Misericórdia e Reconciliação

O Papa em 2016 convocou algumas audiências especiais a propósito do Ano da Misericórdia. Na de 30 de abril lembrava que "Jubileu da Misericórdia é para todos um tempo favorável para descobrir a necessidade da ternura e proximidade do Pai e retornar a Ele com todo o coração."

Reproduzimos alguns textos de São Josemaria que poderão ser úteis para rezar sobre este tema.

Texto da audiência de 30 de abril de 2016

Queridos irmãos e irmãs:

A reconciliação é um aspecto importante da misericórdia de Deus, que não quer ninguém distante do seu amor. De fato, quando pecamos, pensamos que Deus se afasta de nós, mas, na verdade, somos nós que Lhe “damos as costas”, pois rejeitamos o seu amor, ficamos fechados em nós mesmos, iludidos por uma falsa promessa de mais liberdade e autonomia. Porém, Jesus, o Bom Pastor, não se cansa de vir atrás da ovelha perdida, oferecendo-nos a reconciliação com Deus: ao dar-nos a sua vida, Ele nos reconciliou com o Pai. Este Jubileu da Misericórdia é um tempo de reconciliação para todos. Hoje vivem-no de forma especial as forças de ordem, os militares e os policiais, cuja missão é garantir um ambiente seguro para todos, não só evitando conflitos, mas construindo pontes e semeando a paz. Todos nós somos convidados a experimentar a ternura e a proximidade de nosso Pai celestial, deixando-nos reconciliar e ajudando os outros a se reconciliarem.

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Queridos peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos! Saúdo-vos como membros desta família que é a Igreja, pedindo-vos que renoveis o vosso compromisso para que as vossas comunidades sejam lugares sempre mais acolhedores, onde se faz experiência da misericórdia e do perdão de Deus. Que Nossa Senhora proteja a cada um de vós, e o Senhor vos abençoe a todos!

Imagem do Bom Pastor nas catacumbas de Priscila, em Roma

Textos de São Josemaria para meditar

Deus nunca nos deixa de oferecer o seu perdão

É preciso convencer-se de que Deus está junto de nós continuamente. - Vivemos como se o Senhor estivesse lá longe, onde brilham as estrelas, e não consideramos que também está sempre ao nosso lado.
E está como um Pai amoroso - quer mais a cada um de nós do que todas as mães do mundo podem querer a seus filhos -, ajudando-nos, inspirando-nos, abençoando... e perdoando.
Quantas vezes fizemos desanuviar o rosto de nossos pais dizendo-lhes, depois de uma travessura: Não volto a fazer mais! - Talvez naquele mesmo dia tenhamos tornado a cair... - E o nosso pai, com fingida dureza na voz, de cara séria, repreende-nos..., ao mesmo tempo que se enternece o seu coração, conhecedor da nossa fraqueza, pensando: - Pobre criatura, que esforços faz para se portar bem!
Necessário é que nos embebamos, que nos saturemos de que Pai e muito Pai nosso é o Senhor que está junto de nós e nos céus

Caminho, 267

Repara que entranhas de misericórdia tem a justiça de Deus! - Porque, nos julgamentos humanos, castiga-se a quem confessa a sua culpa; e no divino, perdoa-se.
Bendito seja o santo Sacramento da Penitência!

Caminho, 309

As circunstâncias do servo da parábola que devia dez mil talentos refletem bem a nossa situação diante de Deus: nós também não contamos com nada para pagar a dívida imensa que contraímos por tantas bondades divinas, e que aumentamos ao ritmo dos nossos pecados pessoais. Ainda que lutemos denodadamente, não conseguiremos devolver com eqüidade o muito que o Senhor nos perdoou. Mas a misericórdia divina supre folgadamente a impotência da justiça humana. Ele, sim, pode dar-se por satisfeito e perdoar-nos a dívida, simplesmente porque é bom e infinita a sua misericórdia.

Amigos de Deus, 168

Ele reconstrói a ponte que nos reconduz ao Pai

Insisto, tem coragem, porque Cristo, que nos perdoou na Cruz, continua a oferecer o seu perdão no sacramento da Penitência e sempre temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele mesmo é a vítima de propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo, para que alcancemos a Vitória.
Para a frente, aconteça o que acontecer! Bem agarrado ao braço do Senhor, considera que Deus não perde batalhas. Se te afastas dEle por qualquer motivo, reage com a humildade de começar e recomeçar; de fazer de filho pródigo todos os dias, até mesmo repetidas vezes nas vinte e quatro horas do dia; de acertar o coração contrito na Confissão, verdadeiro milagre do Amor de Deus. Neste sacramento maravilhoso, o Senhor limpa a tua alma e te inunda de alegria e de força, para não desfaleceres no combate e para retornares sem cansaço a Deus, mesmo quando te pareça que tudo está às escuras. Além disso, a Mãe de Deus, que é também Mãe nossa, te protege com a sua solicitude maternal e te firma nos teus passos.

