Estamos sempre presentes na Missa

Nestes dias, temos a oportunidade de voltar a desejar com mais força a Santa Missa, de fazer crescer em nós “um amor apaixonado pela Eucaristia”.

Ao entrar na Catedral de Monreale, há alguns anos, tive a sorte de ouvir uma bela explicação sobre os mosaicos que cobrem as paredes da igreja e que, com grande sabedoria, levam os fiéis a mergulhar no mistério da história da salvação: da porta do paraíso, como foi chamada a porta de entrada da catedral, para a criação de Adão e Eva e, gradualmente, aos grandes eventos do Antigo Testamento que levam a Jesus e aos seus apóstolos, para culminar, em correspondência na abside, com o encontro com Cristo: o Pantocrator, que com o seu olhar e o seu gesto abraça o peregrino que veio prestar a sua homenagem a Deus.

Toda esta maravilha e profusão de perícia artística não é acidental, mas uma escolha muito sábia: no local onde se celebra a liturgia, até as paredes falam do que acontece durante a celebração.

A grandeza da Missa e de todas as celebrações litúrgicas é tal que o que é anunciado se realiza: a salvação prometida por Deus desde a criação do mundo[1], a aliança oferecida aos homens muitas vezes, a esperança em que o próprio Deus ensinou a esperar por meio dos profetas[2], não se realizou só na plenitude dos tempos quando o Filho veio até nós como Salvador, mas acontece no altar sempre que a Igreja celebra os santos mistérios.

Muitas vezes, são precisamente as criações artísticas que nos lembram uma grande verdade: quando o sacerdote sobe ao altar, ele nunca está sozinho, toda a Igreja no céu e na terra está presente naquele momento. Não importa quantas pessoas participam na celebração; naquele momento o céu está rasgado e toda a Igreja apresenta a sua oferta ao Pai, pedindo-lhe que a aceite com o seu olhar sereno e bom e que essa oblação, unida ao sacrifício de Cristo, seja levada ao altar do céu perante a majestade divina, e que a plenitude de todas as graças e bênçãos do céu possa descer sobre todos os homens[3].

É impressionante pensar que a liturgia reúne todos os fiéis de todos os lugares e de todos os tempos: Nossa Senhora, os Apóstolos, os Santos e todos aqueles que já têm a visão beatífica são um só com todos os batizados que lutam e esperam aqui em baixo na terra, imersos na cansativa e esplêndida tarefa de levar o mundo de volta ao Pai. Todos juntos, não importa que estão fisicamente presentes em uma celebração ou se somente se unem pela intenção.

E é ainda mais impressionante pensar que o oferecimento que o corpo místico de Cristo, a Cabeça e os membros juntos, apresenta ao Pai é para o benefício de toda a humanidade. Os crentes, como membros desse Corpo recebem ajuda diretamente d’Ele porque estão enxertados n’Ele, mas aqueles que ainda não conhecem a Cristo, a quem a salvação é oferecida como um dom grandioso e não merecido, também se beneficiam da Missa.

Talvez este momento difícil, em que somos privados da Santa Missa, possa tornar-se uma grande oportunidade para crescer na fé, para pedir ao Senhor que aumente a nossa fé: fé naquele sacramento que desejamos com toda as nossas forças e cujo alcance e poder talvez subestimemos, pois tem uma eficácia infinita mesmo para os que, por razões justas, não podem participar. Fé no Deus que nos criou sem nós e cuja mão não é curta para salvar; nem o seu ouvido é surdo, para não poder ouvir[4].

Fé na Palavra de Deus, que é “eficaz e mais penetrante que qualquer espada de dois gumes” (Hb 4,12): na ausência da Eucaristia, podemos redescobrir a beleza de ouvir a Palavra, da partilha com a família, da meditação.

Desejamos a Missa com todo o coração, e não faltam razões, porque é a Eucaristia que faz a Igreja. Podemos oferecer esse desejo ao Senhor em reparação por todos os momentos em que poderíamos recebê-lo facilmente e não o recebemos; por todas as vezes que o recebemos com distração, considerando a sua presença algo “normal”. Deste modo, poderemos deixar crescer em nós um amor apaixonado pela Eucaristia, purificado de todo o resíduo de orgulho, amor próprio, rebelião diante das circunstâncias que vivemos; um amor que nos levará a desejar recebê-Lo. Oferecer esse desejo será o melhor que podemos fazer para pedir que o tempo de provação seja reduzido.

Pedimos ao Senhor que esse desejo nos leve a vê-Lo nos pequeninos que estão próximos de nós, a ouvi-Lo nos acontecimentos do dia, a descobri-Lo no tabernáculo de uma igreja em que nunca tínhamos reparado.

Pode parecer mais fácil para mim, padre, falar: afinal, continuo a celebrar Missa todos os dias. É bom pensar na grande batalha de Israel contra os amalecitas na planície de Rafidim: Moisés ficou na montanha com as mãos levantadas, acompanhado por Aarão e Hur, enquanto Josué liderava os exércitos de Israel[5]. Nós, sacerdotes, somos agora como Moisés, Aarão e Hur: somos chamados a orar pelas pessoas em batalha. Confiamos no poder da oração e na misericórdia de Deus e confiamos-Lhe o nosso destino, sabendo que Deus não perde batalhas.

Giovanni Zaccaria


[1] Cf. Gen 3,15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”.

[2] Cf. Missal Romano, Oração Eucarística IV

[3] Cf. Missal Romano, Oração Eucarística I

[4] Cf. Is 59,1: “Eis que a mão do Senhor não é curta para salvar; nem o seu ouvido demasiado surdo para ouvir”.

[5] Cf. Ex 17,8-13: “Então os amalecitas vieram combater contra os israelitas em Rafidim. Moisés disse a Josué: ‘Escolhe alguns homens e sai para combater contra os amalecitas. Amanhã estarei de pé no alto da colina com a vara de poder divino na mão’. Josué fez o que Moisés lhe tinha mandado e atacou os amalecitas, enquanto Moisés, Aarão e Hur subiram ao topo da colina. Enquanto mantinha a mão levantada, Israel vencia, mas quando abaixava a mão, vencia Amalec. Como as mãos de Moisés se tornassem pesadas, alguns pegaram uma pedra e a colocaram debaixo dele para que se sentasse. Aarão e Hur, um de cada lado, sustentavam-lhe as mãos. Assim as mãos ficaram firmes até o pôr do sol, e Josué derrotou Amalec e sua gente a fio de espada”.