Família Ramírez-Pásara: Alegria na dor e na doença

Enfrentar a dor e a doença não é fácil. Jéssica e sua família têm levado essa situação com sentido sobrenatural desde que sua filha foi diagnosticada com “artrite idiopática juvenil”. Aqui está sua história.

Meu nome é Jéssica Pásara, sou casada há 21 anos com Christian, o amor da minha vida. Ambos somos Supernumerários do Opus Dei e temos dois filhos maravilhosos, Joaquín (Joaco) e Natalia (Nati). Somos peruanos, mas, por motivos de trabalho, estamos morando atualmente em Montevidéu, no Uruguai. Somos cinco pessoas em casa, nós quatro mais a Teresa, que mora conosco e é nosso apoio incondicional.

Nati, de 12 anos, é uma menina alegre, carinhosa, piedosa e corajosa. Ela está sempre sorrindo e ajudando os outros, com amabilidade e empatia. Tem um ótimo senso de humor, canta muito bem, toca piano e faz artesanato. É muito positiva e é nosso exemplo de força: diariamente ela nos dá lições de vida com sua atitude.

Há alguns anos nos Bosque El Olivar de San Isidro (Lima)
Há alguns anos nos Bosque El Olivar de San Isidro (Lima)

Joaquín tem 15 anos e sua maturidade nos impressiona, sempre atento e pronto para ajudar quem precisa... é organizado, persistente, perseverante, engraçado e muito simpático. Não gosta de futebol, mas adora taekwondo, acampar, cinema e literatura. Escreve muito bem, quer ser psicólogo e escritor.

Tudo começou na pandemia

Em novembro de 2020, Nati levou um tombo no colégio e torceu o pé. No pronto-socorro, disseram que era uma entorse, deram-lhe analgésicos, mandaram-na descansar e ela usou muletas por alguns dias, nada sério... apenas um susto.

Depois de um Natal e Ano Novo muito felizes com amigos, o verão de 2021 chegou e passamos o ano com essas mesmas famílias. Aproveitamos muito, mas, quase no final do verão, Nati nos disse que a dor em seu pé não passava, seus joelhos também doíam... Nós a levamos ao hospital, mas, de acordo com os médicos, não era nada grave.

Ela começou a quinta série em março de 2021 e também as aulas de balé, muito animada e feliz. Jogava hóquei e gostava de handebol. Mas, alguns dias depois desse início, teve um outro tombo. Fomos ao pronto-socorro: novamente analgésicos, repouso, muletas etc. Em seguida, as aulas presenciais foram suspensas devido ao aumento de casos de COVID-19.

O repouso foi bom para ela, mas a dor aumentou, assim como a nossa preocupação... ela continuava com as muletas e a dor passou para os quadris, as mãos e até mesmo a mandíbula. Um dia, vimos que seu pescoço se dobrava involuntariamente e fomos parar na emergência pela terceira vez.

Numas férias na Argentina, quando Nati deixou de andar.
Numas férias na Argentina, quando Nati deixou de andar.

Chris e eu começamos uma série de consultas médicas com diferentes traumatologistas e médicos do esporte para descobrir se havia algo mais... e assim uma série de exames foi adicionada: raios X, ressonância magnética, vários estudos. Dois diagnósticos errados e muito desconcerto.

Em 14 de junho de 2021, fiquei muito doente e no dia 15 fui submetida a uma cirurgia de emergência no intestino que se complicou e novamente fui submetida a uma cirurgia de emergência. Sofri muito por não poder estar com meus filhos e ofereci tudo a Deus, pedi para poder estar em casa no dia 5 de julho, aniversário da Nati.

Recebi a unção dos enfermos. Não pude me confessar nem receber a comunhão porque não tinha forças para falar, nem podia receber qualquer alimento; alguns dias depois, milagrosamente, eu me recuperei. Em 29 de junho, tive alta e voltei para casa antes do aniversário da Nati. No longo processo pós-operatório o amor e o cuidado da minha família em casa me restauraram cem por cento. Agradecemos a Deus por essa graça.

Um diagnóstico médico no dia do Senhor dos Milagres

Em julho de 2021, o pediatra suspeitou que as dores e quedas de nossa filha Nati não eram isoladas e nos encaminhou a um reumatologista pediátrico, que solicitou novos testes e exames.

Em 18 de outubro de 2021, o médico nos deu o diagnóstico que há tanto tempo procurávamos para poder tratar apropriadamente. A data não foi coincidência. No Peru, os dias 18 e 28 de outubro são dias centrais de devoção ao Senhor dos Milagres, nosso Cristo roxo. Foi providencial...

Lembro que naquele dia eu tinha uma audiência no trabalho para um caso muito delicado de uma jovem que eu tinha de atender e Chris levou Nati ao reumatologista. Minha audiência durou 6 horas. Nesse meio tempo, Chris me ligou algumas vezes – já era estranho que ele estivesse ligando – eu não podia atender, mas senti que algo estava errado. Insisti para que ele me escrevesse pelo WhatsApp e, assim que pude, li a mensagem: “Nati tem artrite idiopática juvenil” (AIJ). Naquele momento, senti que não conseguia respirar... Pedi ajuda ao Espírito Santo para me concentrar em meu trabalho e fiz isso para poder lidar com o caso da menina que eu tinha em minhas mãos.

