A Vida na Legação de Honduras

Oferecemos um relato do dia a dia de São Josemaria e alguns membros do Opus Dei, durante os dias em que permaneceram refugiados na Legação de Honduras, durante a Guerra Civil Espanhola (de março a julho de 1937).

José Maria González Barredo, José Ramón Herrero Fontana, Josemaria Escrivá, Enrique Alonso-Martínez, Ricardo Fernández Vallespín e Miguel Bañón.

Entrar em uma sede diplomática livrava as pessoas da tensão acumulada, sobretudo se haviam se sentido perseguidas. Uma vez dentro do edifício, porém, viam-se diante de um mundo muito peculiar, que exigia aceitar estar amontoadas, conviver com desconhecidos – com temperamento difícil e às vezes, egoísta – a alimentação insuficiente e a incerteza sobre o futuro.

Diplomatas e exilados

Desde o começo da guerra civil, o consulado geral de Honduras, em Madri, no primeiro andar, do lado esquerdo, do número 51 do Paseo de la Castellana, havia recebido cada vez mais pessoas. Quando Josemaría Escrivá, seu irmão Santiago, Jiménez Vargas, Portillo e Alastrué chegaram, a capacidade do apartamento havia ultrapassado o limite do razoável. Aqueles duzentos e dois metros quadrados que, em condições normais podiam alojar uma ou duas famílias, estavam acolhendo trinta pessoas (Ver a planta)[1].

A entrada da casa dava para um vestíbulo espaçoso, com móveis usados, e fracamente iluminado por umas janelas grandes, de vidro esmerilhado, que davam para um pátio interior. À direita havia um corredor estreito, com paredes descascadas e várias portas de ambos os lados que se abriam para cinco cômodos, além da cozinha, uma dispensa e um banheiro[2]. Em um desse cômodos residiam o cônsul, Pedro Jaime de Matheu, e sua esposa, Milagros Montalvo. Separados por um tapume, moravam o conselheiro jurídico da legação e médico, Jaime Rodríguez-Candela com sua esposa e dois de seus filhos. Um terceiro cômodo era ocupado por José Luis Rodríguez-Candela – filho desse último – e sua esposa Consuelo de Matheu – filha do cônsul – que se ocupava da administração econômica da legação. A seguir, em um dos cômodos do fundo estava hospedado o chanceler da legação e pintor Pierre de Matheu – também filho do cônsul – e o porteiro da legação, Juan García; enfim, o outro cômodo do fundo, próximo da cozinha, alojava outro asilado[3].

À esquerda do hall, havia uma porta envidraçada que dava para um pequeno corredor do qual saíam três cômodos. À esquerda havia um escritório e um quarto formando um único cômodo, amplo, desordenado e repleto de móveis. O cômodo contíguo, um grande salão desmantelado, tinha como móveis uma grande mesa em mau estado e várias cadeiras bambas; esse salão dava para o Paseo de la Castellana, por um terraço do qual os refugiados não podiam aproximar-se. E a terceira porta levava para um amplo banheiro, o único que os refugiados podiam utilizar[4].

O cônsul tinha, além disso, alugado o apartamento de cima, o primeiro à esquerda, como um anexo; lá se apinhavam outros trinta asilados, que chegaram a ser sessenta algumas vezes. E, embora não formasse parte da legação, o apartamento à direita, também estava sob proteção diplomática. Era ocupado por uns parentes do cônsul, de sobrenome Puncel Repáraz – um casal e duas crianças – e mais alguns refugiados. Nesse caso, e graças ao fato de uma tia da família Puncel possuir passaporte norte-americano, tinham colocado do lado de fora do apartamento a bandeira dos Estados Unidos[5].

Cada refugiado na legação de Honduras devia pagar quatro pesetas por dia pelo alojamento e alimentação[6]. Recebiam geralmente o dinheiro de familiares que pagavam a estadia por semanas. Na legação, contavam com vales que podiam trocar por moedas pequenas, de uma peseta ou cinquenta centavos. Estes vales permitiam fazer compras de alguns artigos de primeira necessidade, como azeite, manteiga ou leite condensado[7]. Os produtos alimentícios mais consistentes, como o arroz e a carne, eram distribuídos entre todos.

Josemaria Escrivá durante o período de isolamento na Legação de Honduras

Os asilados pertenciam a diversos grupos sociais, embora predominassem os homens com profissões liberais. Os da Obra já conheciam alguns como Juan Sainz de Los Terreros, o primo de Manolo com quem o fundador e Jiménez Vargas tinham estado escondidos na rua Sagasta. Havia também quatro sacerdotes e alguns noviços da congregação dos Sagrados Corações e uma religiosa dominicana. Com os filhos da família do cônsul e os dos refugiados, eram oito crianças. E, para dar mais colorido ao conjunto, os diplomatas tinham um fox terrier e uma gata angorá.

O amontoamento trazia consigo uma série de efeitos secundários que aumentavam a incomodidade. Sentia-se a falta da intimidade familiar, da alimentação suficiente e de uma boa higiene. O cônsul não permitia sair dos quartos em determinadas horas do dia, e o uso do banheiro era rigorosamente regulamentado, por turnos. Devido à falta de sabão em Madri, algumas pessoas descuidavam o asseio e a lavagem da roupa ou dos lençóis, com o consequente mau odor. À noite, os asilados utilizavam colchonetes para dormir – não havia camas – que dobravam pela manhã por necessidade de espaço.

A vida cotidiana era regulada pelos horários em que se distribuía a comida, servida para todos os refugiados na mesa do salão da casa. Para o almoço, davam-lhes duas conchas de arroz com favas como guarnição; e, para jantar, duas conchinhas de sopa de alho e couve crua. Nos dias de festa, o cardápio não era muito melhor, apenas uma xícara de chá para o café da manhã; um prato de acelga com um pouco de carne para almoçar; e sopa de alho fria para o jantar[8]. Tal pobreza alimentar devia-se, em parte, ao fato de que o único serviço de abastecimento aprovado pela Junta de Defesa de Madri para a legação era realizado por um carro, que ia fazer compras todos os dias em povoados próximos.

