Bodas de Prata como membro do Opus Dei

Cleusa M. de Oliveira está no Opus Dei há 25 anos. Por ocasião das suas «Bodas de Prata» fala, com simplicidade, das suas andanças em busca da felicidade, do seu crescimento profissional e espiritual, da fé, da alegria e do orgulho que sente por ser «numerária auxiliar».

O encontro com Mons. Escrivá em 1974 

Aos 9 anos de idade, tive a oportunidade de estar com São Josemaria quando esteve em São Paulo, no Anhembi, entre milhares de outras pessoas. Para mim isto sempre será um dos maiores privilégios da minha vida. Ainda que compreendesse pouco do que falava, algo me fez olhar para ele com muito bons olhos: é que usava batina... sempre ouvi minha avó elogiar os sacerdotes que usavam batina.

A pessoa que havia convidado minha mãe a participar deste encontro com Mons. Escrivá - assim o chamávamos na época - alegrou-se com a nossa presença, pois ela sabia o esforço que supunha, para uma pessoa da Zona Leste da cidade, sair de ônibus com duas crianças em direção ao Anhembi, do outro lado da cidade! Também neste dia nos deu o endereço de um Centro da Obra para que fôssemos conhecer e recebêssemos com maior profundidade o espírito do Opus Dei, dando continuidade ao que Mons. Josemaria tinha transmitido naquela ocasião.

Ainda que fosse jovem, a beleza e simplicidade da casa e a boa recepção que nos foi dada me chamaram a atenção. Até apreciei a meditação, conduzida por um sacerdote da Obra, da qual tirei uma única conclusão: tudo é maravilhoso!

Fiz parte do Clubinho, que oferecia diferentes atividades de formação para crianças. Fui monitora de um grupo de meninas de 8 a 10 anos que vinham comigo, pois minha mãe, que sempre foi vibrante e apostólica, conseguiu que o bairro "inteiro" ficasse sabendo do Clubinho. Depois de um ano, deixei de ir ao Centro.

Deus na minha adolescência

Aos 14 anos voltei a frequentar o Centro da Obra, pois queria mesmo estar um pouco mais perto de Deus. Comecei a participar dos meios de formação: círculo, meditação e num retiro que fiz decidi que não queria mais ofender a Deus. Ajudaram-me a ler o Evangelho, a ir à Missa aos domingos, a rezar o terço para agradar Maria, a ler bons livros, o que para mim era difícil, pois não tinha uma vida tão organizada e exemplar, além de que meus amigos e eu sempre tínhamos programações intensas.

Certa vez, levei a filha de uma amiga de minha mãe ao Centro. Ela gostou e conversou bastante com uma das numerárias. Saiu contente, pois havia conseguido um estágio na administração de um Centro da Obra, pois estudava nutrição e gostaria de trabalhar com alimentos e bebidas. Mas no dia em que ela deveria substituir uma das alunas de Hotelaria, não foi e nem avisou. Eu, com certo senso de justiça, resolvi ligar e dar uma satisfação... Resolvi oferecer-me, mesmo não sendo a minha especialidade — estudava Design de Interiores —, pois era o período de férias escolares.

Fui... e pedi para assistir à Missa todos os dias. Pedi também para assistir ao círculo por lá mesmo, aproveitando que estavam mais acessíveis do que nunca. Confesso que sentia certa humilhação por estar num trabalho que era mal visto pelos teens e por mim mesma. Porém, devo confessar também que me senti muito querida por todas, que me vi num ambiente simples, mas com bastante nível humano, tanto para as residentes como para as alunas e monitoras da administração. Principalmente me sentia interiormente realizada após o trabalho bem feito, com técnica. Ali estava atingindo principalmente aquela outra meta do meu coração que era não ofender a Deus. O que não percebi era a tamanha necessidade de braços e almas que a Obra tinha para o seu desenvolvimento. E ao cumprir meus dias de "estágio" fui embora feliz e contente.

Neste ínterim, meu pai faleceu subitamente e fiquei impressionada com a presença de absolutamente TODAS as pessoas deste Centro nos funerais. A diretora até fez o jantar e dormiu conosco em minha casa, mesmo sendo desconfortável e pobre. Nem sequer tínhamos um quarto só para ela. Contudo ela foi extremamente simples, solícita nos papéis, nos telefonemas etc. Enfim, fez o que faria um parente mais próximo e tudo isso sem tomar a frente, de maneira discreta e poupando a todos nós destes encargos desagradáveis mas obrigatórios no falecimento do pai de família.

