É possível ser santo

Paola Binetti conheceu são Josemaria na sua juventude e reflete neste artigo sobre a sua capacidade de se comunicar com os jovens e transmitir ideiais.

A relação com os jovens, o amor e a confiança neles caracterizaram a vida do Fundador do Opus Dei que fez da paternidade um traço característico do seu estilo de vida. Descobria em cada pessoa zonas insuspeitadas de potencial santidade e procurava oportunidades de se relacionar com elas. “Que a tua vida não seja uma vida estéril. - Sê útil. - Deixa rasto. - Ilumina com o resplendor da tua fé e do teu amor. Uma aproximação sempre positiva, imediata, direta e comprometedora. O “tu” implícito neste primeiro ponto da mais célebre e difundida das suas obras, Caminho, não deixa indiferente. Tu podes e deves ser útil se deixares no teu trabalho e nas tuas relações sociais uma marca indelével, a marca do teu amor e da tua fé.

A passagem para o plano espiritual era direta e imediata, típica de quem tem o instinto sobrenatural de um formador eficaz e incisivo que aposta numa só coisa: a santidade, porque sabe que a santidade é condição para a felicidade, também no plano humano. “Um pequeno ato, feito por Amor, quanto não vale!”. Alheio a qualquer forma de anonimato, o fundador do Opus Dei fazia com que cada pessoa se sentisse especial e, ao mesmo tempo, despertava-lhe o sentido de responsabilidade.

O fundador do Opus Dei fazia com que cada pessoa se sentisse especial e, ao mesmo tempo, despertava-lhe o sentido de responsabilidade.

Tinha a arte de comunicar com os jovens e com os menos jovens. Traçava um panorama apaixonante, fomentando o sentido heroico da vida, incutindo autoconfiança, com a consciência de que as dificuldades se devem enfrentar sem medo. Neste nosso tempo que corre tão vertiginosamente, barulhento e confuso, propunha que fôssemos contemplativos no meio do mundo, capazes de descobrir a grandeza da vida quotidiana; alegres e generosos mas nunca indiferentes às pequenas e grandes dificuldades dos outros. Quem dele se aproximava tinha a sensação de ter encontrado um Rei Midas, capaz de transformar em ouro os seus propósitos sem vitalidade, as suas inseguranças enraizadas, os seus horizontes estreitos. Queria que os jovens aprendessem a olhar as coisas com os olhos de Deus, a ter visão sobrenatural mas, para isso, recordava que só os puros de coração verão a Deus e recomendava a virtude da pureza como afirmação positiva da capacidade de amar. Depois de uma conversa com ele, tudo adquiria uma perspectiva diferente, mas não porque estimulasse, de modo demagógico, a ambição natural que está latente em cada pessoa. “Tu... da multidão?! Mas, se nasceste para líder!”

Despertava em cada pessoa o orgulho santo de ser filho de Deus, partícipe de uma herança feita de qualidades humanas e sobrenaturais, muitas vezes em estado latente, que esperam só a nossa resposta positiva para se realizarem e darem frutos. Frutos de santidade, conseguida através de uma atitude constante de serviço aos outros, nunca procurada como um mero exercício de perfeição formal ou de autoafirmação vaidosa e calculista. “Persevera no cumprimento exato das obrigações de agora. - Esse trabalho - humilde, monótono, pequeno - é oração plasmada em obras que te preparam para receber a graça do outro trabalho - grande, vasto e profundo - com que sonhas.”

“Queres de verdade ser santo? - Cumpre o pequeno dever de cada momento; faz o que deves e está no que fazes.”

À atitude tipicamente adolescente de quem pretende mudar as coisas sem esforço, e por isso encontra fortes e rápidas desilusões, contrapunha um são realismo: “Queres de verdade ser santo? - Cumpre o pequeno dever de cada momento; faz o que deves e está no que fazes.” Mostrava assim um panorama de extraordinária eficácia educativa: trabalhar nas coisas concretas de cada dia sem perder de vista a sua perspectiva, o seu significado humano e sobrenatural. Mestre sem cátedra, fazia escola sem ter uma escola, sempre acessível a todos, convencido de que a autoridade e a eficácia dependem sobretudo de um interesse genuíno pelas pessoas, pelos seus problemas e do sereno otimismo com que se lhes dá confiança. Não é de admirar que nesta escola se tenham inscrito estudantes de idades tão diferentes, de tantas línguas e culturas: cada um se sente acolhido, compreendido e valorizado, capaz de coisas que nunca pensou poder e saber fazer. Ainda hoje, entre os jovens que se inspiram nos seus ensinamentos, é possível encontrar gestos de heroísmo quotidiano, como aqueles que, nestas férias, gastaram o seu tempo, as suas energias e o seu dinheiro a fim de participarem em iniciativas de voluntariado em África, na América Latina e em países de Leste. Vão onde quer que seja preciso, com paciência e com coragem, com humildade e com alegria e fazem de tudo: reestruturam, constroem, limpam, ensinam inglês ou dão catequese, ensinam música ou artesanato... como tantos outros da sua idade que estão mais próximos da santidade do que o que lhes parece, heróis por acaso, mas com um genuíno amor a Deus e aos outros. Iguais, mas diferentes.

Paola Binetti

Suplemento do Osservatore Romano, 6/10/2002