Com a permissão prévia do cônsul, as famílias dos refugiados podiam levar alguma coisa que completasse o parco regime alimentar, assim como roupa e utensílios pequenos. Esses pratos ou artigos não eram distribuídos entre todos os asilados, mas unicamente para a família ou a pessoa que o havia recebido.

Não havia horário para muito mais. Depois do café da manhã, alguns liam, outros tinham aulas de idiomas, e não faltava quem deitasse de novo. Mais frequentes eram os jogos de mesa e, sobretudo, as intermináveis conversas sobre a política nacional e internacional, o andamento da guerra e a fome. Recebiam notícias do exterior através do rádio, do correio postal, além das informações que lhes transmitiam seus familiares. Depois as notícias e os boatos – como havia censura nas informações oficiais era difícil saber a verdade – eram comentados repetidas vezes, sonhando com a evacuação ou com a derrubada da República frente-populista.

Vários refugiados eram pessoas de grande categoria, profissionais cultos, de conversa e estado de espírito agradáveis. Outros, poucos, adoeceram ou inclusive desenvolveram um certo trauma psicológico devido às dificuldades de convivência e dos dramas sofridos. Para Alastrué “alguns passavam o tempo ruminando em silêncio o seu desalento e sua infelicidade; outros se desabafavam comentando com amargura as desventuras presentes e passadas; outros lamentavam sem parar as suas desgraças familiares, a carreira ou o negócio perdidos, ou o seu futuro incerto ou ameaçado. Misturava-se a estes sentimentos o medo despertado pelos sofrimentos e perseguições passadas, medo que levava a considerar o mundo exterior a nosso asilo como um ambiente inabitável. Em alguns casos, associava-se a este medo o ódio aos adversários”[9].

A pouca comunicação com o exterior e a sensação de viver em um mundo marginalizado proporcionavam a impressão de perda de tempo, a dependência completa do chefe da missão, o passar de estados de aborrecimento à ansiedade, um desejo enfermiço de ser incluído nas listas de evacuação e o receio dos outros[10]. Escrivá chegou a qualificar de “jaula de grilos”[11] o lugar onde estavam. A convivência tão intensa com pessoas desconhecidas durante as vinte e quatro horas do dia criava com frequência tensões e comparações, “dificuldades tolas, inevitáveis em um regime de reclusão em que ninguém tinha nada que fazer”[12]. Assim, pequenos choques, que teriam sido resolvidos sem problemas em uma situação normal, davam lugar às vezes a violentas discussões[13].

Reinava também a obsessão pela segurança, pois várias embaixadas e legações haviam sido assaltadas. Por exemplo, na madrugada do dia 6 de maio, a polícia chefiada pelo diretor geral da Segurança, Wenceslao Carrillo, entrou nas dependências do consulado do Peru e deteve algumas entre as trezentas pessoas que lá estavam refugiadas; ao saber da notícia, a psicose de um possível assalto cresceu entre os asilados da legação de Honduras. Segundo Alastrué “todos percebíamos que a imunidade diplomática representava um débil parapeito diante da avalanche revolucionária”[14].

Um salão superpovoado

O padre José María* e seus acompanhantes ficaram alojados no salão da casa (Planta 1, n. 14). Chegaram com a roupa imprescindível, dois livros e alguns objetos de higiene. Por exemplo, o padre José María tinha um terno e uma capa, o macacão azul com o qual tinha saído da Residência DYA, o pijama e várias camisas e mudas de roupa[15].

Planta 1

A sala de estar do consulado – o maior cômodo do apartamento – servia de área comum para todos os refugiados, em particular durante as refeições. À noite, sete pessoas ocupavam esse cômodo – os cinco do grupo de dom José Maria e mais dois – dormiam em colchões estendidos sob a mesa. Era um lugar cheio de trastes. Como disse o fundador a seus filhos de Valência, para que se divertissem, “além da mesa, da cômoda e de cadeiras de diversas procedências, havia ali “cinco xícaras grandes de louça trincadas, livros de todos tamanhos em três ou quatro idiomas, papéis, um par de meias limpas e alguma outra roupa interior menos limpa (Barredo!), um jogo de mesa, uma lata de leite em pó (muito ruim, serve para dar a mamadeira ao diabo), pedaços de pão marcados pelos doutos dentes do Dr. Valdés, umas lâminas mofadas, pedaços de lápis (com ponta, desapontados e com duas pontas: à escolha) e pó, pó muito pó...”[16].

Pela manhã, viam-se obrigados a compartilhar esse espaço, cheio de movimento, ruído de crianças e atividades mais ou menos regulares. Um dia, por exemplo, o fundador descreveu as aulas de francês dadas por Eduardo Alastrué: “Com um vinco digno de Bismark (não sei se se escreve assim) entre as sobrancelhas, preside de uma mesinha extra da sala de jantar e bate papo num francês transcendental de problemas transcendentais: ‘preñez place! – La musique est – elle est très cultivée en Espagne? – Quels sont les Instruments le plus en faveur en France? – Le piano, le violon... ‘. E as oito crianças e a mãe, que se tornaram seus alunos para matar o tempo (puxa! Se matassem os protegidos de Miguelím!), mexem as cabeças e abrem e fecham a boca compassadamente, como se estivessem tentando acompanhar, em coro mudo, o instrumento preferido na França: le violon! Mas traduzido para o espanhol, tal como se lê”[17].

Outras dificuldades, mais prosaicas, tinham origem na conhecida falta de alimentação e de higiene. A escassa comida levou a que definhassem corporalmente e, por fim, adoecessem. Serviram pouco – pois era apenas um suplemento, substancial, mas limitado – os pratos que Isidoro Zorzano lhes trazia às vezes. Tampouco resolveram o problema as injeções contra o tifo que lhes aplicaram. Todos tiveram algum tipo de doença. Assim Juan Jiménez Vargas teve um problema de estômago e uma faringite, produzida pelo pó, tratada com pastilhas que Isidoro Zorzano comprou; Álvaro Portillo teve angina; José María Gonzáles Barredo teve períodos de febre; e José María Escrivá passou vários dias deitado por causa de um ataque de reumatismo[18].

