A vocação de Josemaria Escrivá (1918-1928)

Artigo de José Luís González Gullón, publicado na revista Scripta Theologica, onde analisa um acontecimento singular: as pegadas que um carmelita descalço deixou na neve levaram São Josemaria à descoberta da sua vocação na Igreja e a um aprofundamento pessoal no mistério cristão.

Josemaria Escrivá com seu irmão mais novo, em Logroño.

Oito formas de conhecer melhor São Josemaria


A vida das pessoas declaradas santas pela Igreja está marcada por eventos nos quais se sentiram chamadas interiormente pela graça divina. No caso dos fundadores, estes acontecimentos têm um componente carismático que marca a evolução das instituições que iniciam. A biografia de São Josemaria Escrivá se move nestas coordenadas. Um acontecimento singular do qual se comemorou o centenário – as pegadas que deixavam na neve um carmelita descalço – levaram-no à descoberta da sua vocação na Igreja e a um aprofundamento pessoal no mistério cristão. Este artigo analisa o conteúdo do que o próprio Escrivá denominou mais tarde “vislumbres” [barruntos em espanhol], ou seja, pressentimentos de que Deus o queria para uma determinada missão.

“Toda a vida é vocação”[1]. Do princípio ao final da existência, Deus chama cada homem através de etapas e circunstâncias nas quais, às vezes, se sente a vocação de modo impetuoso e outras de forma quase imperceptível. Dentro do amplo e rico panorama teológico e jurídico ao qual a vocação cristã faz referência – de caráter histórico marcante – o nosso estudo analisa o momento no qual José María Escrivá sentiu que Deus passava pela sua vida e a evolução desse acontecimento até que recebeu a missão de fundar o Opus Dei[2]. Estudaremos uma década que começou no final de 1917 ou princípio de 1918 – o que denominou uma vez o momento “da minha vocação em Logronho”[3] – e que concluiu em outubro de 1928 com a fundação do Opus Dei. Estes dez anos coincidem com a sua adolescência e juventude, uma fase da vida em que cada pessoa aprende a amar com liberdade e forja grandes ideais[4].

Dividimos o artigo em cinco partes. Começa com uma breve referência à infância e adolescência de José María Escrivá. Depois, analisamos os acontecimentos do momento no qual começa a sua vocação. Continuando, nos referiremos aos anos de seminário em Logronho e Saragoça; depois, examinamos qual era o seu estado interior durante essa época e, finalmente, mencionamos o acontecimento fundacional do Opus Dei, que põe fim a esta etapa da sua vida.

1. Adversidades de uma família cristã

José María Escrivá Albás nasceu em Barbastro, Huesca, em 9 de janeiro de 1902. Seu pai se chamava José Escrivá Corzán; tinha nascido em Fonz (Huesca), em 1867, embora a sua família procedesse de Balaguer (Lérida). Sua mãe se chamava Dolores Albás Blanc. Era barbastrina, com antepassados em Aínsa (Huesca). O casal se havia casado quatro anos antes, em 1898, e residiam numa casa alugada na rua Mayor de Barbastro, que fazia ângulo com a Praça do Mercado. Em 1899, tinha nascido a primogênita, Carmen[5].

A povoação de Barbastro não ultrapassava os sete mil habitantes. Apesar do seu escasso número, acolhia uma sede episcopal há oito séculos. A economia da cidade girava em torno de diversas atividades agrícolas, como o cereal ou a produção de vinho e azeite. Os comerciantes e pequenos empresários conviviam com os camponeses e jornaleiros. Havia tendências políticas de diversos tipos, desde carlistas – legitimistas e partidários do Antigo Regime – até republicanos e socialistas. Nos círculos recreativos e culturais dominava o pensamento liberal, sem que houvesse graves conflitos políticos ou sociais.

No final do século XIX, José Escrivá e outros dois sócios criaram uma empresa dedicada ao comércio de tecidos e à venda de chocolate. Em 1902, um sócio se retirou com o compromisso de não abrir um negócio do mesmo tipo em Barbastro. José Escrivá estabeleceu junto com o outro sócio uma nova sociedade chamada “Juncosa y Escrivá”. Num primeiro momento, esta atividade empresarial deu bons resultados. A família Escrivá teve uma posição social relativamente boa. Conforme os usos da época, tinha quatro pessoas de serviço na casa. José Escrivá possuía um alto sentido de solidariedade, manifestado nas esmolas que entregava a pessoas necessitadas, a colaboração econômica com o Centro Católico da cidade, e a organização de conferências religiosas para os seus empregados[6].

Quatro dias depois do seu nascimento, José María foi batizado na catedral de Barbastro que era, além disso, a sua paróquia. Pouco depois – em 23 de abril – recebeu a confirmação. Em 1904, quando tinha dois anos, sofreu uma meningite aguda. Desenganado pelos médicos, sua mãe rezou uma novena a Nossa Senhora do Sagrado Coração e prometeu que, se o menino ficasse curado, iria visitá-la em peregrinação a uma ermida dedicada à Nossa Senhora de Torreciudad, a vinte quilômetros de Barbastro. O pequeno sarou e sua mãe o levou em braços até Torreciudad em agradecimento.

A família Escriva era muito unida. José María aprendeu dos seus pais virtudes como a liberdade unida à responsabilidade, a laboriosidade e a ordem. Também lhe ensinaram a rezar com uma piedade simples, sem artifício. Segundo recordava mais tarde, “nosso Senhor foi preparando as coisas para que minha vida fosse normal e corrente, sem nada de chamativo. Fez-me nascer num lar cristão, como costumam ser os de meu país, de pais exemplares que viviam e praticavam sua fé”[7].