Naquela noite, Chris e eu choramos juntos. Sabíamos que isso era apenas o começo... rezamos e deixamos tudo nas mãos de Deus. Nos dias seguintes, passamos pesquisando doenças autoimunes e a AIJ em particular.

Quando seus avós vieram do Peru para visitá-la, Nati parecia bem, sem sintomas externos, mas internamente a dor continuava. Tinha começado um tratamento médico nesse mês. Em especial, ela ficava muito doente aos sábados, quando tinha de tomar remédios muito fortes.

Impulso espiritual diante da doença

Em meados de 2022, a condição de Nati piorou. Disseram-nos que a doença autoimune estava “a pleno vapor”, e ela teve uma distrofia simpático-reflexa no braço direito por três meses, não conseguindo escrever, nem mesmo tocar o braço, porque doía. Também foi diagnosticada com neuropatia.

À noite, nós duas rezávamos juntas a Novena dos doentes a São Josemaria e outras orações, sendo a preferida de Nati a oração da estampa de São Josemaria, que ela sabia de cor. Também cantávamos suas canções favoritas e, quando ela estava sofrendo muito, cantava “If I fell”, dos Beatles, “Eternal Flame”, das The Bangles, e algumas canções para Nossa Senhora.

O poema de Santa Teresa “nada te turbe...” era seu favorito. Também rezávamos outras devoções que amigos compartilhavam conosco (santinhos, livros, medalhas) e logo, muitas pessoas ao nosso redor começaram a rezar por ela.

Em maio passado, participamos da cerimônia de beatificação de Jacinto Vera, o primeiro bispo de Montevidéu
Em maio passado, participamos da cerimônia de beatificação de Jacinto Vera, o primeiro bispo de Montevidéu

Em setembro, fomos para a Argentina, numa tão esperada viagem de férias em família, e, no caminho para lá, Nati ficou muito doente. A partir daquele momento, deixou de andar (está em uma cadeira de rodas até agora).

As dores nas pernas se intensificaram e foram noites de insônia e muito sofrimento..., mas mesmo nessa fase ela não queria parar de ir à escola, se reunia com as amigas, sempre fazia planos... recebeu muito apoio das colegas, amigas e professoras e não desistiu, foi até mesmo na viagem de fim de ano da escola! Christian foi com ela para ajudar nas transferências da cadeiras de rodas e para ficar de prontidão em caso de emergências, pois viajavam para outros estados e as viagens duravam várias horas.

O Natal de 2022 chegou e com ele um grande presente de Deus: viajamos para o Peru depois de três anos. Joaquín e Nati estavam muito felizes, passamos momentos incríveis! Voltamos revigorados. Estar com seus quatro avós, tios, primos e amigos foi restaurador.

Chris e eu continuamos pesquisando e consultando especialistas estrangeiros para encontrar tratamentos que ajudem a nossa filha, para que ela possa voltar a andar. E com cada provação, com cada obstáculo, nossa fé em Deus cresce, nossa esperança se fortalece e nosso amor aumenta.

Como família, essa situação nos uniu tremendamente, não nos falta alegria! E o que mais nos impressiona e comove é o carinho das pessoas ao redor da Nati no Uruguai, de nossos parentes e amigos no Peru e até de outros países. Muita gente rezando, oferecendo ajuda, compartilhando conselhos e experiências... amor sem limites. Tenho muitas coisas para agradecer!

Experimentamos a proximidade das pessoas da Obra de tantos lugares, que se preocupam e rezam por nós. Como filhos de São Josemaria, tentamos viver com uma visão sobrenatural e enfrentar as dificuldades, como a dor e os contratempos da doença, exercitando-nos como família, todos os dias com espírito esportivo e um sorriso, tão típicos da sua personalidade e do seu bom exemplo.

Descobrimos que é possível ser muito feliz na dor e na doença. Vivemos cada dia com alegria e paciência, com normalidade, com naturalidade, sem dramas, “basta a cada dia o seu cuidado”... Nunca nos perguntamos por quê, mas “para quê”... Deus, o Pai, nos pede algo grande ou talvez muitas coisas pequenas; ou ambos... seja o que for, continuamos a confiar e a nos abandonar n’Ele.

Há lágrimas, mas não há tristeza... Há dor, mas não há raiva... Há sofrimento, mas não há desespero... Há cansaço, mas não desistimos....

Rezamos diariamente pela cura de Nati e de todas as crianças doentes. Também rezamos muito por seus médicos, fisioterapeutas, psicólogos, professores, funcionários da escola, amigos e toda a cadeia de pessoas que nos acompanham nesses momentos. Deixamos isso para Aquele que sabe o que é melhor. Nossa Mãe Celestial nos consola e nos abriga e, como Santa Teresa, não nos cansamos de recitar:

“Nada te perturbe, nada te assuste, tudo passa.

Deus não muda. A paciência tudo alcança.

Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta!”