Na retaguarda da Covid em Filipinas

Um casal filipino criou uma equipe para coordenar uma cadeia de emergência para abastecimento alimentar e médico, no apoio a hospitais locais e a serviços essenciais. Tudo começou com uma simples pergunta: que podemos nós fazer para ajudar?

A qualidade de um edifício depende basicamente dos seus alicerces. E uma família feliz pode ser um bom alicerce para muitas coisas, especialmente durante uma crise. A família Balbieran tornou-se a base para uma iniciativa de emergência em Filipinas. Chamam ao projeto Covid Backliners, porque com ele fornecem apoio básico aos que se encontram na linha da frente da batalha contra o coronavírus.

"As pessoas estavam simplesmente desejosas de ajudar." RICHELLE

Quando a pandemia começou a alastrar em Filipinas, Richelle e o marido, Ronnie, decidiram que não podiam simplesmente esperar as coisas acontecerem. Na sua casa, onde se instalaram recentemente com os filhos pequenos, consideraram o que poderiam fazer para ajudar.

Bastou um simples telefonema para nos animar a agir. Ronnie, consultor econômico de muitas agências estatais, decidiu ligar para o Departamento de Transportes perguntando se podiam fazer alguma coisa para ajudar. A resposta: era necessário um abastecimento alimentar para os voluntários dos transportes que levavam os da linha da frente para os hospitais e outros estabelecimentos que prestam serviços essenciais. Desde que a Quarentena Comunitária de Emergência foi declarada para Luzon, em meados de março, deixou de haver transportes públicos disponíveis e muitos trabalhadores da saúde, de supermercados e de outras lojas tinham de ir a pé, ou esperar uma carona para chegarem aos seus locais de trabalho.

Preparando uma entrega

Este pedido levou-os a fazer outros telefonemas: desta vez para pedir ajuda à família e amigos a ver se obtinham dinheiro e serviços para poderem fornecer comida.

Em pouco tempo, tinham conseguido dinheiro, providenciado um catering e tinham organizado uma rede de entregas. Logo a seguir, já estavam alimentando até 245 voluntários dos transportes, pelo menos com uma refeição por dia. “Só para isso, diz Richelle, precisávamos diariamente de cerca de 400 dólares. Mas, surpreendentemente, o dinheiro continuava a chegar, e os alimentos continuavam a ser entregues. As pessoas estavam simplesmente desejosas de ajudar”.

Como prova do poder das redes sociais, dois hospitais – Philippine Heart Center e Pasay General Hospital – souberam do projeto e entraram em contato com Richelle e Ronnie, desta vez pedindo ajuda não só com alimentos, mas com a aquisição de material médico, como máscaras, proteção facial e álcool.

A resposta rápida do casal foi fazer mais pedidos de donativos e entrar em contato com os seus conhecidos. Feito isto, o apoio financeiro começou a chegar.

Refeições embaladas preparadas para voluntários de transporte de emergência

“Depois da comida, que continuou a ser preparada graças à ajuda de amigos, diz Richelle, comecei a aventurar-me na procura de fontes de abastecimento de material médico. Não foi fácil, devido à grande procura. Tive de investigar a fundo, até descobrir fornecedores que apresentassem um preço justo”. E não demorou muito tempo até as entregas serem feitas nos dois hospitais.

“O Centro de Pneumologia está no meu coração porque trabalhei para eles num projeto, e não podia, portanto, dizer que não ao seu pedido”

Mas, precisamente nesse momento, outro hospital, o Centro de Pneumologia – Lung Center of the Philippines – foi designado como hospital de referência para doentes com COVID, e também eles precisavam de abastecimento.

“O Centro de Pneumologia está no meu coração porque trabalhei para eles num projeto, e não podia, portanto, dizer que não ao seu pedido”,acrescenta Richelle.

Começou assim outro ciclo de chamadas telefônicas e de posts no Facebook, para mais donativos e para mais serviços.

“O resto já é história”, diz Richelle. “Agora, os nossos serviços chegam a províncias como Cavite, Bataan, Bulacan e até a Palawan! Não sei bem como conseguimos isto, mas Deus simplesmente providencia!”

Um exemplo das refeições preparadas para os voluntários

Um assunto de família

Cinco filhos: um bebê, uma criança de colo e um filho com necessidades especiais. Nenhuma ajuda doméstica. Richelle e Ronnie dirigem um barco difícil.

“Estes tempos são também, de fato, bons momentos para ensinar e aprender”, diz Richelle. “Costumo dizer aos meus filhos mais velhos: olha, se você ajudar a mamãe, vamos poder ajudar muita gente. Por isso, oferecem-se para lavar a louça, regar as plantas, cuidar dos mais novos. Depois, mostro as imagens das nossas histórias de sucesso, e ficam felizes porque, à sua maneira, estão ajudando”.

“Estes tempos são também, de fato, bons momentos para ensinar e aprender”, diz Richelle. “Costumo dizer aos meus filhos mais velhos: olha, se você ajudar a mamãe, vamos poder ajudar muita gente”.

“Quanto ao meu marido, que posso dizer? Do seu escritório em casa, ele desempenha um papel crucial como consultor da Task Force Inter-Agencias, criada para esta crise. O que está acontecendo é que a produção agrícola do Norte está se deteriorando, enquanto muitas pessoas sofrem de falta de alimentos aqui na capital. Tudo devido a aspectos técnicos nas entregas e a uma deficiente coordenação das Unidades do Governo Local. Por isso, ele decidiu intermediar reuniões com representantes do Ministério da Agricultura, das Cooperativas do Norte e das pessoas que fazem parte da cadeia alimentar, para pensarem em formas de transportar os tão necessários produtos”.

“Os meus pais e irmãos também entraram no barco. Os meus dois irmãos ajudam na promoção, nos posts online, na logística e no relacionamento com fornecedores e beneficiários. Os meus pais têm sido muito generosos no fornecimento, tanto de abastecimentos como de fundos. E, claro, uma amiga minha, muito próxima – praticamente, faz parte da família – tem sido a minha fiável colega de trabalho em tudo. Nada disto teria sido possível sem esta equipe”.

Outros kits de refeições

Uma cura global

“A minha opinião pessoal sobre o assunto é que o mundo precisa de uma cura e fomos, por assim dizer, obrigados a ela pelas circunstâncias”, diz Richelle. “Uma parte dessa cura é o redescobrir o valor da vida em família que temos. Rezando juntos, ajudando-nos mutuamente a ajudar os outros”.

“As pessoas são generosas. Esta é a conclusão a que chego. Basta que alguém comece e ficamos admirados com os resultados. Neste momento, dois dos nossos amigos já começaram a implementar as suas próprias iniciativas”.

“Para mim, esta é uma boa maneira de fazer apostolado: aproximando as pessoas de Deus porque falo com elas sobre este ajudar, atualizando, informando-as, e elas sentem-se também realizadas”.

Ronnie, Richelle e seus filhos.