Cartas de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac

Em 1937, quando São Josemaria estava confinado na legação de Honduras, devido à perseguição religiosa ocorrida na 2ª República espanhola, começou uma correspondência “original” com Lola Fisac.

Este artigo, publicado na revista “Studia et Documenta”, explica as circunstâncias da correspondência entre o fundador do Opus Dei e Dolores Fisac, a primeira mulher na qual a chamada ao Opus Dei se consolidou. Também apresenta a tradução das 16 cartas de São Josemaria, com explicações que ajudam a compreender melhor o contexto das cartas.

Cartas de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac (21 de maio de 1937-16 de novembro de 1937)

YOLANDA CAGIGAS OCEJO

Transcrevem-se as dezesseis cartas que São Josemaria escreveu a Dolores Fisac num período de seis meses, de 21 de maio – estando refugiado na Legação de Honduras – até 19 de novembro de 1937, dia em que iniciou a passagem de Barcelona para a França pelos Pirineus. Através dessa correspondência, mantida numa conjuntura especial, Dolores Fisac pediu a admissão no Opus Dei. Trata-se da primeira mulher (depois de Mª Ignacia García Escobar), na qual a chamada ao Opus Dei se consolidou. Com o objetivo de favorecer uma melhor compreensão das cartas, se oferece uma explicação prévia do contexto histórico e se traz informação obtida das cartas escritas por Dolores Fisac e por Isidoro Zorzano, assim como do diário deste último.

Abstract: Transcrevem-se as dezesseis cartas que São Josemaria escreveu a Dolores Fisac num período de seis meses, de 21 de maio – estando refugiado na Legação de Honduras – até 19 de novembro de 1937, dia em que iniciou a passagem de Barcelona para a França pelos Pirineus. Através dessa correspondência, mantida numa conjuntura especial, Dolores Fisac pediu a admissão no Opus Dei. Trata-se da primeira mulher (depois de Mª Ignacia García Escobar), na qual a chamada ao Opus Dei se consolidou. Com o objetivo de favorecer uma melhor compreensão das cartas, se oferece uma explicação prévia do contexto histórico e se traz informação obtida das cartas escritas por Dolores Fisac e por Isidoro Zorzano, assim como do diário deste último.

Palavras-chave: Josemaria Escrivá – Dolores Fisac Serna – Opus Dei – Espanha – Guerra Civil espanhola – 1937

Em 2 de outubro de 1928, Deus tinha feito São Josemaria Escrivá ver o Opus Dei. Em 14 de fevereiro de 1930, uma nova luz divina completava a primeira: também haveria mulheres no Opus Dei[1]. Em 1936, o fundador contava com a decisão de entrega a Deus de um pequeno grupo de homens e com uma residência – DYA – onde realizar apostolado. São Josemaria também tinha conseguido reunir um reduzido número de mulheres; mas o fato é que a chamada ao Opus Dei não se havia solidificado nestas[2] – com exceção de Mª Ignacia García Escobar[3], que depois de anos de doença, tinha falecido em 1933. Seria preciso esperar até 7 de julho de 1937 para que pedisse a admissão uma que perseverasse até o final: Dolores Fisac.

Se já é digno de manifestar o fato de que Dolores Fisac foi a primeira mulher – depois de Mª Ignacia García Escobar, como fica dito – em que a chamada ao Opus Dei se consolidou, a especial conjuntura na qual solicitou a admissão sublinha ainda mais a sua notoriedade. As circunstâncias poderiam ter dissuadido o Fundador de sugerir-lhe a possibilidade de que Deus lhe pedisse uma entrega total à Igreja para fazer o Opus Dei: tais circunstâncias eram a infrutuosa experiência anterior com as mulheres que haviam iniciado este caminho de santidade no meio do mundo, o não conhecer pessoalmente Dolores Fisac e o encontrar-se em meio a uma guerra que fazia que nem ele tivesse liberdade de movimentos, nem ela possibilidade de receber a formação específica do Opus Dei.

O certo é que São Josemaria convidou esta pessoa a propor-se a sua possível chamada para seguir este caminho, o fez por correspondência e na primeira das cartas que lhe enviou; como também foi um fato que Dolores Fisac entendeu que efetivamente esse era o querer de Deus para ela, respondeu afirmativamente, o fez com prontidão e manteve sua decisão até o final de seus dias. Indubitavelmente, é preciso ter em conta que o fundador do Opus Dei tinha uma particular graça de Deus para discernir se uma pessoa havia sido chamada para incorporar-se à Obra. Neste artigo de Studia et Documenta editam-se as cartas que São Josemaria escreveu a Dolores Fisac: desde a primeira, em 21 de maio de 1937, estando refugiado na Legação de Honduras, até a que lhe enviou de Barcelona, no dia em que iniciou a passagem para a França pelos Pirineus, em 19 de novembro desse mesmo ano.

María Dolores Fisac Serna

María Dolores Fisac Serna tinha nascido em Daimiel (Ciudad Real), em 15 de dezembro de 1909. Seu pai, Joaquín Fisac, era farmacêutico[4] e sua mãe, Amparo Serna, dona de casa. No total, o casal havia tido sete filhos, mas três deles tinham falecido pouco depois de nascer e uma quarta, Matilde, morreu aos doze anos. Somente tinham ficado Dolores Fisac, dois irmãos: José – o mais velho – e Miguel, quatro anos mais novo do que ela. A família vivia no nº 14 da central Rua Comércio, próxima da praça principal do povoado e da Câmara Municipal[5]. Dolores Fisac – a quem familiarmente chamavam Lola – tinha realizado estudos primários no colégio Divina Pastora, em Daimiel[6].

Como já se adiantou, Dolores Fisac pediu para fazer parte do Opus Dei em 7 de julho de 1937[7]. Até o fim da Guerra Civil espanhola, permaneceu em Daimiel. A partir de 1940, dedicou sua atividade profissional à administração doméstica de vários centros do Opus Dei, mas logo começou a compatibilizar essa dedicação com a atenção aos seus pais, doentes, dos quais cuidou durante quase trinta anos[8]. Depois de sessenta e oito anos de fidelidade a seu caminho no Opus Dei, faleceu em Madri, em 31 de março de 2005[9].

A primeira pergunta é como São Josemaria ouviu falar de Dolores Fisac. O irmão mais novo dela, Miguel, tinha se mudado para Madri, a fim de estudar Arquitetura na Universidade Central. Ali, sendo residente de DYA, tinha solicitado a admissão no Opus Dei[10]. A primeira vez que Dolores Fisac ouviu falar do fundador foi em setembro de 1935. Ela mesma assim o relatou no testemunho que escreveu para a causa de canonização de Escrivá: “Ouvi falar pela primeira vez do fundador do Opus Dei no dia 22 de setembro de 1935. Ia ser operada e o meu irmão Miguel me disse: Não tenhas medo porque um sacerdote vai celebrar a Santa Missa por ti e não te acontecerá nada. Chama-se padre Josemaria Escrivá e é o Fundador do Opus Dei”[11].

Tendo conhecimento de como São Josemaria atuou em outras ocasiões[12], é fácil imaginá-lo prolongando no tempo e em seu objetivo, sua oração por Dolores Fisac, transcendendo essa operação. Além disso, cabe supor que Miguel Fisac falaria da sua irmã a São Josemaria em outras ocasiões; não seria estranho que, buscando mulheres que pudessem ser chamadas por Deus ao Opus Dei, o fundador tivesse perguntado aos membros varões sobre suas irmãs.

Esconderijos de guerra

Como é sabido, a Guerra Civil dividiu a Espanha em duas: a republicana e a nacional. Em 18 de julho de 1936, uma parte do exército se sublevou contra os que, depois das eleições de fevereiro, constituíam o governo da II República, uma aliança de esquerda denominada Frente Popular. Na zona controlada pelas autoridades republicanas produziu-se uma duríssima perseguição religiosa que Cárcel Ortí qualificou como a maior da história[13].

Em julho de 1936, a eclosão da Guerra Civil surpreendeu Miguel Fisac em seu povoado natal, Daimiel. Tinha ido ali para passar uns dias com a família depois de ter finalizado o ano acadêmico e permaneceu escondido até o final de outubro de 1937[14]. Como aconteceu a Fisac, o começo da guerra surpreendeu outros membros do Opus Dei em diferentes províncias espanholas; por exemplo: Pedro Casciaro estava com a sua família em Torrevieja (Alicante); Francisco Botella e Ricardo Fernández Vallespín se encontravam em Valência, dispostos a instalar o primeiro centro do Opus Dei na referida cidade[15]. Todas essas províncias – Madri, Alicante e Valência – como Ciudad Real, eram republicanas.

1. Carmuca Canals, Quica Burgos, Lola Fisac e Maria Carmen Sánchez Merino, 25/10/1972 _ 2. Lola Fisac _ 3. Miguel Fisac no seu esconderijo em Daimiel

Por sua condição sacerdotal, São Josemaria corria perigo de morte. Diante da casa da sua mãe, os milicianos tinham enforcado um homem que se parecia com ele, confundindo-o com ele[16]. Segundo Antonio Montero, dos 4.184 sacerdotes seculares assassinados, 1.118 – 27% – pertenciam à diocese de Madrid-Alcalá[17]. Nos primeiros dias de julho de 1936, a Residência DYA tinha se mudado, na mesma rua Ferraz, do nº 50 para o 16, muito perto do Quartel de la Montaña[18]. Na manhã de 20 de julho de 1936, São Josemaria deixou a Residência e foi para a casa de sua mãe. Em 8 de agosto teve de ir-se dali, por se tratar de um lugar pouco seguro e, durante dois meses, hospedou-se em quatro lugares diferentes, até que, em 7 de outubro escondeu-se no sanatório do Dr. Suils, um pequeno manicômio, propriedade do filho de uma família de Logronho conhecida de Escrivá, onde permaneceu cinco meses[19].

Durante a Guerra Civil muitas embaixadas e outras sedes diplomáticas acolheram um grande número de refugiados, salvando assim a vida a mais de quinze mil pessoas[20]. O fundador do Opus Dei, que teve de abandonar o citado sanatório, encontrou asilo na Legação de Honduras, em 14 de março de 1937. Além de José María González Barredo, que tinha sido o primeiro a esconder-se ali, outros três membros do Opus Dei viveram no mesmo lugar: Álvaro del Portillo, Juan Jiménez Vargas e Eduardo Alastrué, bem como o irmão caçula do fundador, Santiago Escrivá.

A Legação de Honduras não tinha o status de embaixada; era algo parecido com um simples consulado. Se as embaixadas não eram totalmente seguras, tal como tinham sido postos em evidência os despejos e invasões que várias delas tinham sofrido, menor segurança ainda podia oferecer uma legação. Contudo, de um modo similar ao que havia sucedido nalgumas embaixadas, existia a possibilidade de que o cônsul – Pedro Jaime Matheu Salazar – conseguisse evacuar da Espanha a todos os refugiados que estavam em suas dependências, mediante canais diplomáticos.

A Legação ocupava dois andares de um edifício situado no nº 51 duplicado do passeio da Castellana. Nela se alojavam quase cem pessoas. No princípio, os seis refugiados estavam dispersos, mas por meados de maio, o cônsul lhes facilitou um aposento de uns dez metros quadrados[21]. Eduardo Alastrué escreveu um eloquente testemunho sobre o ambiente geral que havia na Legação[22]. Nessas circunstâncias, São Josemaria celebrava Missa diariamente e deixava reservado o Santíssimo Sacramento numa carteira que se revezavam para guardar[23]. O fundador “via a estadia dos membros da Obra na Legação não como um intervalo sem sentido, mas como uma oportunidade de desenvolver a sua vida interior de oração e sacrifício”[24].

Uma correspondência singular

Isidoro Zorzano – da mesma idade que Escrivá – era o mais antigo dos fiéis do Opus Dei e, devido à sua condição de argentino, era o único que podia circular com relativa liberdade por Madri[25]. Estas circunstâncias fizeram que, durante esse tempo, se convertesse num homem chave para manter a comunicação entre o fundador e os outros membros do Opus Dei que estavam em Madri, ou disseminados por diferentes províncias espanholas. Como já se disse, um destes era Miguel Fisac, que estava escondido em Daimiel.

