Um evento sobre a encíclica “Fratelli Tutti” em 25 frases

A Sala Álvaro del Portillo da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma, acolheu uma jornada de reflexão sobre a fraternidade universal e a amizade social, centrada na recente encíclica do Papa Francisco.

Além dos presentes, outras 590 pessoas participaram através da internet. A seguir, selecionamos algumas frases das conferências principais. Neste link da universidade é possível acessar o material completo: texto, áudio e vídeo.

Cardenal Miguel Ángel Ayuso

Cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso:

  • O mundo precisa urgentemente de uma resposta efetiva às suas angústias, seus medos, seus estremecimentos. E esta resposta é que “todos somos irmãos”. (...) É a mensagem que o Papa Francisco sustenta valentemente desde o começo de seu pontificado.
  • A encíclica tem um olhar que é o do pai, que faz sair o sol sobre os bons e os maus, é o pai de todos, não somente dos cristãos.
  • A fraternidade é a base sólida para viver a “amizade social” que sabe conjugar os direitos com a responsabilidade pelo bem comum. (...) Trata-se de cultivar a virtude da caridade em todos os níveis, desde a vida pessoal até a política.
  • Uma sociedade fraterna promove a educação no diálogo para superar “o vírus do individualismo”. O Pontífice nos pede que adotemos o diálogo como caminho, a colaboração comum como conduta e o conhecimento mútuo como método e critério.
  • A retidão, a fidelidade, o amor pelo bem comum, a preocupação pelos outros, especialmente pelos necessitados, a benevolência e a misericórdia são elementos que podemos compartilhar com as diferentes religiões.
  • Não existe base para a violência nas convicções religiosas, mas em suas deformações (...) Atos tão execráveis como os do terrorismo não se devem à religião, mas a interpretações errôneas dos textos religiosos, assim como as políticas de fome, pobreza, injustiça e opressão.
  • O “sonho” do Papa Francisco: que os direitos humanos sejam verdadeiramente universais, e que todo homem possa viver em um mundo sem fronteiras.
  • Todos somos corresponsáveis na construção de uma sociedade que saiba incluir, integrar e levantar quem caiu ou quem sofre.
  • O Papa Francisco eleva a relação entre os crentes de diferentes credos a um paradigma de amizade social válido para todos, crentes e não crentes, fazendo da fraternidade o princípio unificador que necessita esta humanidade sofredora.

Maria Aparecida Ferrari

Maria Aparecida Ferrari, professora de ética aplicada na Pontifícia Universidade da Santa Cruz:

  • O nexo entre a fraternidade e o bem comum é uma das novas abordagens oferecidas pela “Fratelli Tutti” (...): nosso próprio bem e o bem comum são gerados e apreciados juntos.
  • Quando um cidadão se relaciona com respeito e reciprocidade, quando exerce a sua profissão ou seus deveres com competência, quando se ocupa de tudo o que é comum... está mostrando a face da fraternidade na esfera sociopolítica; e está configurando o bem comum político em seu sentido mais autêntico.
  • O bem comum político não pode ser reduzido à propriedade de bens úteis, pois o “bem comum” significa, acima de tudo, o bem humano, ou seja, a resposta às exigências fundamentais da dignidade da pessoa.
  • As ações propriamente cívicas e políticas também são um exercício de fraternidade, pois são direcionadas às pessoas. Assim como cada gesto de amor, de cuidado mútuo, é também uma ação cívica e política, porque realmente constrói uma sociedade melhor.
  • O título da parábola é sempre “do Bom Samaritano”; ninguém pensa em chamá-la de “parábola do estalajadeiro” (...), mas o bem comum político é tarefa de todo cidadão, assim como o cuidado do ferido da parábola também é obra do estalajadeiro (e não apenas do Bom Samaritano).
  • A profissão ou ofício é um meio privilegiado de fraternidade social e cívica, uma oportunidade quase ininterrupta de agir com retidão, exercendo a justiça, a solidariedade e a efetiva promoção do bem do próximo.
  • A fraternidade é um requisito da vida política, mesmo em situações em que seria mais cômodo fechar os olhos, por exemplo, quando as questões não afetam direta ou imediatamente a própria vida ou os interesses (...) O Papa Francisco nos encoraja a conjugar o “nós” em vez do “eu”, para alcançar a “caridade política” ou a “caridade social”, entendida como o amadurecimento de um senso de “nós” que supera todo o individualismo.
  • No caminho estabelecido pela “Fratelli Tutti”, a caridade política não anda às cegas, nem depende do impulso de sentimentos mais ou menos benevolentes, mas precisa da luz da verdade que provem tanto da razão quanto da fé.
  • A encíclica agrada a todos: cidadãos comuns, instituições privadas e públicas, estados e organismos internacionais. Trata-se de evitar a polarização que divide e cria distância sem evitar as discussões necessárias. O objetivo comum indispensável é alcançar a “globalização dos direitos humanos mais essenciais”.

Cristian Mendoza

Cristian Mendoza, professor de doutrina social católica na Pontifícia Universidade da Santa Cruz:

  • A sociedade não será economicamente mais rica, mas pode ser mais humana e melhor.
  • A vocação cristã permite superar os limites de pertença à etnia, tribo ou grupo nacional, com importantes consequências para a dinâmica moral dos povos.
  • O lugar de encontro entre nós e Deus é a Cruz de Cristo: aceitar o convite significa sentir compaixão pelos outros (...) Aproximar-se da dor e do sofrimento não é um simples talento ou uma atitude virtuosa. Para os cristãos, é também uma vocação que nos permite vislumbrar o divino através dos eventos da história humana.
  • Perder a oportunidade de se aproximar daqueles que sofrem é perder a oportunidade de descobrir a manifestação de Deus que está presente no silêncio, no abandono, na dor.
  • A qualidade moral de uma cultura se manifesta na maneira e no fim com que os instrumentos disponíveis são utilizados: economia, política, etc.
  • O cristianismo nunca poderá se converter em uma ética socialmente útil, porque não basta mudar de instrumentos, é necessário mudar o homem.
  • Devemos nos tornar caridosos, misericordiosos e irmãos experimentando essas virtudes em um processo constante, até nos tornarmos o que somos: todos irmãos porque somos filhos de um Pai comum.