Desde o início da guerra civil – sobretudo no mês em que permaneceu de cama, na clínica psiquiátrica – o padre José María tinha perdido trinta quilos. Na Legação, ia emagrecer mais dez quilos. Em junho, Sainz de los Terreros foi visitá-lo. Estavam há dez meses sem se ver. Quando o encontrou, ficou impressionado com a mudança do seu aspecto físico: “não só emagreceu no corpo, mas também no rosto (é outro) e até parece que sua cabeça ficou reduzida... não dá para explicar! quase não o reconheço! se não fosse o por ouvir falando”[19]. Nesse dia, Zorzano também anotou que ele estava “pior; está com febre; sua magreza é extraordinária”[20]. Embora o padre José María tenha procurado acalmar os seus filhos numa carta que lhes escreveu – “creio que vocês exageraram um pouco. Estou bem”[21] – não há dúvida de que padecia pela inanição. Era “fraqueza, mal comem”[22]. De fato, o esgotamento obrigou Escrivá a permanecer na cama coberto com uma manta, durante a primeira quinzena de maio e alguns dias de julho e agosto.

A higiene na legação era elementar. Tinham pelo menos o consolo de contar com água abundante para lavar-se pessoalmente. Pelo contrário, Zorzano só às vezes pôde proporcionar-lhes contadas barras de sabão, pois nem sempre estavam à venda. Por outro lado, a escassa limpeza e a limitada ventilação da casa acumulavam pó nos cômodos e corredores. Os percevejos e os piolhos – os“pispis”, como os chamavam com bom humor – estavam à vontade. tentavam combatê-los com “Mitigal”, um preparado de enxofre. Eram, porém, tantos que Santiago Escrivá batizou a casa de “Pispisjagua”[23]. Era ainda mais desagradável a praga de baratas que os rodeava. Em tom de brincadeira, o padre José María descreveu a seus filhos do Leste a impressão de encontrar-se no “paraíso das baratas: há as grandes, solenes e envernizadas como um escaravelho sagrado do Egito; outras, vão do tamanho da ponta de um alfinete até muito mais. E que harmonia de cores! É para louvar o Fazedor: brancas, vermelho prateado, tabaco, douradas, pardas, negras. Estão vendo que... nos divertimos muito”[24].

Porém, mais do que pelas condições materiais, a vida de asilado foi dura para o fundador da Obra porque não podia rezar ou trabalhar com calma e porque não encontrava tempo para estar a sós com seus filhos. Por exemplo, às vezes tinha que escrever cartas “de pé, apoiado na mesa da sala de jantar – com nove pessoas falando, e outras entrando e saindo”[25]. Com duas semanas de permanência na legação, o fundador queixava-se a seus filhos: “Hoje, assim que tentei fazer algo de proveito, logo depois de alguns pontos preliminares, ia começar o primeiro ponto do trabalho..., a criançada que há por aqui se pôs a berrar, e não há paciência humana que aguente, nem cabeça que possa se concentrar em um trabalho sério. Ai, meu quarto, com minha solidão e com meu silêncio! Nós, velhos, precisamos de quietude: o barulho, as gargalhadas e o alvoroço de estouvados são incompatíveis com a minha idade. Paciência, não é verdade? É verdade! Para que nada me falte, surgiram uns intrometidos à mesa e outros junto à minha esquelética humanidade: trabalha, Mariano. Que Rita trabalhe!”[26].

Apesar desta cotidianidade cheia de limitações somáticas e psicológicas, o padre José María estabeleceu um horário. Em primeiro lugar, cuidou o relacionamento com Deus, com a celebração da Missa. Usando seu traje gasto, lia os textos litúrgicos com um missal de fieis, usando um pequeno armário que havia no vestíbulo da casa para substituir o altar. E, como cálice e patena, usava um copo e um prato pequeno de vidro ou, se celebrasse no quarto do cônsul, utilizava uma xícara de ouro da família e galhetas de vidro entalhado. Ao acabar a cerimônia, reservava o Santíssimo Sacramento em duas caixinhas de prata, que guardavam na escrivaninha do hall, onde brilhava uma lamparina de azeite que recordava a presença de Jesus sacramentado.

Alguns dias, o padre José María não pôde celebrar a Missa por falta de vinho. Zorzano e Albareda, que se encarregavam de comprá-lo, nem sempre o encontravam; além disso, o que era comprado nas adegas azedava facilmente. Nesses casos, o fundador sofria particularmente: “Das mil privações, é a que mais me custa”[27], anotou. Mas comungavam quase todos os dias porque reservavam Hóstias consagradas depois da Missa.

Escrivá passou longos momentos no vestíbulo, junto de Jesus sacramentado. Acompanhado por seus filhos espirituais, fazia um tempo de oração mental de manhã e outro à tarde e rezava o rosário. Além disso, transmitiu sua paixão pela Eucaristia aos que o rodeavam, também aos pequenos. No dia primeiro de maio, teve um forte ataque de reumatismo, e dificuldades para andar. Ocorreu-lhe então pedir aos dois netos do cônsul que tivessem um detalhe de carinho com o Santíssimo Sacramento:

“Entusiasmo-me quando vejo estes dois pequeninos – sabem bem que sem comer não se vive – aproximar-se da caixa do Pão... e enfiar um beijo, muito apertado e ruidoso, pela fechadura![28] Outra menina da família Puncel, aprendeu a fazer a genuflexão diante da pequena escrivaninha; um dia, porém, proibiram-na “por medo de que algum dia ela a fizesse na frente de alguém que pudesse denunciá-los. Por isso, quando passava na frente daquela escrivaninha, murmurava para si mesma: Jesus, não me deixam”.

Além dos tempos previstos para rezar e conversar com os outros exilados, dedicavam durante o dia um tempo ao estudo de idiomas – francês, inglês e alemão – e procuravam passar um tempo de tertúlia juntos, fortalecendo – como escreveu Zorzano – “o que já constituíam: a vida da pequena família”[29].