Zorzano ia à Legação todas as vezes que lhe permitiam[26]; ali – ainda que nem sempre conseguisse ver São Josemaria[27]– trocava correspondência com ele[28]. Depois, Zorzano escrevia aos membros do Opus Dei, transmitindo-lhes as notícias de uns e outros e, em muitas ocasiões, enviava-lhes cartas que São Josemaria tinha escrito para eles, alentando desse modo a sua vida espiritual. O contexto de perseguição religiosa obrigava a escrever numa linguagem cifrada, que possibilitasse passar na censura existente e não colocar ninguém em perigo. Assim, Dom Manuel ou Manolo era nosso Senhor Jesus Cristo, el abuelo ou Mariano era o fundador, ir com José Ramón era passar da zona republicana para a nacional, Dª María era Nossa Senhora, etc.

Em março de 1937, Isidoro Zorzano tinha começado a elaborar um diário; nele – com frequência variável – escrevia breves anotações sobre toda a sua atividade. Em 16 de maio de 1937 escreveu: “Paco [Francisco Botella] nos diz que Enrique [Espinós] foi saudar a família de Miguel [Fisac]”[29]. Dois dias depois, tornou a escrever: “Paco nos fala de que Enrique voltou e lhe contou o encontro com a irmã de Miguel”[30]. Finalmente, a 20 de maio anotou: “Houve uma carta da irmã de Fisac; já temos o controle de todos os ausentes; anuncia o envio de comestíveis diariamente”[31]. Assim começou uma singular correspondência, através da qual, e de modo imediato, restabeleceu-se a comunicação entre Miguel Fisac e o resto dos membros do Opus Dei. A situação excepcional fez que a correspondência entre Miguel Fisac e Isidoro Zorzano ou Francisco Botella se realizasse através da irmã, usando, além disso, um tom familiar infrequente entre varões e mulheres do Opus Dei. Em seu testemunho, Dolores Fisac escreveu:

Durante a guerra civil espanhola, meu irmão, que estava escondido na zona ocupada pelos comunistas, recebia cartas do Padre e de outros sócios da Obra. Estas cartas eram mandadas em meu nome e eu copiava a resposta de um rascunho que ele me entregava, e do qual não entendia absolutamente nada. As cartas que recebia em meu nome, dava-as a meu irmão sem abrir. Em maio de 1937, Miguel me disse: Toma, esta carta é para ti[32].

Em 2 de abril de 1937, Dolores Fisac escreveu uma carta a Francisco Botella, que estava em Valência; respondendo a um cartão que este havia enviado a Daimiel, dizia-lhe que esperava continuar recebendo notícias suas[33]. A essa primeira, seguiu-se imediatamente outra carta, com a qual Dolores Fisac respondia a outro cartão[34]. Em 11 de maio, Enrique Espinós[35] foi a Daimiel para ver Miguel Fisac. No dia seguinte, Dolores Fisac tornou a escrever a Francisco Botella aludindo a essa breve visita. Nessa mesma carta, com preocupação por São Josemaria e todos os de Madri, expôs-lhe seu desejo de tentar enviar-lhes alimentos com frequência: “Pensamos que, como os pacotes com comestíveis, que se mandam daqui a Madri, chegam bastante bem, se tu nos mandas os endereços, poderíamos mandá-los ao velho diariamente; se isto parece bem, responde logo para não perder tempo”[36]. Passados poucos dias, em 17 de maio de 1937, Dolores Fisac escrevia a Zorzano: “Estimado amigo: Com esta data, em pacote postal, enviamos um quilo com comestíveis. Continuaremos fazendo-o diariamente, esperando que escrevais logo que começardes a recebê-los e nos digais também que coisas são as que mais vos interessam que mandemos e se há algum outro procedimento de envio de maior rapidez ou de mais segurança. Lembramos sempre de teu pai e irmãos e nos alegramos muito de que vos encontreis todos bem. Recebei todas as saudações desta família. Suponho que vos lembrareis de meu endereço. Lola. Dolores Fisac Serna. Comercio 14. Daimiel (Ciudad Real)”[37]

Os envios de mantimentos

Em 1930, Daimiel tinha uma população de 18.434 habitantes e a agricultura era sua principal atividade econômica[38]. Em 1932, Ciudad Real ocupava a oitava posição na produção agrícola espanhola[39]. Durante os primeiros meses da Guerra, na zona republicana havia mais população e, além disso, concentrada nos grandes núcleos urbanos, enquanto a outra zona contava com as grandes regiões agrícolas. Nessa conjuntura, uma província como Ciudad Real, rica em produtos agrícolas, com baixa densidade de população e pouca população urbana, tinha que desempenhar um papel econômico destacado durante toda a Guerra na retaguarda republicana[40]. Muito diferente era o panorama em Madri, onde pouco depois de ter começado a guerra, o abastecimento se converteu num dos principais problemas[41].

Os primeiros meses de guerra foram de euforia na província de Ciudad Real. Em todos os seus povoados faziam-se coletas de mantimentos, que mandavam às milícias e a Madri. Ao mesmo tempo, em alguns pontos da província começaram a escassear produtos que saiam sem nenhum controle. Alía Miranda indica que logo o governador civil teve que intervir, dirigindo, em 28 de agosto de 1936, um telegrama a todos os prefeitos, em que lhes dizia: “Com a finalidade de conter e regulamentar a saída de víveres desta província, que em forma caótica se está verificando sem controle de nenhum tipo, proíbe-se terminantemente que saia nenhuma expedição, sob nenhum conceito, sem que esteja devidamente autorizada por este Governo, ou solicitada oficialmente pelo Serviço de Intendência para abastecimento das tropas leais”[42]. Esse mesmo autor anota que em Daimiel, em março de 1937, começou a faltar farinha e, no final do ano, o pão que se fabricava era unicamente o denominado moreno. Em 1938, a escassez de determinados artigos foi generalizada[43].

Nessas circunstâncias, Dolores Fisac empreendeu o envio de comestíveis. O primeiro pacote chegou a Zorzano em 22 de maio; o segundo quatro dias mais tarde e, ato contínuo, escreveu a Fisac: “Agradecemos infinitamente, pois quase devemos comer por correspondência, por não dispormos aqui de nada”[44]. Esses dois primeiros envios de comestíveis eram pacotes postais de 1kg[45]; a partir de 1 de junho, começou a enviar pacotes por trem, de 5 kg, na maioria das vezes, e de 10kg em outras ocasiones[46]. Nas cartas a Zorzano, Fisac acrescentava um recibo para que ele pudesse recolher o que ela mandava[47].

De 22 de maio a 7 de dezembro de 1937, Isidoro Zorzano confirmou a Dolores Fisac, em dezenove ocasiões, que havia recebido pacotes de comestíveis; porém não se pode concluir por isso que os envios fossem fáceis e constantes. Em sua segunda carta a Zorzano, escrita em 21 de maio de 1937, Fisac explicava: “Não mandamos o que queremos, mas o que podemos, pois aqui faltam muitas coisas, e outras, como demoram tempo, chegariam alteradas”[48]. Logo, a 11 de junho, teve de dizer-lhe: “As coisas que mandamos vão escasseando e teremos que ir mudando por outras novas; dizer as que convêm ou não repetir”[49]. Três meses depois, não seria possível realizar nenhum envio. A última vez em que pôde enviar um pacote de Daimiel foi em 2 de setembro[50]; no dia 8 explicou: “Não podemos mandar o pacote de costume, que já tínhamos preparado, pois não aceitam envio de comestíveis no trem”[51]; algo que teve de repetir em suas cartas até 6 de outubro[52], data na qual, graças ao seu empenho, conseguiu fazer um envio de Ciudad Real: “A proibição de expedições continua e não parece que será fácil que a levantem por ora. Contudo, D. Manuel nos proporcionou uma ocasião e, pela estação de Ciudad Real, um amigo conseguiu enviar da forma acostumada”[53].

Também por esse conduto, conseguiu mandar um pacote nos dias 20 e 30 de outubro e no 10 e 15 de novembro, mas em 5 de dezembro, escrevia: “O pacote que te anunciava foi levado a Ciudad Real, mas tiveram de voltar com ele porque não admitiam envios, esperamos que dizem [sic] levantarão a proibição para tornar a enviá-lo”[54].

De algumas anotações que Isidoro Zorzano fez em seu diário, se pode deduzir que Dolores Fisac enviava as cartas através de Franciso Botella, que – como se anotou – estava em Valência[55]. Contudo, parece que os pacotes eram enviados diretamente a Madri[56]. A correspondência entre Dolores Fisac e Isidoro Zorzano foi bastante fluida. Entre 17 de maio e 7 de dezembro de 1937, Fisac escreveu a Zorzano trinta e oito cartas. Durante esse mesmo período, as que Zorzano lhe remeteu foram vinte e nove[57]. Em sete ocasiões, junto com a sua carta, Isidoro Zorzano acrescentou uma carta de São Josemaria. Em suas cartas, além de acusar recebimento das de Dolores Fisac, agradecer os seus envios, fazer petições concretas a respeito, difundir as notícias sobre o fundador e os outros membros do Opus Dei, Zorzano também alentava espiritualmente os dois irmãos.

A passagem de uma zona a outra

Como se observou, as esperanças iniciais dos refugiados estavam postas em que o cônsul da Legação de Honduras conseguisse evacuá-los. Contudo, as referidas esperanças foram se frustrando à medida que o tempo passava. Não por isso deixaram de tentar constantemente novas gestões; cada uma alimentava as suas expectativas, mas junto com os fracassos sucediam-se as desilusões. São Josemaria estava desejoso de abandonar a Legação e buscar uma situação de liberdade que lhe permitisse exercer o seu ministério sacerdotal e continuar desenvolvendo o Opus Dei. Em 21 de agosto de 1937, por segunda vez em seu diário, Zorzano deixou constância dessa determinação: ”Deseja sair da L.[Legação] o quanto antes”[58].

No verão de 1937, parecia já ter passado o pior da perseguição religiosa na zona republicana. Então, o fundador saiu à rua em três ocasiões, nos dias 31 de julho e 10 e 11 de agosto”[59]. No final de agosto, o cônsul de Honduras entregou-lhe documentos que o credenciavam como intendente da Legação e uma pequena bandeira do país, para que ele pudesse mostrá-la em sua lapela. Assim equipado, na terça-feira 31 de agosto mudou-se para um quarto alugado na rua Ayala nº 67, 4º esquerda[60]. A 3 de setembro, com a recomendação do cônsul de Honduras, Juan Jiménez Vargas conseguiu documentos similares do consulado do Panamá e pôde reunir-se com o fundador[61].

Depois da nomeação de intendente, com a desculpa de conseguir víveres para a Legação, São Josemaria planejou ir a Daimiel para ver os dois irmãos Fisac e levar-lhes a Eucaristia. Apesar de que não foi possível realizar a viagem, esse projeto é mais uma mostra da preocupação de Escrivá por atender espiritualmente os membros do Opus Dei. Durante sua estadia na rua Ayala, fez o possível para ver a todos, continuar com as atividades apostólicas e oferecer os seus serviços sacerdotais a todos os tipos de pessoas, conhecidas ou não, sem se importar com o risco que a sua própria vida corria[62].

A solução para passar da zona republicana à nacional chegou através de uma notícia da família de José María Albareda[63]. Este soube que o seu irmão e a sua cunhada tinham conseguido chegar à França desde Barcelona, cruzando os Pirineus, com a ajuda de pessoas que conheciam bem os montes; homens que, em tempos de paz, eram contrabandistas e, durante a guerra, ganhavam a vida conduzindo fugitivos para o outro lado da fronteira. Em 11 de setembro de 1937, Zorzano anotou: “Ricardo [Juan Jiménez Vargas] trouxe uma carta que Alv.[Albareda] recebeu de sua mãe, dizendo-lhe para ir a Barcelona com licença, pois têm meios de poder ir com José Ramón [passar à zona nacional]. Ricardo pensou que o P.[o Padre, São Josemaria] vá também e eu também acho que ele devia ir. Mateo [Manuel Sainz de los Terreros] e Marcos[Miguel Bañón] também concordaram”[64].

Os membros do Opus Dei urgiam ao fundador a passar para a zona nacional. Ainda que compreendesse a conveniência de o fazer, São Josemaria se debatia na dúvida, pensando nos membros da Obra que ficariam em precária situação, bem como em sua mãe e irmãos: temia que a sua partida fosse uma falta de cumprimento dos seus deveres como fundador e para com sua família. Finalmente, em 6 de outubro de 1937, Jiménez Vargas partiu para Valência, entrando num caminhão de vinho. Pouco depois, Escrivá, Albareda, Sainz de los Terreros e Alvira conseguiram um carro e gasolina suficiente para chegar a Valência em 8 de outubro. Depois de estar com Casciaro e Botella em Valência – e combinar que lhes avisariam se encontrassem o meio de cruzar para a outra zona – os cinco tomaram o trem noturno para Barcelona. Ali estabeleceram relações com Mateo el lechero, um guia que ficou de organizar a travessia até Andorra; dali podiam facilmente cruzar para a França e chegar à zona nacional. Poucos dias depois, em 19 de outubro, Isidoro escreveu a Dolores Fisac: “Como o avô quer que os pequenos que estão aqui e os de Valência o acompanhem, estamos dispondo o necessário para que vão reunir-se com o avô no momento que nos indicar. Acho conveniente que os pequenos Miguelín [Fisac] e Rafael [Calvo Serer] também vão”[65].

