A homilia do campus: sentido de uma mensagem…

Com ocasião do aniversário da homilia "Amar o mundo apaixonadamente", de São Josemaria, compartilhamos considerações sobre as palavras deste santo pronunciadas no dia 8 de outubro de 1967, no Campus da Universidade de Navarra.

O 50º aniversário da Universidade de Navarra, festejado ao longo do ano acadêmico 2002-2003, deu azo a que se comemorassem, na vida universitária, os acontecimentos mais significativos que balizam esta história. Um deles, eminente de modo muito singular, é o que deu lugar a esta conferência.
Com efeito, São Josemaria Escrivá, Fundador e primeiro Grão Chanceler da Universidade de Navarra, por ocasião da II Assembleia dos Amigos da Universidade, pronunciou no campus de Pamplona uma homilia* já célebre que agora, 35 anos depois, podemos qualificar de histórica[1]. Para a geração de professores, alunos e amigos da Universidade que a escutaram, passou em seguida a ser, simplesmente, a “homilia do campus”, e com este nome se designa hoje de forma generalizada.

Era Domingo o dia 8 de Outubro de 1967. Josemaria Escrivá celebrou a Santa Missa ao ar livre, com o altar junto às colunas que sustentam o pórtico do antigo Edifício das Bibliotecas. Uma multidão – milhares de pessoas – unida aos Amigos naquela sagrada celebração, ocupava a grande esplanada que envolve o Edifício Central e o antigo espaço das Bibliotecas. Estava um dia de sol radioso. D. Javier Echevarría – atual Prelado do Opus Dei, – e o Pe. Alfredo García Suárez, já falecido, ajudavam na Missa que o Fundador da Obra celebrava.

Seja-me permitido recordar uma graça que o Senhor quis conceder-me: a de oficiar como diácono naquela Eucaristia. Coube-me, portanto, proclamar o santo Evangelho que a seguir São Josemaria iria comentar. Sou testemunha da emoção do seu olhar quando lhe apresentei o Livro sagrado para o beijar. Depois, e durante uns trinta e cinco minutos, São Josemaria leu com extraordinário vigor, com calma e pausadamente, o texto integral da homilia, que levava escrito em folhas. Enquanto ressoava a sua voz naquela imensa Catedral ao ar livre, sentia-se o impacto que as suas palavras produziam nos fiéis. Daquela homilia conserva-se a fita gravada e cinco ou seis minutos de filmagem, que constituem uma das melhores joias do tesouro histórico daquela Universidade.

Quero salientar algo que, já então, me pareceu singular. Era a primeira vez – e penso que foi a única – que Josemaria Escrivá comentava o Evangelho lendo o texto da pregação. Tinha lido discursos, mas não homilias. A sua pregação de homilias, muito abundante, inesquecível, foi sempre direta, com o livro dos Evangelhos na mão; e quando muito, um pequeno roteiro, ou alguma ficha, para ordenar as ideias. A edição posterior de muitas das homilias que pregou costumava ser feita a partir do texto estenografado – ou reproduzido da fita de um gravador -, revisto depois para publicação. Nessa altura, não foi assim. O texto estava escrito com pontos e vírgulas. Mais ainda. Não só levava São Josemaria as folhas que leu, mas havia mandado imprimir previamente o texto da homilia, que foi entregue a boa parte dos assistentes ao terminar a Santa Missa[2]. Os exemplares daquela primeira edição, impressa em Madri, são já procurados por bibliófilos.

Se refiro estes pormenores tão pequenos é porque manifestam de alguma maneira o significado peculiar que o próprio Fundador atribuía à “homilia do campus”. O seu texto fora evidentemente muito meditado, palavra por palavra, e queria pronunciá-lo na Universidade de Navarra, perante a Associação dos Amigos da Universidade de Navarra.

Os estudiosos do pensamento e da doutrina de São Josemaria têm salientado, por várias vezes, a riqueza teológica da doutrina contida neste texto, em que lhes parece encontrar, de maneira especialmente sintética e compendiada, os aspectos fulcrais da mensagem espiritual do Fundador do Opus Dei. Posso dar um testemunho nesse sentido, ou talvez seja só uma impressão minha, mas aferida com muitos dos participantes. A homilia do campus foi o texto de São Josemaria mais citado nas sessões plenárias do Congresso sobre Josemaria Escrivá (Roma, 2002). Os estudos sobre esta homilia, por ocasião do referido Congresso, e depois dele, têm sido numerosos. Permitam-me aludir somente ao texto publicado em Abril do ano passado pelo filósofo e teólogo da Universidade de Lovaina (Bélgica) André Léonard, atualmente Bispo de Namur. O que chamou a sua atenção e dá título e corpo ao seu estudo é a sugestiva e paradoxal expressão “materialismo cristão”, com que os editores franceses intitularam a primeira edição da homilia do campus naquela língua.

