Cuidados a ter com a Criação

"O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo." (Gênesis 2,15)

Velar pelo mundo criado por Deus

Desde o começo da sua criação, o homem teve que trabalhar. Não sou eu que o invento: basta abrir a Sagrada Bíblia nas primeiras páginas para ler que - antes de que o pecado e, como conseqüência dessa ofensa, a morte e as penalidades e misérias entrassem na humanidade - Deus formou Adão com o barro da terra e criou para ele e para a sua descendência este mundo tão belo, ut operaretur et custodiret illum, para que o trabalhasse e guardasse.

Devemos convencer-nos, portanto, de que o trabalho é uma maravilhosa realidade que se nos impõe como uma lei inexorável, e de que todos, de uma maneira ou de outra, lhe estão submetidos, ainda que alguns pretendam fugir-lhe. Aprendei-o bem: esta obrigação não surgiu como uma seqüela do pecado original nem se reduz a um achado dos tempos modernos. Trata-se de um meio necessário que Deus nos confia aqui na terra, dilatando os nossos dias e fazendo-nos participar do seu poder criador.

Amigos de Deus, 57

Na Santa Missa

Quando celebro a Santa Missa apenas com a participação daquele que me ajuda, também aí há povo. Sinto junto de mim todos os católicos, todos os que creem e também os que não creem. Estão presentes todas as criaturas de Deus - a terra, o céu, o mar, e os animais e as plantas -, dando glória ao Senhor da Criação inteira.

Amar a Igreja, cap. 3

Para libertar a Criação da desordem

Não há nada que possa ser alheio ao interesse de Cristo. Falando com profundidade teológica, isto é, se não nos limitamos a uma classificação funcional; falando com rigor, não se pode dizer que haja realidades - boas, nobres ou mesmo indiferentes - que sejam exclusivamente profanas, uma vez que o Verbo de Deus estabeleceu a sua morada entre os filhos dos homens, teve fome e sede, trabalhou com suas mãos, conheceu a amizade e a obediência, experimentou a dor e a morte. Porque em Cristo aprouve ao Pai situar a plenitude de todo o ser, e reconciliar por Ele todas as coisas consigo, restabelecendo a paz entre o céu e a terra, por meio do sangue que derramou na cruz.

Temos que amar o mundo, o trabalho, as realidades humanas. Porque o mundo é bom: foi o pecado de Adão que quebrou a divina harmonia das coisas criadas. Mas Deus Pai enviou seu Filho Unigênito para que restabelecesse a paz; para que, convertidos em filhos por adoção, pudéssemos libertar a criação da desordem e reconciliar todas as coisas com Ele.

É Cristo que passa, 112

A nossa fé ensina que a criação inteira, o movimento da terra e dos astros, as ações retas das criaturas e tudo quanto há de positivo no curso da história, tudo, numa palavra, veio de Deus e para Deus se ordena.

A ação do Espírito Santo pode passar-nos despercebida, porque Deus não nos dá a conhecer seus planos e porque o pecado do homem turva e obscurece os dons divinos. Mas a fé recorda-nos que o Senhor atua constantemente: foi Ele que nos criou e nos conserva o ser; é Ele quem, com a sua graça, conduz a criação inteira para a liberdade da glória dos filhos de Deus.

É Cristo que passa, 130

Para restabelecer a concórdia em toda a criação

Chegada a plenitude dos tempos, Deus Pai enviou ao mundo seu Filho Unigênito para que restabelecesse a paz; para que, redimindo o homem do pecado, adoptionem filiorum reciperemus , fôssemos constituídos filhos de Deus, libertados do jugo do pecado, habilitados a participar na intimidade divina da Trindade. E assim se tornou possível que este homem novo, esta nova enxertia dos filhos de Deus, libertasse toda a criação da desordem, restaurando todas as coisas em Cristo , que nos reconciliou com Deus.

O Senhor chama-nos para que nos aproximemos dEle e desejemos ser como Ele: Sede imitadores de Deus, como filhos muito queridos , colaborando humildemente, mas fervorosamente, com o divino propósito de unir o que se quebrou, de salvar o que se perdeu, de ordenar o que o homem pecador desordenou, de reconduzir o que se extraviou, de restabelecer a divina concórdia em toda a criação.

É Cristo que passa, 65

Responsabilidade pessoal do cristão

O modo de os leigos contribuírem para a santidade e para o apostolado da Igreja consiste na acção livre e responsável no seio das estruturas temporais, aí levando o fermento da mensagem cristã. O testemunho de vida cristã, a palavra que ilumina em nome de Deus e a acção responsável, para servir os outros, contribuindo para a resolução de problemas comuns, são outras tantas manifestações dessa presença através da qual o cristão corrente cumpre a sua missão divina.

Há muitos anos, desde a própria data da fundação do Opus Dei, que medito e tenho feito meditar umas palavras de Cristo que nos relata S. João: et ego, si exaltatus fuero a terra, omnia traham ad meipsum. Cristo, morrendo na Cruz, atrai a Si a criação inteira, e, em seu nome, os cristãos, trabalhando no meio do mundo, hão-de reconciliar todas as coisas com Deus, colocando Cristo no cume de todas as actividades humanas.

Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 59