Tim Smyczek, o cavalheiro do tênis

Depois do gesto de gentileza com Rafael Nadal, em entrevista o tenista conta da sua relação com fé e os seus livros de bolso: Caminho e Forja.

É preciso pôr-se na pele de Tim Smyczek: embora seja um respeitado tenista no circuito, nunca ganhou um título da ATP, e ainda está longe de atingir o seu ranking mais elevado, o 68º (a que chegou 4 meses depois). Está na segunda rodada do Open da Austrália e vai enfrentar uma lenda viva da história do tênis, Rafael Nadal, com 14 Grand Slam aos seus ombros. Conseguiu lutar durante quatro horas nos quatro primeiros sets, e o rival acaba de perder o serviço no quinto e decisivo set: 6-5 a seu favor, 30-0 e saída para ele.

Um ato de gentileza esportiva

Quando Rafa serve para o 40-0 que lhe permite ficar à vontade no jogo, um espectador dá um grito e desconcentra-o, e a bola vai cair meio metro para trás da linha. Depois de umas vaias do respeitável público ao espectador inoportuno, o espanhol dispõe-se a um segundo serviço... E é então quando Tim faz o árbitro ver que não considera válido o primeiro serviço e, portanto, o seu adversário pode repeti-lo.

Foi ponto para Nadal, e embora Smyczek tenha ganhado três bolas do jogo até atingir o empate, atirou a seguinte para a rede e no quarto match ball, Nadal obteve o triunfo.

Não se pode afirmar que Tim perdesse pelo seu pormenor de esportismo (embora, com um Nadal que há meses está fora dos seus melhores momentos, quem sabe?), mas ter essa cordialidade a tal nível de jogo e com essa situação no marcador, não é nada frequente. Por isso o público o aplaudiu muitíssimo e Rafa não poupou elogios na entrevista após o encontro: "Em primeiro lugar quero felicitar o Tim porque é um verdadeiro cavalheiro e o que fez no último jogo... não era qualquer pessoa que teria feito algo semelhante com 6-5 no quinto set após quatro horas de jogo, pelo que o felicito por isso".

Por seu lado, Smyczek não dá importância ao gesto (que teve grande repercussão midiática) e explica que percebeu a relação entre o grito e o erro de Nadal porque "falhar dessa maneira não lhe tinha sucedido em todo o jogo". Assim, conceder-lhe um novo primeiro serviço "era o correto, quer estivéssemos no princípio ou no final do jogo, fosse ele à frente ou fosse eu". E acrescenta: "Foi algo que os meus pais me pediram quando comecei a jogar tênis seriamente. Acontecesse o que acontecesse, queriam que fosse um cavalheiro na quadra".

Esteja onde estiver, não falta à missa

Tim nasceu em Milwakee (Wisconsin, Estados Unidos), tem 27 anos e além do esporte dedica o seu tempo ao violino e a estudar Direito, pois quer ser advogado quando se retirar do tênis. É um homem com as ideias muito claras a respeito da fé.

Esta segunda-feira concedeu uma entrevista ao Trent Beattie para o NationalCatholicRegister em que explica que sempre procurou ir à missa todos os domingos, mesmo nos muitos em que está fora de casa e com as complicações da competição: "Inculcaram-me desde a infância, pelo que para mim é algo automático, por assim dizer. Sempre me acompanhou com o passar dos anos, mesmo na vida vertiginosa e cheia de mudanças que é o tênis".

Cristo, mais importante do que qualquer outra pessoa

Há quatro anos Tim teve uma namorada, católica, mas não praticante, e estavam pensando em casar-se: "Ela tinha se afastado da fé, e isso teria complicado a nossa vida juntos como casal. Haveria conflitos de crenças e de comportamentos, o que não teria sido um ambiente ideal para educar os filhos. Foi duro, mas deixei-lhe claro que se íamos casar, teria que levar a fé a sério. Ela não aceitou o desafio, e acabamos o namoro".

Foram momentos difíceis, embora confesse que o ajudou a superá-los a história de conversão de Scott Hahn, que viveu momentos semelhantes: "Embora implicasse perder um amigo ou uma possível esposa, recordei que uma vida centrada em Cristo e alimentada pela Igreja devia ser a minha máxima prioridade".

O confessionário, Caminho e o terço

Tim tem palavras muito interessantes sobre o sacramento da Penitência: "É algo extraordinariamente poderoso, porque nos põe bem com Deus e nos dá a graça para evitar o pecado no futuro. No meu caso, se não tivesse a confissão, provavelmente iria de mal a pior, porque a culpa e a ocasião de pecado triunfariam. A confissão retira-nos a culpa e retarda a ocasião de pecado, impulsionando-nos na direção contrária, a virtude. É um sacramento realmente curativo, pelo qual faço um esforço por me confessar em intervalos de tempo regulares, mesmo quando não tenho vontade. Há pessoas que acreditam que se você se confessa com frequência é porque tem montes de pecados graves que confessar. É precisamente o contrário. Normalmente, quanto mais nos confessamos, menos temos para dizer, e quanto menos nos confessamos, mais temos para dizer. Quanto mais nos aproximamos da fonte da graça, mais graça se consegue, e quanto mais nos afastamos, menos temos".

Tim traz sempre consigo dois livros de São Josemaría Escrivá, Caminho eForja, porque o seu pequeno tamanho os torna muito práticos para a sua vida de viajante: "O que lhes falta em tamanho sobra-lhes em sabedoria de São Josemaria, que queria que as pessoas considerassem as suas crenças religiosas um tesouro e as partilhassem e vivessem, em vez de ocultá-las".

E diz que procura rezar o terço todos os dias: "É um meio muito eficaz para que os mistérios da vida de Cristo se tornem reais para cada pessoa. Vemos as coisas através de uma lente encarnada, porque estamos pedindo ajuda à Mãe Santíssima. Ela conhece a Encarnação melhor do que ninguém, e, por isso, está numa posição única para ajudar os outros compreendê-la".

Casamento próximo

Não faz muito tempo que o convidaram a ir a uma emissora de rádio protestante para falar do que significa ser cristão no tênis. "A entrevista correu muito bem, e no final o responsável pelo programa convidou-me a dirigir a oração da audiência", comenta: "Não estou habituado a dirigir orações públicas espontaneamente, e a primeira que me ocorreu foi a Ave Maria. Creio que o apresentador ficou surpreendido quando a rezei, mas... a Ave Maria é muito bíblica, como vemos no capítulo 2 de São Lucas. Tomara que essa Ave Maria levasse algum ouvinte a considerar a possibilidade de ser católico!".

Em de 31 de agosto Tim disputou o US Open, mas tem outro objetivo em mente: casar-se em novembro. "Encontrei uma boa mulher, católica, com quem quero passar o resto da minha vida. Estou muito feliz pelo fato de tê-la encontrado, particularmente porque me ajuda a ser melhor católico. E isso é o que mais importa".

National Catholic Register