A galguera

Pelo seu caráter e pela necessidade que sentia de expandir o Opus Dei, José María Escrivá detestava o confinamento a que estavam submetidos. Como disse a Isidoro Zorzano, “o papel de capitão Aranha nunca me agradou. Mais de uma vez – hoje mesmo – me vem ao pensamento sair à rua”[30]. E, acrescentava pensando em Zorzano, que andava por Madri com relativa segurança: “Feliz és tu que não estás no meu caso, exposto a sair da Espanha, sem nunca me ter metido em encrencas políticas![31] Mas, no momento, tinha que contentar-se em cultivar a fortaleza: “Esta vida de refugiado é uma não pequena tortura...: não vejo, no entanto, outra saída. Paciência, e, se enfim se evacua, ir-me; se não, esperar encerrado, até que passe a tormenta”[32].

Em princípios de maio houve uma mudança de cômodos na legação. No dia 4, o cônsul e sua esposa passaram a ocupar o gabinete que tinha sido a antiga sala de jantar. Depois, Jaime Rodríguez-Candela e sua família passaram para o apartamento do andar de cima, o primeiro da esquerda[33]. Em 12 de maio chegou a vez de o padre José María e os seus, que foram parar no cômodo que o chanceler e o porteiro tinham ocupado, junto ao depósito de carvão e ao lado da porta de serviço (Plano 1, n. 11). Este quarto, de dez metros quadrados, estava completamente vazio. Ao entrar, via-se logo as paredes sem pintura, o solo de ladrilhos, o radiador, um banquinho e a janela estreita “que dava para um pátio; a obscuridade era, pois, tão habitual que durante boa parte do dia era forçoso utilizar a única lâmpada fraca pendurada do teto por um cabo, sem lustre algum”. Deixaram lá seus escassos pertences, compostos por quatro malas e uma maleta, cinco colchões e colchonetes, cobertores e travesseiros, roupa, livros e objetos de asseio.

Pela manhã, permaneciam no quarto de pé ou sentados nos colchões, previamente enrolados e apoiados na parede. À noite, estendiam os enxergões para dormir e ocupavam toda a extensão do pequeno quarto, feito para uma ou duas pessoas. De fato, aconteceu uma noite que o secretário da legação viu como tinham coberto o solo com os colchões e comentou que o quarto lhe recordava uma galguera. O fundador da Obra achou graça no nome e o utilizou em algumas cartas[34].

A "gualguera" ocupada pelo fundador e seus acompanhantes na Legação de Honduras de Madri durante a primavera e verão de 1937 (desenho de Álvaro del Portillo)

Apesar do seu reduzido tamanho, o novo alojamento trouxe diversas vantagens. Por um lado, facilitou o aproveitamento do tempo, o recolhimento e o cumprimento do programa de práticas de piedade cristã; por outro, o fundador e os seus encontraram tempo para estar juntos e conversar sobre o andamento da Obra. Além disso, o fato de o quarto ser contíguo à porta de serviço facilitava o intercâmbio de cartas com Isidoro Zorzano sem que o cônsul ficasse sabendo. Com o tempo, inclusive estabeleceram uma simpática conexão com os Puncel, que ocupavam o apartamento ao lado, como recordava um filho dessa família: “Dávamos uns golpezinhos na parede, o que servia de contrassenha para abrirmos a porta que dava para a escada exterior e passar de um apartamento a outro sem necessidade de sair à rua”.

José María Escrivá organizou o horário. No começo da manhã, cada um rezava sozinho ou todos assistiam a uma meditação dada pelo fundador. Depois havia a Missa. Depois do café da manhã, dedicavam um tempo ao estudo, à aprendizagem de idiomas e à correspondência. Às vezes, algum deles dava uma espécie de conferência, sobre um tema de sua especialidade. Depois do almoço, a tarde não variava muito com relação à manhã. No fim do dia, rezavam o terço, faziam um tempo de tertúlia e desenrolavam os colchões para dormir.

Assim que foram para a galguera, o cônsul proibiu que o padre José María celebrasse a Missa no vestíbulo. Embora o consulado gozasse de extraterritorialidade – e, portanto, o culto religioso devia ajustar-se à legislação hondurenha e não à espanhola – o diplomata temia que o destacamento de guardas que vigiava a legação escutasse as orações do sacerdote e informasse as autoridades republicanas.

A celebração no novo quarto era muito simples. Punham um crucifixo na parede e, na falta de mesa, colocavam no chão um caixote de frutas, em cima duas maletas e a seguir uns lenços limpos que serviam de corporais; por seu lado, o banquinho servia de credência, isto é, de prateleira para os objetos que se usavam na cerimônia. A seguir, começava a Missa. O padre José María dizia em voz baixa as orações, com grande devoção. Assistiam os membros da Obra, Santiago e mais algumas pessoas, geralmente os Rodríguez-Candela ou os Matheu.

O padre José María manteve o costume de consagrar mais formas do que o número de assistentes à Missa. Conservar o Santíssimo Sacramento permitia que pudessem comungar nos dias em que não havia Missa por falta de vinho ou por doença, e para fazer a oração mental diante da Eucaristia. Conservavam as Hóstias consagradas em uma pasta que cada um tinha consigo por turnos, ou eram deixadas com cuidado numa maleta do Padre, que, deste modo, convertia-se em um improvisado sacrário. Tal práxis durou até fins de maio, quando o fundador – tendo consultado outro sacerdote exilado – pensou que seria mais apropriado não guardar a Eucaristia no cômodo em que passavam as vinte e quatro horas do dia[35].

Administrou igualmente o sacramento da penitência. Na falta de melhor lugar, atendeu às vezes Isidoro em confissão e outras pessoas, no banheiro, com a porta encostada e alguém do lado de fora para que avisasse que estava ocupado. Por sua vez, o fundador e os da Obra se confessaram com o padre Recaredo Ventosa García, religioso dos Sagrados Corações que se encontrava no andar de cima.

Escrivá pregou e deu formação cristã a seus filhos[36]. Da quinta feira 24 à segunda feira 28 de junho pregou um retiro singular. No primeiro dia descreveu como lhes falava de Deus: “Se vocês vissem Josemaría conversando sentado num colchão, vestido de pijama e, como mesa, (para a imagem e o relógio), apoiando as patinhas sobre um caixote de embalagem! Espero, no entanto, que nos divertiremos muito e tiraremos o fruto devido destas palestras”[37].