Em 25 de outubro de 1937, Zorzano voltou a escrever a Fisac: “Não sei se vos disse em minha anterior que o avô tinha chamado Periquito [Pedro Casciaro] a Barcelona. Em seu regresso escreveu-me, contando as impressões do avô e as suas; por agora não quer que saiam seus pequenos de Madri, pois por ali não há acomodação suficiente”[66]. Entretanto, nesse mesmo dia, 25 de outubro, Juan Jiménez Vargas foi a Valência para convidar Pedro Casciaro e Francisco Botella a unirem-se ao grupo. Enquanto esperavam que Casciaro acabasse de cumprir sua pena – havia desertado quando São Josemaria o chamou[67] – com grande decisão Jiménez Vargas foi a Daimiel para buscar Miguel Fisac. Em 31 de outubro, Casciaro, depois da prisão militar, tornou a desertar e, ao meio-dia, com Botella, Fisac e Jiménez Vargas, saiu para Barcelona; chegaram todos tarde na noite de 1 de novembro.

Tinham planejado inicialmente ficar em Barcelona somente poucos dias, mas as tratativas com os guias levaram muito mais tempo do que o esperado. Depois, quando parecia que tudo estava combinado, houve um novo atraso devido às inundações que as chuvas torrenciais tinham provocado na zona das montanhas que deviam cruzar. Finalmente, saíram em 19 de novembro de 1937. Nesse mesmo dia, São Josemaria escreveu a Dolores Fisac. Foi a última das dezesseis cartas que agora se editam.

Ao amanhecer de 2 de dezembro de 1937 alcançaram Andorra[68]. Ao pôr do sol de 11 de dezembro chegaram a Saint-Jean-de-Luz, e, nessa mesma noite, entraram na zona nacional. Após uma estadia em Pamplona, de 8 de janeiro de 1938 até o final da guerra, São Josemaria residiu em Burgos[69].

Yolanda Cagigas Ocejo, estudou Geografia e História na Universidade de Valladolid e é doutora em História pela Universidade de Navarra. Além de diversos artigos, publicou a monografia La revista Vida Nueva (1967-1976). Un proyecto de renovación en tiempos de crisis, Pamplona, Universidad de Navarra, 2007. Master em Arquivologia pela Universidade de Sevilha, desde o ano 2005 é a Diretora do Arquivo Geral da Universidade de Navarra. E-mail: ycagigas@unav.es.

EDIÇÃO DAS CARTAS

A seguir transcrevem-se as dezesseis cartas que São Josemaria escreveu a Dolores Fisac de 21 de maio a 16 de novembro de 1937. Para facilitar a compreensão, nas notas de rodapé – entre outros esclarecimentos – traz-se a informação obtida das cartas escritas por Dolores Fisac e por Isidoro Zorzano, bem como do diário deste último.

3 cartas de São Josemaria a Lola Fisac

Da Legação de Honduras, de 21 de maio a 22 de agosto de 1937, São Josemaria escreveu a Fisac em sete ocasiões; da rua Ayala – também em Madri – de 31 de agosto até o final de outubro, enviou-lhe cinco cartas; e quatro de Barcelona, de 2 a 19 de novembro[70]. Como já se disse, as sete cartas escritas da Legação de Honduras foram enviadas por Isidoro Zorzano juntamente com as cartas que ele escreveu a Dolores Fisac. Disso há certeza, pois Zorzano costumava anotar: “O avô te põe umas linhas na página adjunta[71], coisa que não ocorre com as que o fundador escreveu durante sua estadia na rua Ayala, o que induz a pensar que enviou diretamente essas cinco. Não há dúvida que assim o fez com as escritas de Barcelona, cartões postais com selo e carimbos.

Tanto as cartas de Isidoro Zorzano como as de São Josemaria iam explicitamente dirigidas a Dolores Fisac; não podia ser de outro modo, porque Miguel Fisac estava escondido. Mas, quem era o verdadeiro destinatário? Já se viu como, em seu testemunho, Dolores Fisac explicava que as cartas eram para Miguel Fisac e que, em maio de 1937, o seu irmão lhe havia dito: “Esta carta é para ti”. Parece possível distinguir, numa mesma missiva, umas mensagens para Dolores Fisac, outras para Miguel Fisac e outras para ambos; depois de realizar uma leitura contextualizada das cartas, penso que as mensagens que predominavam eram as primeiras e as terceiras.

n.1. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel], Madri [Legação de Honduras], 21 de maio de 1937[72]

(1)

Para Daimiel

Com que alegria li as tuas linhas, Lola! Sabei que nunca vos esqueço, como não esqueço toda a vossa família.

Ah! E que eu gostaria muito de que chegasses a ser minha neta!

Vosso

Mariano[73]

Madri – 21 – Maio – 937

n.2. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel], Tegucigalpa [Legação de Honduras], 1 de julho de 1937[74]

(2)[75]

Do avô, para Lola, de Tegucigalpa!, em 1 de julho, véspera do onomástico de minha Mãe[76] – 1937 –

Muito querida pequena:

Se visses como agradeço as tuas reiteradas atenções! – Vamos, vamos: é impossível que Manolo não faça com que te enamores dele, para cumprires o meu desejo, cada dia mais eficaz, de que faças parte de minha família. – Acredita que o espero. – E, perdoa-me que te fale com tanta franqueza, são os anos..., e o carinho que sinto por todos vós! – Estou perdoado, não?

Já vos contaram que meu filho Pepe se foi, – antecipando- se – à casa de D. Manuel[77]. Que sorte! Foi notícia agridoce: lágrimas e paz. Foi uma peça que o rapaz me pregou, mas, desde lá quanto e que bem olhará pelo negócio que nossa família leva entre as mãos! Nós, todos os outros, devemos cansar-nos e trabalhar muitos anos, sem pensar no descanso..., só, como uma esperança, nos momentos duros, que não hão de faltar.

É possível que Josemaria e Jeannot[78] partam logo com José Ramón[79]. É assunto de interesse. Por que não escreves sobre isto a D. Manuel?

Pequenos: que vos conserveis fortes e contentes.

Vos quer

Mariano

Quando vires meu pequeno[80] diz-lhe que esteja tranquilo e contente: que não tenha nenhuma preocupação: e que Manolo e eu estamos satisfeitíssimos com ele e amando-o muito[81].

n. 3. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel], Madri [Legação de Honduras], 14 de julho de 1937[82]

(4)

Para Lola [83]

Minha querida pequena:

A D. Manuel encarrego que vos dê, com os agradecimentos, por vossas atenções, um abraço muito forte.

Não vos esqueço nenhum dia, e espero que também não me esquecereis. Toda minha família, bem. Vê-se que Pepe se preocupa por todos[84].

Quando sairá Josemaria com José Ramón? Ninguém sabe! Parece o conto no nunca acabar. – Entretanto, creio que logo se conseguirá que o cônsul de seu país o inclua nalguma expedição de evacuados[85].

Que vos conserveis bons e saudeis carinhosamente a Dª María de los Dolores[86], de parte de vosso avô

Mariano

Quarta-feira – 14 – de julho – 1937

Anda, pequena: estou encantado de chamar-te neta[87].

n. 4. Carta de Josemaria a Dolores Fisac [Daimiel], Madri [Legação de Honduras], 25 de julho de 1937[88]

Muito querida Lola:

Apenas quatro letras de saudação. D. Manuel e eu te agradecemos tudo que fazes, tão generosamente, por nós.

Paquito me escreveu de Valência, e me conta que recebeu uma carta do pequeno[89]. Ao mais velho, faz aproximadamente um ano, recebi-o em minha casa do 16[90] e teve comigo longas confidências. Depois, não soube mais de meu xará, embora tenha perguntado muito por ele. Deixei-o com muito boa saúde. Diz-me o que souberes.-[91]

A saída de Josemaria? Quem sabe! Se D. Manuel, que é tão influente, não a arruma com o cônsul de seu país, vai demorar. Já te tinha dito antes que é o conto do nunca acabar[92].

Saúda carinhosamente a Dª María[93] e a toda essa querida família.

Teu avô

Mariano

Domingo – 25 – santo – 1937

n. 5. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel], Madri [Legação de Honduras], 5 de agosto de 1937[94]

(3)

Para a minha neta Lola[95]

Querida menina: o vovô, com teus presentes vai cair na gula. Não te digo mais nada. Como são gostosos, os “sequilhos”! Até Jeannot lambe os dedos..., com o seu grande narigão doutoral. – Dom Manuel... Calo-me. – Só uma pergunta: como vai esse enamorar-te? E outra: é de verdade, de verdade que o preferes a todos e queres – com querer eficaz – fazer parte da família deste avô?------- Perdoa-me, menina: os velhos somos tão “perguntões”! Além disso penso que já te haverão dito que Mariano é amicíssimo de que lhe façam confidências: e, em particular, confidências de Amor. ----Imagino que, para responder, ficarás corada. Como eu não o vou ver, pouco importa! Além disso tens um recurso: Dizer-me: “avô, à sua pergunta, respondo que sim”. Francamente, Loli, não me cabe na cabeça que seja não. De modo que..., já sabes: espero que comecem as tuas confidências.

Quando falo com Manolo, lembro-lhe os teus pais e toda a tua família. Isto todos os dias. Mas, se te nomeio a ti, sempre lhe digo o mesmo: de ti depende exclusivamente tornar realidade as nossas conversas. Ah! Não me esqueças de que na minha casa há muito trabalho e trabalho duro: de pedra de cantaria: é o começo, os alicerces. No entanto, também há uma coisa que não se encontra em nenhum outro lugar: a alegria e a paz; numa palavra: a felicidade. ----- Bom, por hoje termino[96].

Carinhosos abraços para os teus pais e não te esqueças do teu avô

Mariano

Quinta-feira, 5-VIII- 937

[Na margem da primeira página] Sinto que meu Amigo demore tanto em ir saudar-vos. Tende muita tranquilidade. Não a percais por nada porque eu sei que Ele vos quer a todos muito de verdade[97].

N. 6. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel], Madri [Legação de Honduras], 13 de agosto de 1937[98]

(5)

Para Lola[99]

Somente duas letras, querida pequena, para tornar a agradecer-te os teus obséquios e para dizer-te que, quando diariamente estreito as mãos de D. Manuel[100], (amanhã lhe farei visita solene[101]---, com meu macacão azul, propriedade, por certo, do meu neto Chiqui[102]), sempre o azucrinarei até conseguir que vá fazer-vos uma visita. Creio que o conseguirei[103].----- Enquanto isso, deve bastar-vos o inegável e seguro carinho que vos tem. ----

Vos abraça, a todos, este pobre avô

Mariano

Madri – 13-VIII-937[104]

n.7. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel], Madri [Legação de Honduras], 22 de agosto de 1937[105]

Para Lola[106]

Muito querida pequena:

Alegrou-me deveras tua última carta[107]. Mais, evidentemente, do que o presunto: e isso que o presunto – me perguntas e te respondo – é o mais saboroso que pudemos comer nestas latitudes. Agradecidíssimo. Agora, conto em segredo, que toca a mim o pôr-me corado: não há direito de viver às custas alheias, como eu faço. Enfim... Dom Manuel é bom pagador.

Contudo, não quero abusar: já fizeste demasiado por este pobre avô[108]. Saúda carinhosamente os teus e recebe um abraço de

Mariano

22-VIII – 937[109]

n.8. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel], Madri [rua Ayala], 31 de agosto de 1937[110]

31-VIII-937

Querida neta: comunico-te que meu irmão Josemaria foi nomeado “Intendente” do Consulado Geral de Honduras. Naturalmente, tem a seu cargo o aprisionamento do Consulado. E pensa que, se aí lhe proporcionassem, em quantidade, feijões, grãos de bico, lentilhas, azeite, farinha, etc., ele – Josemaria – empreenderia de boa vontade a viagem a Daimiel (acompanhado por D. Manuel), num carro oficial do Consulado[111]. Vê, pois, se há possibilidade de comprar, nessa, as vitualhas que indico: e, se é possível, diz-me preços e quantidade de cada coisa que se poderia adquirir. – Se não for quantidade algo notável, S.E. o Sr. Cônsul não decidirá que se faça a viagem.

