Fábio nasceu na França há 37 anos. É filho de um pedreiro italiano que emigrou para Paris à procura de trabalho.
Tudo começou quando os seus pais emigraram para França...
Depois de combater na Segunda Guerra Mundial na Albânia e na Rússia, o meu pai regressou à Itália. Vivia em Squinzano, uma pequena aldeia do sul. Eram anos de muita agitação social e ele estava firmemente convencido de que o comunismo acabaria com a pobreza do pós-guerra.
Era e continua a ser um comunista convicto. Os carabinieri revistavam com frequência a sua casa, procurando panfletos e propaganda, face aos rumores de que se preparava uma revolução.
Como não encontrava trabalho emigrou para França e conseguiu um emprego como pedreiro em Argenteuil, perto de Paris. Pouco depois, a minha mãe foi ter com ele. Ela tinha uma educação católica, mas não era praticante. Assim, as idéias que os meus irmãos e eu aprendemos enquanto jovens eram as que ouvíamos do meu pai: justiça social, luta de classes...
E também sentiu-se atraído pelo comunismo…
"Aos 15 anos já tinha lido o Manifesto Comunista e grande parte de “O Capital”, de Karl Marx. Com essa idade me inscrevi, juntamente com a minha irmã mais velha, na Juventude Comunista.
Sim. Aos 15 anos, por exemplo, já tinha lido o Manifesto Comunista e grande parte de “O Capital”, de Karl Marx. Com essa idade me inscrevi, juntamente com a minha irmã mais velha, na Juventude Comunista. Fazíamos parte do grupo da minha cidade, a célula “Ho Chi Min”.
Até à minha entrada na Universidade, fui um membro muito atuante: vendíamos o jornal “L’Humanité”, distribuíamos propaganda, recolhíamos assinaturas de apoio ao partido e para outras causas como, por exemplo, a libertação de Mandela. Recordo que a vitória socialista nas eleições francesas de 1981 foi motivo de uma grande festa em minha casa.
Quais atrativos a ideologia comunista tinha para você?
Sempre me preocupou muito a justiça social e o problema da pobreza, por isso me atraía a luta de classes e a repartição dos bens. No entanto, havia uma coisa que não me convencia: a idéia de que a revolução justificava a violência. Chegavam-nos notícias dos gulag que não me agradavam.
O que pensava da Igreja?
Parecia-me que a sua mensagem era boa, mas não a levava a sério. Desconfiava da Igreja como instituição, ainda que acreditasse em Deus, à minha maneira. Quando a minha mãe faleceu de câncer, por exemplo, a minha irmã disse que jamais poderia acreditar num Deus que levava as pessoas assim. Eu, pelo contrário, disse-lhe que continuava acreditando. Creio que isto a surpreendeu.
Quando começou a ser praticante?
Aos 19 anos, fui para Paris estudar Biologia. No meu grupo de amigos havia um católico praticante: Christophe Borel. Falávamos de tudo, também da fé cristã. Não insistia muito comigo, porque conhecia as minhas idéias. Animava outros, aqueles que se declaravam cristãos, a viver melhor a sua fé. Christophe era supernumerário do Opus Dei.
Um sábado, depois de uma festa em casa de um amigo, perdi o último trem para voltar para casa. Christophe convidou-me a passar a noite no seu apartamento, não deixando de me avisar que no dia seguinte, logo cedo, faria algum barulho, porque queria ir à Missa na Igreja de “La Madeleine”. “Gostaria de ir com você — disse-lhe. Acorde-me também, por favor”. Fi-lo por curiosidade e educação, nada mais.
Nessa mesma noite, vi que Christophe tinha um folheto em sua casa que se intitulava: “Porquê e como confessar-se”, do Padre Romero. Comecei a lê-lo e em poucas horas cheguei ao fim. Na manhã seguinte, concluí que também gostaria de me confessar. Poucos dias mais tarde — numa quinta-feira, recordo-o bem — Christophe apresentou-me a um sacerdote do Opus Dei. A partir daí passei a receber o Sacramento da Penitência quinzenalmente.
E depois?
Comecei a frequentar as atividades culturais e espirituais dirigidas a universitários nesse Centro do Opus Dei. Christophe descortinava-me um mundo desconhecido. Recordo, por exemplo, quando me ensinou a rezar o terço enquanto caminhávamos pelas margens do Sena.
Pouco tempo mais tarde, fiz o propósito de seguir o mesmo plano de vida espiritual de uma pessoa da Obra. Nessa altura já estava noivo e, por isso, solicitei a admissão como supernumerário. No entanto, mais adiante, vi que Deus poderia pedir-me a vida inteira, e em 1992 fui admitido como numerário.
O que descobriu para experimentar essa mudança?
No Cristianismo descobri que é preciso ajudar a todas as pessoas, uma a uma. O comunismo sacrifica a dignidade pessoal em favor da coletividade. Mas cada um é filho de Deus. O mundo mudará quando nos ajudemos, um a um, com caridade. Como vê, não perdi a inquietação pela justiça social e a eliminação da pobreza.
E o que aprendeu no Opus Dei?
Ensinaram-me a fazer oração, a tratar a Deus face a face, e também a fazer apostolado. Quando estava na célula “Ho Chi Min” nos preocupávamos com a expansão do comunismo. Mas era diferente, porque o que queríamos era apoio para o partido. A vida da pessoa que acabava de nos dar a sua assinatura nos era indiferente. O apostolado cristão é outra coisa: Deus nos anima a interessarmo-nos pelos outros, pela sua situação, pelos seus problemas.
Como a sua família reagiu à sua conversão?
Reagiu normalmente; sempre tivemos muita liberdade. A minha irmã mais velha, a mesma com que tinha militado na Juventude Comunista e que mais tarde tinha decidido não acreditar em Deus, não compreendia a minha decisão. “Você não vai casar?”, dizia-me assustada.
"Deus, que me foi guiando na vida como quis, convida-me agora a servir a Igreja como diácono.
E como a vocação é um tesouro que se descobre e se necessita compartilhar com os outros, comecei por ela. Como tínhamos muita confiança, fui-lhe explicando tudo, pouco a pouco... Agora é numerária auxiliar da Obra.
Dentro de poucos dias vai se tornar diácono. Como se sente?
É o primeiro passo para o sacerdócio. Deus, que me foi guiando na vida como quis, convida-me agora a servir a Igreja deste modo. Por isso sinto muito entusiasmo... e muita responsabilidade.