Nos anos seguintes chegaram três meninas ao lar: María Asunción, Chon, em 1905; María de los Dolores, Lolita, em 1907; e María del Rosario, em 1909. Tristemente, a mortalidade infantil levou uma atrás da outra. Rosario faleceu com nove meses, Lolita com cinco anos, e Chon com oito.

Apesar destas duras contrariedades, a maior parte da infância de José María foi normal, alegre, de progressiva abertura para a sociedade e para o mundo. Entre 1905 e 1908 frequentou um jardim de infância dirigido pelas Filhas da Caridade, e, de 1908 a 1915, foi aluno de um colégio dos padres esculápios. Em 1912 – ano em que começava a educação secundária – recebeu a Primeira Comunhão na escola, beneficiando-se da disposição do Papa Pio X para que se comungasse ao chegar ao uso da razão. Quando recebeu Jesus sacramentado, José María lhe pediu a graça de não cometer nunca um pecado grave[8].

A conjuntura econômica do momento somada à concorrência desleal do ex-sócio levou “Juncosa e Escrivá” à crise. Em defesa da sociedade, Juan Juncosa e José Escrivá, ingressaram em juízo contra o antigo sócio, pleiteando o pagamento de indenização pelos danos causados em face do inadimplemento do compromisso de não-concorrência. O juízo de primeira instância de Barbastro decidiu a favor da sociedade autora em 1910. Não satisfeito, o ex-sócio interpôs recurso de apelação, o que levou o Tribunal a diminuir os valores referentes à indenização em 1912. Ao final do período de exercício de seu contrato social, e em fase de liquidação para seu encerramento, a sociedade apresentou um recurso ao Tribunal Supremo, a fim de ver corrigida a decisão que outrora reduziu os valores devidos. Desafortunadamente, em maio de 1913, o Tribunal Supremo não só não deu provimento ao o recurso, como obrigou a pagar todas as custas processuais. “Juncosa e Escrivá” entrou em processo de falência e cedeu o ativo social a uma comissão de credores. Em 1915, outra sentença do Tribunal Supremo decidiu a favor de um pleito apresentado por alguns credores. O negócio ficava definitivamente cancelado[9].

Como o patrimônio social da empresa era insuficiente para ressarcir as dívidas, José Escrivá pagou os credores com o seu capital familiar. Não estava obrigado legalmente mas pensava, em consciência, que devia fazê-lo. Esta resolução foi apoiada por sua mulher, mas não foi entendida por outros parentes (da família dela). A família Escrivá Albás arruinou-se. Teve de prescindir das pessoas que trabalhavam no serviço da casa e começou a passar apertos. José María sofreu uma crise interior porque essas dificuldades econômicas se uniam à dor pela morte de suas irmãs. Porém a serena resignação cristã dos seus pais ante as adversidades ajudaram-no a manter a confiança em Deus.

Em março de 1915, José Escrivá encontrou trabalho como empregado em La Gran Ciudad de Londres, uma loja de tecidos da cidade de Logronho. Depois do verão desse ano, toda a família mudou para a capital riojana, que, na época, tinha vinte e quatro mil habitantes. Os Escrivá Albás enfrentaram as incomodidades próprias da mudança de localidade e da inicial ausência de amizades.

Carmen matriculou-se em Magistério, carreira que acabaria em 1921. José María continuou os estudos de ensino médio no Instituto Geral e Técnico, que passou mais tarde a chamar-se Instituto Práxedes Mateo Sagasta. Pelas manhãs ia ao instituto e às tardes ia ao colégio de Santo Antônio de Pádua, onde estudava e recebia aulas complementares, como era habitual nessa época[10].

2. A descoberta da chamada

Em dezembro de 1917, José María Escrivá realizava o último ano do ensino médio em Logronho. Na ocasião, passava um período de certa confusão. Além das dúvidas próprias da adolescência, conservava uma rebeldia interior perante a situação na qual a família se encontrava – estavam abertas as feridas da morte das suas irmãs e da ruína do seu pai, José Escrivá – e tinha mudado de colégios e de amizades. Como recordava anos mais tarde, “revoltava-me com a situação daquela época. Sentia-me humilhado”[11]. Impressionava-o, pelo contrário, a serenidade e a grande confiança na Providência que encontrava em seus pais, pois via-os sofrerem em silêncio.

Entre 9 de dezembro de 1917 e 6 de janeiro de 1918, houve em Logronho doze dias nos quais nevou, com intensidade variável. O ponto álgido produziu-se no final de dezembro, com fortes nevadas e com temperatura mínima de dezesseis graus abaixo de zero, registrada no dia 30 de dezembro. Pelo menos uma pessoa idosa faleceu em sua casa devido ao frio[12].

Um desses dias, depois de uma nevada, José María Escrivá se encontrava na rua Mayor. Talvez ele estivesse indo ou voltando para casa, situada na rua Sagasta n. 12, muito perto da Ponte de Ferro, ou talvez tinha ido ao colégio de Santo Antônio de Pádua. Quando estava perto do colégio dos irmãos maristas, numa zona chamada la Costanilla, viu de repente “uns religiosos Carmelitas, descalços sobre a neve”[13] e, como reação, fez-se uma pergunta em primeira pessoa: “Se há quem faça tantos sacrifícios por Deus e pelo próximo, não serei eu ser capaz de oferecer-lhe alguma coisa?”[14]. Veio-lhe, então, o pensamento de ser sacerdote, algo que até esse momento não tinha considerado que fosse para ele[15].