Procurou, além disso, momentos para conversar a sós com cada um deles. Segundo contava Álvaro Portillo, “à noite, quando os outros ainda não estavam deitados, o avô e eu, estendidos nos colchões desenrolados, conversamos sobre todas estas coisas de família. Na verdade, as circunstâncias dificultarão o desenvolvimento do negócio. Tudo serão inconvenientes. A questão econômica, a falta de pessoal: tudo. No entanto e apesar de sua idade, o avô não se deixa levar nunca pelo pessimismo. A falta de pesetas não lhe causa – a nós tampouco – nenhuma preocupação. Tudo está em que se trabalhe com muito ânimo: isso e muita fé no êxito, vencem tudo. Isto é o que diz o pobre velho”[38].

Um tema de suas palestras foi, com efeito, o desejo de que o Opus Dei se expandisse pelos cinco continentes, apesar das circunstâncias anômalas em que viviam. Assim o padre José María falou sobre a Obra a José Luis Rodríguez-Candela, que era catedrático de Medicina. O médico surpreendeu-se porque o fundador “não pensava na Espanha nem na Universidade espanhola: pensava no mundo inteiro e no papel dos intelectuais católicos”. Nas cartas a quem estava fora da legação, tanto o padre José María como os outros – trazemos aqui um exemplo de Álvaro Portillo – referiram-se ao desejo “que temos todos de que nasça um novo ramo, de que a família seja numerosa”[39].

Com relação ao tempo dedicado ao estudo, sabe-se que Zorzano entregou a Escrivá um manual de conversação latino-castelhana, e a Portillo alguns livros “para descongestionar o cérebro enquanto durar o encerramento”[40]. Concretamente, Alastrué deu aulas de francês, e estudou alemão, inglês e taquigrafia; Jiménez Vargas entreteve-se com francês; Portillo estudou inglês, francês e um pouco de alemão e japonês, além de taquigrafia; e González Barredo aperfeiçoou-se em alemão com seu amigo Valdés e realizou alguns trabalhos sobre física atômica.

Para se ter uma ideia do ambiente de trabalho, reproduzimos a pitoresca descrição que Alastrué fazia anos mais tarde: “José María (González Barredo) nos contava detalhadamente suas experiências universitárias ou nos fazia partícipes de suas indagações científicas; delas passava às vezes às saudades de sua região asturiana e cantava, sem desafinar, “asturianadas” tristes e patéticas. Juan relatava, com as mais vivas cores, suas andanças pelas frentes de guerra ou se referia, com seu rude estilo sarcástico, às misérias e grandezas dos grupos políticos que havia conhecido antes da guerra. Eu narrava, com sinceridade ingênua, minhas recordações dos anos de infância e da adolescência nos colégios que havia frequentado em nosso país e na França. Eu admirava Álvaro pela sutileza de suas observações sobre o ambiente e as pessoas que nos rodeavam ou com sua reta visão das questões que surgiam na conversa; dava sempre o toque do juízo moderado e certeiro ou da suave visão humorística das coisas. Santiago divertia-se com nossos pequenos acontecimentos, nossas canções e histórias”[41].

O ritmo de vida tornou-se um tanto monótono. De vez em quando, o padre José María resumia em breves pinceladas. “Alvarote está sentado junto de mim – os dois em um colchão dobrado – e está cortando um tomate em pedaços que vai colocando na xícara do café da manhã. Em cima do famoso colchonete de Eduardico, assenta seu corpo real Jeannot [Jiménez Vargas], que está lendo um livro de ginástica (é a mania do menino). E, meio truncado sobre dois colchões num canto, está José mª B. [Barredo], meu outo neto: deve estar pensando em alemão, nesse alemão que lhe ensina, com modos rudes, sua institutriz “frailanValdessler” [Manuel Valdés Ruiz]. O aragonês [Eduardo Alastrué] (penso que vocês devem estar perguntando por ele) foi à sala de jantar; e, com a solenidade que é habitual nesse meu neto, saboreia um livreto inglês, que deixará triturado”[42].

Sem solução de continuidade, passavam das atividades mais transcendentais às mais prosaicas. Por exemplo, Escrivá brincava sobre seu papel de remendador: “Especializei-me em pregar botões, cerzir e colocar remendos nas calças”[43], “transformei-me em um grande cosedor. Botão que cai ou rasgão que aparece, botão que o avô prega ou rasgão que se converte em uma bola de pano e de linhas e de nós”[44].

O relacionamento entre os componentes da “galguera” apoiava-se nas sugestões de José María Escrivá, e, em primeiro lugar, em seu exemplo. Viam como pensava, rezava, e se relacionava com os outros. De modo particular, apalpavam o significado da paternidade espiritual do fundador, do fato de que a Obra era uma família sobrenatural cristã. E, por seu lado, procuravam estar unidos ao fundador, como escreveu Portillo: “O único procedimento para poder fazer algo, estar muito unidos entre nós e todos ao avô e aos bons amigos que este tem: D. Manuel, sua Mãe...”[45].

O ambiente desse cômodo interior da legação era alegre. Segundo Eduardo Alastrué, “isto é uma jaula de grilos e, no entanto, não se perde o bom humor”[46]. Um dia, José María González Barredo comentou: “Isto não pode continuar, é felicidade demais”[47]. Por seu caráter, González Barredo criava situações curiosas. Cientista distraído, tinha o hábito de pegar o que parecia perdido. Quando faltava algo, o fundador dizia: “Sabem onde podem encontrar: no arquivo – bolsos e mala – de José Mª”[48]. A este respeito, Álvaro Portillo contava que, um dia, “minha camisa desapareceu. Ao cabo de uma semana o prestidigitador improvisado tirou-a, muito surpreso, de sua mala, perguntando, mas de quem é isto?”[49]

Outro caso particular – devido à diferença de idade – era o de Santiago Escrivá. Acabava de completar dezoito anos e, às vezes, se desesperava por não poder sair das quatro paredes em que estava encerrado. Em reação, fazia ginástica em cima dos colchões antes de dormir[50].

