Cartas inéditas de São Josemaria Escrivá

“Afogar o mal em abundância de bem”: é o espírito das Cartas inéditas de São Josemaria e que agora está disponível em português pela editora Quadrante.

Cinco anos haviam se passado desde o momento fundacional do Opus Dei quando, em abril de 1933, o jovem sacerdote Josemaria Escrivá registrou em seus Apontamentos íntimos o desejo de viver exclusivamente para a Obra, cujo espírito havia vislumbrado após anos pedindo que Deus lhe mostrasse Sua vontade: “Senhor, que eu veja!”

Pouco depois, anotou o propósito de começar a conduzir retiros e meditações aos que se interessavam pela Obra, além de cartas que ajudassem a fixar as ideias expressas ao longo destes encontros. Começou, então, a reunir o vasto material que serviria para a composição de suas trinta e oito Cartas, um conjunto de escritos dedicados aos membros do Opus Dei minuciosamente escrito e revisado pelo fundador, chamado à Glória em 1975, antes de enviá-los para impressão.

Foi só em 2020 que a primeira edição das Cartas, com aquelas de número 1 a 4, chegou às mãos do grande público, em seu idioma original. Agora, os filhos lusófonos de São Josemaria, por intermédio da editora Quadrante, contam também com estas instruções inéditas do Fundador em língua portuguesa.

"A presença de um inédito de São Josemaria Escrivá em nosso catálogo é sempre um privilégio para a Quadrante – um privilégio que vem acompanhado desta responsabilidade de zelar pela obra de um dos principais autores de espiritualidade de nosso tempo", afirma a CEO da Quadrante, Renata Ferlin.

À época do lançamento em espanhol, o historiador Luis Cano, responsável pela edição original, explicou ao site da Obra que a demora na publicação das Cartas, cujo conteúdo abarca um período de mais quase quatro décadas, se deu, sobretudo, em respeito a um desejo do próprio São Josemaria, que queria publicá-las de modo definitivo. Daí seu empenho em corrigi-las e revisá-las até a véspera de sua morte – um trabalho cuja conclusão coube ao Instituto Histórico São Josemaria Escrivá.

Fundado em 2001 por Javier Echevarría, Prelado do Opus Dei à época, o Instituto surgiu da necessidade de analisar rigorosamente os escritos inéditos do santo. Desde então, uma equipe de historiadores – entre eles, o próprio Cano – se debruça sobre a documentação guardada no Arquivo Geral da Prelazia.

"Estudamos (as Cartas) exaustivamente. A primeira tarefa foi comparar bem os manuscritos existentes para ter a certeza de que apresentamos exatamente o texto como São Josemaria queria", afirmou o historiador.

Segundo Cano, outra razão para a demora na publicação foi a ideia de que as Cartas de São Josemaria só interessavam aos membros do Opus Dei, uma impressão contestada pelo estudo minucioso de seu conteúdo. “Em parte, é assim, mas vimos que são textos inspiradores para muitas pessoas, cristãos evidentemente, e até em algumas coisas para não cristãos”, acrescentou o historiador.

"Precisamente em virtude da natureza própria da vocação ao Opus Dei, o horizonte que essas cartas abrem não se limita aos que pertencem à Prelazia, mas a todo batizado que deseja – como deve desejar – estar à altura do chamado à santidade no cotidiano", descreve o diretor editorial da Quadrante, Hugo Langone.

“Afogar o mal em abundância de bem”: o espírito das Cartas

É o próprio São Josemaria quem detalha o espírito destes escritos: são uma "conversa de família"; conceitos que o fundador queria "manter bem precisos e claros" para seus filhos espirituais. Ao lê-las, há de se imaginar um pai, um avô que, entre os cuidados cotidianos, repete uma e outra vez, sempre que tem oportunidade, as lições mais capitais que colheu em vida.

"Por se tratar de cartas voltadas a seus filhos espirituais, palpita nas palavras de São Josemaria um zelo verdadeiramente paterno, em que se mesclam exigências e carinhos, manifestações de firmeza e otimismo", descreve Langone.

A despeito de seu ineditismo, muitos detalhes de Cartas I foram conhecidos pelo público do Opus Dei de forma parcial. Entre a terceira e a quarta carta, por exemplo, o santo por três vezes menciona o adágio esperançoso com o qual animava seus seguidores diante das dificuldades próprias do apostolado secular – e que, até hoje, ecoa nas redes sociais de seus admiradores: “É preciso afogar o mal em abundância de bem”.

Ainda que a escrita espontânea e intimista de São Josemaria dificulte uma sistematização estanque do conteúdo das cartas, há de se reconhecer a mensagem central de cada uma delas: na primeira, o chamado universal à santidade, que deve ser vivido nas agruras do cotidiano; na segunda, a consciência da filiação divina e da presença constante do Cristo em meio às quedas, bem como na busca pelas virtudes. Na terceira e na quarta, o autor retoma sua ode ao trabalho como meio de santificação e à evangelização corajosa e constante.

A julgar pelas palavras do papa Paulo VI ao bem-aventurado Álvaro del Portillo, quando Prelado da Obra, acerca dos escritos inéditos de São Josemaria, a publicação de Cartas I marca o início da revelação de um “tesouro para a Igreja”; um vultoso patrimônio de ânimo e esperança para os dias que correm.

"Contribuiremos para que, na sociedade, se reconheçam os direitos da pessoa humana, da família, da Igreja. Nosso trabalho reduzirá o ódio fratricida e a desconfiança entre os povos, e minhas filhas e meus filhos – fortes in fide, firmes na fé – saberão ungir todas as feridas com a Caridade de Cristo, que é um bálsamo suavíssimo.

Não vos dá alegria que o Senhor tenha querido para o nosso empreendimento sobrenatural esse espírito que palpita no Evangelho, mas que parece tão esquecido no mundo?"

O livro Cartas I está à venda no site da editora Quadrante.