Meditações: 6º domingo do Tempo Comum (Ano B)

Reflexão para meditar no domingo da 6ª semana do tempo comum. Os temas propostos são: O estigma do leproso; Jesus toca nossa doença; Contagiar o bem recebido.


PARA O POVO de Israel, a lepra era um castigo de Deus e causa de impureza. “Quando alguém tiver na pele do seu corpo alguma inflamação, erupção ou mancha branca, com aparência do mal da lepra, será levado ao sacerdote (...). Se o homem estiver leproso é impuro, e como tal o sacerdote o deve declarar”. Os doentes tinham de viver em reclusão, mostrar sua condição por meio de suas roupas e, quando alguém se aproximava deles, gritavam: “Impuro! Impuro!” (Lev 13,45). Estes doentes viviam na solidão ou com outros leprosos, esperando que um dia pudessem recuperar sua pureza e voltar a ter uma vida normal.

Nesse contexto, “um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: "Se queres tens o poder de curar-me"” (Mc 1,40). Uma pessoa que foi estigmatizada pelos outros se dirige a Cristo. Por sua atitude, vemos que ele também se sente indigno de pedir. Ele simplesmente implora, em uma atitude de súplica, e sem sentir que tem algum direito: “Se queres...”. Embora hoje em dia essas doenças sejam menos comuns e as medidas tomadas para a sua prevenção e cura sejam diferentes, às vezes podemos nos sentir, por algum motivo, como se tivéssemos sido excluídos, estigmatizados: sentimos que não estamos à altura do que deveríamos estar, de acordo com nossa idade, experiência ou capacidades. Também podemos ser envolvidos pela sensação de que não estamos no nosso lugar ou que sempre esperam que façamos melhor. Há dias em que pode se instalar uma nuvem negra com o pensamento de que somos inadequados.

Essas percepções pessoais – não muito distantes das do leproso – também podem mudar a imagem que temos do rosto do Senhor, a ponto de supormos que para Ele é difícil nos contemplar com afeto, com favor, como se estivesse habitualmente insatisfeito com as nossas realizações. Uma das manifestações dessa falsa maneira de ver Deus é que nos torna incapazes de nos amarmos; não nos permite descobrir, como dizia São Josemaria, que “saímos das mãos de Deus, que somos objeto da predileção da Trindade Beatíssima, que somos filhos de tão grande Pai. Eu peço ao meu Senhor que nos decidamos a tomar consciência disso, a saboreá-lo dia a dia. Assim nos conduziremos como pessoas livres”[1].


O LEPROSO sabe a quem deve recorrer para curar sua doença. Ele está convencido do poder de Jesus. Ele sabe que não depende de si mesmo, mas da bondade da pessoa a quem pede: “Se queres tens o poder de curar-me” (Mc 1, 40). Esse homem é consciente de que não deve se deixar afundar pela sua impureza, mas estar aberto para descobrir a verdadeira face da misericórdia do Pai: Jesus Cristo.

Assim, Jesus atende e escuta uma pessoa a quem os outros evitavam. Que se sentia indigna, Cristo se aproxima e se comove. “Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: "Eu quero: fica curado!"”. (Mc 1,41). O Senhor não age como os homens. “A misericórdia de Deus supera qualquer barreira e a mão de Jesus toca o leproso. Ele não para a uma distância de segurança e não age por delegação, mas se expõe diretamente ao contágio do nosso mal; e assim precisamente o nosso mal torna-se o lugar do contato: Ele, Jesus, assume de nós a nossa humanidade doente e nós assumimos dele a sua humanidade que é sadia e cura. Isto acontece todas as vezes que recebemos com fé um sacramento: o Senhor Jesus ‘toca-nos’ e nos concede a sua graça. Neste caso pensamos sobretudo no Sacramento da Reconciliação, que nos cura da lepra do pecado”[2].

A nossa suposta indignidade nunca é um empecilho para o Senhor. Pelo contrário, quanto mais indignos parecemos ser, mais Ele quer nos confortar e curar. Deus entra no coração humano por meio das nossas feridas e nunca nos abandona, Ele nos ama sempre. O fundador do Opus Dei definiu o amor de Deus com uma imagem gráfica: ele nos ama mais do que todas as mães do mundo juntas[3].


APÓS o milagre, Cristo pede que o leproso seja discreto: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!” (Mc 1, 44). Jesus, tendo em conta que esse é um de seus primeiros milagres, quer que a sua manifestação seja progressiva.

“Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo” (Mc 1,45). O protagonista da cura não consegue conter a sua alegria, e é impossível se limitar a contar ao sacerdote que deveria verificar a cura. O perdão, o sentimento de ser amado incondicionalmente, nos leva a nos abrirmos para os outros e a nos aproximarmos das pessoas ao nosso redor. Quando experimentamos a misericórdia divina, sentimos a necessidade de restaurar os laços desfeitos e transmitir a outros o bem que recebemos. O amor perdoador e curador de Deus nos reintegra à comunidade. “Se o mal é contagioso, o bem também é. Por conseguinte, é preciso que em nós abunde, cada vez mais, o bem. Deixemo-nos contagiar pelo bem e contagiemos o bem!”[4].

Como podemos, quando às vezes imaginamos o rosto de Deus endurecido, redescobrir seu verdadeiro olhar? Dirigindo-nos a Nossa Senhora. “Maria vem ao nosso encontro como mãe, sempre disponível às necessidades dos seus filhos. Através da luz que emana do seu rosto, transparece a misericórdia de Deus. Deixemo-nos envolver pelo seu olhar: este diz-nos que somos todos amados por Deus, que jamais nos abandona!”[5].


[1] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 26.

[2] Francisco, Ângelus, 15/02/2015.

[3] Cfr. São Josemaria, Forja, n. 929.

[4] Francisco, Ângelus, 15/02/2015.

[5] Bento XVI, Homilia, 14/09/2008.