Está na hora do diálogo pessoal

O que Deus espera nestas circunstâncias de pandemia? Um comportamento totalmente responsável, mas também um recurso a Ele através da oração.

Os bispos italianos acolheram prontamente todas as medidas do governo na campanha de prevenção e contágio do coronavírus, incluindo a de suspender as Missas públicas em toda a Itália. O preceito do Evangelho, “dai a César o que é de César” foi aplicado fielmente. Contudo, sendo cristãos, não nos devemos esquecer de “dar a Deus o que é de Deus”, com a certeza de que a obediência a César dará assim melhores resultados.

não nos devemos esquecer de “dar a Deus o que é de Deus”

E o que Deus espera nestas circunstâncias agora pandêmicas? Um comportamento totalmente responsável, que inclui não apenas a observância das regras estabelecidas pelas autoridades de saúde, traduzidas em leis do Estado, mas também o recurso a Deus, Pai providente, através da oração, bem conscientes de que sem Ele poderemos fazer muito pouco.

A oração mais valiosa é, naturalmente, a Eucaristia, a oração sacrificial de Jesus, o Filho de Deus, que intercede incessantemente por nós. E ela não deixará de ser celebrada em privado, sem povo, tendo como principal intenção as necessidades de uma humanidade atingida pela epidemia do coronavírus.

Fruto da celebração eucarística é a presença real de Jesus no Sacrário. As nossas igrejas permanecem habitadas, são um local não apenas para celebrações da comunidade, mas também para um encontro pessoal com Cristo em forma de Pão: portanto, os bispos recordaram que devem permanecer abertas. E, respeitando as regras estabelecidas pelo governo, será de esperar que a piedade eucarística e, portanto, a vida de fé, saiam fortalecidas. Transformar uma ação necessária em uma ação virtuosa é próprio do cristão que, perante as contrariedades e provações da vida, não se revolta nem se sente frustrado, antes aproveita a oportunidade para amar os desígnios de Deus de modo mais puro e criativo.

a fé e o amor não encontram barreiras para se unirem espiritualmente a Deus

Várias vezes os cristãos se viram impedidos de celebrar ou de participar na Eucaristia, e sempre mostraram que a fé e o amor não encontram barreiras para se unirem espiritualmente a Deus, se dedicarmos o tempo e a atenção necessários a uma oração que pode ser substancialmente eucarística. O Magistério solene da Igreja declarou no Concílio de Trento que “os nossos Padres distinguiram correta e sabiamente três modos de receber a Eucaristia. De fato, ensinaram que alguns recebem este sacramento apenas espiritualmente, como pecadores; outros apenas sacramentalmente, e são aqueles que, comendo esse pão apenas com um ato de desejo, pela fé viva que opera por meio da caridade (Gl 5,6) obtêm o seus frutos e vantagens; os terceiros recebem O Senhor sacramentalmente e também espiritualmente: são aqueles que antes de O receber, se examinam e se preparam de modo a chegarem vestidos com trajes de noivado a esta mesa divina (cf. Mt 22,11 e ss)”.

“Eu quisera, Senhor, receber-Vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e o fervor dos santos”

Muitos são os textos e expressões da comunhão espiritual conhecidos pela Tradição da Igreja. São Josemaria difundiu por todo o mundo um muito breve, aquele que aprendeu com um padre Escolápio que o preparou para receber a primeira comunhão. E diz assim: “Eu quisera, Senhor, receber-Vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e o fervor dos santos”. Esse quisera, dito “com fé viva que opera através da caridade”, exprime um desejo fervoroso de receber a Eucaristia que não é em vão, apesar da consciência da nossa indignidade pessoal.

A comunhão espiritual pode, portanto, ser uma oração frequente que alimenta a piedade eucarística e dá força para levar uma vida coerentemente cristã, feita de serena atenção às necessidades dos outros. Rezar daqui para a frente diante do Sacrário – durante uma pausa em que se revivem os momentos da Missa, se medita a Palavra de Deus e se recitam algumas orações da liturgia eucarística – alimentará especialmente a vida do cristão.

É a hora de redescobrir a importância da oração pessoal na igreja e no “segredo” do nosso quarto

São tempos em que somos chamados a viver com particular responsabilidade pessoal todas as exigências amáveis da vida cristã, intensificar a amizade pessoal, conviver em família com momentos de oração mais íntima e de ajuda mútua, sem nos esquecermos de pedir a ajuda de Deus para os que estão infectados, para os profissionais de saúde e para os que estão na linha de frente, protegendo as pessoas da propagação da pandemia. É a hora de redescobrir a importância da oração pessoal na igreja e no “segredo” do nosso quarto, a hora do apostolado e da pastoral pessoal. Nenhuma passividade ou negligência se justificam.

Reflexão do Pe. Michelangelo Peláez, que mora na Itália.