3. O sacerdócio secular

Logo – talvez uns dias depois de cumprir dezesseis anos no 9 de janeiro de 1918 – o jovem José María foi ao convento onde viviam os carmelitas, que estava situado nos arredores da cidade, numa estrada vicinal que se chamava a Vuelta del Peine, do outro lado trilhos de trem. Poucas semanas antes, havia sido formada a comunidade de carmelitas homens de Logronho, composta somente por três pessoas: o irmão Pantaleón do Sagrado Coração de Jesus, que tinha chegado no final de novembro de 1917, o padre Juan Vicente de Jesus Maria, que foi para a cidade no 11 de dezembro e o padre José Miguel da Virgem do Carmo, que se incorporou em 20 de dezembro[16].

José María Escrivá começou a ter direção espiritual com o padre José Miguel[17]. Incrementou a prática cristã que, em suas palavras, o conduziu “à comunhão diária, à purificação, à confissão... e à penitência”[18]. Ao advertir as boas disposições do jovem, o padre José Miguel o animou dois ou três meses mais tarde a que considerasse a possibilidade de ser carmelita. Escrivá meditou com seriedade nesta questão; pensou, inclusive, que no caso de que fosse esse seu caminho, teria como nome de religião Amador de Jesus Sacramentado, por devoção à Eucaristia. Mas, bem depressa, chegou à conclusão de que Deus o chamava a ser um presbítero secular[19].

Pois bem, esta determinação abarcava algo mais. José María pensou que a sua vocação não estava orientada a ocupar um cargo na estrutura diocesana. Em suas palavras, “aquilo não era o que Deus me pedia, e eu percebia isso: não queria ser sacerdote para ser sacerdote, o cura como dizem na Espanha. E tinha veneração pelo sacerdócio, mas não queria para mim um sacerdócio assim”[20]. Em seu interior sentiu uma chamada que era certa e indeterminada ao mesmo tempo, sentimentos que denominou depois vislumbres, quer dizer, pressentimentos de que Deus lhe pedia algo mais que, de certo modo, estava unido ao sacerdócio. Segundo afirmou, “eu não sabia o que Deus queria de mim, mas era, evidentemente, uma escolha”[21]. Neste sentido, ser sacerdote se lhe apresentava como um elemento necessário e, ao mesmo tempo, talvez não suficiente para que os pressentimentos se esclarecessem. Como disse numa ocasião, “Por que me fiz sacerdote? Porque acreditei que era mais fácil cumprir uma vontade de Deus, que não conhecia”[22]; somente o futuro lhe mostraria o que significava, em seu caso, que um presbítero é um pastor na Igreja.

Na ocasião intensificou a oração de petição – “as luzes não vinham, mas evidentemente, o caminho era rezar”[23], anotou, pois estava “persuadido de que Deus me queria para alguma coisa[24]. Concretamente, recitava duas breves frases em latim com as quais rogava conhecer os desígnios de Deus. Dizia: Domine, ut videam! (Senhor, que veja!); Domine, ut sit! (Senhor, que seja!).

Um bom dia comunicou a seu pai que queria entrar no seminário. José Escrivá quis certificar-se e lhe perguntou: “Você pensou no sacrifício que supõe a vocação de sacerdote?”. José María lhe respondeu: “Somente pensei, igual a você quando se casou, no Amor”[25]. Ao vê-lo tão firme, seu pai se comoveu até as lágrimas, “ele tinha outros planos possíveis, mas não se insurgiu. Disse-me: ‘Meu filho pensa bem. Os sacerdotes têm que ser santos... É muito duro não ter casa, não ter lar, não ter um amor na terra. Pensa um pouco mais, mas eu não me oporei’”[26]. Somente lhe sugeriu que, além da Teologia, estudasse Direito (até esse momento, tinham pensado que José María podia ser arquiteto, advogado ou médico), porque era compatível com os estudos eclesiásticos. Além disso, seu pai apresentou-o a Antolín Oñate, um sacerdote conhecido, que era pároco e abade da colegiada de La Redonda[27].

No verão de 1918, José María acabou o ensino médio com boas notas. Após o período estival, ingressou no seminário de Logronho. Durante dois anos acadêmicos superou as matérias correspondentes ao primeiro ano de Teologia e participou numa catequese aos domingos pela manhã[28]. Perante os seus companheiros era “responsável, bom estudante, alegre, amável com todos, um tanto reservado e piedoso”[29].

Na Espanha daquela época, os filhos homens se responsabilizavam pelo sustento da família. José María pensou que em sua casa necessitavam de outro menino e pediu-o a Deus. Nesse momento, José Escrivá tinha cinquenta e um anos e Dolores Albás, quarenta e um. Fazia nove anos que não tinham filhos. Contudo, em 28 de fevereiro de 1919 – dez meses depois de que José María tinha comentado com o pai sobre a vocação sacerdotal, nasceu Santiago Escrivá[30]. Este acontecimento impressionou José María; entendeu que também estava relacionado com os pressentimentos e com a chamada ao sacerdócio: “A minha mãe me chamou para comunicar-me: ‘vais ter outro irmão’. Com aquilo, toquei com as mãos a graça de Deus; vi uma manifestação de Nosso Senhor. Não o esperava”[31].

