"Responder ao sofrimento com a delicadeza do amor"

Na primeira Audiência de 2017, o Papa Francisco falou sobre a necessidade de se unir ao próximo que sofre, para assim poder levar esperança.

Bom dia, prezados irmãos e irmãs!

Na catequese de hoje, gostaria de contemplar convosco uma figura de mulher que nos fala da esperança vivida no pranto. A esperança vivida no pranto! Trata-se de Raquel, esposa de Jacob e mãe de José e de Benjamin, aquela que, como nos descreve o Livro do Gênesis, morre ao dar à luz o seu segundo filho, ou seja Benjamin.

O profeta Jeremias refere-se a Raquel, dirigindo-se aos israelitas no exílio para os consolar com palavras cheias de comoção e de poesia; ou seja, toma o pranto de Raquel, mas dá esperança:

Eis o que diz o Senhor: «Ouve-se em Ramá uma voz / lamentações e amargos soluços. / É Raquel que chora os filhos, / recusando ser consolada / porque já não existem» (Jr 31, 15).

Nestes versículos, Jeremias apresenta esta mulher do seu povo, a grande matriarca da sua tribo, numa realidade de dor e pranto, mas ao mesmo tempo com uma perspectiva de vida impensada. Raquel, que na narração do Génesis morrera dando à luz e assumira aquela morte para que o filho pudesse viver, é agora representada pelo profeta estando viva em Ramá, lá onde se reuniam os deportados, e chora os filhos que num certo sentido faleceram a caminho do exílio; filhos que, como ela mesma diz, «já não existem», pois desapareceram para sempre.

E por isso Raquel não quer ser consolada. Esta sua rejeição exprime a profundidade da sua dor e a amargura do seu pranto. Diante da tragédia da perda dos filhos, uma mãe não pode aceitar palavras ou gestos de consolação, que são sempre inadequados, nunca capazes de aliviar a dor de uma ferida que não pode nem quer ser cicatrizada. Uma dor proporcional ao amor.

Qualquer mãe sabe tudo isto; e são tantas, ainda hoje, as mães que choram, que não se resignam à perda de um filho, inconsoláveis diante de uma morte impossível de aceitar. Raquel encerra em si mesma a dor de todas as mães do mundo, de todos os tempos, e as lágrimas de cada ser humano que chora perdas irreparáveis.

Esta rejeição de Raquel que não quer ser consolada ensina-nos também quanta delicadeza nos é pedida face à dor de outrem. Para falar de esperança a quem está desesperado, é necessário compartilhar o seu desespero; para enxugar uma lágrima do rosto de quem sofre, é preciso unir ao seu o nosso pranto. Somente assim as nossas palavras podem ser realmente capazes de dar um pouco de esperança. E se não posso proferir palavras assim, com o pranto, com a dor, é melhor o silêncio, a carícia, o gesto, sem palavras.

E Deus, com a sua delicadeza e o seu amor, responde ao pranto de Raquel com palavras autênticas, não fingidas; com efeito, assim prossegue o texto de Jeremias:

Eis o que diz o Senhor, respondendo àquele pranto: «Cessa de gemer, / enxuga as tuas lágrimas! / As tuas penas receberão a recompensa / — oráculo do Senhor. / Voltarão (os teus filhos) da terra inimiga. / Desponta no teu futuro a esperança / — oráculo do Senhor. / Os teus filhos voltarão para a sua terra» (Jr 31, 16-17).

Precisamente devido ao pranto da mãe, ainda há esperança para os filhos, que voltarão a viver. Esta mulher, que tinha aceitado morrer no momento do parto para que o filho pudesse viver, com o seu pranto é agora princípio de vida nova para os filhos exilados, prisioneiros, desterrados. À dor e ao pranto amargo de Raquel, o Senhor responde com uma promessa que agora pode ser para ela motivo de verdadeira consolação: o povo poderá regressar do exílio e viver a sua relação com Deus na fé, livre. As lágrimas geraram esperança. E isto não é fácil de entender, mas é verdade. Muitas vezes, na nossa vida, as lágrimas semeiam esperança, são sementes de esperança.

Como sabemos, este texto de Jeremias é retomado depois pelo evangelista Mateus e aplicado ao massacre dos inocentes (cf. 2, 16-18). Um texto que nos põe diante da tragédia do assassinato de seres humanos indefesos, do horror do poder que despreza e suprime a vida. As crianças de Belém morreram por causa de Jesus. E Ele, por sua vez, Cordeiro inocente, viria a morrer por todos nós. O Filho de Deus entrou na dor dos homens. Não podemos esquecer isto. Quando alguém vem ter comigo e me dirige perguntas difíceis, por exemplo: «Diga-me, Padre, porque sofrem as crianças?», deveras eu não sei o que responder. E digo apenas: “Olha o Crucificado: Deus ofereceu-nos o seu Filho. Ele sofreu e talvez ali encontres uma resposta”. Mas não existem respostas aqui [indica a cabeça]. Somente olhando para o amor de Deus que dá o seu Filho, que oferece a sua vida por nós, poderá indicar algum caminho de consolação. E por isto dizemos que o Filho de Deus entrou na dor dos homens; compartilhou e aceitou a morte; a sua Palavra é definitivamente verbo de consolação, porque nasce do pranto.

E na cruz será Ele, Filho agonizante, quem dará uma renovada fecundidade à sua Mãe, confiando-lhe o discípulo João e tornando-a Mãe do povo dos fiéis. A morte é derrotada, cumprindo-se assim a profecia feita por Jeremias. Também as lágrimas de Maria, como as de Raquel, geraram esperança e vida nova. Obrigado!

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O Papa referiu-se também aos dramáticos fatos ocorridos na prisão de Manaus, no Brasil, com estas palavras:

Ontem chegaram do Brasil as notícias dramáticas do massacre ocorrido na prisão de Manaus, onde uma rebelião violenta entre facções rivais causou dezenas de mortos. Exprimo dor e preocupação pelo ocorrido. Convido a rezar pelos defuntos, pelos seus familiares, por todos os detidos daquela prisão e por quantos nela trabalham. E renovo o apelo a fim de que os institutos penitenciários sejam lugares de reeducação e reinserção social, e as condições de vida dos detidos sejam dignas de pessoas humanas.

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