Amigos de Deus, 214

Que dívida a tua para com teu Pai-Deus! - Ele te deu o ser, a inteligência, a vontade... Deu-te a graça: o Espírito Santo; Jesus, na Hóstia; a filiação divina; a Santíssima Virgem, Mãe de Deus e Mãe nossa. Deu-te a possibilidade de participares na Santa Missa e te concede o perdão dos teus pecados, tantas vezes o seu perdão! Deu-te dons sem conta, alguns extraordinários...
- Diz-me, filho: como tens correspondido?, como correspondes?

Forja, 11

Se nos pusermos continuamente na presença do Senhor, aumentará a nossa confiança, pois verificaremos que o seu Amor e o seu chamado permanecem atuais; Deus não se cansa de nos amar. A esperança mostra-nos que, sem Ele, não conseguimos realizar nem sequer o menor dos nossos deveres; e, com Ele, com a sua graça, as nossas feridas cicatrizam; revestimo-nos da sua fortaleza para resistir aos ataques do inimigo, e melhoramos. Em resumo: a consciência de estarmos feitos de barro de moringa deve servir-nos sobretudo para robustecermos a nossa esperança em Cristo Jesus.

Amigos de Deus, 215

Recorrei semanalmente - e sempre que precisardes, sem dar lugar aos escrúpulos - ao santo Sacramento da Penitência, ao sacramento do perdão divino. Revestidos da graça, passaremos através das montanhas e subiremos a encosta do cumprimento do dever cristão, sem nos determos. Utilizando esses recursos, com boa vontade, suplicando ao Senhor que nos conceda uma esperança cada vez maior, possuiremos a alegria contagiosa dos que se sabem filhos de Deus: Se Deus está conosco, quem nos poderá derrotar?
Otimismo, portanto. Impelidos pela força da esperança, lutaremos por apagar a mancha viscosa que espalham os semeadores do ódio, e redescobriremos o mundo numa perspectiva feliz, porque o mundo saiu belo e limpo das mãos de Deus, e é assim, com essa beleza, que o havemos de restituir a Ele, se aprendermos a arrepender-nos.

Amigos de Deus, 219

Santa Maria, Regina Apostolorum, rainha de todos os que suspiram por dar a conhecer o amor de teu Filho: tu, que entendes tão bem as nossas misérias, pede perdão por nossa vida; pelo que em nós podia ter sido fogo e foi um punhado de cinzas; pela luz que deixou de iluminar; pelo sal que se tornou insípido. Mãe de Deus, Onipotência Suplicante: traze-nos, junto com o perdão, a força para vivermos verdadeiramente de fé e de amor, para podermos levar aos outros a fé de Cristo.

É Cristo que passa, 175

Os ideais de paz, de reconciliação, de fraternidade, são aceitos e proclamados, mas - não poucas vezes - são desmentidos pelos fatos. Alguns homens empenham-se inutilmente em aferrolhar a voz de Deus, impedindo a sua difusão pela força bruta ou servindo-se de uma arma menos ruidosa, mas talvez mais cruel, porque insensibiliza o espírito: a indiferença.

É Cristo que passa, 150

Sejamos audazes. Contamos com o auxílio de Maria, Regina Apostolorum. E Nossa Senhora, sem deixar de se comportar como Mãe, sabe colocar os seus filhos em face de suas precisas responsabilidades. Aos que dEla se aproximam e contemplam a sua vida, Maria faz sempre o imenso favor de os levar até à cruz, de os colocar bem diante do exemplo do Filho de Deus. E nesse confronto em que se decide a vida cristã, Maria intercede para que a nossa conduta culmine com uma reconciliação do irmão menor - tu e eu - com o Filho primogênito do Pai.
Muitas conversões, muitas decisões de entrega ao serviço de Deus foram precedidas de um encontro com Maria. Nossa Senhora fomentou os desejos de procura, ativou maternalmente as inquietações da alma, fez ansiar por uma mudança, por uma vida nova. E, assim, aquele fazei o que Ele vos disser converteu-se em realidades de amorosa entrega, em vocação cristã que ilumina desde então toda a nossa vida.

É Cristo que passa, 149