Um ano mais tarde, em setembro de 1920, José María Escrivá se mudou para Saragoça para continuar os estudos eclesiásticos. A capital de Aragão rondava os cento e cinquenta mil habitantes e tinha uma crescente atividade agrícola e industrial. José María dirigiu-se a ela para seguir o conselho do seu pai – a cidade contava com uma faculdade de Direito – e também porque completaria os estudos eclesiásticos numa universidade pontifícia; viveria perto dos seus tios Carlos Albás, que era cônego da catedral de Saragoça e de Maurício Albás, que estava casado, e, desse modo, evitaria que o destinassem ao povoado de Calahorra para terminar os estudos de Teologia, como era habitual entre os seminaristas riojanos.

Carlos Albás facilitou as gestões para que seu sobrinho entrasse no seminário de São Francisco de Paula, onde lhe concederam meia bolsa. Desde o primeiro dia de aula, José María foi à Universidade Pontifícia de São Valero e São Bráulio. Postergou, pelo contrário, o início da faculdade de Direito até o quinto de Teologia para realizar bem ambos os estudos. No seminário recebeu a formação tradicional própria do momento[32].

4.- A essência dos pressentimentos

José María Escrivá estava convencido de que Deus lhe inspirava os vislumbres desse “algo” que viria no futuro. Por sua natureza, os pressentimentos eram claros em alguns aspectos e incertos em outros. Como disse depois, “continuava a ver, mas sem precisar o que é que o Senhor queria: via que o Senhor queria alguma coisa de mim. Eu pedia, e continuava a pedir”[33]. Sempre que podia, ia à capela de Nossa Senhora do Pilar para solicitar o conhecimento da vontade divina. Empregava uma jaculatória semelhante a outras que utilizava: Domina, ut sit! (Senhora, que seja!) e reforçava a sua súplica com frases do Evangelho que às vezes dizia em voz alta ou inclusive cantava: “Ignem veni mittere in terram et quid volo nisi ut accendatur?; vim para incendiar a terra, e que quero senão que arda? E a resposta: Ecce ego quia vocasti me! Aqui estou, porque me chamaste”[34].

Coincidindo com a chegada à capital aragonesa, sentiu-se “impelido a escrever, sem ordem nem concerto”[35], em “notas soltas”[36]sem ilação clara, diversas moções e acontecimentos da sua vida interior. A algumas destas inspirações, nas quais sentia a providência de Deus, as denominava “operativas, porque dominavam de tal maneira a minha vontade que quase não tinha de fazer esforço”[37]. Eram ideias confusas; às vezes, inclusive, apontavam para uma fundação, mas sem nada concreto.

O fundamento desses vislumbres, ao contrário, era patente para ele. Radicava numa relação íntima com Deus, em “algo tão formoso como enamorar-se”[38]. Anos mais tarde, condensaria esta etapa de sua vida com as seguintes palavras: “comecei a vislumbrar o Amor, a perceber que o coração me pedia algo grande e que fosse amor”[39]. E, como fruto desse arrebatamento interior, o desejo de rezar e de cumprir a vontade de Deus nele crescia, como escreveu: “verdadeiramente, o Senhor dilatou o meu coração, fazendo-o capaz de amar, de arrepender-se, de servir, mesmo apesar dos meus erros”[40].

As limitações na educação humana de alguns seminaristas de Saragoça e as incompreensões com o reitor do seminário puseram em crise sua vocação sacerdotal. No verão de 1921, José María buscou a direção espiritual de um sacerdote em Logronho que, ao advertir que tinha as disposições adequadas, animou-o a continuar. O jovem decidiu-se e, um ano mais tarde, em setembro de 1922, recebeu a tonsura – que o incorporava oficialmente ao estado clerical – e foi nomeado inspetor do seminário pelo arcebispo de Saragoça, o cardeal Juan Soldevila[41].

Em 1923 começou a faculdade de Direito, como aluno livre, na Universidade de Saragoça. Tratava-se de uma faculdade pequena (trezentos e trinta e um alunos, dos quais duzentos e quarenta e dois livres), com professores de prestígio nacional. Salvo dois exames do preparatório, José María não frequentou as aulas da faculdade de Direito nem fez provas até terminar os estudos de Teologia, em junho de 1924.

Este ritmo lento no estudo do Direito e o seu desejo de não “fazer carreira” eclesiástica desgostavam o seu tio Carlos, que queria que José María fizesse algum concurso o quanto antes. O jovem, pelo contrário, “considerava que os estudos universitários lhe permitiriam estar mais disponível para o cumprimento da vontade divina”[42]. Neste sentido, talvez pensou que a faculdade de Direito também fazia parte do âmbito no qual se moviam os vislumbres (mais adiante, a formação jurídica recebida o ajudaria a buscar caminhos através dos quais situaria o Opus Dei dentro do ordenamento canônico da Igreja).

Em 14 de junho de 1924, recebeu o subdiaconato. Cinco meses mais tarde, em 27 de novembro, o seu pai faleceu repentinamente em Logronho e José María ficou como chefe da família. Então decidiu que os seus mudassem para Saragoça. Esta mudança motivou um forte choque com seu tio. Se, anos antes, Carlos Albás não tinha entendido as resoluções de José Escrivá quando a sua empresa quebrou, agora não desejava que a irmã e os filhos fossem residir em Saragoça porque se encontravam em franca penúria. Pensava que era mais oportuno que José María se ordenasse presbítero e que se situasse na diocese; depois, poderia reencontrar-se com a família. Porém, como o sobrinho não seguiu o seu conselho, produziu-se a ruptura.