1. O título da homilia

Uma primeira aproximação à mensagem da homilia é-nos sugerida, com efeito, pelo título que lhe foi dado nas diferentes edições. A primeira edição não tinha título específico. O mesmo se deve dizer das edições do original castelhano que fizeram as revistas “Palabra” e “Nuestro Tiempo”[3]. Na mesma altura, pelo contrário, outras revistas europeias – “La Table Ronde”, de Paris, e “Studi Cattolici”, de Milão – facultaram aos seus leitores traduções do texto com título próprio e, certamente, com intenção determinada: a primeira, “Le matérialisme chrétien”[4] ; a segunda, “Amare il mondo apassionatamente”[5].

Ambos os títulos manifestam, como digo, aspectos importantíssimos da homilia[6]. Contudo, no momento de captar o núcleo doutrinal do nosso texto, não nos dispensam mas, ao contrário, nos incitam a uma leitura pausada do próprio texto. E eu vou fazer desta maneira: não indo diretamente aos conteúdos da homilia, mas procurando primeiro a sua estrutura, o fluir das ideias e da linguagem que as expressa.

2. A mensagem da homilia

Eis um breve esquema interno da homilia, que pode servir, por sua vez, como guia de leitura[7] :

1. Ponto de partida: Introdução eucarística (113a - 113b)

2. Desenvolvimento da homilia

a) Linha ascendente (113c – 115); três teses:

1ª - “A vida corrente no meio do mundo – deste mundo, não de outro – é o verdadeiro lugar da existência secular cristã” (113c – 113d)

2ª - “As situações que parecem mais vulgares, procedendo da própria matéria, são metafísica e teologicamente valiosas: são o meio e a ocasião do nosso encontro contínuo com o Senhor” (113f – 114a)

3ª - “Não há duas vidas, uma para a relação com Deus e outra distinta e separada, para a realidade secular, mas uma única, feita de carne e espírito, e essa é que tem de ser santa e cheia de Deus” (114d – 115)

b) O cume: “viver santamente a vida de cada dia” (116a - 116c)

c) Linha descendente: (116d – 122); os três pontos:

- “a atuação de cidadãos na vida civil” (116d – 118a)

- Digressão sobre os Amigos da Universidade de Navarra (118b – 120f)

- “O amor humano, o amor casto entre um homem e uma mulher” (121 – 122)

3. Conclusão: Passagem à profissão de Fé e à Eucaristia, mistério de Fé (123a – 123g)

Devemos dizer antes de mais que se trata de uma homilia, e que o pregador concebe, portanto, o seu trabalho como um anúncio das Magnalia Dei, que vão ter o seu ponto culminante “nesta impressionante Eucaristia que hoje celebramos no campus da Universidade de Navarra” (113a). No âmago deste caminhar litúrgico para o Corpo e Sangue de Cristo, São Josemaria Escrivá vai entretecendo o corpo da homilia, sem perder em nenhum momento a referência eucarística. Esta intencionalidade de todo o discurso tornar-se-á especialmente vibrante nas palavras finais, quando chama os fiéis à fé:

“Fé viva nestes momentos – dizia – porque nos aproximamos do mysterium fidei (1 Tim 3, 9), da Sagrada Eucaristia; porque vamos participar desta Páscoa do Senhor, que resume e realiza as misericórdias de Deus para os homens”.

O corpo da homilia começa precisamente do “significado escatológico” do sagrado mistério. Pois bem, a exposição deste corpo doutrinal, também sob o ponto de vista do fluir das ideias, surge como a subida de um monte: tem um desenvolvimento que é, primeiro ascendente; depois, “atinge o cume” e a seguir desce pela outra vertente. O pregador vai expondo e propondo a sua mensagem de maneira que, ao terminar o parágrafo 116b, pode também considerar-se terminada a ascensão: está adquirido já o essencial do patrimônio da doutrina que quer inculcar nos fiéis. Pouco antes havia dito que o que acabava de expor era “doutrina da Sagrada Escritura, que se encontra – como sabeis – no próprio cerne do espírito do Opus Dei” (116a). É este o momento em que se vislumbra plenamente a paisagem. Estamos no cume:

“Na linha do horizonte, meus filhos, parecem unir-se o Céu e a Terra. Mas não - onde se unem deveras é nos vossos corações, quando viveis santamente a vida de cada dia…”.

O texto impresso apresenta aqui reticências. A pausa que fez o pregador na leitura reflete-os com toda a exatidão. O parágrafo imediato inicia-se com uma pausada repetição: “Viver santamente a vida de cada dia, acabo de dizer-vos. E com estas palavras me refiro a todo o programa da vossa vida cristã”.

