padre Ricardo e promotor das escolas Torrenova e Miralvent, onde integrou a direção durante cerca de 15 anos. Também foi membro da Fundação Torremayor, que arrecada bolsas de estudos para as duas escolas.
José Jaime disse que ao longo da sua vida pediu dinheiro a muitas pessoas para poder levar adiante todas estas iniciativas; e que teve grandes surpresas ao ver a generosidade do povo. Contou como, há muitos anos, havia conhecido um amigo em Castelló e lhe explicou que estava procurando dinheiro para um seminário para sacerdotes em Roma. Essa pessoa se ofereceu para ajudar e aquele homem, que tinha comprado um carro barato, deu a ele um milhão de pesetas da época para o projeto.
As três decisões mais importantes da sua vida
Jota Jota, como muitos o conheciam, nasceu em Nules em 1953 e estudou medicina na Universidade de Valência. Especializou-se em cirurgia e conseguiu vaga na Previdência Social. Mais tarde, fez o doutorado com pesquisa em câncer de mama.
José Jaime disse que as três decisões mais importantes da sua vida foram “imprevistas”: a primeira foi o exercício da medicina, a segunda a vocação como Supernumerário no Opus Dei e a terceira, o casamento com sua esposa, Grisel.
José Jaime conheceu o Opus Dei em Valência, “por acaso”, porque quando procurava outra residência para morar, enganou-se e entrou no Colégio Mayor La Alameda e aí ficou como residente. Três anos mais tarde pediu a admissão no Opus Dei como Supernumerário.
Em uma entrevista ao Nulespédia, um meio de comunicação local, contava que o Opus Dei o ensinou a rezar e que isso sustenta sua vida: “é Deus quem me dá forças para ter uma vida tão ativa. Ajudou-me – como dizia São Josemaria – a ver por trás de cada pessoa um filho de Deus. Sendo filhos de Deus tudo muda: não há ideologias, não há situação econômica… Somos todos iguais, somos todos filhos de Deus”.
Acostumado a lidar com a doença, ele também teve que lutar contra um câncer, sofrendo inúmeras cirurgias desde 2015. Para falar do sofrimento, citou uma frase de Paul Claudel: “Deus não veio suprimir o sofrimento, nem sequer veio explicá-lo. Veio enchê-lo com a sua presença”. Muitas coisas obscuras permanecem; mas há uma coisa que nunca poderemos dizer a Deus: “Você não sabe o que é sofrer”.
O atual presidente da Provida Castelló despediu-se dessa forma de José Jaime em um comunicado após a sua morte: “Ontem os anjos vieram inesperadamente para o 'Jota Jota', como o chamávamos carinhosamente. (...) Tínhamos nos acostumado a vê-lo doente, mas sempre terminando as refeições com um importante charuto Havana. Depois de quase sete anos lutando contra uma doença que ele mesmo definiu como irreversível. Porém desta vez o Dr. Canós enganou-se, porque foi o seu coração que parou, exausto de dar amor e exemplo aos outros”.
José Jaime foi mais um em Nules, desfrutou de tudo o que rodeava o seu ambiente, a agricultura, os seus laranjais e os jogos do Villarreal. Podemos dizer com certeza que este médico, que queria ser diplomata, mas que mal saiu da Comunidade Valenciana, chegou muito longe com a sua vida cotidiana dedicada aos outros.