Em 20 de dezembro de 1924, Miguel de los Santos Díaz Gómara, bispo auxiliar de Saragoça, conferiu o diaconato a José María; e, no 28 de março de 1925, ordenou-o sacerdote. Passados dois dias, José María celebrou a Primeira Missa na santa capela do Pilar em sufrágio por seu pai. Assistiram a sua mãe e irmãos, uns primos, a família de um professor amigo e poucos convidados mais; entretanto, não estiveram presentes nenhum dos seus três tios sacerdotes. Depois de celebrar a Missa, o jovem presbítero se retirou para a sacristia. E, depois de tirar os paramentos, chorou a Deus com desconsolo[43].

Depois passou um mês e meio num pequeno povoado da província chamado Perdiguera. Teve assim a primeira experiência pastoral na administração dos sacramentos e na atenção aos fiéis mediante a direção espiritual[44]. Quando regressou a Saragoça, a cúria diocesana não lhe outorgou uma nomeação para trabalhar na pastoral ordinária como, por exemplo, colaborar numa paróquia. José María Escrivá conseguiu uma vaga como capelão da igreja de São Pedro Nolasco, que era regida pelos jesuítas. Este cargo exigia que ele celebrasse a Missa e dedicasse um tempo ao confessionário. Dedicava o resto do dia a assistir aulas e a estudar as matérias de Direito[45].

A relação com o mundo acadêmico resultou-lhe enriquecedora. Escrivá mostrava uma mentalidade laical pouco comum entre o clero. Por exemplo, nos intervalos entre uma lição e outra não se reunia só com sacerdotes e seminaristas, mas buscava o diálogo com os estudantes leigos; não pedia privilégios na hora de fazer os exames ou de assistir a aula; e também não “dava sermão” quando falava com os outros. Por isso, alguns companheiros lhe tiveram particular apreço e lhe confiavam assuntos pessoais ou o acompanhavam pela rua.

Em sua atividade ministerial, teve relação com universitários das Congregações Marianas, dirigidas pelos jesuítas. Além disso, acompanhado por alguns jovens, aos domingos ensinou a doutrina cristã a meninos de famílias de escassos recursos do bairro de Casablanca, à saída de Saragoça. O contato com os necessitados aumentou o seu desejo de servir aos outros com o sacerdócio.

Desde algum tempo – de modo particular desde a morte do seu pai, tinha a ideia de fazer o doutorado em Direito e de ocupar uma cátedra universitária. Queria levar a doutrina cristã ao mundo acadêmico, pois, quando contemplava os seus companheiros de Faculdade, via-os “um pouco como ‘ovelhas sem pastor’“[46]. Pois bem, como lhe aconselhou um sacerdote amigo, o catedrático José Pou de Foxá, deveria abrir-se caminho fora de Saragoça, já que ali “não tinha campo”[47] dadas as dificuldades com o tio.

5. A plenitude da chamada

Por volta de setembro de 1926, José María viajou a Madri para informar-se sobre como podia realizar o doutorado. Quando regressou a Saragoça, e, como forma de ganhar algo de dinheiro para sua família, deu aulas de revisão de Direito Romano, Canônico, História do Direito e Direito Natural no Instituto Amado.

Em janeiro de 1927, ele se formou em Direito. Dois meses mais tarde, solicitou o translado do expediente acadêmico a Madri para fazer o doutorado na Universidade Central. E, pouco tempo depois, após uma breve substituição de um sacerdote num povoado de Saragoça (Fombuena), deixou a capital aragonesa.

José María Escrivá chegou a Madri em 20 de abril[48]. Matriculou-se nos cursos de doutorado da Faculdade de Direito e alojou-se na Casa Sacerdotal para presbíteros extra diocesanos. Esta residência era dirigida pelas damas apostólicas do Sagrado Coração de Jesus, uma nova congregação religiosa. Um mês mais tarde, a fundadora das damas apostólicas ofereceu-lhe ser capelão da igreja do Patronato Enfermos, sede central das religiosas e centro de diversas atividades de beneficência[49].

Em 1 de junho, o padre José María começou o trabalho pastoral no Patronato de Enfermos, que consistia na celebração da Missa, exposição da Eucaristia, atendimento no confessionário e, à tarde, a oração do terço e a bênção com o Santíssimo Sacramento. Além disso, nos finais de semana estava disponível para confessar os meninos das escolas semi-gratuitas promovidas pelas damas apostólicas. E, embora não fizesse parte das suas obrigações como capelão, muitas tardes visitava doentes de escassos recursos em seus domicílios para levar-lhes a Comunhão ou dar-lhes a reconciliação sacramental[50].

Cinco meses depois, José María alugou um apartamento para que a sua mãe e irmãos morassem com ele. Nesse ano acadêmico, conseguiu uma vaga como professor de Direito Romano e de Canônico na “Academia Cicuéndez”, um centro privado de ensino que preparava o ingresso na Faculdade de Direito e reforçava a explicação de algumas disciplinas. O sacerdote deu aula nesta Academia duas tardes por semana, durante mais de quatro anos, para ajudar economicamente à família[51].

