Alegre, persistente e magnânima: a aventura da Santidade de Guadalupe

Guadalupe vai ser beatificada em Madri no próximo dia 18 de maio. A jornalista Cristina Abad, numa biografia breve que acaba de ser lançada em Lisboa - Livre para amar (Lucerna) - esboça os traços principais que a caraterizaram.

Além da autora, intervieram também na apresentação o sacerdote do Opus Dei que se ocupa em Madri do Departamento das Causas dos Santos, e Flora Costa, doutorada em Química.

O Pe. José Carlos Martin de la Hoz, que conhece pormenorizadamente os documentos do Processo de Beatificação, acentuou como Guadalupe superou a prova da cruz de cada dia (a das segundas, terças, quartas, quintas…) e deixou nas cartas que escreveu a São Josemaria Escrivá o reflexo da sua disponibilidade alegre, aspecto que a Igreja acentua no Decreto sobre as Virtudes Heroicas.Convidou à leitura integral dessas cartas, disponíveis no site do Opus Dei.

Aí podemos ver como era essa mulher na sua época: lançada, consciente das suas falhas e fraquezas, mas sempre contente. Em vários momentos, os testemunhos da sua vida referem as gargalhadas sonoras com que desmontava qualquer dificuldade. E deixou um conselho aos presentes, com uma nota de bom humor: recorrer à sua intercessão, porque “ou os pomos a trabalhar [aos santos]; ou embrenham-se na visão beatífica, e esquecem-se de nós!”.

A autora, Cristina Abad, contou como a fez cair em si receber a notícia de que Guadalupe Ortiz de Landázuri poderia vir a ser beatificada. Embora já tivesse lido uma biografia sua mais longa, parecia-lhe um modelo inatingível. Quando o Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica Gaudete et exsultate se referiu aos santos que estão ao nosso lado, sentiu-se interpelada a rever a visão inicial. Como jornalista, considerava uma “grande notícia” que o primeiro dos fiéis leigos a ser beatificado fosse uma mulher, que sempre teve que conciliar múltiplas tarefas: professora, diretora de residências universitárias, transmissora da fé cristã por toda a Espanha e pelo México, em sessões dirigidas a pequenos grupos e em muitas conversas amigas. Da aventureira viagem de avioneta que ilustra a capa do livro, à longa travessia do Atlântico em 1950 rumo ao México, até ao uso do cavalo como meio de transporte nas zonas rurais desse novo país, por tudo passou. Sem nunca deixar os livros de Química e o projeto de tese, que viria a terminar mais tarde, já numa idade madura e conquistar o seu lugar nos quadros do ensino técnico-profissional, de regresso a Madri. Uma vida que pode ser iluminadora para as mulheres de hoje, com tantas tarefas a cumprir, no dilema entre o que deve e o que quer fazer. No caso de Guadalupe Ortiz de Landázuri, foi o amor de Deus por ela e a sua correspondência a dar-lhe asas para subir e abraçar constantemente novos desafios. Um que lhe veio proposto: a sua doença cardíaca, com a consequente limitação de atividade, e a aceitação da morte prematura, que sobreveio menos de um mês depois de S. Josemaria Escrivá ter também deixado esta terra. Fora ele, em 1944, a abrir-lhe o panorama que daria sentido à sua vida.

A autora pôde expor os traços biográficos de Guadalupe numa entrevista concedida à Angelus TV:


Flora Teixeira e Costa, química como Guadalupe, centrou-se em que a autora refere a normalidade como nota da sua vida e questionou-se sobre “Que normalidade é esta?”, referindo vários episódios, que denotam a sua grandeza de alma. Numa das suas cartas a São Josemaria, já com o projeto de tese muito adiantado, conta que acabam de lhe fazer a proposta de dar início ao trabalho apostólico do Opus Dei no México deste modo: “Falaram-me do assunto do México. Obrigada. Ficaria tão contente se não fosse (…), mas fico encantada por ir, embora realmente não pare muito a pensar nisso. Só na oração dedico todos os dias um bocadinho, pouco, e rezo algum terço à minha Virgem de Guadalupe a pedir-lhe pelo que ainda nem conheço”.

Refere a sua determinação e persistência em fazer a tese que a leva de novo no México a começar tudo de raiz. De elevada qualidade científica e com aplicação tecnológica, esse trabalho iria levá-la a registar uma patente e a ser ainda hoje citada na área dos isolantes térmicos. Sobretudo, um coração grande, capaz de acolher as fragilidades das muitas amigas que nela confiavam. Magnânima, esse era o adjetivo que a qualificava. Uma inabalável confiança em Deus fora o seu isolante térmico, que não a deixara perder energia.

A sessão, frequentada por uma centena de pessoas, terminou com a oportunidade de conversar com Cristina Abad, enquanto autografava cada livro.


Links

- Notícia na Agência Ecclesia

- Site onde se pode comprar o livro "Liberdade para amar"

- Ler o Prefácio/Introdução do livro

- Consultar o índice do livro