A partir daí, começa, com efeito, a descida: São Josemaria irá expondo as consequências práticas da doutrina espiritual até então elaborada, em duas etapas principais: a primeira, “a vossa atuação como cidadãos na vida civil” (116d a 118a), e a segunda, “o amor humano, o amor casto entre um homem e uma mulher” (121 e 122); entre ambas situa-se um interessante excurso, sobre diversas questões doutrinais relacionadas com o momento histórico concreto (liberdade civil, caráter secular da Universidade de Navarra e das obras apostólicas do Opus Dei:) (118b a 120f). Esta descida é também linear até chegar ao encontro com Cristo na Eucaristia, com que terminou a sua pregação.

Mas para captar melhor a mensagem, voltemos à frase que se repete no “cume” – na passagem dos parágrafos 116b e 116c -, porque é ela que determina o tema da homilia e é a parte mais central de sua mensagem, o seu conteúdo mais radical: “viver santamente a vida de cada dia”. Com essa expressão quer o autor referir-se, segundo as suas próprias palavras, à “todo o programa da vossa vida cristã”.

É isto o que Josemaria Escrivá quis expor na homilia do campus: a santificação da vida normal e corrente de um homem ou de uma mulher cristãos. A análise literária do texto mostra que, efetivamente, essa expressão é a dominante ao longo de toda a homilia, constituindo como que o seu eixo doutrinal.

Por isso, não será inútil fazer a súmula das passagens em que aparece[8], pois são todas de uma grande densidade. Naquela a que chamamos fase ascendente e antes de chegar à passagem citada (116b-c), encontramos a expressão em dois lugares.

- A primeira encontra-se depois da descrição dos elementos daquele templo singular que era, naquele momento, o campus da Universidade. Dizia:

“Não vos confirma de uma forma plástica e inolvidável esta enumeração que o verdadeiro lugar da vossa existência cristã é a vida corrente?” (113f).

- O segundo oferece esta fórmula taxativa: “Não há outro caminho, meus filhos: ou sabemos encontrar o Senhor na nossa vida corrente, ou nunca O encontraremos” (114f).

No cume (116b-c) está gravada, como vimos, a expressão viver santamente a vida de cada dia, que irá adquirir um sentido técnico no resto da homilia.

Na descida aparece a expressão em contextos muito relevantes. Especialmente relevante é a primeira: “Vê-se claramente que, neste terreno como em todos, não poderíeis realizar o programa de viver santamente a vida de cada dia, se não gozásseis de toda a liberdade, etc.”. (117b).

Josemaria Escrivá apresenta-nos aqui, como vemos, uma fórmula ainda mais acabada para captar o conteúdo essencial de sua homilia e volta a usar pela segunda vez o termo “programa” – agora mais no sentido de “projeto” – para se referir a esse “viver santamente a vida de cada dia” que está pregando aos fiéis.

A segunda passagem serve para introduzir outra dimensão importante desse “programa”.

“E agora, meus filhos e minhas filhas, permiti que me detenha em outro aspecto – particularmente querido – da vida comum. Refiro-me ao amor humano, ao amor casto entre um homem e uma mulher” (121a).

A conclusão de uma homilia é, pastoralmente, o momento em que se salienta e intensifica, face ao Mistério, o que foi a mensagem do pregador. Por isso não é de estranhar que nesse breve espaço, em que se vai dar a continuação ao rito da celebração litúrgica, apareçam os três últimos trechos que nos interessam. O primeiro é o próprio início da conclusão:

“Tenho de terminar, meus filhos. Disse-vos ao começar que a minha palavra queria anunciar-vos alguma coisa da grandeza e da misericórdia de Deus. Julgo tê-lo cumprido ao falar-vos de viver santamente a vida corrente, porque uma vida santa no meio da realidade secular – sem ruído, com simplicidade, com veracidade – não será porventura a mais comovedora manifestação das magnalia Dei (Eccli 18, 4), dessas portentosas misericórdias que Deus sempre realizou, e não deixa de realizar, para salvar o mundo?” (123a).

É evidente que aqui é o próprio autor da homilia que nos diz qual foi o tema de sua pregação: “viver santamente a vida de cada dia”. É interessante sublinhar que São Josemaria levava em conta que pregar e difundir este “programa” é hoje, segundo as suas palavras, a forma mais comovedora de anunciar a grandeza e a misericórdia de Deus.

Pouco depois o pregador começava o seu vibrante apelo à fé, com a qual acabará a homilia, porque “faltando a fé, falta o próprio fundamento da santificação da vida corrente (123d)”.

As últimas palavras, já ante o Mistério iminente, são estas: “Fé, finalmente, filhas e filhos queridíssimos, para demonstrarmos ao mundo que tudo isto não são apenas cerimônias e palavras, mas uma realidade divina, apresentando aos homens o testemunho de uma vida corrente santificada, em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e de Santa Maria” (123g).