Que alegria se Josemaria vos vir!

Esperando tua resposta[112], vos abraça

Mariano[113]

n.9. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac[Daimiel], Madri [rua Ayala], 14 de setembro de 1937[114]

Madri/14 sepbre./37

Querida Lola: Leio sempre tuas cartas com muito gosto. Falei com o Sr. Cônsul e seria interessante ir aí para adquirir farinha[115]. As licenças necessárias se procurará adquirir aqui, por meio do Corpo Diplomático. Descobri, de qualquer jeito, que tipo de documentos serão necessários: nós – repito – conseguiremos aqui esses papéis. Convém que concretizeis a quantidade e o preço da farinha que poderíamos comprar. ---- Não vos parece que Dom Manuel tem ganas de visitar-vos? ----- Sou um chato. Dizei-me: 1/ Documentos que os sindicatos desse povoado exigirão, para facilitar a compra. 2/ quantidade de farinha e preço. 3/se, por acaso, se poderia comprar alguma outra coisa. ----- Perdão, neta. Os velhos somos tão lentos! ------Sobretudo, responda logo, ainda que a resposta seja negativa.

Vos abraça, com carinho. Mariano[116].

n.10. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel}, Madri [rua Ayala], 19 de setembro de 1937[117]

Muito querida Lola: Paciência. Dom Manuel sabe mais. – Que pena a viagem frustrada! – Não; dinheiro não nos mandeis. Vamos resolvendo tudo, mesmo que depois nos espere uma ladeira enorme: mas nunca me faltou o acréscimo. – De qualquer forma, se me vir em necessidade, prometo recorrer a vós. De acordo? ------[118] Por Paco soubemos de seu irmão mais velho; também tivemos notícias que nos deram da América do Norte[119]. Vê-se que trabalha, ainda que não concretizem o labor.----- Vos disse que Jeannot vive comigo? ------ Enfim, acabo porque estou desajeitado: nunca digo o que quero. Lembranças a Dona Maria. Abraça-vos. Mariano.

19-IX-1937[120]

n. 11 Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel], Madri [rua Ayala], 28 de setembro de 1937[121]

Madri – 28 de sepbre. 1937

Muito querida Lola: amanhã o avô não vos esquece[122]. Muito agradecido por vossos obséquios. Naturalmente, se alguma vez puderdes – com franqueza -, sim que virão bem vossos envios de alimentos. Aqui, não basta dispor de dinheiro, porque não vendem. ------ Que pena que não vos possa escrever devagar, como quereria!

Sempre vos tem muito presente, com D. Manuel vosso

Mariano[123].

n. 12. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel], Madri, outubro de 1937[124]

Querida pequena:

O avô não te esquece e, como não tem saúde para viajar, com estas linhas vos manda um forte abraço.

Mariano.

Madri – outubro – 1937.

n. 13. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel], Barcelona, 2 de novembro de 1937[125] Estimada amiga:

Uma saudação muito afetuosa, e dizer-te que tive a alegria de abraçar Manolita[126]; está contentíssima e me encarrega que vos dê suas lembranças.

Agradeço muito deveras os obséquios que fazes à avó[127]: em Madri, às vezes, não têm mais comida que a que tu envias.

Sempre vosso.

Mariano.

Barna -2- XI-37[128].

n.14. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel]. Barcelona, 10 de novembro de 1937[129]

Barcelona – 10 – nov. – 937.

Muito estimada amiga: duas letras, para saudar-te e para dizer-te que o avô e seus pequenos se encontram admiravelmente. Esperam que o tempo melhore, porque as chuvas destes dias são péssimas para o reumatismo do avô, e, então vão morar com José Ramón – suponho que terás recebido outro cartão postal meu[130]. – O avô me diz que não pensa escrever-te até que esteja no fim da viagem com José Ramón. Carinhosas saudações de Mariano[131].

n.15. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel], Barcelona, 18 de novembro de 1937[132]

Barcelona, quinta-feira, 18 de nov. dos 37.

Minha querida sobrinha: nada mais do que duas letras, para que estejas tranquila pela saúde do avô. Ele e suas netas se encontram admiravelmente[133], e, amanhã, sexta-feira saem daqui, porque vão ao encontro de José Ramón. O avô me diz que, como não tem vontade de escrever, provavelmente não tereis notícias suas até que passe um mês.

Muito se lembra, o pobre velho, de todos e de cada um. Conversa devagar com D. Manuel diariamente, e ali preocupa-se com toda a família.

Abraça-vos com muito carinho.

Mariano.

O avô pede que saúdem Dª Maria, de sua parte. Dª Cecília vos manda um pacote[134].

n. 16. Carta de Josemaria Escrivá a Dolores Fisac [Daimiel], Barcelona, 19 de novembro de 1937[135]

Barna – 19 – nov – 937

Minha estimada amiga: Duas linhas, para te dizer que hoje o avô parte com as suas netas para casa de José Ramón. Ele diz que te escreverá daqui a um mês.

Abraça-te.

[ilegível: talvez ponha Josemaria][136].


[1] Cfr. Francisca R. QUIROGA, 14 de fevereiro de 1930: a transmissão de um acontecimento e uma mensagem, Studia et Documenta” 1 (2007) , pp. 163-189. Sobre o 2 de outubro, cfr. José Luís ILLANES, Datos para la comprensión histórico-espiritual de una fecha, “Cuadernos del Centro de Documentación y Estudios Josemaria Escrivá de Balaguer” 6 (2002), pp. 105-147; Gonzalo REDONDO, El 2 de octubre de 1928 en el contexto de la historia cultural contemporánea, “Cuadernos del Centro de Documentación y Estudios Josemaria Escrivá” 6 (2002), pp. 149-191. Estes dois últimos artigos estão disponíveis em https://www. unav. es/cedej/publicaciones/

[2] Cfr. Andrés VÁZQUEZ DE PRADA, O Fundador do Opus Dei, vol. I, São Paulo, Quadrante, 2004, pp. 513-518.

[3] Cfr. José Miguel CEJAS, Mª Ignacia García Escobar, una mujer del Opus Dei, Madrid, Palabra, 1992.

[4] Em 1905, em Daimiel, havia um total de seis farmácias. Cfr. Francisco DE LA IGLESIA CAMACHO, Esto ha sido y es Daimiel, Daimiel, Ayuntamiento de Daimiel, 1984, p. 34.

[5] Atualmente essa rua se denomina Virgen de las Cruces. Um mapa de Daimiel nos finais do XVIII, em Juan Carlos GARCÍA MUÑOZ GARCÍA (coord.), Daimiel, del año mil al siglo XXI, Daimiel, Ayuntamiento de Daimiel, 2000, p. 99. Pela proximidade, cabe pensar que a sua paróquia fosse a igreja de Santa María la Mayor.

[6] Na primeira metade do século XX, os poucos estudantes dos povoados da Espanha que desejavam cursar o ensino médio geralmente tinham de deslocar-se para as capitais de província. Em 1930, apenas 52,6% das mulheres realizavam estudos primários, 1,8% cursava o ensino médio e 0,1% fazia estudos superiores. Cfr. Rosa María CAPEL MARTÍNEZ, El trabajo y la educación de la mujer en España, Madrid, Ministerio de Cultura, Instituto de la Mujer, 1986, p. 387. Em 1905 em Daimiel havia duas escolas públicas de meninos, duas de meninas e um jardim de infância. Cfr. DE LA IGLESIA CAMACHO, Esto ha sido, p. 33. Durante a ditadura de Primo de Rivera, em Daimiel mais de 2000 meninos – de idades entre os 6 e os 13 anos, não frequentavam o colégio. Cfr. GARCÍA MUÑOZ GARCÍA (coord.), Daimiel, del año mil, p. 110.

[7] Dolores Fisac tinha então 28 anos de idade. Na década de 1921-1930, a idade média de casamento para as mulheres era de 24,94 e, em 1930, o estado civil de 33,32% das mulheres era solteira. CAPEL MARTÍNEZ, El trabajo, pp. 30-31.

[8] Seu pai faleceu em 24 de setembro de 1965 e sua mãe, em 4 de dezembro de 1967.

[9] Cfr. “Romana. Boletín de la Prelatura de la Santa Cruz y Opus Dei” 21 (2005), p. 162.

[10] Cfr. Andrés VÁZQUEZ DE PRADA, O Fundador do Opus Dei, vol. II, São Paulo, Quadrante, 2004, p. 104. Miguel Fisac Serna nasceu em Daimiel em 29 de setembro de 1913. Em 1942, obteve o título de arquiteto na Escola Técnica Superior de Arquitetura de Madri, além do prêmio Fim de Carrera da Real Academia de São Fernando. Faleceu a 12 de maio de 2006, aos 92 anos.

[11] Testemunho de Dolores Fisac sobre Josemaria Escrivá, Arquivo Geral da Prelazia (AGP), serie A-5, leg. 211, carp. 2, exp. 1.

[12] Álvaro del Portillo, colaborador inseparável de São Josemaria desde os primeiros tempos do Opus Dei, e, depois da sua morte, primeiro sucessor, resumiu o processo da sua própria incorporação ao Opus Dei como “a história da oração confiada e perseverante do nosso Fundador que, durante uns quatro anos – sem nem me conhecer, somente porque uma das minhas tias lhe havia falado de mim – rezou para que o Senhor me concedesse esta graça tão grande, o maior presente – depois da fé – que Deus podia ter-me feito”. Salvador BERNAL, Recuerdo de Álvaro del Portillo, prelado do Opus Dei, Madrid, Rialp, 1996, p. 14.

[13] Cfr. Vicente CÁRCEL ORTÍ, La gran persecución: España, 1931-1939, Barcelona, Planeta, 2000, pp. 207-219. Antonio Montero contabilizou os assassinatos de 13 bispos, 4. 184 sacerdotes seculares, 2. 365 religiosos e 283 religiosas, proporcionando um catálogo nominal das vítimas mencionadas. Cfr. Antonio MONTERO MORENO, Historia de la persecución religiosa en España: 1936-1939, Madrid, Editorial Católica, 1961, pp. 762-767. A todos esses haveria que acrescentar os leigos que morreram por defender a fé. Sobre os antecedentes dessa perseguição religiosa, cfr. Gonzalo REDONDO, Historia de la Iglesia en España 1931-1939. La guerra civil 1936-1939, vol. II, Madrid, Rialp, 1993; José Francisco GUIJARRO, Persecución religiosa y Guerra Civil: la Iglesia Católica en Madrid, 1936-1939, Madrid. La esfera de los libros, 2006.

[14] As vítimas da repressão da guerra em Daimiel foram cento e sete. Uma relação de nomes em Francisco ALÍA MIRANDA, La Guerra Civil en retaguardia. Conflicto y revolución de Ciudad Real (1936-1939). Ciudad Real, Diputación de Ciudad Real, 1994, pp. 475-477.

[15] Em 16 de julho, Francisco Botella tinha enviado um telegrama a Madri, anunciando que havia encontrado um local onde instalar uma residência; em 17 de julho, Ricardo Fernández Vallespín se dirigiu a Valência para ver o local. Cr. Pedro CASCIARO, Sonhai e ficareis aquém, São Paulo, Quadrante, 2013, p. 77.

[16] Cfr. Peter BERGLAR, Opus Dei. Vida y obra del Fundador, Josemaria Escrivá, Madrid, Rialp. 1983, p. 168. De um modo mais pormenorizado, cfr. VÁSQUEZ DE PRADA, O Fundador, voll. II, pp. 124-130.

[17] Cfr. MONTERO MORENO, Historia de la persecución, p. 764.

[18] Cfr. CASCIARO, Sonhai, p. 76.

[19] Um relato detalhado em VÁQUEZ DE PRADA, El Fundador, vol. II, pp. 41-62.

[20] Cfr. Aurelio NÚÑEZ MORGADO, Los sucesos de España vistos por um diplomático, Buenos Aires, Rosso, 1941, p. 338. Sobre os asilos nas representações diplomáticas em Madri, cfr. Javier CERVERA, Madrid en guerra. La ciudad clandestina (1936-1939), Madrid, Alianza, 1998; Javier RUBIO, Asilos y canjes durante la Gueraa Civil española. Aspectos humanitarios de una contenda fratricida, Barcelona, Planeta, 1979; José Luis ALFAYA, Como un río de fuego: Madrid, 1936, Madrid, Ediciones Internacionales Universitarias, 1998.