A longa marcha dos dias permitiu que fizessem amizade com os outros residentes do consulado. O relacionamento com os diplomatas da legação foi amável. O padre José María ganhou a confiança do cônsul e de sua família. José Luis Rodríguez-Candela e sua esposa, Consuelo de Matheu, valorizavam seu equilíbrio e mesura “no falar, seu gesto cheio de amabilidade, a tranquilidade de espírito e a sensação de segurança que transmitia”[51].

Com os asilados, o relacionamento era normal. Escrivá e seus acompanhantes eram conhecidos como “os do sussurro”[52]. Chamavam-nos assim na legação pelo silêncio e a harmonia que reinavam em seu quarto e também porque rezavam em voz baixa. Segundo Puncel “falavam com todos; José María González Barredo, particularmente, contava-nos os projetos que tinham de influir na universidade”[53]. Às vezes, passavam um tempo ouvindo rádio ou jogavam baralho com os outros, exceto o fundador, que se desculpava por não ir ouvir o rádio ou jogar[54]. A condição sacerdotal do fundador da Obra era, naturalmente, conhecida por todos. De fato, alguns lhe pediram que escutasse as suas confidências ou a sua confissão. O padre José María, por seu lado, teve mais trato com os religiosos refugiados[55].

Miguel Fisac (esquerda), Josemaria Escrivá (centro), e Juan Jiménez Vargas

Não houve conflitos particulares com o resto dos refugiados. Conhecemos somente algumas ocorrências episódicas, como no dia em que a filha do cônsul e algumas senhoras pensaram organizar uma rifa, dentro do que era possível; contariam, além disso, com a atuação de El Guarino, um dançarino profissional, também refugiado, que se encarregava da cozinha. O plano pronto, mandaram um menino à galguera com o convite para o baile. Recebida a mensagem, Juan Jiménez Vargas despediu o pequeno com uma negativa contundente, pensava que essa iniciativa não tinha sentido. A festa não se realizou, e o padre José María viu-se obrigado a falar com o cônsul, com cordialidade e otimismo, para evitar mal-entendidos e desconfianças[56].

A “experiência“ da guerra

Até então, o fundador e os outros membros da Obra que estavam no lado republicano só haviam conhecido a guerra nessa zona. Tinham vivido na carne os efeitos da revolução, tanto a de origem marxista como a anarquista, a partir de julho de 1936, com repercussões fatais na sociedade, como o assassinato maciço de sacerdotes e fiéis católicos, a supressão do culto público ou a supressão do fator religioso na vida social.

As únicas notícias da zona nacional chegavam-lhes através do rádio – ouvido sempre de modo clandestino – e de algumas poucas cartas. Tinham consciência de que essas informações faziam parte da propaganda de guerra e de que, portanto, deviam ser recebidas com cautela. De fato, não sabiam como era o peculiar sistema instaurado pelo general Franco no outro lado. Mas sabiam, pelo menos, que a religião católica estava protegida por aquele regime, que os bispos e os clérigos desenvolviam a sua atividade pastoral com liberdade, e que para muitos a guerra era uma defesa militar da Igreja, uma cruzada frente à agressão, também militar, do materialismo ateu[57].

Neste sentido, a guerra mostrava uma realidade mais terrível, que superava as fronteiras nacionais, como já se percebia pela colaboração internacional prestada aos dois lados em luta. Escrivá indicou que uma civilização inteira estava à beira do abismo: “Agora parece que uma febre de loucura sacode todas as nações. Cegas, querem destruir-se umas às outras, e nada parece anunciar um período de paz, mas, pelo contrário, novas tragédias semelhantes à que está sofrendo a Espanha”[58].

Desde a fundação, um aspecto central na mensagem do Opus Dei era o seu caráter espiritual, alheio a qualquer jogo de partidos. Corporativamente, a Obra não tomava partido por determinadas posições ou formas políticas. A sua missão encontrava-se em outra ordem, plenamente orientada para levar o Evangelho à sociedade. Escrivá havia mostrado este modo de proceder na primeira atividade institucional do Opus Dei. À Academia e Residência DYA foram pessoas de posições políticas diversas – tradicionalistas, nacionalistas bascos e monarquistas afonsinos, por exemplo – e outros que se definiam apolíticos. Lá, o fundador explicou que, a título pessoal, cada um era livre de defender o pensamento político que quisesse; pelo contrário, nos encontros coletivos programados, como as refeições e tertúlias para tomar um café, era proibido falar de política[59]. Agora, na guerra civil, o padre José María disse a seus filhos espirituais que eram livres para pensar nas melhores soluções políticas para a Espanha.

A repressão religiosa em uma das duas zonas de guerra – motivo de ele estar escondido e da impossibilidade de estender a mensagem cristã da Obra – levava Escrivá a pedir a vitória dos sublevados. Em uma meditação, explicou por que desejava o triunfo do “Exército que defende as ideias cristãs”[60]sobre o republicano. “Como não havemos de pedir para eles, para todos, o fim da guerra, a derrota rápida e daqueles que se opõem a Deus? Não por orgulho, nem por motivos humanos, mas por Ti, Senhor, e pela tua Igreja: que cessem estes horríveis sacrilégios, os atentados nefandos que se cometem”[61].

Escrivá contemplava os acontecimentos bélicos com olhos sacerdotais. Repetia com frequência que devia rezar e perdoar a aqueles que os ofendiam. E, embora afirmasse as diferenças entre um grupo e outro do ponto de vista religioso, não se alegrava pelo sofrimento alheio nem guardava rancor dos assassinos e violentos[62]. O genro do cônsul de Honduras reconhecia a equanimidade do fundador, que “nunca se pronunciou com ódio ou rancor, nunca criticando ninguém; pelo contrário, costumava dizer: Isto é uma barbaridade: uma tragédia[63]. Chamava-lhe concretamente a atenção que, ”quando os outros celebravam vitorias, o padre José María permanecia calado”[64].