As nossas considerações sobre a estrutura do texto levaram-nos a esta conclusão. Segundo São Josemaria Escrivá, o objetivo da sua homilia era expor os traços fundamentais do que é a vida normal e corrente santificada de um homem ou de uma mulher cristãos. Um título da homilia não paradoxal, mas temático, tirado também das próprias expressões do pregador, seria, pois, o que estamos vendo: “Viver santamente a vida de cada dia”. Ou também esta outra fórmula, perfeita, que acabamos de encontrar na conclusão da homilia: “Uma vida santa no meio da realidade secular”.

Com a simplicidade destes títulos e deste tema, o Fundador da Universidade de Navarra estava propondo, na realidade, em traços profundos, o que poderíamos nomear, já com palavras nossas, a sua “teologia da secularidade cristã”. Quer dizer, na homilia do campus encontra-se uma compreensão da Revelação divina e da missão da Igreja – e, portanto, do cristão – em que a tarefa histórica do homem, nas suas grandes e nas mais pequenas realizações terrenas, aparece plenamente redimida, assumida e integrada na dinâmica da salvação. Essa interpenetração constrói-se e manifesta-se, sobretudo, como é lógico, naquilo que chamei de “linha ascendente” da homilia. A “linha descendente” vai se dedicar a tirar as consequências e a explicitar e fazer entender na prática o já fundamentalmente adquirido no ascendente. A essa compreensão se dedica a segunda parte desta conferência.

3. Três teses sobre a secularidade cristã

O Fundador do Opus Dei construiu a sua homilia como uma reflexão em volta do duplo binômio espírito/matéria e espiritualismo/materialismo. E sobre ela vai assentar as que nos parecem ser as três teses fundamentais do seu discurso. Nelas se condensa a sua mensagem. Vejamo-las.

a. Tese 1ª.

Sobre o “lugar” da existência cristã

“A vida corrente no meio do mundo – deste mundo, não de outro – é o verdadeiro lugar da existência secular cristã”

O ponto de partida do seu discurso foi, como se recordam, o desacreditar dos falsos espiritualismos, quer dizer, de uma falsa noção do espiritual. Queria Josemaria Escrivá contrariar um equívoco que comportou graves consequências históricas: a existência cristã entendida “como algo de exclusivamente espiritual – espiritualista, quero dizer - próprio da gente pura, extraordinária, que não se mistura com as coisas desprezíveis deste mundo, ou que, quando muito, as tolera como realidade necessariamente justaposta ao espírito, enquanto aqui vivemos” (113c).

Segundo o Fundador do Opus Dei, para esta concepção “o lugar por excelência da vida cristã passa a ser o templo”. A consequência é clara: “ser cristão, nesse caso, consiste em ir ao templo, participar em cerimônias sagradas, incrustar-se em uma sociologia eclesiástica, em uma espécie de mundo segregado, que se apresenta a si mesmo como a antecâmara do Céu, enquanto o mundo comum segue o seu próprio caminho” (113d). Já se perfilam aqui as antinomias espírito/matéria, mundo eclesiástico/mundo vulgar, templo/vida corrente, etc., que são características do “monismo” espiritualista. O descrédito teológico e pastoral destas atitudes apresenta na homilia uma desusada solenidade e é anterior a toda a argumentação:

“Nesta manhã de Outubro, enquanto nos dispomos a penetrar no memorial da Páscoa do Senhor, respondemos simplesmente não a essa visão deformada do Cristianismo” (113e).

O argumento em que vai apoiar a “tese” – que claramente entende partilhada por aquela imensa assembleia – não é dedutivo, mas existencial. Remete os ouvintes para a consideração da experiência cristã que vivem naquela liturgia: “Refleti por um momento sobre o enquadramento desta Eucaristia: encontramo-nos em um templo singular”.

E o pregador vai nomeando o que tínhamos perante os nossos olhos: o campus, as Faculdades universitárias, a maquinaria que levanta os novos edifícios, a Biblioteca, o céu de Navarra… A partir daí o Fundador do Opus Dei chega a esse primeiro ponto denso do seu discurso que apelidamos de primeira tese: a vida corrente, verdadeiro lugar da existência secular cristã. Esta simples afirmação, que será interpretada e explicitada das formas mais diversas ao largo da homilia, contém in nuce toda a sua teologia da secularidade[9].

b. Tese 2ª. Sobre o valor e a dignidade da matéria

Chegando a este ponto, aparece-nos a segunda tese, que podemos formular assim:

“As situações que parecem mais vulgares, partindo da própria matéria, são metafísica e teologicamente valiosas: são o meio e a ocasião do nosso encontro contínuo com o Senhor”

Com efeito, São Josemaria avança na sua exposição mostrando, agora positivamente, o que os espiritualismos ignoram ou negam: o valor da matéria. Esta segunda parte da subida, do ponto de vista do vocabulário, inicia-se nas últimas linhas do n. 113: “É no meio das coisas mais materiais da Terra que devemos nos santificar, servindo a Deus e a todos os homens” (113f). Aqui encontramos pela primeira vez na homilia a palavra “matéria”, que reaparecerá abundantemente nesta parte.

