Nossa Senhora nos quer livres

Nossa Senhora Aparecida deseja que os homens estejam livres de qualquer tipo de escravidão, especialmente da pior delas: a escravidão do pecado.

Um dos primeiros milagres atribuídos à Nossa Senhora Aparecida é muito significativo: a inexplicável ruptura das correntes das mãos de um escravo, quando este rezava diante da sua imagem[1]. Após este prodígio, o escravo teria sido libertado pelo seu senhor.

Maria manifestava com essa graça o seu desejo de que se respeitasse a dignidade de todas as pessoas, libertando aquelas que se encontravam escravizadas.

Outro fato relacionado com a libertação de um condenado aconteceu quando a Princesa Isabel e seu esposo, o Conde d´Eu, foram rezar diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida, por ocasião da festa de 8 de dezembro de 1868. Durante os dias desta visita, a princesa comovida, com lágrimas nos olhos, atendeu o pedido de liberdade de um recruta da Guarda Nacional, que estava sendo conduzido algemado para Taubaté e indultou-o da prisão.

Quase 20 anos após esse acontecimento, no dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, em um dos momentos nos quais assumiu o comando do país, na ausência do seu pai, pondo fim à escravidão no Brasil.

A redentora dos escravos, piedosamente, doou a riquíssima coroa de ouro que até hoje é utilizada na Imagem de Nossa Senhora Aparecida[2], a principal corredentora, intimamente unida a Cristo Redentor dos homens.

Jesus Cristo já havia declarado: “todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo”(Jo 8,34) e também havia anunciado seu desejo de nos redimir dos nossos pecados: “se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres”(Jo 8,36).

A Virgem Maria, puríssima desde a sua concepção, é plenamente livre, por não ter experimentado pecado algum na sua vida e sempre ter servido a Deus fielmente. Enquanto o diabo é quem introduz o pecado no mundo, que nos escraviza, e sua vida é um contínuo “non serviam”, não servirei a Deus, do qual quer que todos venham a tomar parte.

A Virgem Maria é a mulher profetizada no livro do Gênesis, quando Deus fala à serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela”(Gen 3,15). Ela é quem pisa a cabeça da serpente. É a Mulher por excelência, aquela que restaura a imagem da humanidade que tinha sido deteriorada pelo pecado de Eva. Maria nos abre a porta do Céu que havia sido fechada por Eva.

Nossa Senhora Aparecida deseja que os homens estejam livres não apenas da escravidão a que povos foram submetidos ao serem subjugados por seus dominadores, mas de qualquer tipo de escravidão, especialmente da pior delas: a escravidão do pecado. A Virgem Maria intercede a Deus por nós para que nos libertemos das cadeias do pecado. Pedimos à Virgem Maria no hino Ave Maria Stella: Solve vincla reis, desata os réus dos laços que os aprisionam.

São Paulo, na epístola aos Romanos, esclarece: “não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Abba! Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo... (Rom. 8,15-17).

São Josemaria dizia:“não aceito outra escravidão que não seja a do Amor de Deus... Eu vos quero rebeldes, livres de todos os laços, porque vos quero - Cristo nos quer - filhos de Deus. Escravidão ou filiação divina: eis o dilema da nossa vida. Ou filhos de Deus ou escravos da soberba, da sensualidade, desse egoísmo angustiante em que tantas almas parecem debater-se”[3].

Além de estar livre dos pecados, cada pessoa deve livremente, sem coação alguma, decidir-se por agradar seu Pai Deus e, por amor, comprometer-se a servir a Deus e a seus irmãos, a transformar a sua vida em uma entrega amorosa aos planos de Deus.

“O Amor de Deus marca o caminho da verdade, da justiça e do bem. Quando nos decidimos a responder ao Senhor: a minha liberdade para Ti, ficamos livres de todas as cadeias que nos haviam atado a coisas sem importância, a preocupações ridículas, a ambições mesquinhas. E a liberdade [...] emprega-se inteira em aprender a fazer o bem.

Esta é a liberdade gloriosa dos filhos de Deus. Os cristãos que na sua conduta se revelassem encolhidos de medo - coibidos ou invejosos - perante a libertinagem dos que não acolheram a Palavra de Deus, demonstrariam ter um conceito muito pobre da nossa fé. Se cumprimos de verdade a Lei de Cristo - se nos esforçarmos por cumpri-la, porque nem sempre o conseguiremos -, descobrir-nos-emos dotados dessa maravilhosa galhardia de espírito que não precisa ir buscar em outro lugar o sentido da mais plena dignidade humana”[4].

A Virgem Maria nos ensina a sempre dizer sim a Deus e a experimentarmos a plena liberdade dos filhos de Deus. Consideremos, por exemplo, o momento sublime da Anunciação do arcanjo São Gabriel a Nossa Senhora. Maria escuta, pergunta o que não entende em um primeiro momento, para compreender melhor o que o Deus lhe pede. E responde generosamente: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra”(Lc 1,38).

Nossa Senhora se declara “escrava do Senhor”, da aparente escravidão do Amor a Deus, que não prende ou coage, mas ao contrário, nos liberta. A mais profunda liberdade é a de decidir-se por Deus.

Portanto, nós devemos confiar em Nossa Senhora Aparecida para vencermos o mal, libertando-nos do pecado, e vivermos plenamente a vida de um filho de Deus e de Maria Santíssima.

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[1] Este milagre foi relatado por escrito a primeira vez pelo Pe. Claro Francisco de Vasconcellos por volta do ano 1828. O fato, porém, é de época bem anterior, pois ele afirma que o conhecia por tradição.

[2] Nossa Senhora Aparecida recebeu solenemente esta coroa em 1904. A coroa é de ouro 24 quilates, pesa 300 gramas e tem 24 diamante maiores e 16 menores.

[3] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n.18.

[4] Ibidem.

Flávio Sampaio