O fundador animou os seus filhos espirituais a contemplar a finalidade de suas vidas, focada na expansão da mensagem cristã da Obra, algo que era possível na própria legação: “Hoje notamos que este contraste é mais radical, mais profundo; o ódio a Jesus Cristo que há lá fora contrasta com o nosso desejo de O servir e amar; a inquietação, a febre exterior, com a nossa paz interior; a dissipação e a agitação externas com o nosso recolhimento, com os nossos desejos de O conhecer e de nos conhecermos”[65]. Em suma, não podiam perder de vista que a sua missão ia além de um país e do fim de um conflito: “Espanha, sim; mas, antes da Espanha, Deus e a sua Igreja. Porque, o que vale a Espanha, meu Deus, se Tu me mandaste conquistar o mundo inteiro?”[66]

Extrato do livro Escondidos. El Opus Dei en la zona republicana durante la Guerra Civil española (1936 – 1939), de José Luis González Gullón


[1] Agradecemos ao arquiteto Clemens Gudenus o Plano 1, realizado a partir do desenho original (cfr. Expediente de construção, em AVM, 44-74-17). Para maior clareza, coloriu-se de cinza o apartamento onde estava a legação de Honduras, no primeiro andar, à esquerda.

[2] Cfr. Recordações de Eduardo Alastrué del Castillo, Madri, 19-VI-1978, em AGP, série A.5, 191-3-6.

[3] O pessoal subalterno da legação – em sua maioria de nacionalidade espanhola e não residentes na casa do cônsul – era composto pelo vice-cônsul, o secretário, o intendente, as mulheres que se ocupavam do serviço doméstico e o porteiro. Todos dependiam, por motivos de trabalho, da chancelaria. Em 1938 eram quinze pessoas (Cfr. Nota Verbal de Pedro Jaime de Matheu ao Chefe de Seção do Ministério de Estado, Madri, 19-XII-1938, em AGA, Assuntos exteriores, 12/3186, Expediente 1).

[4] Cfr. Carta de Álvaro del Portillo a Isidoro Zorzano, Madri, 6-V-1937, em AGP, série B.1.5.

[5] Cfr. “La Casa de Génova 25” (manuscrito inédito), em Arquivo pessoal de Juan de Isasa (Madri).

[6] Era uma quantia média, em comparação com outros refúgios, e relativamente accessível para o bolso das famílias. Por exemplo, na legação da Noruega se pagava três pesetas diárias e na embaixada do Chile, cinco pesetas; pelo contrário, o preço na embaixada da França era caro, chegava a dez pesetas diárias (cfr. Javier RUBIO, Asilos y canjes durante la guerra civil española, o.c.,p. 179). O senhor Puncel era o encarregado de cobrar as quotas dos refugiados na legação de Honduras.

[7] Cfr. Vales de uma peseta e, AGP, série A.2, 8-3-3; e uma lista de ”Precios mínimos”, do Consulado de Honduras, em AGP, série A.2, 8-4-4. Nesta lista, por exemplo, consta que um pote de leite condensado custava três pesetas, e por um quilo de ameixas Claudias se pagava duas pesetas e setenta centavos.

[8] Cfr. Nota de Álvaro Portillo em Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri 18-VII-1937, em AGP, série A.3.4, 254-3, 370718-1.

[9] Recordações de Eduardo Alastrué del Castillo, Madri, 19-VI-1978, em AGP, série A.5, 191-3-6.

[10] Cf. Javier RUBIO, Asilos y canjes durante la guerra civil española, o. c., pp.161-198. A sensação de insegurança aumentou nos momentos em que tiveram notícias de detenções maciças de refugiados. As mais conhecidas se deram em 20 de novembro de 1936, quando detiveram alguns asilados na embaixada da Alemanha; em 3 e 4 de dezembro, quando invadiram os anexos da legação da Finlândia. Foram também assaltados o consulado do Peru em 6 de maio de1937 e a legação da Turquia no dia 28 de janeiro de 1938.

[11] Carta de José María Escrivá a Isidoro Zorzano, Madri, 8-V-1937, em AGP, série A.3.4, 254-1, 370508-2.

[12] Recordações de Juan Jiménez Vargas, Pamplona, 22TI-1985, em AGP, série A.5, 221-1-3.

[13] CF. Recordações de José María González Barredo, Washington D.C., 25-V-1976, em AGP, série A.5, 216-3-11.

[14] Recordações de Eduardo Alastrué de Castillo, Madri, 19-VI-1978, em AGP. Série A.5 191-3-6.

[15] Recordações de Juan Jiménez Vargas, Pamplona, 22-11-1985, em AGP, série A.5, 221-1-3.

[16] Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 17-IV-1937, em AGP, série A.3.4, 253-5, 370417-1. “Dr. Valdés”: Manuel Valdés Ruiz, que dava aulas de alemão para José Gonzáles Barredo.

[17] Carta de José María Escrivá a Isidoro Zorzano, Madri, 6-IV-1937, em AGP, série A.3.4, 253-5 370406-1. “Miguelím”: Miguel Bañón.

[18] Cf. Diário de Isidoro Zorzano, 9-V-1937; e 13-V-1937.

[19] Nota de Manuel Sainz de los Terreros, no diário de Isidoro, 4-VI-1937.

[20] Diário de Isidoro Zorzano, 2-VI-1937.

[21] Carta de José María Escrivá a Miguel Bañón, Madri, 4-VI-1937, em AGP, série A.3.4, 254-2, 370604-1.

[22] Diário de Isidoro Zorzano, 26-VI-1937.

[23] CF. Carta de José María Escrivá a Isidoro Zorzano, Madri, 14-IV-1937, em AGP, série A.3.4, 253-5, 370414-2; e Diário de Isidoro Zorzano, 21-IV-1937

[24] Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 1-VII-1937, em AGP, série A.3.4, 254-3, 370701-2.

[25] Carta de José María Escrivá a Isidoro Zorzano, Madri, 6-IV-1937, em AGP, série A.3.4, 253-5, 370406-1.

[26] Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 30-IV-1937, em AGP, série A.3.4, 253-5, 370430-1.