A ideia central, agora, é que essa “vida corrente”, da qual vinha falando nos parágrafos precedentes, esse “lugar” da existência cristã, compreende no seu seio também as realidades “materiais” e só consegue entender-se a partir da avaliação positiva da “matéria”. Esta avaliação positiva é o pressuposto metafísico e antropológico da teologia da secularidade cristã que o Grão Chanceler ia desfiando no campus. Não podemos, pois, estranhar a desusada intensidade com que, dentro da brevidade da homilia, se deteve a tratar deste ponto. Seguindo a sua habitual maneira de encarar o tema, fundamentou a sua tese no relato bíblico da Criação do mundo na sua realidade material e espiritual: “Iavé olhou para ele e viu que era bom”(114a). O homem é feito de matéria e espírito e Deus o colocou a viver no meio das realidades materiais[10].

“Matéria”, na linguagem da nossa homilia, é um termo utilizado para nomear, desde a dimensão mais humilde – desde a ignobilior pars -, toda a gama do “vulgar”, a totalidade do “corrente”, que deve ser santificada e levada a Deus. É, com efeito, uma linguagem que das suas bases metafísicas se abre e inclui as realidades mais antropológicas. Daí que as fórmulas sejam normalmente enumerativas: “Deus os chama a servi-Lo em e a partir das ocupações civis, materiais, seculares, da vida humana” (114a) “esse Deus invisível, nós O encontramos nas coisas mais visíveis e materiais” (114c), e é preciso devolver “à matéria e às situações aparentemente mais vulgares…” (114d). Em resumo: a posição metafísica e teológica da “matéria” no discurso de Josemaria Escrivá é esta: a sua dignidade – a dignidade da matéria – radica precisamente na sua relação com o espírito, na sua capacidade de servir o espírito e de ser penetrada por ele, encontrando nesse serviço o seu verdadeiro destino. A tarefa de recuperar o “nobre e original sentido” das realidades materiais é descrita pelo Fundador do Opus Dei precisamente com esta expressão: “espiritualizá-las”; não no sentido dos espiritualismos, efetivamente, que se envergonham do material, mas neste outro sentido bem preciso: fazê-las participar do destino do espírito. Ou o que é o mesmo em termos soteriológicos: fazer “delas o meio e a ocasião do nosso encontro permanente com Jesus Cristo” (114e).

Para a compreensão desta segunda tese temos de reparar que São Josemaria tinha sempre como pano de fundo da sua exposição essa grande lei da economia salvífica, que poderíamos formular assim: na vida cristã, tudo é, ao mesmo tempo, dom e trabalho, indicativo e imperativo, dom divino e responsabilidade humana. O aspecto “tarefa” é formalmente sublinhado no parágrafo que acabo de transcrever. Mas esse imperativo é possível e tem sentido porque a realidade mesma que procuramos nos foi dada por Deus: na economia da graça, o imperativo baseia-se no indicativo. Dito de outra maneira: a tarefa de procurar Cristo só é possível porque Ele, gratuitamente, deu-se e dá-se a nós: “Eu estarei convosco até à consumação dos séculos” (Mt 26, 28). Voltando ao nosso discurso: a luta que São Josemaria Escrivá nos propõe para transformar a matéria em “meio e ocasião” de encontro com Cristo baseia-se em que o Senhor está ali:

“Em todo o imenso panorama do trabalho, Deus espera-nos todos os dias” (114b). Dom e tarefa associam-se, de um modo belo, nesta fórmula: “Escondido nas situações mais comuns há algo de santo, de divino, que cabe a cada um de vós descobrir” (114b).

“Eu vos asseguro, meus filhos, que, quando um cristão realiza com amor a mais intranscendente das ações diárias, ela transborda de transcendência de Deus” (116b).

Aqui o dom e a tarefa aparecem fundidos na vida real do cristão, cuja vida no meio das realidades seculares começa a ser já “uma vida escondida com Cristo em Deus” (Col 3, 3). Mas aqui entramos já no campo da terceira tese.

c. Tese 3ª. Sobre a “unidade de vida” do cristão

“Não há duas vidas, uma para a relação com Deus e outra, distinta e separada, para a realidade secular; mas uma única, feita de carne e espírito, e essa é que tem de ser santa e cheia de Deus”.