A minha vocação ao Opus Dei

Alguns dias depois, por uma graça que até hoje não me explico, decidi que ficaria com elas na administração durante 6 meses, pois sabia que o quadro exigia mais pessoas e, no caso, não havia. Também sentia falta de estar naquele ambiente simples, mas puro, agradável a Deus. Pensei que nestes 6 meses eu as ajudaria e me fortaleceria para ser uma cristã coerente, forte a ponto de amar com obras: mais apostolado, mais pureza, mais aproveitamento do tempo etc.

Aos poucos dias da minha volta, vislumbrei a necessidade que Deus tinha de muitas vocações como numerárias auxiliares e, mesmo sem sentir-me em condições para tão nobre entrega, conversei com as diretoras, deixando bem claro que nem me via em condições e muito menos me via capaz de levar sozinha essa tarefa até o fim da vida. Mas como a vocação é dada por Deus, Ele dará um jeito, se eu deixar.

Estudos profissionais como Numerária Auxiliar

Na época, deixei realmente muitas possibilidades, mas me encontrei realizada sabendo que Ele precisava de mim como mãe das pessoas da Obra. Tive a oportunidade de estar com exímias cozinheiras, confeiteiras, passadeiras, decoradoras, contadoras e isto ampliou muito a minha capacidade de trabalho ao longo da minha vida no Opus Dei. Junta-se a isto toda a gama de aprendizado humano que recebemos a cada tertúlia (momento de descanso, em que nos encontramos para conversar), as experiências vividas em outros países que nos são transmitidas, cada filme ou visita técnica em empresas do ramo, além de participação em feiras, seminários de estudos, etc. Enfim, cada uma aproveita como quer todas as oportunidades que surgem, e sempre com muito respeito à liberdade. Tudo isto me fez crescer e chegar à felicidade.

Minha relação com Deus no Opus Dei

Com relação à minha vida espiritual sempre recebi a formação suficiente para simplificar a minha vida, isto é: colocar-me frente a Deus e resolver diante Dele os meus problemas. Ou melhor, deixar que Ele resolva os meus problemas - ainda que eu tenha que facilitar a sua ação em minha alma, afastando o orgulho, a preguiça, a sensualidade, que são alguns dos principais inimigos da nossa santificação.

Na verdade, o que busco é estar vinte e quatro horas de bem com Deus, retificando o que atrapalha este relacionamento. Descobrir, a cada dia, que Deus é meu Pai, um Pai que pode tudo e sabe tudo a meu respeito, pois me conhece profundamente. Melhor ainda: me ama, apesar de tudo o que fui, que sou; me ama e me espera sempre com braços abertos após as minhas quedas, que pelo amor vão sendo menos frequentes; acredita em mim, acredita que eu, com a Sua graça, posso chegar ao Céu e levar muitas almas para lá.

Todos sabemos que a meta do cristão é identificar-se com Cristo, portanto foi sempre no Evangelho que encontrei respostas e soluções para as minhas crises, e neste mesmo Evangelho Cristo fala: "Vinde a Mim todos os atribulados e sobrecarregados..." (Mt 11, 28). É Nele que sempre encontrei luz e força, mediante a oração e a mortificação, além do exemplo dos primeiros cristãos, do nosso Padre — o Fundador do Opus Dei — e dos primeiros membros da Obra.

"Sonhai e ficareis aquém"

Penso que este foi o percurso que me levou a chegar até aqui e estar há tanto tempo feliz com a minha vocação, feliz com a vocação das minhas amigas bem casadas, feliz com a vocação da minha mãe supernumerária. Esta certeza de não fazer nada que seja só de interesse próprio me dá uma grande liberdade de espírito, permite-me estar à vontade por onde passo.

Também posso afirmar que não desperdiço nada do que recebo. Por exemplo, a cultura que as pessoas da Obra podem proporcionar umas às outras é algo fabuloso. Só com isto tenho quase um livro com mais de 200 receitas, de quando ministrei aulas de confeitaria num curso conveniado no SENAI. Elaborei um projeto com adolescentes que existe há 3 anos. É o Projeto Percurso: enriquece a personalidade, amplia a cultura, desenvolve o raciocínio e facilita a vida em sociedade.

Deus ama quem dá com alegria

Hoje só tenho a agradecer e desejo que muitas outras pessoas possam provar a alegria e o orgulho que sinto por ser numerária auxiliar. Não me troco por ninguém e amo de verdade "pilotar" o fogão, mais do que estar aqui pilotando o teclado, mas o faço com a mesma alegria por saber que tudo pode se transformar em serviço a Deus e às almas.

Faço minhas as palavras de nosso Padre que sempre ouvi nestes anos: "mil vidas que tivesse, mil vidas entregaria a Deus no Opus Dei". Em 25 anos já pude comprovar que vale a pena ser fiel. E peço também como o nosso Padre: «antes a morte que a infidelidade».