Em 30 de setembro de 1928, José María Escrivá foi ao convento dos Lazaristas – situado no norte de Madri – para fazer um retiro espiritual. Seis sacerdotes tinham se inscrito naquela atividade. Na terça-feira, 2 de outubro, depois de celebrar a Missa, retirou-se para o seu quarto a fim de ler uns papéis nos quais, com anterioridade, havia anotado ideias e acontecimentos que considerava inspirados por Deus e que faziam parte dos vislumbres. De repente, “percebeu a maravilhosa e pesada carga que o Senhor, na sua bondade inexplicável, tinha posto sobre os seus ombros”[52], e recompilou “com alguma unidade as notas soltas que tinha tomado até então”[53]. Nesse momento, de grande intensidade, “acabou de ver claramente a Vontade de Deus”[54] pela qual levava tantos anos rezando. O que havia ocorrido?

O jovem sacerdote recebeu uma luz de caráter sobrenatural que o situava no coração do mistério cristão. Teve uma “iluminação sobre toda a Obra[55], uma “clara ideia geral da minha missão”[56]que abria um “panorama apostólico imenso”[57]. Comovido porque “Jesus quis começar a dar forma concreta a sua Obra”[58], ajoelhou-se e deu graças a Deus. Acabava de nascer o Opus Dei. Então, ouviu os sinos da paróquia de Nossa Senhora dos Anjos, que chamavam os fiéis para a Missa; mais adiante, considerou este fato como uma mostra da intercessão de Santa Maria e dos anjos no momento fundacional[59].

Deste modo, a chamada divina que José María Escrivá tinha sentido em Logronho no final de 1917 ou princípio de 1918, irrompia naquele outubro de 1928. Para o então jovem sacerdote, todos os fatos passados da sua vida – e também os que viriam no futuro – adquiriam pleno sentido vocacional. Escrivá estava destinado a encarnar e difundir a mensagem de santidade cristã no meio do mundo, e a fundar, com esse fim, uma instituição que vivesse e plasmasse esse ideal. Como disse depois, Deus o convocava a ser “santo e pai, mestre e guia de santos”[60].

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Vázquez de Prada, A. O Fundador do Opus Dei, vol. I (“Senhor, que eu veja!), Quadrante, São Paulo, 2004


[1] Ocáriz, F., “A vocação ao Opus Dei como vocação na Igreja”, em Rodríguez P., Ocáriz, F. e Illanes, J.L., O Opus Dei na Igreja", Lisboa, Editora Rei dos Livros, 1994, p. 159. O itálico é do original.

[2] Em nosso artigo aparecerá o nome do fundador do Opus Dei como se utilizava nos anos trinta do século passado, quer dizer, José María Escrivá Albás: González Gullón, J.L. DYA. La Academia y Residencia en la historia del Opus Dei (1933-1939), Madrid: Rialp. 2016, 11, nt. 1.

[3] Apontamentos íntimos, n. 289 (17/09/1931), em Vázquez de Prada, A. O Fundador do Opus Dei, vol. I (“Senhor, que eu veja!), Quadrante, São Paulo, 2004, 93. Sobre o conteúdo e alcance desta fonte, pode ver-se Escrivá, J., Caminho. Edição comentada por Pedro Rodríguez, Quadrante: São Paulo, 2016, 45-53; e Rodríguez, P., “Apuntes íntimos (obra inédita)”, em Illanes, J.L. (Coord.), Diccionario de San Josemaría Escrivá, Burgos: Monte Carmelo e Instituto Histórico San Josemaría Escrivá, 2013, 131-135.

[4] Do ponto de vista da biografia de Escrivá, estes anos podem ver-se em Vázquez de Prada, A., O fundador do Opus Dei, cit., 13-298.

[5] Sobre este período, ver Pioppi, C., “Infanzia e prima adolescenza di Josemaría Escrivá: Barbastro 1902-1915. Contesti, eventi biografici, stato dele ricerche e prospettive di approfondimento”, Studia et Documenta 8 (2014) 149-189; Mora-Figueroa, J., “Barbastro” em Illanes, J.L. (Coord.), Diccionario de San Josemaría Escrivá, cit., 153-157; e Toranzo, E., Toranzo, G. y Toranzo, E.L., Una família del Somontano, Madrid: Rialp. 2004.

[6] Vázquez de Prada, A. O Fundador do Opus Dei, cit., 47.

[7] Citado em Garrido, M., Barbastro y el Beato Josemaría Escrivá, Barbastro: Ayuntamiento de Barbastro, 1995, 36.

[8] Ibarra Benlloch, M., “Josemaría Escrivá y el colégio de las Escuelas Pías de Barbastro (1908-1915)”, Studia et Documenta 7 (2013) 201-220; e Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 51.

[9] Toranzo, E., Toranzo, G.y Toranzo, E.L., Una família del Somontano, cit. 85-87.

[10]Toldrá, J., “Instituto General y Técnico de Logroño”, em Illanes, J.L. (Coord.), Diccionario de San Josemaría Escrivá, cit., 643-644.

[11]Meditação, 14/02/1964, em Escrivá, J., En diálogo con el Señor, edición crítico-histórica preparada por Luís Cano y Francesc Castells, Madrid: Rialp, 2017, 199.