A tese sobre a “unidade de vida”, como as outras duas que a precedem, tem nesta nossa homilia o seu contexto imediato também na análise do falso espiritualismo, sendo a falsa solução dada à relação corpo espírito classificada na nossa homilia com uma palavra forte, bem conhecida dos psicólogos: “esquizofrenia”. Surgiu em vastos setores de fiéis cristãos uma espécie de esquizofrenia espiritual, perante a qual Escrivá reage com vigor. A passagem merece ser reproduzida no seu teor literal:

“Não, meus filhos! Não pode haver uma vida dupla; se queremos ser cristãos, não podemos ser como esquizofrênicos. Há uma única vida, feita de carne e espírito, e essa é que tem de ser – na alma e no corpo – santa e cheia de Deus, desse Deus invisível, que nós encontramos nas coisas mais visíveis e materiais” (114d).

Talvez a fórmula mais perfeita para descrever esta dinâmica unificante da vida seja esta, que vem a seguir: “Ficai a sabê-lo: escondido nas situações mais comuns, há algo de santo, de divino, que cabe a cada um de vós descobrir” (114b).

Aqui está, talvez, o ponto culminante da terceira tese: a unidade entre a vida de relação com Deus e a vida quotidiana – trabalho, profissão, família – não vem de fora, dá-se no próprio seio desta última, porque é aqui, na vida normal e corrente, em que se dá esse algo santo, que cada um deve descobrir.

4. Sentido da mensagem

A doutrina que Josemaria Escrivá expôs no campus da Universidade de Navarra – assim o disse ali – encontra-se “no próprio cerne do espírito do Opus Dei” (116a). Portanto, não era nova: era a que vinha pregando desde 2 de Outubro de 1928, quando o Senhor lhe fez “ver” a Obra[11]. Agora volta a expô-la para que os ouvintes a compreendam – diz – “com uma nova clareza” (114b). Doutrina, não só originária, mas constantemente ensinada, como é realçado na alusão à “repetida insistência” com que havia pregado sempre “que a vocação cristã consiste em fazer poesia heroica da prosa de cada dia” (116b). Isto é evidentemente assim. Mas Josemaria Escrivá nunca entendeu essa mensagem espiritual, que Deus lhe inspirou com força indelével, como uma espécie de aerólito que se incrusta imóvel na terra, mas como uma semente que cresce fecundada pela graça de Deus. Por isso, o Fundador, ao longo de toda a sua vida, foi sempre aprofundando na mensagem do dia 2 de Outubro de 1928. E fazia-o pelo caminho sancionado pela vida da Igreja e, sobretudo, pela vida dos santos. Josemaria Escrivá, com efeito, aprofundou a mensagem de 2 de Outubro através das luzes, que vieram a seguir – com alguma frequência de caráter extraordinário[12] –, que Deus lhe concedeu, e da maneira mais comum, através de uma constante reflexão sobre a própria mensagem, realizada no contexto de sua experiência espiritual e histórica: os acontecimentos da vida da Igreja e da Obra e, em geral da história humana, tal como os entendia, ofereciam-lhe a matéria indispensável para o exercício da sua responsabilidade, e também da sua responsabilidade perante o tesouro que Deus havia colocado em suas mãos.

Quando Josemaria Escrivá pregou ao ar livre no campus da nossa Universidade, estava quase recém terminado o Concílio Vaticano II. A Constituição Lumen Gentium tinha proclamado, com uma solenidade sem precedentes, a chamada universal dos cristãos à santidade; por sua parte, a Constituição Gaudium et Spes tinha chamado a atenção para a bondade original do mundo e o valor do trabalho humano, por seu turno, de compreender as relações do mundo com a Igreja. Dois temas, de ambas as Constituições conciliares, que já estavam no centro da mensagem de 2 de Outubro de 1928 e que, nos anos que se seguiram à formação do Opus Dei, eram compreendidos apenas por uns poucos. Era este o contexto eclesial imediato da nossa homilia: o que havia provocado nos anos trinta do século passado – não muito longínquos – suspeitas, incompreensões, e inclusive acusações de desvios doutrinais e heresia, era agora doutrina conciliar. A meu ver, este apoio do Concílio Vaticano II e o conteúdo da Gaudium et Spes ajudam a compreender a linguagem e o estilo argumentativo com que o Fundador do Opus Dei abordou nesta ocasião a temática tantas vezes pregada. Este apoio permitiu-lhe exprimir-se com uma linguagem teologicamente penetrante, quase polêmica, que realça as antíteses, o que lhe confere uma força pedagógica extraordinária, tornando fácil a captação da doutrina por parte dos ouvintes.