[21] Um desenho, realizado por Álvaro del Portillo, do quarto que usaram os seis e a posição em que dormiam quando desdobravam os colchonetes de noite, está reproduzido em Dennis M. HELMING, pegadas sobre a neve. Biografía ilustrada de Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei, Lisboa, Rei dos livros, 1990, p. 36.

[22] Parte desse testemunho está publicado em John F. COVERDALE, La fundación del Opus Dei, Barcelona, Ariel, 2002, pp. 202-203. Relatos expressivos sobre o ambiente que havia em algumas embaixadas, em Pedro MONTOLIÚ, Madrid en la Guerra Civil, Los protagonistas, vol. II, Madrid, Silex, 1999, pp. 521-522.

[23] A hierarquia eclesiástica havia concedido essa faculdade pelas circunstâncias de guerra e de perseguição religiosa.

[24] COVERDALE, La fundación, p. 203. De um modo muito mais extenso, Vásquez de Prada ocupou-se da estadia de São Josemaria na Legação de Honduras: cfr. VÁZQUEZ de Prada, O Fundador, vol. II, pp. 57-114.

[25] Isidoro Zorzano Ledesma nasceu em Buenos Aires (Argentina) em 13 de setembro de 1902. Pouco depois, seus pais – espanhóis – regressaram a Espanha e estabeleceram-se em Logronho. Estudou no instituto da referida cidade e foi companheiro de São Josemaria. Em 1927 terminou a faculdade de Engenharia em Madri. De 1928 a 1936 trabalhou na Companhia de Estradas de Ferro, primeiro em Cádiz e depois em Málaga. Em 24 de agosto de 1930 pediu a admissão no Opus Dei. Foi um dos primeiros membros. Em 1936 transladou-se para Madri. A princípios dos anos quarenta apareceram-lhe os primeiros sintomas de uma linfogranulomatose maligna. Morreu em 15 de julho de 1943. Entre 1948 e 1954, instruiu-se em Madri o processo informativo sobre a fama de santidade, a vida e as virtudes do servo de Deus; em 1964 desenvolveu-se em Montreal (Canadá) um processo sobre uma cura milagrosa atribuída a sua intercessão. Cfr. José Miguel PERO-SANZ, Isidoro Zorzano Ledesma, Madrid, Palabra, 1996.

[26] “Agora, por indicação do P. [Padre], vou à L. [Legação] às quartas-feiras e domingos, porque às quintas vão os irmãos de Álvaro. Diário de Isidoro Zorzano, 14 de julho de 1937, AGP, IZL, D-1122. Os irmãos de Álvaro tinham 9 e 11 anos.

[27] “Estive na Legação, como sempre não vi ninguém”. Diário de Isidoro Zorzano, 29 de maio de 1937, AGP, IZL, D-1122.

[28] Às vezes Isidoro Zorzano recebia cartas de São Josemaria por outros meios, por exemplo, através de algum irmão de Álvaro del Portillo. ”O Padre me enviou uma carta pelo irmão de Álvaro”. Diário de Isidoro Zorzano, 28 de maio de 1937, AGP, IZL, D-1122.

[29] Diário de Isidoro Zorzano, 16 de maio de 1937, AGP, IZL, D-1122.

[30] Diário de Isidoro Zorzano, 18 de maio de 1937, AGP, IZL, D-1122.

[31] Diário de Isidoro Zorzano, 20 de maio de 1937, AGP, IZL, D-1122.

[32] Testemunho de Dolores Fisac sobre Josemaria Escrivá, AGP, serie A-5, leg. 211, carp. 2, exp. 1.

[33] A carta dizia: “Estimado amigo: Recebemos teu cartão alegrando-nos muito de que tu e tua família estejais bem. Somente umas letras para que saibas que todos os desta estamos também sem novidade e espero que continuarás dando notícias vossas. Recebe carinhosas saudações desta família. Lola. Meus dados: Dolores Fisac Serna. Comercio 14”. Carta de Dolores Fisac, 2 de abril de 1937, AGP, serie U-1. 1. Todas as cartas de Dolores Fisac têm a mesma referência arquivística, eis porque não a incluiremos doravante.

[34] A segunda carta escrita por Dolores Fisac – com direcionamento em feminino, para evitar qualquer suspeita – dizia: Minha querida amiga: Recebo tua carta e não imaginas como agradecemos as notícias que nela nos dás e quanto nos alegra o otimismo de teu pai. Agradecemos muito também que dês lembranças à tua família de Madri, já que nós não o fazemos diretamente como seria de nosso gosto. Aqui todos continuamos perfeitamente e esperamos escrever-vos de vez em quando. Com saudações para essa família, recebe as nossas. Lola”. Carta de Dolores Fisac, 27 de abril de 1937.

[35] Enrique Espinós era outro membro do Opus Dei.

[36] Carta de Dolores Fisac, 12 de maio de 1937.

[37] Carta de Dolores Fisac, 17 de maio de 1937.

[38] Cfr. ALÍA MIRANDA, La Guerra, p. 223. Também cfr. María Paz LADRÓN DE GUEVARA, Ciudad Real en el primer tercio del siglo XX. Tierra, propiedad y cultivos 1900-1930, Ciudad Real, Instituto de Estudios Manchegos, 1988.

[39] Uma relação detalhada da variada produção que se dava na província, em Isidro SÁNCHEZ SÁNCHEZ, Castilla la Mancha en la época contemporánea 1808-1939, Toledo, Servicio de Publicaciones de la Junta de Comunidades de Castilla-La Mancha, 1986, p. 54. Também cfr. José María BARREDA FUENTES, Caciques y electores. Ciudad Real durante la Restauración 1876-1923, Ciudad Real, Instituto de Estudios Manchegos, 1986.

[40] Cfr. ALÍA MIRANDA, La Guerra, pp. 163-164.

[41] “Os madrilenhos já não falavam de quilos, mas de gramas, pois dificilmente podiam comprar um quilo de algum alimento. O arroz, o feijão e as lentilhas se converteram na base da alimentação. Os madrilenhos comentavam em tom de zombaria o detalhe das autoridades de propor-lhes carne e legumes, já que essas vinham com vermes [...]”. MONTOLIÚ, Madri en la Guerra, p. 304.

[42] Cfr. ALÍA MIRANDA, La Guerra, p. 314.

[43] Cfr. Ibid., pp. 320-321.

[44] Carta de Isidoro Zorzano, 26 de maio de 1937, AGP, IZL, c-370526-2. A assinatura indica que, dentro da série Correspondência, trata-se da carta número 2 que Zorzano escreveu a 26 de maio de 1937. Em 3 de setembro, Zorzano anotou em seu diário que tinham se pesado e que Escrivá pesava 57 kg. Cfr. Diário de Isidoro Zorzano, 3 de setembro de 1937, AGP, IZL, D-1122. Nem por isso, São Josemaria deixava de buscar mais detalhes de penitência; entre outros, Vázquez de Prada diz que a 30 de maio, pediu a Zorzano aloés.

[45] Cfr. Cartas de Dolores Fisac, 17 e 29 de maio de 1937.

[46] Cfr. Cartas de Dolores Fisac, 1 e 4 de junho de 1937; mais adiante faz referência a que envia “um pacote na forma acostumada”. Carta de Dolores Fisac, 7 de julho de 1937.

[47] Cfr. Cartas de Dolores Fisac, 4, 8 e 11 de junho e 21 de julho de 1937.

[48] Carta de Dolores Fisac, 21 de maio de 1937. Nessa mesma carta diz o que enviou nos dias anteriores: a 17, um kg de grão-de-bico, a 18 um de feijão, a 19, 5kg de batata; a 21, 2 potes de leite condensado. Outros comestíveis enviados foram: queijo, mel, leite em pó, açúcar, farinha, sabão e uma garrafa de xerez.

[49] Carta de Dolores Fisac. 11 de junho de 1937.

[50] Em 24 de agosto, Dolores Fisac tinha escrito: “Esperamos que dentro de poucos dias os transportes se normalizarão, pois, agora os trens não circulam, e no correio não aceitam os pacotes de costume”. Carta de Dolores Fisac, 24 de agosto de 1937; no dia 28 conseguiu realizar outro envio: cfr. Carta de Dolores Fisac, 28 de agosto de 1937.

[51] Carta de Dolores Fisac, 8 de setembro de 1937.

[52] Em 14 de setembro explicou: “Continua suspensa a expedição de pacotes e também não os aceitam por correio; se levantassem a proibição, logo vos enviaríamos as coisas que interessam”. Carta de Dolores Fisac, 14 de setembro de 1937. Quatro dias depois, escreveu: “Puseram a saída de comestíveis tão rigorosa que não se consegue que consintam a saída dos pacotes que [se] enviavam, nem por trem, nem por correio”. Carta de Dolores Fisac, 18 de setembro de 1937. No dia 25 disse: “Continua a proibição de saída dos pacotes e tentamos outro procedimento de envio, mas resulta impossível e nos contraria muito que não possamos ajudar nem nisto”. Carta de Dolores Fisac, 25 de setembro de 1937.

[53] Carta de Dolores Fisac, 6 de outubro de 1937.

[54] Carta de Dolores Fisac, 5 de dezembro de 1937.

[55] “Receberam-se cartas de Paco; numa nos envia a da irmã de Miguel”. Diário de Isidoro Zorzano, 23 de maio de 1937, AGP, IZL, D-1122. No diário aparecem mais dados nesse sentido. Contudo, resulta surpreendente que, se Fisac enviava sempre as cartas através de Valência, desse nelas notícias a Zorzano dos de Valência. Estes são alguns exemplos: “De Paquito recebi faz uns dias carta, na que me dizia que mobilizavam alguns irmãos seus, embora não me dissesse quais”. Carta de Dolores Fisac, 15 de junho de 1937; “De Paquito soube faz uns dias que continua muito bem”. Carta de Dolores Fisac, 21 de julho de 1937; “De Paquito recebi faz uns dias carta pois ele também não se esqueceu de nós”. ” Carta de Dolores Fisac, 6 de outubro de 1937. Ignora-se, porém, a rota que seguiam as cartas que Zorzano escrevia aos Fisac, mas talvez fossem diretas, pois, quando Dolores Fisac escrevia a Francisco Botella a Valência, em algumas ocasiões também lhe transmitia notícias de Isidoro Zorzano: “De Madri tivemos notícias faz uns dias de que continuam bem, o avô escreveu-nos da forma tão acostumada nele e nos deu muita alegria”. Carta de Dolores Fisac, 13 de julho de 1937; “De Madri tive carta faz uns dias e continuam todos bem e esperamos que logo D. Manuel arranje a evacuação do avô”. Carta de Dolores Fisac, 21 de julho de 1937; “De Madri recebemos notícias com frequência e, segundo me dizem em sua última carta, parece que se paralisou por ora a evacuação do avô, enfim, como está em boas mãos, D. Manuel resolverá o que melhor convier”. Carta de Dolores Fisac, 17 de agosto de 1937. Se desconhece se, em alguma ocasião Fisac fez chegar as cartas incluindo-as nos pacotes de comida; não parece que assim tenha sido, pois – como já se anotou – acrescentavam às cartas o bilhete para recolher os pacotes.

[56] Zorzano escreveu a Fisac: “Recebeu-se [. . . ] hoje o que enviavas por trem”. Carta de Isidoro Zorzano, 8 de junho de 1937, AGP, IZL, c-370608.

[57] A fixação de tais períodos vem dada pelas datas das primeiras cartas que se escreveram respectivamente até a data em que Isidoro Zorzano comunicou a Dolores Fisac que São Josemaria tinha conseguido chegar a Andorra. A correspondência entre ambos continuou, mas fica fora do objeto deste estudo.

[58] Diário de Isidoro Zorzano, 21 de agosto de 1937, AGP, IZL, D-1122.

[59] AGP, IZL, D-1122, anotações desses dias. Zorzano anotou que no primeiro dia, tirou umas fotografias, no segundo realizou gestões no consulado da Argentina e São Josemaria foi com ele ao oculista, ao alfaiate e à casa da mãe do fundador. No terceiro dia voltaram ao consulado da Argentina.

[60] Diário de Isidoro Zorzano, 31 de agosto de 1937, AGP, IZL, D-1122.

[61] Cfr. Diário de Isidoro Zorzano, 3 de setembro de 1937, AGP, IZL, D-1122.