[12] Toldrà Parés, J., Josemaría Escrivá en Logroño (1915-1925), Madrid: Rialp, 2007, 121-122,

[13] Apontamentos íntimos, n. 1637b (4/10/1932), em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 91, nt. 80. Esta é a recordação mais antiga de Escrivá sobre o episódio dos carmelitas caminhando sobre a neve. Pode ser que esses religiosos estivessem descalços, mas muito provavelmente – era o habitual –estariam usando sandálias leves e abertas. La Costanilla está situada na altura do atual número 107 da rua Marqués de San Nicolás.

[14] Frase do fundador ouvida por Álvaro del Portillo e recolhida em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 89.

[15] Catorze anos depois destes acontecimentos, em 1932, Escrivá realizou um retiro espiritual no convento do Carmen de Segóvia. Um dia anotou: ”A minha Mãe do Carmo impeliu-me para o sacerdócio. Eu, Senhora, até completar os dezesseis anos, ter-me-ia rido de quem dissesse que ia vestir batina. Foi de repente, à vista de uns religiosos Carmelitas, descalços sobre a neve...”: Apontamentos íntimos, n.1637b (4/10/1932; os itálicos são nossos), em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 91, nt 80. Em diversas ocasiões, o fundador da Obra recordou que tinha repelido a possibilidade do sacerdócio antes desse momento: ”Eu nunca pensei em fazer-me sacerdote, nem em dedicar-me a Deus. Não se me tinha apresentado esse problema, porque acreditava que não era para mim. Mais ainda: me molestava o pensamento de poder chegar algum dia ao sacerdócio, de tal maneira que me sentia anticlerical. Amava muito aos sacerdotes, porque a formação que recebi em minha casa era profundamente religiosa; tinham-me ensinado a respeitar, a venerar o sacerdócio. Porém não para mim: para outros” (AGP, Biblioteca, P01, 1975, 218-219).

[16]Toldrà Parés, J., Josemaría Escrivá en Logroño, cit., 125.

[17] Bernal, S., Mons. Josemaría Escrivá de Balaguer. Perfil do Fundador do Opus Dei, Quadrante: São Paulo, 1977, 70.

[18] Parece-nos relevante oferecer a citação completa: “O Senhor foi-me preparando apesar de mim, com coisas aparentemente inocentes, das quais se valia para despertar na minha alma essa inquietação divina... coisas que me sacudiram e me levaram à comunhão diária, à purificação, à confissão... e à penitência” (Meditação, 14/02/1964, em Escrivá, J., En diálogo con el Señor, edición crítico-histórica preparada por Luís Cano y Francesc Castells, cit., 200.

[19] Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 89, nt.75.

[20] Meditação, 14/02/1964, em Escrivá, J.En diálogo con el Señor, edición crítico-histórica preparada por Luís Cano y Francesc Castells, cit, 200. Sobre os diversos aspectos da sua chamada ao sacerdócio e os vislumbres, ver Alonso, J., “Vocación de San Josemaría” em Illanes, J.L. (Coord.), Diccionario de San Josemaría Escrivá, cit., 1296-1300.

[21] Anotações de uma Meditação, 19/03/1975, em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 90. Escrivá entendeu claramente que se tratava de uma chamada ou vocação divina; ver Apontamentos íntimos, n. 289 (17/09/1931) em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 93.

[22] AGP, PO1, 1975, 218. Noutra ocasião explicou que “esses vislumbres de amor me levaram ao sacerdócio” (Homilia, 2/10/1968, cit. em AGP, Biblioteca, PO6, vol.VI, 306).

[23] Carta 25/05/1962, n. 41, em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 161. Os itálicos são do original.

[24] Apontamentos íntimos, n. 289 (17/09/1931) em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 93. Os itálicos são do original.

[25] Recordação de Luís Felipe Gómez Caballero, Gaztelueta (Bilbao), 9/08/1975, em AGP, série A.5, 216-1-7.

[26] Meditação, 14/02/1964, em Escrivá, J., En diálogo con el Señor, edición crítico-histórica preparada por Luis Cano y Francesc Castells, cit., 200. Em outro momento, anos mais tarde, recordava de modo semelhante: “falei com meu pai, dizendo-lhe que queria ser sacerdote. Ele não esperava essa saída. Foi a única vez – já vos contei em outras ocasiões – que vi lágrimas nos seus olhos. Respondeu-me: ‘olha, meu filho, se não for para seres um sacerdote santo, por que queres sê-lo? Mas não me oporei ao que desejas’” (Anotações de um encontro familiar, 19/03/1975, em Escrivá, J.,En diálogo con el Señor, edición crítico-histórica preparada por Luis Cano y Francesc Castells, cit.,403).

[27]Toldrà Parés, J., Josemaría Escrivá en Logroño, cit., 130.

[28] Toldrà Parés, J., Josemaría Escrivá en Logroño”, cit., 120-123.

[29] Toldrà, J., “Seminario Conciliar de Logroño”, en Illanes, J.L. (Coord.), Diccionario de San Josemaría Escrivá, cit.1143.

[30] Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 101.

[31] Meditação, 14/02/1964, em Escrivá, J., En diálogo con el Señor, edición crítico-histórica preparada por Luis Cano y Francesc Castells, cit., 199.

[32] Os diversos passos do jovem Escrivá no seminário de Saragoça podem ver-se em Herrando Prat de la Riba, R., Los años de seminário de Josemaría Escrivá em Zaragoza (1920-1925): El seminário de San Francisco de Paula”, em Illanes, J.L., (Coord.), Diccionario de San Josemaría Escrivá, cit., 1146-1148.