Por outro lado, aquele mês de Outubro de 1967 está próximo do acontecimento cultural conhecido como “Maio de 68”, que se saldou por um acumular de utopias e desenganos. O ano acadêmico de 1967-68 foi difícil de esquecer. No que diz respeito à vida eclesial, sucedem-se em ritmo acelerado, as manifestações de uma interpretação secularista – assim a nomeou Paulo VI – do Concílio Vaticano II, com a tremenda crise que provocou: primeiro, no âmbito das Ordens e Congregações religiosas; depois no clero secular; por último na vida de todo o Povo de Deus. Foi Louis Bouyer que diagnosticou, a meu ver de forma acertada, esta sequência[13]. Era a época em que ecoava nos meios eclesiásticos de toda a Europa a teoria anglo-saxônica da secularização. Era a época em que o Honest to God, de John A.T. Robinson, divulgava esta secularização radical do Cristianismo, que deixava sem respiração setores significativos do clero e dava azo ao êxodo nos seminários espanhóis[14], e em que a revista Time dedicava a sua Cover Story à “teologia da morte de Deus”[15]. Era esta, ao mesmo tempo, a época do domínio marxista nas universidades europeias e do diálogo com o marxismo como único horizonte intelectual digno dos cristãos…

Se trago à colação estas recordações históricas, é porque são o contexto do que ouvimos no campus naquela manhã de Outubro e, sem elas, passar-se-ia por alto o humus cultural e teológico daquela mensagem. O Grão Chanceler da Universidade de Navarra, pregando no campus da sua Universidade e, contrariamente ao que se poderia esperar, não situou dialeticamente a sua homilia “face a” essas falsas teologias da secularização, mas a sua palavra orientou-se criticamente – já o disse – face a posições de sinal oposto: em concreto, face a uma deformação “tradicional” do cristão que poderíamos classificar de clerical, sacralizante e falsamente piedoso. Foi a partir desta posição dialética que São Josemaria anunciou a novidade do Evangelho. Apresentou naquela memorável Assembleia de Amigos da Universidade de Navarra não um ataque ao secularismo mas uma profunda ótica cristã para a compreensão da secularidade. Perspectiva, esta, cheia de amor e fidelidade à Igreja, que superava radicalmente, sem os nomear, passando, por um plano mais elevado, as formulações de uma falsa secularização.

5. Trinta e cinco anos depois

Passaram 35 anos sobre aquele acontecimento. As circunstâncias contextuais a que acabo de me referir, que sob outros aspectos sofreram mudanças tão profundas nestes sete lustros, confirmaram, às vezes de maneira devastadora, a pressão secularista sobre as propostas e os valores cristãos. As graves consequências em relação à cultura, à família, à vida social e, em geral, ao respeito pela vida humana, são bem conhecidas de todos por as terem sofrido na própria carne e na dos entes mais queridos. Por isso parece inevitável esta pergunta: Como é que São Josemaria teria apresentado hoje a homilia do campus? Ter-se-ia deixado impressionar pela onda “globalizante” da descristianização? Teria, em consequência disso, “reconsiderado” a sua “estratégia”, procurando agora não tanto a inserção dos cristãos no mundo mas nos “espaços sagrados”, nos quais os cristãos poderiam apelar a uma espécie de “direito de asilo”? Teria olhado o templo com outros olhos, vendo nele o baluarte protetor para daí fazer “incursões” no mundo comum para “salvar almas”?

Percebem que, a rigor, estou propondo um futurível e, portanto, algo que em sentido próprio não tem resposta. Cada um pode imaginar o que quiser. Eu, por minha parte, lhes direi o que penso. E o que penso é que São Josemaria não teria tocado em nenhuma vírgula do texto da sua homilia que por algum motivo, levava escrita da primeira à última palavra. Toda a investigação e estudo do pensamento de São Josemaria Escrivá que surgiu por ocasião de seu Centenário e sua Canonização, considera esta homilia como um texto profético para o mundo deste terceiro milênio, o mundo do Duc in altum.

Mas não podemos esquecer um fato que me parece da máxima importância na nossa análise, e é que a homilia do campus pressupõe a catequese cristã. Isto é, que o discurso de São Josemaria naquela ocasião queria fazer compreender o conceito da secularidade da vida cristã partindo do princípio de que o seu auditório estava de posse dos conceitos fundamentais da identidade cristã. Por isso, não sente a necessidade de falar na homilia do Batismo, fonte da identidade do cristão na Igreja e, portanto, da vida que há de ser vivida nessa secularidade que Josemaria Escrivá quer fazer compreender. E o Batismo, os dons da graça, os sacramentos: todas estas realidades constitutivas do ser da Igreja e do cristão são o pressuposto, sempre subjacente na homilia, de todo o discurso sobre a secularidade. O modo utilizado pelo Fundador do Opus Dei para fazer ponderar estas realidades, no campus, é, como vimos, a Eucaristia em torno da qual se desenvolve a homilia. A Eucaristia, centro e raiz – como ele mesmo disse – de tudo na Igreja e no cristão, é a referência permanente de todas as reflexões que o texto encerra.