[62] Alguns testemunhos dessa tarefa em COVERDALE, La fundación, pp. 210-213; VÁZQUEZ DE PRADA, O Fundador, vol. II, p. 122. Um dos muitos frutos apostólicos foi a decisão que José María Albareda tomou, em 8 de setembro de 1937, de solicitar a admissão no Opus Dei. Na segunda-feira, 10 de setembro, Zorzano anotou em seu diário: “O P. nos disse que amanhã começa um “cursillo” [retiro espiritual] com Alv [Alvareda], Tomás [Alvira] e Hoyos [Ángel]; na próxima terça-feira, com elas; espera que sejam umas 18”. Diário de Isidoro Zorzano, 20 de setembro de 1937, AGP, IZL, D-1122.

[63] José María Albareda Herrera nasceu em Caspe (Zaragoza) em 15 de abril de 1902. Estudou Farmácia na Universidade de Madri e Ciências Químicas na de Zaragoza. Doutorou-se em Farmácia. Catedrático de Agricultura do Instituto de Ensino Médio de Huesca. Especializou-se em Ciência do Solo em Bonn, Zurich e Könisberg. Em 1932 trabalhou na Rothamsted Experimental Station. Em 1935 foi nomeado catedrático de Agricultura do Instituto Velásquez de Madri. Em 1939 foi diretor do Instituto de Ensino Médio Ramiro de Maeztu de Madri, e, em 1940, obteve a cátedra de Geologia Aplicada da Faculdade de Farmácia da Universidade de Madri. Ao criar-se, em 1939, o Conselho Superior de Investigações Científicas, foi nomeado secretário geral, cargo que desempenhou até a morte. Em 1960 foi nomeado reitor da Universidade de Navarra, cargo que desempenhou até a morte. Em 1959 ordenou-se sacerdote, mas continuou toda a sua atividade profissional, na qual alcançou multidão de honras e distinções: Acadêmico das Reais Academia de Farmácia, Ciências e Medicina de Madri, da Pontifícia de Roma, das de Ciências de Barcelona e Zaragoza. Membro da Academia de Engenheiros de Estocolmo e de numerosas associações estrangeiras. Doutor honoris causa por várias universidades. Faleceu em Madri em 27 de março de 1966.

[64] Diário de Isidoro Zorzano, 11 de setembro de 1937, AGP, IZL, D-1122.

[65] Carta de Isidoro Zorzano, 19 de outubro de 1937, AGP, IZL, c-371019. Na terça-feira, 19 de setembro, Zorzano tinha anotado: Escrevi a Daimiel, comunicando-lhes a conveniência de que vá Miguel na próxima expedição e indicando-lhe as gestões que fizemos; tornei a falar precisamente com o vasco e ficamos em que iremos busca-lo segundo seja a urgência da partida, pois convém que estejam aqui em Madri o menor tempo possível”. Diário de Isidoro Zorzano, 19 de setembro de 1937, AGP, IZL, D-1122.

[66] Carta de Isidoro Zorzano, 25 de outubro de 1937, AGP, IZL, c-371025.

[67] Ele mesmo o relata em CASCIARO, Sonhai, pp. 98-102.

[68] Uma descrição detalhada da passagem pelos Pirineus em Octavio RICO – Dámaso EZPELETA, Cruzando la noche. San Josemaria Escrivá, otoño de 1937. El paso de los Pirineos, Albada, Barcelona, 2004.

[69] O dia preciso em que entrou em Madrid foi a segunda-feira 27 de março de 1939 e, de Burgos realizou numerosas viagens. Cfr. VÁZQUEZ DE PRADA, O Fundador, vol. II, p. 316.

[70] As doze primeiras cartas são de tamanho de folha A5 (cuartilla em espanhol), com papel de diferente gramatura, mas sempre de má qualidade. Excetuando a segunda – que tem duas folhas pelas duas faces –, as outras ocupam uma só folha, por uma ou por duas faces; em ocasiões estão escritas em sentido vertical e, noutras em horizontal. Das quatro que enviou de Barcelona, três eram cartões postais.

[71] Carta de Isidoro Zorzano, 26 de agosto de 1937, AGP, IZL, c-370826. Em outras ocasiões utilizava frases similares.

[72] AGP, série A-3. 4, 254, carp. 1, c-370521-1. Como já se observou, em 20 de maio Zorzano tinha recebido a primeira carta de Fisac. No dia seguinte, ele tinha ido à Legação e ali, embora não tivesse visto ninguém, tinha trocado cartas e provisões. Cfr. Diário de Isidoro Zorzano, 21 de maio de 1937, AGP, IZL, D-1122. Numa de suas cartas, São Josemaria lhe dizia: “Envio umas linhas para Lola Fisac. Quanto agradeço o detalhe de Daimiel!. . . ”. Carta de São Josemaria a Isidoro Zorzano, 21 de maio de 1937, AGP, subsérie A-3. 4, leg. 254, carp. 1, c-370521-2. No dia seguinte, 22 de maio, coincidindo com a chegada do primeiro pacote de alimentos, Isidoro Zorzano escreveu pela primeira vez a Dolores Fisac: “Estimada amiga: Tua carta nos proporcionou uma verdadeira satisfação a toda a família. Meu pai vos envia a página adjunta. Acabo de ter notícias dos pequenos José Ramón, Enriquín e Pepeisasa; vão perfeitamente. É possível que meu pai e irmãos vão logo a fazer companhia a José Ramón para que ele possa se distrair mais. Hoje recebi vosso pacote que chegou perfeitamente. É um incômodo extraordinário o que nós vos causamos, nosso agradecimento será eterno. Em atenção a vossa insistência, vos indicarei o que se necessita como mais peremptório: feijões, lentilhas, grão de bico, farinha e embutidos. Com a finalidade de produzir-vos menos extorsão, indicai-me qual quantidade devo transferir-vos. Se houvesse leite condensado ou em pó, vos agradecerei que enviásseis para meu pai. É de nosso agrado que nos escrevais com a maior frequência que vossas ocupações permitirem. Não podeis imaginar o quanto nos alegrou tua carta! Recebe de meus pais e irmãos uma afetuosa e sincera saudação”. Carta de Isidoro Zorzano, 22 de maio de 1937, AGP, IZL, c-370522-1. Com essa carta, Zorzano acrescentou a primeira de São Josemaria a Dolores Fisac. O fundador – de natural agradecido – o estava e muito pelo carinho que via por trás da iniciativa de enviar comestíveis com frequência e pelo esforço que supunha levar isso a cabo. Para o coração paternal de São Josemaria, que sofria preocupado pelo estado do corpo e da alma de cada um dos fiéis do Opus Dei, era um alívio ter recuperado o contato com um deles, Miguel Fisac, tal como Zorzano havia anotado em seu diário. De ambas coisas se deduz a alegria de receber essas linhas e o desejo de enviar-lhes uma carta para dizer-lhes que nunca se esquecia de rezar por toda a família. Além disso, nessa primeira carta, como se viu, o fundador mencionou a Dolores Fisac a possibilidade de que Deus a chamasse ao Opus Dei e o fazia de modo que, quando passasse pela censura própria da guerra, não fosse perigo para ninguém, utilizando somente essas nove palavras: “Eu gostaria muito que chegasses a ser minha neta”. Segundo Vázquez de Prada, foi Miguel Fisac quem teve a iniciativa de propor à irmã essa escolha, e, mais adiante, foi o fundador quem a fez reconsiderar. Cfr. VÁZQUEZ DE PRADA, O Fundador, vol. II, pp. 104-106. Não se conhece qual foi a fonte usada por esse autor para fazer tal afirmação, mas Miguel Fisac pôde – talvez com motivo da operação de setembro de 1935 – falar com São Josemaria sobre a possibilidade de que sua irmã fosse chamada ao seu mesmo caminho, e, não é estranho pensar que desde tempo atrás – pelo menos desde que rezou por aquela intervenção cirúrgica – São Josemaria viesse rezando por Dolores Fisac. Em 29 de maio de 1937, ela respondeu a Zorzano: “Recebemos vossa carta que nos produziu muita alegria, como também o que nos escreve teu pai e as notícias que nos dizes dos pequenos. [. . . ] Nós continuaremos mandando diariamente do que nos indicas, o que houver. Do que dizes de incômodos, nem falar disso, pois já sabes que o fazemos com muito gosto e sobre o pagamento, não te preocupes agora com isso, pois não faz falta e já acertaremos quando nos vejamos”. Carta de Dolores Fisac, 29 de maio de 1937. Apesar da resposta recebida, Zorzano lhe enviou cem pesetas e ela insistiu rotundamente: “Depois de ter escrito essa, recebemos uma transferência de 100 pesetas e, como vos dizia em cartas anteriores, não o devíeis ter feito e, naturalmente, não vos ocorra repeti-lo”. Carta de Dolores Fisac, 8 de junho de 1937. Nem nela, nem nas nove seguintes, Dolores Fisac fazia nenhuma alusão à proposta de incorporação ao Opus Dei, que o fundador lhe havia feito. Cfr. Cartas de Dolores Fisac, 1, 4, 8, 11, 15, 18, 22 e 28 de junho e 5 de julho de 1937.

[73] Mariano era um dos nomes de batismo de São Josemaria.

[74] AGP, série A-3. 4, leg. 254, carp. 2, c-370701-1. Em 1 de julho, ao escrever a Zorzano, São Josemaria dizia: “Escrevo a Lola e aos do feliz Levante”. Carta de São Josemaria a Isidoro Zorzano, 1 de julho de 1937, AGP, série A-3, 4, leg. 254, carp. 2, c-370701-3. Tratava-se da segunda carta a Dolores Fisac e nela tornava a tratar do tema de sua possível chamada.

[75] Esse número “2” pode referir-se a que, dentro do mesmo pacote de cartas que São Josemaria havia enviado a Zorzano, esta constituía a nº 2. Neste caso, a nº1 pode ter sido uma dirigida aos de Levante e a número 3, uma para os de Madri. Pelo menos isso se depreende da seguinte anotação que Zorzano realizou no dia 2 em seu diário: Recebeu-se um envelope volumoso da L. [Legação]: nele havia uma carta para os de Levante, [. . . ] uma carta do P. [Padre] para Miguelín [Fisac] e uma carta para nós”. AGP, IZL, D-1122, anotação de 2 de julho de 1937. Cabe pensar que têm o mesmo significado os números similares aparecidos no resto das cartas que escreveu da Legação de Honduras.

[76] Tegucigalpa, como é sabido, é a capital de Honduras. O “Santo de minha Mãe” era a festa da Visitação de Nossa Senhora.

[77] Pepe Isasa era um membro do Opus Dei que tinha falecido – tinha “ido à casa de D. Manuel” – em 23 de abril de 1937. A pedido do fundador, Zorzano tinha comunicado a notícia aos outros, pedindo também sufrágios pela sua alma. Cfr. AGP, IZL, c-370613-4.

[78] Jeannot era Juan Jiménez Vargas. Nascido em Madri a 24 de abril de 1913, fazia parte do Opus Dei desde 3 de janeiro de 1933. Tinha colaborado ativamente no desenvolvimento das atividades apostólicas na capital e no início do primeiro centro do Opus Dei, a Academia-Residência DYA. Catedrático de Fisiologia desde 1942, participou do começo da Universidade de Navarra, sendo o primeiro decano da Faculdade de Medicina. Faleceu em Pamplona em 29 de abril de 1997.

[79] Como já se observou, encontrar com José Ramón, significava passar da zona republicana para a nacional. Ao ver que cada vez havia menos possibilidades de conseguir a evacuação através da Legação de Honduras, fizeram os trâmites oportunos pelo menos em seis outras embaixadas. Em 21 de abril, o fundador indicou a Zorzano que realizasse gestões na Embaixada do Chile; a 18 de maio há uma anotação no diário de Zorzano sobre os passos dados na Embaixada da Romênia. Cfr. Diário de Isidoro Zorzano, 21 de abril e 18 de maio de 1937, AGP, IZL, D-1122. Ainda que, em 29 de maio, o fundador dissesse numa carta: “Evacuação: confio na daqui” (Carta de São Josemaria aos membros do Opus Dei de Madri, 29 de maio de 1937, AGP, série A-3. 4, leg. 254, carp. 1, c-370529-1), em 8 de junho, Zorzano escreveu a Daimiel: “Ontem o avô me comunicou uma notícia nada agradável. Por agora não pode ir cumprimentar os outros netos”. Carta de Isidoro Zorzano, 8 de junho de 1937, AGP, IZL, c-370608. Não temos mais dados a respeito, salvo que, nesse mesmo dia, anotou: “P. Gross; falou que, ao que parece definitivamente, suspenderam-se as evacuações”. Diário de Isidoro Zorzano, 8 de junho de 1937, AGP, IZL, d-1122. Possivelmente, como resposta a isso, nos dias 7 e 8 de junho realizaram novos trâmites na Embaixada da Suíça. Cfr. Diário de Isidoro Zorzano, 7 e 8 de junho de 1937, AGP, IZL, D-1122. Coverdale observa que, além das embaixadas já indicadas, também acudiu às da Checoslováquia, Panamá e Turquia, embora não anote em que momento. Cfr. COVERDALE, La fundación, p. 209. Esperançosos pelas novas gestões, nessa carta de 1 de julho, o fundador escreve a Dolores Fisac que é possível que logo passem à zona nacional.

