Evangelho (Jo 10, 11-18)
Naquele tempo, disse Jesus:
«Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas. O mercenário, como não é pastor, nem são suas as ovelhas, logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge, enquanto o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário não se preocupa com as ovelhas. Eu sou o Bom Pastor: conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-Me, do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai; Eu dou a vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor. Por isso o Pai Me ama: porque dou a minha vida, para poder retomá-la. Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente. Tenho o poder de a dar e de a retomar: foi este o mandamento que recebi de meu Pai».
Comentário
A imagem do bom pastor era bem conhecida pelos ouvintes de Jesus. No Antigo Testamento, Moisés e David, antes de Deus os escolher para serem pastores do seu povo, tinham sido pastores de rebanhos. Mais tarde, durante o exílio, Ezequiel falara do próprio Deus como pastor do seu povo: «Como o pastor zela pelo seu rebanho (...), zelarei pelas minhas ovelhas. Vou recolhê-los de todos os lugares por onde se dispersaram num dia nublado» (Ez 34, 12).
Jesus anuncia que esse dia chegou.
Ele mesmo se apresenta como o Bom Pastor.
Ele é o Deus feito Homem que zela pelos homens, que os reúne numa só família, a família dos filhos de Deus, e os alimenta com o seu próprio corpo, para que tenham vida eterna.
Neste discurso do bom pastor, Jesus Cristo diz-nos como é, mas também para onde nos quer levar. Quer converter-nos em bons pastores na nossa vida diária.
Jesus diz três coisas sobre o verdadeiro pastor: dá a vida pelas ovelhas; conhece-as e elas conhecem-no; e sai em busca delas para que vivam no mesmo rebanho, na mesma família[1].
Em primeiro lugar, o pastor dá a vida pelas suas ovelhas.
O mistério da Cruz está no centro da vida de Jesus Cristo.
Cristo despoja-se da sua posição, da sua glória divina, veste as nossas vestes – as vestes da humanidade, da dor, do sofrimento, da solidão, do abandono, semelhante em tudo a nós, exceto no pecado –, deixa-se humilhar até morrer na Cruz e assim se entrega a cada um de nós.
E em cada Eucaristia encontramo-l’O, Cristo o Bom Pastor. Torna-se totalmente presente, pega-nos com as suas mãos feridas, abençoa-nos, levanta-nos de novo, dá-se a Si mesmo como alimento.
E faz isto por nós, para tocar a parte mais íntima da nossa realidade humana, para experimentar toda a nossa existência e curá-la.
Em cada Eucaristia, dá-nos o seu corpo que entrega, o seu sangue que derrama. Dá-nos a força da sua entrega até ao fim. A Eucaristia não termina com a comunhão. Ele quer que vivamos eucaristicamente todos os dias, com o coração em carne viva: que demos a vida pelos outros.
Em segundo lugar, o pastor conhece as ovelhas e as ovelhas conhecem-no.
Mas o conhecimento de Jesus Cristo não é um conhecimento formal. O relacionamento que deseja ter connosco não é um relacionamento rotineiro, impessoal e árido. É uma relação de amor. É um conhecimento do coração.
Jesus Cristo conhece-nos: leva-nos no seu coração. Um coração ferido, trespassado de amor, que nos grita: “não te escondas, vem até mim, não te canses, toca-me, amo-te”.
E ao aproximarmo-nos d’Ele, ao entrarmos no seu coração, Ele dá-nos o seu, para que possamos sentir com o seu coração.
Pede-nos que também amemos como Ele, que conheçamos os outros como Ele: a partir do coração. Na Eucaristia, dá-nos o seu corpo para que possamos amar a partir do seu coração.
Finalmente, o pastor procura a unidade.
Cristo não morreu por alguns, morreu por todos os homens de todos os tempos.
Ele continua a procurá-los todos os dias e precisa de nós. No meio da nossa vida, das nossas ruas e praças, dos nossos trabalhos e descansos, das nossas famílias e amizades, das nossas dores e doenças, dos nossos sucessos e fracassos, das nossas idas e vindas. Aí onde vivemos: viver desde o coração de Jesus Cristo.
Em cada Eucaristia, coloca-nos no seu coração sacerdotal, para que façamos nossos o seu louvor, a sua gratidão, a sua reparação e a sua petição. Dá-nos um coração universal e católico.
O bom pastor dá vida, conhece desde o coração, procura a unidade.
É assim que Jesus Cristo é e é assim que Ele quer que sejamos. Só assim experimentamos a verdadeira liberdade. A liberdade dos filhos de Deus, a liberdade de Jesus Cristo, a liberdade da entrega generosa.
Jesus Cristo, feliz, muda o mundo com a sua entrega.
Nós, na sua entrega, temos a alegria que muda o mundo.
[1] cf. Bento XVI, Homilia na Santa Missa de Ordenação Sacerdotal, 07/05/2006.