A demolição dos fundamentos da vida cristã para a qual tende a cultura contemporânea faz com que haja muita gente hoje que se declara – pelo menos nas sondagens – cristã, mas carece de formação básica em matéria de fé. Isto é fundamental no momento de usar a “homilia do campus”. Sem a vida de Cristo na alma, o mundo “material” torna-se opaco e impenetrável. Dito positivamente e com as palavras do próprio pregador: “Quando um cristão realiza com amor a mais intranscendente das ações diárias, ela transborda de transcendência de Deus” (116b). Só a partir de Cristo e da vida da graça, poderão desempenhar com amor as coisas pequenas, e o mundo vulgar e corrente poderá se converter em “epifania” de Deus. Em última análise, para entender a secularidade cristã é preciso ter fé em Jesus Cristo e querer viver conforme a essa fé. Por isso, os homens e as mulheres de fé que vivem no meio do mundo – na secularidade cristã – têm como primeira exigência dessa fé falar de Deus nos diferentes ambientes: falar de Jesus Cristo, da sua misericórdia e dos seus sacramentos. É um dever que, no início deste terceiro milênio, não podemos adiar e muito menos esquecer.

O texto da homilia do campus com as suas análises e propostas, lido hoje, mostra com efeito a extraordinária atualidade daquelas formulações. Precisamente a pressão a que a onda secularista submete a vida cristã revela à saciedade, também na sua máxima tensão, a têmpera humana e a categoria espiritual que Deus quer dar – e portanto exige – às mulheres e aos homens de quem Josemaria Escrivá fala. A homilia do campus adiantou, em mais de dez anos, o Não tenhais medo que tornou João Paulo II emblemático e que tem de ser relançado na nova evangelização para que fomos convocados por este ancião jovem que é o Sucessor de Pedro.

Termino com a esperança de que São Josemaria não ache demasiado inadequadas as considerações que fiz sobre as suas palavras inesquecíveis.

Conferência pronunciada na Aula Magna da Universidade em 18 de Janeiro de 2003 na sessão organizada pela Associação dos Amigos da Universidade de Navarra.


[1] Desta homilia ocupei-me de maneira mais extensa no capítulo intitulado Vivir santamente la vida ordinaria, do livro AA.VV., Josemaria Escrivá de Balaguer y la Universidad, Prólogo de Álvaro del PORTILLO, Eunsa, Pamplona 1993, pp. 225-258. Para ele remeto com frequência nestas notas.

[2] HOMILIA | pronunciada pelo Ex.mo e Rev.mo Sr. |MONS. JOSEMARIA ESCRIVÁ DE BALAGUER | Gran Canciller de la Universidad de Navarra | durante la Misa celebrada en el campus de la | Universidad, con ocasión de la Assemblea General de la Associación de Amigos | 8 de Octubre de 1967 | PAMPLONA | MCMLXVII, 16 pags. Está impressa em E.M.E.S.A., Madri. É de notar a beleza tipográfica desta edição. Há outras edições corretas, publicadas também pela Universidade, que se distinguem da primeira no pé de imprensa da última página. Nestas vem: GRAFINASA, Pamplona.

[3] “Palabra” nº 27 (1967) pp. 23-27 reproduzia qua talis o rosto da edição original. “Nuestro Tiempo” nº 28 (1967) pp. 601-609 inclui a homilia no seu número de Dezembro desse mesmo ano, de caráter monográfico, onde se intitula simplesmente: “Homilia del Gran Canciller”.

[4] “La Table Ronde”, nº 239-240, Novembro-Dezembro, pp. 231-241.

[5] “Studi Cattolici”, nº 80, Novembro 1967, pp. 35-40.

[6] Ver sobre este tema o meu estudo citado na nota 1, pp.35-40.

[7] O texto da homilia é incluído como último capítulo (nn.113-123) no livro Conversaciones con Mons. Escrivá de Balaguer publicado em 1968 pela ed. Rialp e traduzida para numerosas línguas.

[8] Ao proceder ao elenco, sublinhamos nos textos a expressão que comentamos. O uso do itálico não pertence, portanto, ao texto original.

[9]Ver o meu estudo citado na nota, pp. 241-243.

[10] Ver ibidem, pp. 244-249.

[11] Ver sobre o tema J.L. ILLANES, Dos de octubre de 1928: alcance y significado de una fecha, em AA.VV., Mons. Escrivá de Balaguer y el Opus Dei, Pamplona 1985, pp.65 ss.

[12] Uma dessas ocasiões, particularmente significativa, foi o dia 7 de Agosto de 1931. Ver sobre o tema P. RODRÍGUEZ, Omnia traham ad meipsum. El sentido de Juan 12, 32 e la experiencia espiritual de Mons. Escrivá de Balaguer, em “Romana”, 7 (1991) pp. 331-352.

[13] Ver L. BOUYER, La decomposición del Catolicismo, Madri 1974.

[14] A tradução espanhola do livro de Robinson é de 1967.

[15] Ver Time, 8 de Abril de 1966.

Pedro Rodrígues