[80] Miguel Fisac.

[81] Dolores Fisac respondeu em 7 de julho de 1937: “O avô não imagina a alegria e o consolo que me produziu ler a sua carta. O que mais posso eu desejar do que me tornar neta sua! Sua pequena contentíssima manda-lhe muitos abraços”. Carta de Dolores Fisac, 7 de julho de 1937. Nessa carta, São Josemaria anotou: “A pequena era Miguel Fisac, irmão de Lola, que estava emparedado em Daimiel”. No dia 10, Zorzano escreveu: “Houve carta da irmã de Miguelín; deseja ser neta do avô – proselitismo por correspondência –. Como a próxima colheita parece boa!” Diário de Isidoro Zorzano, 10 de julho de 1937, AGP, IZL, D-1122. Contudo, quando respondeu a Fisac, no dia 13, Zorzano disse-lhe somente: “Recebemos duas cartas dos 7 e 9, assim como o pacote também”. Carta de Isidoro Zorzano, 13 de julho de 1937, AGP, IZL, c-370713-1.

[82] AGP, série A-3. 4, leg. 254, carp. 2, c-370714-1.

[83] Sublinhado no original. Até quarta-feira 14 de julho, Zorzano não pôde ir à Legação. Foi então quando levou “a consabida carta” (Diário de Isidoro Zorzano, 14 de julho de 1937, AGP, IZL, d-1122), na qual Dolores Fisac pedia a admissão no Opus Dei. Nesse mesmo dia, São Josemaria respondeu. Zorzano esperou durante uns dias para ter novas notícias de Daimiel, mas, ao não as receber, não querendo atrasar mais o envio desta carta, escreveu-lhes em 20 de julho (Cfr. Carta de Isidoro Zorzano, 20 de julho de 1937, AGP, IZL, c-370720-2), acrescentando a terceira carta de São Josemaria a Dolores Fisac.

[84] José María Isasa, falecido em 23 de abril de 1937.

[85] Em 3 de julho, Zorzano escreveu a Daimiel: “ Continuamos todos perfeitamente, esperando que se resolva a evacuação do avô e dos pequenos”. Carta de Isidoro Zorzano, 3 de julho de 1937, AGP, IZL, c-370703-3. No dia 13 mandou outra carta a Daimiel: “Parece ser que caminha outra vez o assunto da evacuação do avô”. Carta de Isidoro Zorzano, 13 de julho de 1937, AGP, IZL, c-370713-1.

[86] A Virgem Maria.

[87] Neta sublinhado no original.

[88] AGP, série A-3. 4, leg. 254, arp. 2, c-370725-2. Zorzano escreveu a Fisac enviando-lhe breve carta em 27 de julho. Cfr. Carta de Isidoro Zorzano, 27 de julho de 1937, AGP, IZL, c-370727.

[89] Paquito era Francisco Botella e tudo indica que o “pequeno” era Miguel Fisac.

[90] A Residência DYA DA RUA Ferraz, nº 16.

[91] Em 31 de julho, Dolores Fisac respondeu a Isidoro Zorzano: “Sobre o que pergunta o avô de seu xará, sabemos (embora indiretamente) que está enfermo num sanatório já há muitos meses”. Carta de Dolores Fisac, 31 de julho de 1937. Embora se chamasse José, não sabemos se o xará era o irmão mais velho de Dolores e Miguel Fisac.

[92] Em 20 de julho, Isidoro Zorzano tinha escrito a Dolores Fisac: “O avô e os pequenos vão perfeitamente. Estavam contentes porque ia por bom caminho a evacuação do avô, mas me parece que torna a se atrasar”. Carta de Isidoro Zorzano, 20 de julho de 1937, AGP, IZL, c-370720-2. É possível que esse novo fracasso tenha sido o detonante que levou São Josemaria a decidir abandonar a Legação. A 23 de julho, Zorzano tinha anotado em seu diário: “recebeu-se, a última hora, uma carta da L[Legação]. O P. [Padre, São Josemaria] tem o firme propósito de sair dela”. Diário de Isidoro Zorzano, 23 de julho de 1937, AGP, IZL, D-1122. No dia 27, Zorzano escreveu a Daimiel – é com essa carta quando lhe envia esta breve mensagem de São Josemaria: “A evacuação do avô e do pequeno Juan foi resolvida em outro sentido e parece que vai bem”. Carta de Isidoro Zorzano, 27 de julho de 1937, AGP, IZL, c-370727.

[93] Já se informou que Dª Maria, era a Nossa Senhora.

[94] AGP, série A-3. 4, leg. 254, carp. 3, c-370805-1. Em 12 de agosto, Isidoro Zorzano escreveu a Dolores Fisac: “O avô se desvive por todos e está pendente de tudo e nos serve de modelo em tudo. Acrescento a breve carta que me deu”. Carta de Isidoro Zorzano, 12 de agosto de 1937, AGP, IZL, c-370812-1.

[95] Sublinhado no original.

[96] Em 5 de agosto, quase um mês depois que Dolores Fisac tinha pedido a admissão, São Josemaria lhe escreveu esta nova carta. Nela lhe fazia uma série de perguntas, ensinando-lhe e animando-a a seguir uma direção espiritual por correspondência e, depois de dizer-lhe que rezava por ela, com realismo, fez com que fosse consciente do que suporia viver seu caminho no Opus Dei. Na sexta-feira, 6 de agosto, Zorzano anotou em seu diário: “O P. [Padre] enviou umas breves cartas para todos os pequenos; a que vai dirigida à irmã de Miguel é formidável, não vai saber que cara fazer quando a receber”. Diário de Isidoro Zorzano, 6 de agosto de 1937, AGP, IZL, D-1122.

[97] Saudar o Amigo ou visitar D. Manuel era receber a Eucaristia. Em 31 de julho, Dolores Fisac tinha escrito: “Pedimos-lhe também a D. Manuel que procure visitar-nos logo, pois faz cerca de um ano que não o vemos e é muito necessária sua visita para muitas coisas, a parte do desejo natural de poder estar com ele. Enfim esperamos que, como é tão influente e, além disso, tão carinhoso, logo acederá a nossos desejos”. AGP, carta de Dolores Fisac, 31 de julho de 1937. Dois meses antes, havia escrito: “Como invejamos vosso jejum e como deveis compadecer nossa abundância, pois, ainda que enchamos o estômago de porcarias, faz muito que não entra nada nutritivo”. AGP, carta de Dolores Fisac, 1 de junho de 1937.

[98] AGP, série A-3, 4, leg. 254, carp. 3, c-370813-1. Esta carta foi enviada por Zorzano, juntamente com uma sua, em 15 de agosto. Cfr. AGP, IZL, c-370815-3.

[99] Sublinhado no original e no centro do papel.

[100] Refere-se à celebração da Santa Missa.

[101] Talvez se refira a celebrar a Eucaristia com mais solenidade, no dia anterior à Assunção.

[102] Chiqui era o nome familiar de José María Hernández Garnica. Tinha nascido em Madri a 17 de novembro de 1913 e fazia parte do Opus Dei desde 28 de julho de 1935. Durante a Guerra Civil esteve em diversas prisões. Foi doutor em engenharia de Minas, em Ciências Naturais e em Teologia. Juntamente com Álvaro del Portillo e José Luís Múzquiz foi ordenado sacerdote em 25 de junho de 1944, na primeira ordenação de fiéis do Opus Dei. Desde o princípio de seu trabalho sacerdotal, seguindo as indicações de São Josemaria, centrou-se especialmente na atenção espiritual das atividades apostólicas de mulheres do Opus Dei. Realizou viagens e estadias para impulsionar o andamento dos apostolados em diferentes países da América e Europa. Faleceu em 7 de dezembro de 1972. Em 28 de fevereiro de 2005 teve lugar a primeira sessão do processo diocesano sobre sua vida e virtudes. Cfr. José Carlos MARTÍN DE LA HOZ, Por los caminos de Europa: breve biografía de José María Hernández Garnica, Madrid, Palabra, 2004.

[103] No mês de agosto continuavam realizando gestões para sair da zona republicana. Numa carta, São Josemaria escrevia: “Pedir-lhe [a D. Jaime Rodríguez Candela, consogro do Cônsul de Honduras, Pedro de Matheu] que veja se, no decanato [Embaixada do Chile] ou entre suas muitas amizades, encontra quem fale com nosso cônsul e consiga que nos envie logo”. Carta de São Josemaria aos membros do Opus Dei em Madri, 1 de agosto de 1937, AGP, série A-3. 4, leg. 254, carp. 3, c-370801-2. Nesse mesmo dia, Isidoro Zorzano anotou: “Visitei a irmã de Eduardo, porque o P. me disse que conhecia uma Srta. que ia ir ao povoado de José Ramón, mas não foi assim”. Diário de Isidoro Zorzano, 1 de agosto de 1937, AGP, IZL, D-1122. No dia 2, Zorzano escreveu a Daimiel: “Da evacuação do avô não há nada de definitivo até agora; se está tramitando e esperamos que seja rápido”. Carta de Isidoro Zorzano, 2 de agosto de 1937, AGP, IZL, c-370802. No dia 5, também em carta a Daimiel: “Volta a entrar numa fase de espera a evacuação do avô”. Carta de Isidoro Zorzano, 5 de agosto de 1937, AGP, IZL, c-370805. No dia seguinte, anotou: “Estive com o irmão de Ricardo; não há forma de poder efetuar o translado do P. para onde ele está”. Diário de Isidoro Zorzano, 6 de agosto de 1937, AGP, IZL, D-1122. Pouco depois, no dia 13, tornou a escrever a Daimiel. “Continuamos fazendo gestões para a evacuação do avô que, como te dizia em minha última, se havia torcido um pouco”. Carta de Isidoro Zorzano, 15 de agosto de 1937, AGP, IZL, c-370815-3. Numa nova carta do dia 21 de agosto, Dolores Fisac podia ler: “A evacuação do avô ainda continua estacionada”. Carta de Isidoro Zorzano, 21 de agosto de 1937, AGP, IZL, c-370821-1.

[104] Dolores Fisac respondeu a esta carta em 24 de agosto: “Estimado amigo: Recebemos tua carta do 15 e a carta do avô e nos produziu muita alegria que se recorde tanto de nós e não preciso dizer que nós fazemos o possível para corresponder-lhe. Da esperança que se dá de que logo nos visite D. Manuel, não sei como dizer-te o quanto lho agradecemos, pois cada vez temos mais desejos de vê-lo”. Carta de Dolores Fisac, 24 de agosto de 1937. No dia 28, tornou a escrever: Lembramos muito do avô e todos os pequenos e esperamos que possamos ver D. Manuel e toda essa família”. Carta de Dolores Fisac, 28 de agosto de 1937.

[105] AGP, série A-3, leg. 254, carp. 3, c-370822-1. Na quinta-feira 26 de agosto, Zorzano escreveu a Daimiel e enviou a sétima carta de São Josemaria. Cfr. Diário de Isidoro Zorzano, 26 de agosto de 1937, AGP, IZL, D-1122; carta de Isidoro Zorzano, 26 de agosto de 1937, AGP, IZL, c-370826.

[106] Sublinhado no original.

[107] A última carta que Dolores Fisac tinha escrito era a seguinte: “20 de agosto de 1937. Para o avô. Avô respondo que sim a suas perguntas, prefiro-o deveras sem gênero de dúvidas a todos e me considero muito feliz de formar parte de sua família. Não o esquece sua neta Lola”. Carta de Dolores Fisac, 20 de agosto de 1937.

[108]Em 17 de agosto, Dolores Fisac havia perguntado: “Conviria que dissésseis como chegou o presunto para caso ter chegado em boas condições repetir outros envios”. Carta de Dolores Fisac, 17 de agosto de 1937.