NT: “¡Que trabaje Rita!”: A expressão é usada para enfatizar uma recusa: “Não aguento mais!” Ou “Deixe que Rita, faça. Eu certamente não vou fazer isso”.

[27], Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 7-VII-1937, Em AGP, série A.3.4, 254-3, 370707-1.

[28] Carta de José María Escrivá aos membros da Obra no Leste, Madri, 1-V-1937, em AGP, série A.3.4, 254-1, 370501-1.

[29] Diário de Isidoro Zorzano, 10-IV-1937.

[30] Carta de José María Escrivá a Isidoro Zorzano, Madri, 31-III-1937, em AGP, sérieA.3.4, 253-5, 370331-1. “Capitão Aranha”: a lenda diz que esse capitão fez embarcar os marinheiros e, ele mesmo, ficou comodamente em terra.

[31] Ibidem.

[32] Ibidem.

[33] Em 21 de maio, já moravam no novo cômodo (cf. Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Madri, Madri, 21-V-1937, em AGP série A.3.4, 254-1, 370521-2).

[34] Cf. Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Madri, 13-V-1937, em AGP, série A.3.4, 254-1, 370513-1. Alude-se a uma galgueira – espaço para os galgos – porque estavam num cômodo mínimo e abarrotado.

[35] Cf. Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 30-V-1937, em AGP, série A.3.4, 254-1, 370530-1. Nesse ano, a autoridade eclesiástica proibiu que o Santíssimo Sacramento ficasse reservado em cômodo utilizado para dormir (cf. José Luis ALFAYA, Como um río de fuego, Madri, 1936, o.c.,p. 121)

[36] Cf. Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 30-V-1937, em AGP série A.3.4, 254-1, 370530-1.

[37] Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 24-VI-1937, em AGP, série A.3.4, 254-2, 370624-1. “Josemaría” aparece no original. Nas cartas desta época, o fundador uniu frequentemente seus dois nomes em um só.

[38] Nota de Álvaro Portillo em Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 7-VII-1937, em AGP, série A.3.4, 254-3, 370707-1. Como se vê, é uma linguagem em código. Por exemplo, o “avô” é o padre José María, e o “desenvolvimento do negócio” faz referência à difusão da mensagem da Obra.

[39] Algumas linhas de Álvaro Portillo em Carta de José María Escrivá a Francisco Botella, Madri, 30-III-1937, em AGP, série A.3.4, 253-5 370330-1.

[40] Diário de Isidoro Zorzano, 18-III-1937.

[41] Recordações de Eduardo Alastrué del Castillo, Madri, série A.5, 191-3-6.

[42] Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 22-VIII-1937, em AGP, série A.3.4, 254-3, 370822-2.

[43] Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 7-VII-1937, em AGP, sérieA.3.4, 254-3, 370707-1.

[44] Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 25-VII-1937, em AGP, série A.3.4, 254-3, 370725-3.

[45] Nota de Álvaro Portillo em Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 30-V-1937, em AGP, série A.3.4,, 254-1.

[46] Carta de Eduardo Alastrué e José María González Barredo a Isidoro Zorzano, Madri, VIII-1937, em AGP, série M.1.1, C146 – B5.

[47] Citado em recordações de Eduardo Alastrué Castillo, Madri, 19-VI1978, em AGP, série A.5, 191-3-6. Recordações de José María González Barredo, Washington D.C., 25-V-1976, em AGP, série A.5, 216-3-11.

[48] Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 1-VIII-1937, em AGP, série A.3.4, 254-3, 370801-1.

[49] Nota de Álvaro Portillo na Carta de José María Escrivá aos membros da Obra em Valência, Madri, 24-VI-1937, em AGP, série A.3.4, 254-2, 370624-1, 375530-1.

[50] Cf. Carta de José María Escrivá aos membros de Obra em Valência, Madri, !-VII-1937, em AGP, série A.3.4, 254-3, 370717-2.

[51] Recordação de Consuelo de Matheu Montalvo, Madri, 1-X-1975, em AGP, série A.5, 227-3-4. Cf. Recordações de José Luis Rodríguez-Candela, Madri, 1 1-X-1975, em AGP, série A.5, 241-2-4.

[52] Cf. Recordações de Consuelo de Matheu Montalvo, Madri, 1-X-1975, em AGP, A.5, 227-3-4.

[53] CF. Recordações de Luis Puncel Bosch, Madri, 4-XI-1975, em AGP, série A.5, 239-3-10.

[54] Cf. José Luis Rodríguez- Candela, Madri, 1 1-X-1975, em AGP, série A.5, 241-2-4.

[55] Cf. Recordações de Recaredo Ventosa, Torrelavega, 20I-1976, em AGP, série A.5, 251-3-9.

[56] Cf. Recordações de Juan Jiménez Vargas, Pamplona, 22-11-1985, em AGP, série A.5, 221-1-3.

[57] Não temos notícia de que Escrivá conhecesse a existência de alguns documentos do Magistério que tivessem particular importância no ano de 1937, como a encíclica Mit brennender sorge, datada de 14 de março pelo Papa Pio XI, ou a carta pastoral coletiva assinada pelos bispos espanhóis em 1º de julho.

[58] Meditação, 28-VIII-1937, em AGP, série A.4, 45-3-44.

[59] Cf. José Luis GONZÁLEZ GULLÓN, DYA. La Academia y Residencia..., o.c., pp. 468 e 473-482.

[60] Meditação, 7-IV-1937, em AGP, série A.4, 45-3-2.

[61] Ibídem.

[62] Cf. Jaime CÁRDENAS DEL CARRE, “San Josemaría, mestre del perdón (1¹ parte)”, Romana XXVII, 52 (2011) 174-189.

[63] Recordações de José Luis Rodríguez Candela, Madri, 11-X-1975, em AGP, série A.5, 241-2-4.

[64] Ibidem.

[65] Meditação, 24-VI-1937, em AGP, série A.4, 45-3-22.

[66] Meditação, 9-IV-1937, em AGP, série A.4, 45-3-4.


* O autor usa o nome José Maria, tal como o fundador do Opus Dei assinava na década de 1930: José María Escrivá Albás.