[33] Apontamentos íntimos, n.179 em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 108. Estas palavras do fundador foram transcritas por Álvaro del Portillo em 1968.

[34]Meditação, 2/02/1962, em Escrivá, J., En diálogo con el Señor, edición crítico-histórica preparada por Luis Cano y Francesc Castells, cit. 179.

[35] Apontamentos íntimos, n. 414 (24/11/1931), em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 227.

[36] Apontamentos íntimos, n. 306 (2/10/1931), Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit. 270.

[37] Meditação, 14/02/1964, em Escrivá, J., En diálogo con el Señor, edición crítico-histórica preparada por Luis Cano y Francesc Castells, cit., 201.

[38] Anotações de um encontro familiar, em AGP, Biblioteca, P01,1968, 450.

[39] Anotações de um encontro familiar, 19/03/1975, em Escrivá, J., En diálogo con el Señor, edición crítico-histórica preparada por Luis Cano y Francesc Castells, cit.,403. No final de sua vida, repetiu várias vezes esta ideia: “Eu vislumbrava o amor de Deus, porém não sabia que era tão imenso” (Anotações de um encontro familiar, 11/07/1974, em AGP, Biblioteca, P06, vol. V, 117).

[40] Carta 25/01/1961, n.3, em AGP, Biblioteca. P06, vol.VI, 397.

[41]Herrando Prat de la Riba, R., Los años de seminario de Josemaría Escrivá en Zaragoza (1920-1925), cit., 160-162.

[42] Baltar Rodríguez, J. F., “Los estudios de Derecho de san Josemaría en la Universidad de Zaragoza”, Studia et Documenta 9 (2015), 231.

[43]Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 172-181; e González Gullón, J.L., “Anotaciones de Ricardo Fernández Vallespín en la Academia DYA de Madrid (18 de marzo – 25 de junio de 1934)”, Studia et Documenta 7 (2013) 401.

[44] Ferrer Ortiz, Javier, “Perdiguera”, em Illanes, J.L. (Coord.), Diccionario de San Josemaría Escrivá, cit., 966-967.

[45] Rodríguez, P., “El doctorado de san Josemaría en la Universidad de Madrid”, Studia et Documenta 2 (2008) 45, nt.114.

[46]Recordação de Arsenio Górriz Monzón, Teruel, XII-1975, en AGP, serie A.5, 218-1-8.

[47]Recordação de F. Javier de Ayala (que cita uma conversa com Pou de Foxá), São Paulo, 8/09/1979, em AGP, serie A.5, 196-2-7.

[48] Pode ver-se uma breve análise da capital espanhola nesse momento em Montero, J., y Cervera Gil, J., “Madrid en los años treinta. Ambiente social, político, cultural y religioso”, Studia et Documenta 3 (2009), 4513-39.

[49] Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 252.

[50] As visitas de Escrivá a domicílios de pessoas necessitadas foram estudadas por González-Simancas y Lacasa, J., “San Josemaría entre los enfermos de Madrid (1927-1931)”, Studia et Documenta 2 (2008) 147-203.

[51] Ver Ánchel, C., “Actividad docente de san Josemaría: el Instituto Amado y la Academia Cicuéndez”, Studia et Documenta 3 (2009) 330.

[52] Apontamentos íntimos, n. 306 (2/10/1931), em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 278. Os itálicos dos textos citados são do original.

[53]Apontamentos íntimos, n. 306 (2/10/1931), em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 270.

[54]Apontamentos íntimos, n. 978b (10/04/1933).

[55] Apontamentos íntimos, n. 306, em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 270. Esta frase é uma nota marginal de Escrivá de 1968.

[56] Apontamentos íntimos, n.179, em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit., 274, nt. 118. Estas palavras do fundador foram transcritas por Álvaro del Portillo em 1968.

[57] Carta de Josemaría Escrivá a José María Hernández Garnica, Roma, 29/01/1948 em AGP, serie A.3.4, 260-1. 480129-2.

[58] Apontamentos íntimos, n.331 (15/10/1931). A expressão “Obra de Deus” referida à instituição, ao Opus Dei, é de 1930. Entre 1928 e 1930 Escrivá ainda não tinha um nome para defini-la.

[59] Para um estudo sobre o ocorrido e o sentido do 2 de outubro de 1928, que ultrapassa a análise destas páginas, remetemos a Aranda, A.,“El bullir de la Sangre de Cristo”. Estudio sobre el cristocentrismo del beato Josemaría Escrivá, Madrid: Rialp, 2000; Eterovic Garrett, D., “La luz del 2 de octubre de 1928: un estudio de fuentes”, em Un mensaje siempre actual. Actas del Congreso “Hacia el centenario del nacimiento del beato Josemaría Escrivá”, Buenos Aires: Universidad Austral, 2002, 521-539; Illanes Maestre, J.L., “Datos para la comprensión histórico-espiritual de una fecha”, Anuario de Historia de la Iglesia XI (2002) 655-697; Redondo, G., “El 2 de octubre de 1928 en el contexto de la historia cultural contemporánea”, Anuario de Historia de la Iglesia XI (2002) 699-741; Rodríguez, P., Opus Dei: Estructura y Misión. Su realidad eclesiológica, Madrid: Cristiandad, 2001; y Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei, cit.554.

[60] Apontamentos íntimos, n.1725 (22/06/1933) em Vázquez de Prada, A.,O Fundador do Opus Dei, cit., 508.

José Luis González Gullón

Scripta Theologica