[109] Dolores Fisac respondeu a Isidoro Zorzano em 2 de setembro: “Recebemos a tua carta de 26 e a carta do avô, de quem recordamos e esperamos que possamos vê-lo logo. [. . . ] Nós continuamos muito bem e esperando que algum dia D. Manuel virá dar-nos um abraço, eu não duvido que alguma vez chegará a ser realidade a esperada visita”. Carta de Dolores Fisac, 2 de setembro de 1937.

[110] AGP, série A-3. 4, leg. 254, carp. 3, c-370831-1. Nesse mesmo dia, como já se assinalou, São Josemaria abandonou a Legação de Honduras e se instalou na rua Ayala nº 67, 4º esquerdo.

[111] Já se informou que o fundador viu nessa documentação uma oportunidade única para ir a Daimiel. O assassinato de vinte e seis passionistas em Daimiel evidencia que a localidade onde se escondia Miguel Fisac também havia sofrido com crueza a perseguição religiosa. Cfr. Fernando PIÉLAGOS, C. P. , Vida y testemonio, homenaje a los 26 Mártires Pasionistas de Daimiel (1986) en su beatificación por Juan Pablo II el 1 de octubre de 1989, Zaragoza, PP. Pasionistas, 1989. É muito provável, portanto, que os dois irmãos não pudessem receber nenhum sacramento – nem o da Eucaristia nem o da Penitência – desde o começo da guerra e que, entre os desejos do fundador de atendê-los espiritualmente, estivesse, em primeiro lugar, o de poder oferecer-lhes os auxílios sacramentais.

[112] A 2 de setembro, Zorzano escreveu a Fisac: Se a solução é factível, tereis a sorte de que vá a essa, D. Manuel em companhia do avô” e, urgindo-os lhes dizia: “Respondei ao avô o quanto antes”. Carta de Isidoro Zorzano, 2 de setembro de 1937, AGP, IZL, c-370902-1.

[113] Em 8 de setembro, Dolores Fisac responde: “Estimado amigo, recebemos a carta do avô e podes imaginar a alegria tão grande que nos produziu, pois não é preciso dizer o muitíssimo que nos alegraria a visita. Fizemos logo as gestões por vários condutos, apesar de que aqui escasseiam os comestíveis para se levar em quantidade, e todos coincidiram em que é muito difícil consegui-lo, pois está terminantemente proibida a exportação de víveres a não ser com autorização, ou melhor dito, com ordem de guerra. Não obstante, um dos corretores que utilizamos, diz que, trazendo recipiente, se poderia levar vinho a 6’50 pesetas arroba de 16 litros; particularmente, um amigo nos ofereceu de 500 a 600kg de farinha, mas isto é preciso deixar de lado, por ser perigoso, enfim, embora nós queiramos outra coisa, será preciso esperar até que D. Manuel queira; naturalmente, assim que for possível, escreveríamos logo”. Carta de Dolores Fisac, 8 de setembro de 1937.

[114] AGP, série A-3. 4, leg. 254, carp. 4, c-370914-1.

[115] Como se acaba de indicar, na carta de 8 de setembro, Dolores Fisac dizia que “um amigo nos ofereceu de 500 a 600kg de farinha”, embora acrescentava: “mas isto é preciso deixar de lado, por ser perigoso”. Carta de Dolores Fisac, 8 de setembro de 1937.

[116] No dia 18, Fisac escreveu a Zorzano: “Ontem recebemos carta do avô. Uma nova alegria pela esperança de poder vê-los e depois uma desilusão ao ver a quantidade de obstáculos sobre os assuntos que interessa. Feitas as gestões chegamos à conclusão de que o problema dos abastecimentos está ficando mais agudo e, no comitê destes, não consentem a saída de nada, a não ser por intercâmbio de outros artigos, e, mesmo desta forma, também se corre o perigo de que os guardas das saídas, mesmo que se levem as correspondentes autorizações, recolham os artigos e imponham fortes multas. Não se pode concretizar a documentação necessária, pois não há critérios fixos e, embora nem tenhamos que dizer o muitíssimo que nos alegraria vê-los por esta, nos dá medo que possam passar uma odisseia que não me atrevo a decidir. Tão rigorosa puseram a saída de comestíveis, que não se consegue que consintam a saída dos pacotes que enviávamos, nem por trem, nem por correio. ”. Carta de Dolores Fisac, 18 de setembro de 1937.

[117] AGP, série A-3. 4, leg. 254, carp. 4, c-370919-1.

[118] Em 8 de setembro, depois de descrever os obstáculos que havia para obter comestíveis, Dolores Fisac escreveu: “o que sim, acreditamos, é que vos poderíamos ajudar na questão econômica, emprestando-vos a quantia de que necessitais e esperamos que, com toda confiança nos indiqueis como e quanto vos mandamos, e não creio que tenhamos de insistir o muitíssimo gosto que temos em poder-vos servir”. Carta de Dolores Fisac, 8 de setembro de 1937. Em sua carta seguinte a Zorzano, datada de 14 de setembro, insistia: “Esperamos vossa resposta a nossa última carta, já que por ora é o único que vos podemos oferecer”. Carta de Dolores Fisac, 14 de setembro de 1937.

[119] Desconhecemos se se refere ao irmão mais velho de Francisco Botellha.

[120] No dia 25 de setembro, Fisac escreveu a Zorzano: “Recebemos carta do avô e seguimos sentindo muito que a viagem tenha se frustrado, pois desejávamos muito vê-los e também nos fazia muita falta, mas procuraremos ter paciência para esperar outro pouquinho mais. [. . . ] Continua a proibição de saída dos pacotes e tentamos outro procedimento de envio, mas foi impossível e nos contraria muito o não podermos ajudá-los nem nisto”. Carta de Dolores Fisac, 25 de setembro de 1937.

[121] AGP, série A-3. 4, leg. 254, carp. 4, c-370928-1.

[122] No 29 de setembro, Miguel Fisac celebrava o seu onomástico e o seu aniversário.

[123] Acrescentaram na carta umas letras Manuel Sainz de los Terreros e Isidoro Zorzano, que assinou com o pseudônimo de Ignacio: “Sabes, de manhã nos lembramos de ti e, desejando ver-vos logo, não te esquece Manolo. Amanhã comeremos com [palavra ilegível] toda minha família. Creio que [palavra ilegível] não terá direito de queixar-se. E se se queixar é um exigente, porque a família caprichou. Comeremos até bifes e ovos fritos. Imagina o que significa, uma refeição que [palavra ilegível]. Com todo afeto, te felicita. Ignacio”. Dolores respondeu em 6 de outubro: “Recebemos a carta do avô e pequenos, que nos proporcionou grande alegria e agradecemos muito; nós também não vos esquecemos. Demoramos alguns dias para responder por ver se podíamos, por algum procedimento, mandar algo, pois aqui continua a proibição de expedições e não parece que seja fácil que a suspendam por agora. D. Manuel, contudo, nos proporcionou uma ocasião e, pela estação de Ciudad Real, um amigo conseguiu enviar na forma costumada um pacote de 10 kg, cujo bilhete incluímos [... ]. Aproveitaremos todas as ocasiões que se apresentarem para poder enviar algo, mas estas não costumam chegar com a frequência que desejaríamos”. Carta de Dolores Fisac, 6 de outubro de 1937.

[124] AGP, série A-3. 4, leg. 254, carp. 4, c-371000-1. Saindo de Madri de carro, o fundador, Albareda, Sainz de los Terreros e Alvira chegaram a Valência em 8 de outubro de 1937. Esta carta, datada de Madri, em outubro, pôde ser escrita imediatamente antes da sua partida, a modo de despedida. Evidentemente essa saída cortava toda a possibilidade futura de que o fundador fosse a Daimiel. Em 9 de outubro, Zorzano informou Fisac das mudanças produzidas: “O avô, com os pequenos Juanito, Manolo e Albareda, saíram em viagem de evacuação em direção Valência-Barcelona, com o fim de poder reunir-se com o pequeno José Ramón. Como foi muito precipitado, pois era questão de oportunidade, não puderam passar a saudar-vos, como era a intenção que tinham. Saíram ontem e, como é natural, ainda não há notícias deles. Manter-vos-ei ao par de todas as novidades que houver; procurai, enquanto isso, uma recomendação com D. Manuel e sua mãe, para que ponham toda a sua influência no bom êxito da evacuação”. Carta de Isidoro Zorzano, 9 de outubro de 1937, AGP, IZL, c-371009.

[125] AGP, série A-3. 4, carp. 3, c-371102-1. Trata-se de um cartão postal.

[126] Manolita era Miguel Fisac. Anteriormente se viu como Juan Jiménez Vargas tinha regressado a Barcelona com Francisco Botella, Pedro Casciaro e Miguel Fisac. No dia 30 de outubro, Dolores Fisac escreveu a Isidoro Zorzano: “Ontem de manhã, apresentou-se Ricardito [Juan Jiménez Vargas], voltando à noite acompanhado do pequeno e se foram tão contentes, podes imaginar a surpresa. Deu-nos notícias do avô e detalhes sobre a sua saúde”. Carta de Dolores Fisac, 30 de outubro de 1937.

[127] Muito provavelmente se referia à sua mãe.

[128] Em 6 de novembro, Isidoro Zorzano escreveu a Dolores Fisac: “Recebi tuas duas cartas; esperava notícias do avô para comunicá-las a ti e, efetivamente, ontem recebi um cartão seu, datado de Barcelona, dia 30, no qual me diz que, com motivo das chuvas, atrasava sua viagem 4 ou 6 dias, por isso imagino que já terá saído. Também dizia que sua próxima já a escreveria da casa de José Ramón”. Carta de Isidoro Zorzano, 6 de novembro de 1937, AGP, IZL, c-371106. Dois dias depois, anotou em seu diário: Recebeu-se um cartão postal do P. [Padre, São Josemaria], datado de Barcelona com data 6; espera ir saudar J. R. [José Ramón] de um momento para outro, com seus sete netinhos”. Diário de Isidoro Zorzano, 8 de novembro de 1937, AGP, IZL, D-1122. Os sete eram: José María Albareda, Tomás Alvira, Manuel Sainz de los Terreros, Juan Jiménez Vargas, Francisco, Botella, Pedro Casciaro e Miguel Fisac. No dia 10, Dolores Fisac comunicou a Isidoro Zorzano: “Nós tivemos um postal do avô do dia 2, dizendo que tinham chegado a Bª e estavam muito contentes”. Carta de Dolores Fisac, 10 de outubro de 1937.

[129] AGP, série A-3. 4, leg. 254, carp. 4, c-371110-1. Trata-se de um cartão postal.

[130] Referia-se à carta nº13; como já se indicou, tratava-se de um cartão postal enviado de Barcelona em 2 de novembro de 1937.

[131] Em 12 de novembro, Zorzano voltou a escrever a Fisac: “No correio de hoje, recebi vossa carta juntamente com um cartão postal do avô. Diz que o pequeno que chegou com Ricardito [Jiménez Vargas] está encantadíssimo; por motivo das chuvas ainda não empreenderam a viagem para que o reumatismo do avô não o moleste. Esperam sair de um momento para outro. O cartão postal é datado de 10”. Carta de Isidoro Zorzano, 12 de novembro de 1937, AGP, IZL, c-371112. Com a referida carta deve ter-se cruzado a que lhe escreveu Dolores Fisac no dia 15, na qual dizia: “Tivemos um postal de Barcª com data de 10, diz que todos estão bem, que esperam que o tempo melhore porque as chuvas são péssimas para o reumatismo do avô e, então, irão morar com José Ramón; que não pensa escrever até que façam a viagem”. Carta de Dolores Fisac, 15 de novembro de 1937.

[132] AGP, série A-3. 4, leg. 254, carp. 4, c-371118-1. O guia – Mateo, el lechero – reestabeleceu o contato com eles no dia 16 e disse-lhes que tudo estaria preparado para o 19 de novembro. Tomariam um ônibus para um ponto que se encontrava a uns cem km a noroeste de Barcelona. Ali começaria a sua tentativa de alcançar Andorra.

[133] Nos quatro postais que São Josemaria escreveu de Barcelona utilizou o feminino; cabe pensar que o fez para extremar a prudência. Assim se viu que se refere a Miguel Fisac como Manolita e que, em lugar de netos, diz netas.

[134] Não se conhece a quem se refere, talvez a algum dos que estavam em Barcelona.

[135] AGP, série A-3. 4, leg. 254, carp. 4, c-371110-1. Trata-se de um cartão postal.

[136] Apesar de ser ilegível, parece a letra de São Josemaria.