Maria nos inflama no amor a Deus

Este sexto artigo sobre Nossa Senhora Aparecida nos leva a refletir sobre como o amor a Nossa Senhora pode reacender em nós o amor a Deus.

Após ter sido encontrada nas águas do Rio Paraíba do Sul, a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi levada para a casa de Felipe Pedroso, o mais velho dos três pescadores, onde permaneceu por volta de 15 anos. Depois, Felipe doou-a a seu filho Atanásio, que lhe construiu um pequeno oratório, onde os seus parentes e as famílias vizinhas se reuniam, semanalmente, para a recitação do terço e canto de ladainhas.

Em uma dessas orações, Nossa Senhora manifestou o seu agrado com um fato muito significativo, tomado pelo povo como verdadeiro sinal de Deus. Normalmente, durante as orações, acendiam-se duas velas que iluminavam a imagem da Santíssima Virgem Maria. Naquela vez, estando a noite serena, repentinamente as duas velas se apagaram. Houve espanto entre os devotos, e Silvana da Rocha se dispôs a reacendê-las, mas não chegou a fazê-lo, pois elas se acenderam por si mesmas, ou melhor dito, pela ação de Nossa Senhora.

Como podemos interpretar esse pequeno sinal de Deus? Qual a mensagem que Nossa Senhora nos quer transmitir ao acender as chamas dessas velas?

Recorrendo ao Novo Testamento, podemos encontrar significados para o fogo e, mais concretamente, para a chama. Jesus disse certa vez “fogo vim trazer à terra e que quero senão que arda?” Jesus desejava que a boa nova do Evangelho se espalhasse pelo mundo e a graça de Deus, pelos corações. Desta forma, as pessoas conheceriam e experimentariam o Amor de Deus para com elas. No dia de Pentecostes, com a vinda do Espírito Santo ao mundo, apareceram chamas de fogo sobre Nossa Senhora e os apóstolos, como manifestação da chegada do Paráclito em seus corações. O fogo e as chamas significam o Amor de Deus que arde nas nossas almas.

O fato das chamas das velas terem sido revividas na presença de Nossa Senhora Aparecida indica-nos que o amor à Nossa Mãe reacende em nossos corações o Amor a Deus, quando está por se apagar[1]. Com a devoção a Maria, experimentamos um crescimento do Amor de Deus em nossos corações e, consequentemente, um aumento significativo dos Dons do Espírito Santo em nossas vidas.

Com a vinda do Espírito Santo sobre Maria e os apóstolos no dia de Pentecostes, seus dons foram derramados abundantemente nos seus corações. Houve uma verdadeira renovação interior: inflamaram-se os seus corações no Amor de Deus e comunicaram esse amor aos demais; iluminaram-se as suas inteligências para compreenderem melhor os ensinamentos de Cristo; começaram a pregar a mensagem cristã com uma enorme fortaleza; passaram a falar com eloquência, eles que eram homens sem letras; promoveram milhares de conversões, em que as pessoas decidiram cortar com seus pecados e levar uma vida nova, santa, conduzindo o mundo a Deus; sentiram-se filhos de Deus, amados incondicionalmente por Deus Pai.

Mas para que ocorra uma renovação da nossa vida espiritual é necessário sermos extremamente dóceis ao Espírito Santo, como Maria.

“Temos que ser sensíveis àquilo que o Espírito divino promove à nossa volta e a nós mesmos: aos carismas que distribui, aos movimentos e instituições que suscita, aos efeitos e decisões que nos faz nascer no coração. O Espírito Santo realiza no mundo as obras de Deus: como diz o hino litúrgico, Ele é dador de graças, luz nos corações, hóspede da alma, descanso no trabalho, consolo no pranto. Sem a sua ajuda, nada há no homem que seja inocente e valioso, pois é Ele quem lava o que está manchado, cura o que está enfermo, aquece o que está frio, reconduz o extraviado e encaminha os homens até o porto da salvação e da felicidade eterna (Da sequência Veni Sancte Spiritus da Missa de Pentecostes)”[2].

“É o Espírito Santo quem, com suas inspirações, vai dando tom sobrenatural aos nossos pensamentos, desejos e obras. É Ele quem nos impele a aderir à doutrina de Cristo e a assimilá-la com profundidade; quem nos dá luz para tomarmos consciência da nossa vocação pessoal e força para realizarmos tudo o que Deus espera de nós. Se formos dóceis ao Espírito Santo, a imagem de Cristo ir-se-á formando cada vez mais em nós e assim nos iremos aproximando cada dia mais de Deus Pai. Os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus (Rom VIII, 14).

Se nos deixarmos guiar por esse princípio de vida presente em nós, que é o Espírito Santo, a nossa vitalidade espiritual irá crescendo e abandonar-nos-emos nas mãos do nosso Pai-Deus com a mesma espontaneidade e confiança com que uma criança se lança nos braços de seu pai”[3].

Quando sentimos a falta de alguns frutos do Espírito Santo em nossas vidas, devemos recorrer à Nossa Senhora Aparecida. Quando maus sentimentos como os de raiva, ódio ou indiferença pelos outros invadem o nosso coração; ou nos encontramos entristecidos e pessimistas com relação à vida; sempre que perdemos a paz da alma e nos intranquilizamos com as contrariedades do nosso dia; quando nos impacientamos com os nossos defeitos ou das pessoas com quem convivemos; ao notarmos que precisamos ser mais bondosos e carinhosos no relacionamento com os demais; quando precisamos ser mais fiéis aos nossos compromissos, especialmente aos que assumimos com Deus; ao comprovarmos que nos custa viver a castidade e a pureza de coração, ou ao nos orgulharmos dos nossos talentos e dotes,... é o momento de recorrermos a Nossa Senhora Aparecida para que ela interceda por nós para crescermos no Amor a Deus e voltarmos a experimentar em nossas vida os frutos do Espírito Santo, tais como a caridade, a alegria, a paz, a paciência, a bondade, a benignidade, a mansidão, a fidelidade, a modéstia, a castidade,..." que o Espírito Santo nos concede (Gl 5, 22-23).

Na vida de Maria, a Cheia de Graça e modelo de docilidade, vemos como os dons de Deus e os frutos do Espírito Santo se manifestam plenamente. Que a Medianeira de todas as graças nos conceda, por sua intercessão, o aumento do nosso Amor a Deus e uma abundância de dons e frutos do Espírito Santo em nossas vidas.

Novena completa em formato pdf


[1] O Amor a Maria não permite que o vento da tibieza apague a chama do nosso amor a Deus. São Josemaria no ponto 492 de Caminho nos diz que, ao contrário: “O amor à nossa Mãe será sopro que transforme em lume vivo as brasas de virtude que estão ocultas sob o rescaldo da tua tibieza”.

[2] São Josemaria Escrivá, É Cristo que passa, n.130.

[3] São Josemaria Escrivá, É Cristo que passa, n.135.

Flávio Sampaio